Pokémon: Ano Sombrio escrita por Linkusu


Capítulo 22
Capítulo 21: A cidade dos ventos do começo...


Notas iniciais do capítulo

Dessa vez, não tenho nada a dizer aqui, haha. Boa leitura!



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                -Eu repito: James L. Vonruchi, saia do recinto com as mãos para cima! Você está preso sob suspeitas de assassinato!

                -Esperem! Meu pai não fez nada de errado, porque estão acusando ele desta forma?!

                -Achamos evidências de que James L. Vonruchi possa ser o culpado por detrás dos assassinatos de Lavender. Ele virá conosco até a delegacia de Saffron para esclarecer este assunto... Seja pacificamente ou a força.

                Eles não estavam brincando, caso meu pai tentasse resistir, eles o seguiriam até os confins do mundo. Vivi estava escondida atrás do sofá da sala observando tudo com medo em seus olhos. Aquela situação deve ter sido completamente inesperada para ela...

                -Eu estou aqui, não há necessidade de usar força... – Meu pai se levantou de sua cadeira onde ele estava lendo um de seus livros e se dirigiu até a entrada da casa com suas mãos para o alto, como se fosse um criminoso. – Eu irei cooperar e responderei quaisquer perguntas que me sejam feitas... Mas eu também espero que haja uma boa justificativa para isso.

                -Você saberá de tudo no caminho até a delegacia. Venha comigo. – O oficial falou enquanto algemava James e o levava até as viaturas policiais no lado de fora da casa.

                Assistir aquela cena me dava repulsa. Estavam tratando meu pai como um criminoso, falavam com ele como se fosse a escória da sociedade sem ao menos ouvirem seu lado da história antes. Várias pessoas observavam a cena de longe e faziam comentários que apenas me deixavam mais e mais irritado. Logo após as viaturas se retirarem, fui até o meu quarto, me vesti apropriadamente com um longo casaco negro de seda, uma calça jeans azul-escuro onde eu guardava minhas pokébolas na cintura e uma camisa branca .

                Quando voltei à sala e estava prestes a sair, Vivi pegou meu braço esquerdo com suas duas mãos trêmulas. Seu rosto em nada lembrava a Vivi sorridente e energética de poucos minutos atrás. Agora ela estava chorando, assustada e desolada. Eu a entendia. Aquela garota sofreu muito mais naquele ano do que eu havia sofrido na idade dela. Após perder sua mãe, agora ela tinha de ver seu pai sendo levado como um bandido pela polícia. Dois eventos traumatizantes são demais para qualquer um, quem dirá então a uma criança... Naquele momento, eu era a pessoa mais próxima dela que ela poderia chamar de “família”. A única pessoa restante.

                -Vai ficar tudo bem. – Eu a abracei para confortá-la. – Eu vou tirar seu pai... Nosso pai dessa situação. Confie em mim, tudo bem? Eu vou te deixar em um local seguro.

                Segurando a sua mão no caminho inteiro, eu a levei para o local mais seguro mais perto possível que eu podia pensar naquele momento, a pousada da família de Angelo e Clara. Ao chegar lá, imediatamente me encontrei com eles dois.

                -Eu ouvi a notícia no plantão da rádio, Neil. Isso tudo me parece muito suspeito. Vamos junto com você à delegacia. – Angelo falou sem perder tempo.

                -Sim. Mas eu não posso deixar Vivi sozinha, será que seus pais poderiam cuidar dela enquanto isso?

                -Sem problemas. Ela estará a salvo aqui. – Clara respondeu.

                Deixei Vivi com o Sr. e Sra. Cruz e sai correndo para pegar um táxi para Saffron. A névoa negra que envolvia Lavender já estava mais densa e havia coberto o caminho inteiro até Saffron, então foi difícil achar um táxi operando na região, mas conseguimos. No caminho até lá, minha mente estava lotada de pensamentos conflitantes.

