Finalmente consegui comandar minhas próprias pernas e levantei-me correndo em direção á Amanda. Quando cheguei próxima á ela, segurei em sua mão e sai correndo puxando-a de volta para o castelo, sem olhar para trás.

Entramos no castelo e logo em seguida fechamos a porta atrás de nós. Estávamos ofegantes e apavoradas. Apoiei minhas costas na parede deixando meu corpo escorregar lentamente posteriormente sentando-me no chão.

Estava sendo difícil assimilar todas essas informações, mas parecia estar sendo mais difícil ainda para Amanda que tinha as pupilas dilatadas e o corpo tremendo.

Remo é um lobisomem, por todos esses anos e eu achava que o conhecia tão bem, mas creio que o garoto que sempre estava monitorando os corredores comigo, me ajudando quando James Potter enchia minha paciência, ou até mesmo sentando-se como na sala de aula ser um lobisomem é apenas um detalhe não é?

Sirius, Potter e Pedro... Como nunca suspeitei antes? Seus sobrenomes sempre entregaram o jogo, sempre foram as respostas, as verdades. No entanto, ou eu fui cega demais, ou burra demais para perceber o que estava em frente aos meus olhos.

Levei um susto ao ouvir um estrondo atrás de mim. Olhei para trás e Sirius e James estavam entrando no castelo com as vestes rasgadas e ferimentos nos braços, alguns mais profundos que outros.

James correu ao meu encalço e sentou-se ao meu lado.

- Você está bem? - Ele me perguntou e eu apenas assenti por algum motivo minha voz falhara. Era como nos pesadelos que eu tinha quando pequena, nos quais eu tentava gritar desesperadamente, mas era como se houvesse uma barreira invisível que me impedisse de falar.

Porém quando acordava assustada sempre tinha o meu pai para me acalmar, quando senti os braços de James me envolvendo ternamente eu sabia que eu também o tinha para me acalmar, só nunca soube disso.

Por um momento parecia que Amanda iria sair correndo e gritando, mas só parecia porque na verdade ela escolheu fazer o pior. Falar mal de Sirius e James e pior ainda... Falar mal de Remo.

- Eu não acredito que o Professor Dumbledore deixa um animal como o Lupin estudar em Hogwarts. Ah mas quando os pais souberem que têm um monstro aqui na escola, um monstro nojento e sem dignidade. – Seus olhos brilharam de perversidade. – Ele nunca mais vai ser aceito em lugar algum. Vocês estão encrencados.

Sirius estava quase indo para cima de Amanda para bater naquele seu rosto de porcelana, mas James o segurou pelos braços.

- Como você pode falar assim de Remo? Até onde sei você sempre foi apaixonada por ele. – Eu disse fingindo incredulidade sendo que na verdade eu nem precisava de sua resposta. Para ela falar coisas tão horríveis como essas quer dizer que ela nunca foi nossa amiga de verdade, tudo o que eu preciso é de uma distração enquanto discretamente retiro a varinha de Potter de seu bolso lateral.

- Deve ter sido um amor passageiro. Amar Remo Lupin? É claro, assim talvez algum dia me case com ele, tenha cachorros como filhos e adote pulgas de estimação. Ele vai morrer sozinho, como um lobisomem merece. – Aproximei-me dela e dei-lhe um belo de um tapa, tão forte que minha própria mão formigou.

Amanda deu uma risada sem humor e olhou nos meus olhos, seus olhos praticamente jorravam veneno, tanto quanto suas palavras anteriores.

- Mas vamos falar de algo mais interessante Lily, vamos falar sobre você... O que vai fazer agora que sabe que o incrível e cobiçado James Potter, o melhor apanhador de Hogwarts, o garoto que sempre te chamou para sair é um animago? Talvez finalmente aceite sair com ele? - Amanda perguntou com desdém.

- Talvez eu aceite. – Respondi para a surpresa de todos, mas não falei aquilo só porque estava confrontando Amanda, aquilo que disse é verdade.

- Obrigada Lílian, acabou de dizer o que eu mais precisava saber. Ele vai ficar tão satisfeito quando souber. Ele vai me recompensar. – Por um momento seus olhos brilharam de cobiça e eu não conseguia mais enxergar suas orbes azuis, e sim um tipo de brilho avermelhado em seus olhos, vermelho sangue.

- Obliviate. – Apontei a varinha de Potter em seu peito e no instante seguinte Amanda Spencer estava caída no chão com as suas memórias recentes apagadas.

- Eu não sei vocês, - Sirius começou dizendo – Mas eu não gostei da forma que ela pronunciou “ele”. É como se ela estivesse se referindo á um tipo de Deus, alguém superior á ela, alguém que ela...

- Serve. – Completou James. – Eu imagino quem possa ser, mas espero estar enganado.

Eu e Sirius olhamos para James esperando que ele continuasse com sua hipótese e assim ele o fez:

- Eu imagino que Amanda esteja do lado daquele que tem matado inocentes, daquele sem misericórdia, aquele das trevas que todos temem... Voldemort. – Eu fiquei arrepiada quando ele pronunciou o nome, mas não fiquei apavorada como a maioria das pessoas fica ao ouvi-lo.

Eu e James nos olhávamos atentamente sem desviar o olhar e Sirius pareceu perceber.

- Eu acho que vou ir dormir. – Ele sussurrou e eu balancei a cabeça e concordância.

- Então quer dizer que vocês são animagos?

- Pois é, legal não? - James disse passando as mãos pelos cabelos deixando-os mais bagunçados que o normal.

- Posso afirmar que é mais legal do que ser apanhador de Quadribol. – Nós dois rimos. Era extremamente difícil aceitar o fato de que estávamos tendo uma conversa civilizada.

- Remo vai ficar bem? - Perguntei preocupada.

- Vai sim, não é a primeira noite que ele fica sozinho. Nós o deixamos na Casa dos Gritos. Sabia que foi por causa de seus uivos que surgiu o boato de que lá havia fantasmas?

- Sério? Puxa, eu não sabia, como poderia não é? O que você acha de ir comigo á Hogsmead no próximo passeio? - Eu perguntei como se estivesse jogando conversa fora para ele não pensar que é algo importante para mim, sair com ele.

- Você está falando sério? - Ele perguntou em êxtase.

- Claro que sim, mas se você preferir posso voltar a te xingar e bater em você como de costume. – Eu respondi dando de ombros.

- Não, quero dizer, claro... Vou ficar lisonjeado de ir á Hogsmead com você. – James disse beijando minha mão.

Subimos as escadas para a Sala Comunal em silêncio, mas eu conseguia ver o brilho nos olhos de James que andava ao meu lado me observando a todo o momento. Deixamos o corpo de Amanda lá embaixo jogado no chão sem nos importarmos, ela merecia.

Porém eu ainda queria entender o que ela quis dizer com “Obrigada Lílian, acabou de dizer o que eu mais precisava saber”. Aquilo estava ecoando e minha mente, mas o que eu mais queria fazer no momento era me jogar na minha cama sem me importar com mais nada, mesmo tendo milhões de coisas com as quais me importar.