                Não poderia ser ele, mas ele era o mais provável suspeito. Ele não tinha motivos... Mas tinha os meios. Todas as evidências apontavam para ele. Como eu poderia negar isso tudo quando chegasse lá? Como poderia defender um homem com uma corda amarrada em seu pescoço e apenas as pontas de seus pés o apoiando no chão? Eu precisava pensar, quem mais poderia ser o assassino? Há a líder da nova equipe rocket... Nada aponta para ela, mas o fato de os assassinatos terem parado por algum tempo no período entre o ataque à Pewter certamente a deixa um pouco suspeita. Mas isso é um motivo fraco demais...

                Cogitei a possibilidade de ser o meu professor de batalhas, Vincent. Seus olhos sempre cobertos por seus óculos escuros, sempre emanando um ar misterioso... Quando meu pai narrou a história de seu encontro com Mary, eu me lembrei dele. Nenhum dos alunos sabe muito sobre ele, de onde veio ou o que fazia antigamente, e ele me passava aura de um treinador imensamente poderoso... E se Mary também era poderosa, então não é estranho de se deduzir que o assassino seja um treinador imensamente habilidoso. Mas, novamente, que tipo de evidências eu tenho contra ele? Absolutamente nenhuma. Não passam de teorias desesperadas se formando em minha cabeça. Por tudo que eu sei até agora, o assassino poderia ser qualquer um escondido em qualquer lugar de Kanto. Não precisa ser alguém que eu conheça diretamente... Hmm... Alguém que eu não conheça diretamente, mas que poderia ser o culpado...?

                -Serão 21 pokédolares, senhores.

                Quando eu havia chegado a uma linha de pensamento interessante, minha mente foi interrompida pelo taxista cobrando o valor da viagem. Nós 3 dividimos o valor e saímos do táxi, indo o mais rápido possível para a delegacia que estava a poucos metros de distância dali.

                A delegacia estava em completo estado de frenesi. Oficiais andando de um lado pro outro, repórteres começando a chegar do lado de fora para conseguirem uma matéria, pessoas esbarrando umas nas outras enquanto aqueles de maior cargo tentavam manter a ordem. No meio de toda essa confusão eu achei o homem que eu estava procurando, Edward Vaan Wolfgang.

                -Chefe! – Exclamei furiosamente para chamar sua atenção, fazendo com que ele parasse o que estava fazendo para dirigir sua atenção à mim. – O que isso tudo significa?! Porque meu pai está sendo preso sem sequer terem certeza de que ele é realmente o culpado?! Onde ele está nesse exato momento? Eu quero vê-lo!

                Fechando seus olhos com certa melancolia, o chefe da delegacia de Saffron recusou o meu pedido.

                -Por favor, pai! – Simon, que já estava na delegacia antes de chegarmos, provavelmente pelo mesmo motivo que estávamos lá ao saber das noticias, tentou mudar a opinião de seu próprio pai. – É o mínimo que ele merece! Ver se o pai dele está em segurança...

                -Eu lamento, mas isso não será possível. Não agora... – Inabalável como uma rocha, ele deu seu veredito final. – Seu pai está sendo questionado nesse momento. Queremos pôr um fim a tudo isso agora, então, isso pode levar algumas horas...

                -Isso é absurdo! Vocês já estão falando como se esse caso estivesse acabado! Que motivos meu pai teria para matar a própria esposa dele?! Ele a amava! – Minhas súplicas continham minha ira. Estavam todos tão desesperados assim para fechar esse caso?

                -Neil! – Dessa vez, foi a vez de Edward levantar seu tom de voz. – Entenda isso, não deteríamos o seu pai sem nenhuma razão! Você acha que eu gosto disso? Somos amigos a anos! Eu estou tão irritado quanto você, mas contra fatos não existem argumentos: as evidências são claras, aqueles fios de cabelo pertenciam ao seu pai. Eu até pedi para refazerem o teste, mais de uma vez, inclusive. Em todas as vezes, o resultado era o mesmo. O DNA encontrado ali era de seu pai... O que o cabelo dele estaria fazendo nas mãos de um cadáver caso ele não fosse culpado de algo, Neil? – Ele tinha razão. A única justificativa para os fios de cabelo de meu pai estarem nas mãos do detetive Gravy era que, na hora de sua morte, Gravy havia tentado resistir ao assassino, provavelmente tentando atacar seu rosto e puxando seu cabelo. Mas aquilo não me convencia. Tinha de haver outra explicação...

                -Isso é ridículo! Aquela evidência pode muito bem ter sido plantada pelo próprio assassino para tentar incriminar meu pai! Então porque ainda assim ele está sendo detido na delegacia?!

                -Você acha que não pensamos nessa possibilidade? Mas é claro, poderia ser uma farsa... Mas eu lhe pergunto, Neil: o que seu pai estava fazendo nas noites em que os corpos apareceram?

                Eu não consegui responder essa pergunta. Em todas as ocasiões que um corpo havia aparecido, meu pai estava longe de casa. Havia apenas uma ocasião...

                -O primeiro assassinato! – Eu disse. – Meu pai havia ido me buscar quando o primeiro assassinato foi cometido.

                -E quando o corpo de Mary foi encontrado, a autópsia determinou que ela já havia sido morta algumas horas antes... Quando seu pai havia saído de casa e ainda estava à caminho do aeroporto de Saffron. Você sabe o que isso significa, não é?

http://www.youtube.com/watch?v=-APBltcNKuA

                Eu engoli a seco. Ele poderia muito bem ter cometido o crime no meio do caminho. Já estava de noite e seria fácil fazer isso sem que ninguém percebesse.

                -Você entende o que isso significa, Neil? Seu pai não possui absolutamente nenhum álibi em nenhuma das noites em que os corpos das vítimas foram encontradas. Você pode me explicar porque tantas evidências apontam para seu pai?

                -Mas ele não tem um motivo! Porque ele... – Eu estava ficando desesperado, tentando me apoiar em qualquer fragmento de possibilidade existente para negar algo que ficava gradualmente mais e mais claro.

                -Não deixe seus sentimentos ofuscarem sua visão da verdade. – Ele interrompeu minha fala antes que eu pudesse terminar. Seu tom não era de alguém irritado ou contrariado, mas sim de alguém compreensivo. Ele pôs sua mão em meu ombro como um pai tentando acalmar um filho. – Eu também queria que nada disso fosse verdade. Mais do qualquer um! Eu odeio que você e sua irmã tenham de passar por isto, de todo meu coração... Mas eu não posso ignorar o meu trabalho. Se as investigações determinarem que há outro suspeito, talvez haja esperanças para James. Mas até lá... Eu sinto muito.

                “Eu sou um lixo”... Eu estava a beira de quebrar emocionalmente, mas ao mesmo tempo não conseguia rebater nenhuma daquelas palavras. Tudo que ele disse era verdade, e tudo que eu podia fazer era aceitar aquilo. Sem forças para sequer me manter de pé, eu apenas caí de joelho no meio daquele lugar. “Eu perdi”...

*Interlúdio: Interrogatório*

http://www.youtube.com/watch?v=i5kf2xmSgBA

                Isolado pelas 4 paredes de ferro daquele pequeno quarto onde apenas uma câmera de vigilância o fazia companhia, James esperava pacientemente pelo momento de seu interrogatório. Apesar da situação desesperadora em que se encontrava, por algum motivo, o líder de ginásio de Saffron mantinha sua calma e compostura. Após quase uma hora de absoluto silêncio, a porta da pequena sala se abriu, revelando sua primeira companhia do dia. Dando um suspiro de alívio, James pôde identificar que aquele era seu amigo de longa data, Edward Vaan Wolfgang. Se fosse ele o encarregado pelo interrogatório, talvez aquilo tudo pudesse ser resolvido.

                -Olá, Edward. Já faz algum tempo desde a ultima vez.

                -É... – Com um sorriso amargo em seu rosto, ele se sentou numa cadeira em frente à que James estava sentado. Uma mesa de ferro de tamanho médio separava os dois, e nas mãos de Edward ele segurava uma xícara de café quente, cujo qual ele ofereceu a James.

                -Não, obrigado. Em situações como essa, eu prefiro chá...

                -Entendo... Sinto muito, mas acredito que não tenhamos chá na delegacia. Se eu soubesse, teria trazido um pouco de casa.

                -Não será necessário. Eu só quero saber por que eu estou aqui. Qual a sua explicação para isso, Edward?

                -Você está sendo detido sob acusações de assassinato... Para ser mais claro, sob suspeitas de ser o assassino fantasma de Laven...

                -NÃO SEJA RIDÍCULO! – Aquele homem até então cheio de compostura perdeu a sua calma ao ouvir o nome do assassino fantasma sendo relacionado a ele. – Você viu o quão arrasado eu estava na noite em que recebi a notícia da morte de Mary! Você sabe que eu jamais faria nada para machucar ela, muito menos tirar a sua vida, ou a de qualquer outra pessoa inocente!

                -Eu sei, eu sei, mas...

                -Então que palhaçada é essa?! – Edward jamais havia ouvido seu amigo tão descontrolado assim em todos os anos que eles se conheceram. Ele não conseguia sequer terminar uma frase sem receber as respostas banhadas em fogo que saíam da boca de James como incessantes bombardeios contra ele. Se aquele quarto não fosse construído de forma a isolar o barulho de qualquer coisa que acontecesse lá dentro, certamente a delegacia inteirajá teria ouvido as palavras de indignação de James. – Se você acha que eu sou um assassino, tudo bem... Eu não ligo. Na verdade, eu compreenderia. Eu matei muitas pessoas no meu antigo trabalho em Unova... Mas eu NUNCA mataria alguém que eu amo. Não me acuse de ser o assassino de minha própria esposa, Edward... Se você realmente acredita que eu fiz isso, então eu acho que eu nunca vou ser capaz de perdoá-lo. Eu...

                -Você acha que eu estou bem com isso?! – Dessa vez, era a hora do chefe da delegacia de perder a paciência. Aquela já era a segunda conversa estressante que ele estava tendo naquele dia. – Eu escolhi justamente ser o responsável por este interrogatório justamente porque eu acredito que você tenha uma chance, James. Eu quero acreditar em sua inocência, mas o seu DNA foi achado na cena do crime, e você não possui nenhum álibi nas noites em que os assassinatos ocorreram! Como eu posso lutar contra esse tipo de evidência, James?

                -Eu não sei... – James acalmou os seus nervos e voltou a falar em seu tom usual. – Eu não sei porque isso está acontecendo comigo...

                -Nós continuaremos com as investigações para determinar se realmente não existem outros suspeitos... Mas para isso, você vai ter que cooperar comigo.

                James entendeu sua situação e decidiu cooperar. Se ele quisesse provar sua inocência, se é que isso fosse possível, sua única esperança era acreditar nas palavras daquele homem.

                -Nessa noite, eu havia saído... Fiquei fora de casa até tarde. – James começou a contar a sua história enquanto recobrava suas memórias.

                -E o que você estava fazendo?

                -Eu ainda estava em estado de negação. O assassinato de Mary não fazia sentido... Uma mulher forte como ela não poderia ter sido abatida tão facilmente por um miserável qualquer, estamos falando de uma mulher que ganhou uma liga Pokémon e derrotou alguns dos membros da elite 4. Eu fiquei inconformado com sua morte e comecei a passar noites em claro vagando as ruas em busca de informações sobre treinadores habilidosos que moravam por perto, e também com um pequeno fio de esperança em talvez encontrar o assassino cara a cara...

                -Então, nas noites em que você ficou fora, foi por causa de sua própria investigação clandestina?

                -Exatamente...

                -E você conseguiu descobrir alguma coisa?

                -Eu consegui nomes. Pelo menos 3 pessoas se encaixavam nos requisitos de “treinadores excepcionais”... Julius White, que incidentalmente era o pai de um dos colegas de classe de Neil, Bruce White. Suas habilidades como um treinador eram definitivamente acima da média. O segundo era Gramont Vallahad, um ex-cérebro da batalha da fronteira que está morando em Saffron, atualmente aposentado. E por ultimo, um dos professores da escola de Neil, Vincent Aznoble.

                -E você conseguiu algo contra um desses 3?

                James se calou perante essa pergunta, apenas respondendo após uma período prolongado de silêncio.

                -Não, nada. Eu tentei conversar com Julius, mas não achei nada de suspeito no homem, e nem qualquer motivo que ele poderia ter para assassinar Mary. Até mesmo tentei falar com Luiz White, o velho que ficava o tempo todo no cemitério de Lavender para ver se eu poderia tirar alguma informação dele, mas não consegui nenhuma ajuda dele. O velho já estava completamente insano, não parava de falar sobre o massacre da torre de Lavender, e repetia o tempo todo “a torre vai atacar! Os vultos estão preparando tudo, eu vi! Vai ser o fim de todos nós! Derrubem essa torre antes que ela nos derrube!”, dentre outras coisas paranoicas...

                -Eu não o culpo, deve ter sido uma experiência terrível...

                -De qualquer forma, também não consegui nada contra Gramont. O cara não sai de casa nem pra comprar comida, deixa tudo nas mãos dos empregados dele e só quer saber de viver em paz na casa dele.

                -E o terceiro?

                -Nada. – Ele balançou a cabeça, decepcionado. – Eu não consegui descobrir nada sobre ele, mas pude conversar com ele algumas vezes. Porém, baseado nas palavras que trocamos, não acredito na possibilidade de ter sido ele...

                Edward deu um suspiro e tomou um gole de seu café. Aquela conversa não havia ajudado em nada... Apenas comprovava cada vez mais que James era o único suspeito capaz de ter cometido os crimes.

                -Mas eu não desisti e continuei com minhas investigações até que, um dia, eu encontrei alguém diferente. Ele usava um chapéu fedora, óculos escuros e um longo sobretudo, e se intitulava como “O Fantasma”.

                -“O Fantasma”? Espere um pouco... Esse não é o homem misterioso que apareceu no clímax da invasão ao museu de Pewter?! – Edward demonstrou grande interesse por esse pedaço de informação. – Você já havia encontrado ele antes?

                -Sim. E ele sabia exatamente a data na qual o evento aconteceria, e que algo ruim iria ocorrer aquele dia. Eu não sei como, mas ele sabia de tudo, e decidiu me avisar. Até hoje eu não sei o motivo de ele ter feito isso...

                -Hmm... Isso sem dúvidas é uma informação valiosa. Então, ele sabia sobre o ataque antes mesmo dele acontecer? De fato, isso é muito suspeito... – Edward se levantou com uma expressão de satisfação em seu rosto. – Talvez nós realmente consigamos provar sua inocência, meu amigo. Irei investigar sobre esse “Fantasma” a fundo.

                “O Fantasma”. Um homem de chapéu fedora e óculos preto que havia ganhado reconhecimento nacional após o ocorrido em Pewter. Desde então, ele havia aparecido outras vezes nos noticiários: interceptando missões da Equipe Lua, matando criminosos e agindo como um vigilante justiceiro. Afinal de contas, quais eram suas verdadeiras intenções? Essas perguntas intrigavam Edward. Mas a verdadeira questão ali era: teria James falado a pura verdade? Ou havia ele se aproveitado do interesse que Edward possuía por essa figura misteriosa para tentar ganhar tempo e tramar uma fuga? Várias perguntas assolavam sua cabeça naquele momento, mas já estava claro o que ele deveria fazer: uma mudança de planos.

*Fim de interlúdio*

                Meus amigos me ajudaram a chegar até um local razoavelmente quieto na delegacia e me fizeram sentar num banco. Eu ainda estava abalado com tudo aquilo e pensando no que eu deveria fazer.

                -Meu pai não é o culpado. Eu tenho certeza. Isso está errado. – Eu resmungava essas palavras monotonamente, sem realmente acreditar em seus significados, tentando apenas me convencer de algo que nem mesmo eu acreditava mais.

                -Você está certo. Temos certeza que isso é apenas um mal entendido. Seu pai é inocente. – Clara falou para me consolar.

                -Mas... Mas e se não for um mal entendido? E se ele realmente... Realmente tiver cometido os assassinatos? – Simon perguntou receosamente. Não era algo absurdo de se afirmar, mas mesmo assim, eu não levei aquelas palavras nem um pouco bem.

                -Cala a boca! – Eu neguei completamente sua pergunta e olhei para ele com meus olhos possuídos pela raiva. Aquele havia sido um dia estressante e eu já estava no meu limite, então acabei não aguentando e explodi de raiva. – É fácil pra você dizer isso, não é sua família que está em perigo! Você NUNCA esteve em perigo algum! Mesmo quando fomos atacados na floresta, você foi o único que não foi seguido pelo assassino, que direito você tem de acusar meu pai?!

                -N-N-Neil, eu apenas...

                -Você apenas nada! Se há alguém tão suspeito como meu pai, então seria o seu próprio pai! – Eu acabei dizendo. Uma das minhas primeiras suspeitas desde o dia em que eu ouvi que Simon não havia sido seguido depois daquela noite. Mesmo que eu já tivesse descartado a possibilidade, naquele momento, eu só queria descontar toda a minha raiva em alguém, então continuei sem ao menos me importar. – Porque será, huh? O filhinho do chefe do departamento de delegacia foi o único que não foi seguido... Haha, que coincidência, não é mesmo? – Havia tantos sentimentos negativos carregados naquelas palavras que até mesmo Clara e Angelo estavam abismados com a minha atitude naquele momento. Por mais irritado que eu estivesse, aquela pessoa que eu estava gritando ainda era um dos meus amigos que havia lutado lado a lado comigo em situações difíceis. Um dos meus amigos que confiava em mim.

                -Neil, já chega! –Angelo interviu em nossa discussão. – Você está fora de si, acalme-se! Não é culpa de ninguém, Simon se equivocou, apenas isso!

                -Ele se equivocou?! Esse maldito só está puxando o saco do papai dele enquanto acusa um membro da minha família de ser um criminoso. Você se acha tão superior, não é? Não é seu pai que está prestes a ser condenado por um crime que ele não cometeu! Deveria ser sua família atrás daquela porta, e não a minha! – Eu falei enquanto apontava na direção do pequeno quarto onde meu pai estava sendo interrogado naquele exato momento.

                -Então, é isso que você realmente pensa, não é? – Simon sequer olhou diretamente em meus olhos. Ele estava furioso e ferido após ouvir aquelas palavras. – No fundo, você chegou a realmente suspeitar do meu pai não é? Você é uma cobra traiçoeira! Mesmo eu confiando em você, por detrás dos panos você mantinha suas malditas suspeitas...!

                -Simon, por favor, fica calmo, isso é só um mal entendido. – Clara tentava acalmá-lo, mas já era tarde.

                -Não, isso não é um mal entendido. Vocês ouviram bem o que ele realmente acha. A verdadeira face de Neil Liebert. Eu me recuso a continuar cooperando com uma pessoa desse tipo. “Exorcistas de Lavender”, que piada de mal gosto! Pra esse sacana, aposto que vocês também não passam de peões. Espero que esteja satisfeito, porque eu estou abandonando esse grupo de merda!

                E dessa forma, ele simplesmente se retirou e não olhou para trás. Não havia pedido de desculpas que pudesse consertar aquilo... O estrago já havia sido feito.

                -Eu preciso de um tempo sozinho...

                Eu falei para Angelo e Clara e me retirei do local silenciosamente. Meus olhos estavam à beira das lágrimas e meu corpo se sentia péssimo. Para buscar um pouco de ar fresco, me dirigi até a sala onde eu sirvo de assistente para Michael, e quando entrei lá, o encontrei com uma garrafa de cerveja vazia em suas mãos.

                -Ah... Neil? *hic* Pode entrar...

 Michael disse aos soluços. A julgar pelo seu modo de falar e sua expressão, estava completamente bêbado. Eu o ignorei e entrei na sala, abrindo a janela para o lado de fora imediatamente.

-VooCê deve taaaa... Arrasado. – Ele deu outro soluço enquanto falava num ritmo lento e desengonçado. – Eu também fiquei quando descobri que o cabelo na cena do crime era do seu pai... Meus pêsames, parceiro.

-Tá tudo bem... Eu já estou mais calmo.

-Ah, que bom! Então se junta ae e vem beber comigo, hehe. – Ele começou a falar no seu usual tom de desleixamento, como sempre oferecendo coisas a um menor de idade que ele não deveria oferecer. A única diferença é que ele já estava bêbado dessa vez.

-Bem que eu consideraria aceitar a proposta, se você já não tivesse esvaziado a garrafa inteira.

-Ih é... Acabou né... bahahahahaa!

-Heh, que engraçado, você não é tão diferente quando está bêbado.

-Ei! Isso é um elogio ou um insulto? – Ele falou um pouco confuso com a pergunta, mas logo em seguida já havia ignorado e esquecido tudo. – Aaah, tanto faz! Mas putz, cara... Isso é muito trágico... Morta pelo próprio marido! Eu nunca esperei que isso fosse acontecer com ela... Agora já ta tudo explicado, porque ela não resistiu... Era um conhecido, então estava com a guarda baixa...Pobrezinha!

-Huh? Você conhece a Mary.

-Ah... Conhecia sim, hehe. – Ele deu mais um soluço enquanto falava com um sorriso bobo em seu rosto. – Eu e ela completamos o ensino médio na mesma escola. Boa menina! Sempre foi a melhor da classe...

-Melhor até mesmo que o filho de Red?

-Vixi... Muito melhor, hehe. – Ele tentava dar um gole na garrafa vazia, mas não conseguia fazer nenhuma gota descer. – Ah, mas isso foi a muito tempo... Nunca mais nos falamos e... Eu vou dar uma mijada. Até mais, Leon!

-É Neil, seu bêbado. E eu vou aproveitar e me retirar também. Já consegui me acalmar.

-Mas é claro! Eu sou um poço de alegria! Hehe. – Ele falou com seu usual tom de zombaria.

Fazendo um sinal de despedida, nós nos separamos ao sairmos do quarto. Eu ainda não estava no estado certo para pensar direito, mas pelo menos aquela conversa havia renovado um pouco o meu ânimo, então fui para o lado de fora para me encontrar com Angelo e Clara.

-Nossa missão já está clara. – Eu falei logo após pisar do lado de fora da delegacia. Clara e Angelo trocaram olhares confusos. – Me desculpem pelo meu comportamento deplorável aquela hora, eu estava realmente fora de mim. Infelizmente, minha birra infantil acabou nos custando um membro... Se vocês quiserem ficar aborrecidos comigo, tem todo o direito.

-Estamos aborrecidos. – Angelo disse sinceramente, abrindo um sorriso logo em seguida. – Mas entendemos você. Esses são tempos difíceis... E são em momentos como esse que precisamos ficar unidos, não é? Afinal de contas, somos um time.

-Sim... Um time. Obrigado, pessoal.

Com o vento batendo em meu rosto e balançando meus cabelos, eu jurei naquele lugar que não iria fraquejar novamente, jurei que iria expor a verdade mesmo que eu tivesse de cavar até os confins da terra para achá-la. Se no final de minha jornada eu encontrar uma resposta desagradável, então que assim seja, eu irei aceitar. Mas enquanto todas as peças não estiverem em seus lugares... Enquanto esse crime não estiver completamente exposto, eu não irei desistir. Já havia passado por coisas demais para simplesmente dar as costas a esse caso.

Peguei o meu celular e liguei para Catarine. Ficar aqui em Saffron não ajudaria em nada. Eu precisava de um lugar calmo para pensar, e nesse momento, essa cidade estava caótica.

-Catarine, vá para minha casa em Lavender. Está na hora dos Exorcistas de Lavender entrarem em ação.

Os ventos de Saffron anunciavam um novo começo. O começo do fim. Se já estávamos no final de nossa jornada, então era hora de ver aonde o caminho que escolhemos iria nos levar.

-Hoje foi um dia difícil... Eu disse coisas imperdoáveis a um de nossos amigos, pus em risco o nosso grupo e quase arruinei tudo... Mas isso não irá se repetir.

-Contamos com você, líder.

E desta forma nos dirigimos para Lavender, rumando em direção ao final que nos aguardava...

Continua...


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Notas finais do capítulo

Quem está certo e quem está errado? Estará James mentindo ou contando a verdade? As respostas se aproximam e a história continua em direção ao clímax. Fiquem atentos aos próximos capítulos e até lá.



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