Acordei meio tonta, sem muito senso de direção e noção de espaço e horário. Escutei o barulho de algo se quebrando mas nem dei bola, estava muito cansada para me importar. Continuei deitada, esperando voltar ao mesmo sonho em que minha vida era muito melhor do que essa que estou vivendo. Por que tudo tem que ser tão difícil?

Por que?

Poderíamos dormir pra sempre. Assim a vida seria bem mais fácil.

Já que eu não estava conseguindo voltar a dormir. Levantei. O que mais eu poderia fazer deitada? Ficar pensando na vida?

Não, obrigada. Prefiro esquecê-la.

Coloquei mais comida para aquele gato ingrato. Eu o acolhi, eu que dou comida, eu que limpo a caixa de areia dele. Mas ele não deixa sequer que eu faça carinho em seu pêlo. Tentei passar a mão nele, mas você acha que deixou? É claro que não.

Parabéns Suzannah, agora você está com o braço todo arranhado.

Fui lavar aquele machucado antes que piorasse ou acontecesse alguma coisa pior. Só não me livro dele por causa do Jesse. Se não fosse o Jesse aquele gato já teria outra família.

O Jesse nem vai voltar, então acho que finalmente posso me livrar daquele gato!

Mas... Droga! A quem eu quero enganar? Esse gato idiota é uma das únicas lembranças que tenho de Jesse. Meu machucado na testa é outra.

Se eu não tivesse entrado no meu quarto, se eu não tivesse brigado com ele.

Se eu não fosse tão idiota, se eu não fosse mediadora...

Ouvi uns barulhos estranhos vindo do meu quarto. Parecia que alguém estava riscando as janelas. Aquele gato...

Espera, só pode ter um motivo para ele ficar arranhando a janela.

Jesse!

Saí quase saltitante do banheiro

– Je...

Mas não havia ninguém... Inclusive o gato.

Quando abri a janela, reparei que estava quebrada. Mas o que tinha acontecido aqui? Também não me importava. Minha vida já estava ruim o suficiente.

Peguei o relógio que ficava sobre uma mesa e observei cautelosamente os ponteiros de deslocando... Já era amanhã.

Parabéns Suzannah. Parabéns pelo seu pior aniversário!

Deitei e fechei os olhos. Não queria mais viver desse jeito. Eu poderia passar minha vida toda deitada desse jeito, sem ninguém para me perturbar nem amar.

Por fim, adormeci. Tomara que eu volte para o mesmo sonho, onde tudo é mais perfeito.

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Desliguei o despertador e olhei pela janela. O sol ainda não tinha nascido. A janela estava fechada. Eu jurava que tinha aberto, acho que o vento a fechou. A abri para entrar o ar da manhã. Era frio, mas não tão frio quanto o vácuo que Jesse estava me dando.

Será que eu não consigo parar de pensar no Jesse!?

Levei minha roupa para o banheiro e me troquei. Lavei meu rosto e penteei meu cabelo. Eu tinha acordado cedo hoje mas não ficaria sentada esperando o tempo passar. Mesmo sendo meu aniversário eu tinha coisas para fazer... como tomar meu café da manhã.

Sai do banheiro e juntei os cacos da janela. Aposto que foi este gato estúpido! Eu juro que me livro dele um dia desses. Sai do quarto e fechei a porta, do alto da escada vi minha mãe com um pacote. Estava louca para saber o que era.

Talvez assim eu me esquecesse de Jesse.

POV Jesse

O céu estava tão tranquilo, poucas nuvens e uma brisa... Como sei que ela está aqui? Pois eu vejo as árvores balançarem. Sou um fantasma mas posso sentir com o coração, ao menos com as sensações que ainda me recordo.

Entrei naquele quarto, que parecia ser uma eternidade que não visitava. Tudo estava como da última vez. Exceto pela janela que faltava um pedaço. Era melhor esquecer o que se passou, não há chances de volta. Mas voltar o que? Não há chances de nada para nós;

Ah! Minha Hermosa. Sinto falta de nossas conversas. Sinto por não ser tão corajoso em lhe dizer o quanto foi importante para mim. Que irônico, é necessário viver e perder a vida para conhecer o que tanto procuramos enquanto vivos. Mas agora é tarde.

– Pérolas! São belas, assim como você, seus olhos. Espero que os guste...

Aquele colar, era de minha mãe. Eu queria que minha doce hermosa tivesse uma lembrança verdadeira de mim.

Passeei pela casa e encontrei o gato se arrastando pelo chão e esfregando suas costas no tapete todo arranho por suas garras. Ele me viu e correu para entre minhas pernas, acariciando os pêlos macios entre elas.

Como puede ser posible?

Sai e pensei em apreciar a imensidão azul. Eu senti falta dessa vista também.

O mar estava instável... assim como era toda aquela situação. Assim como eram os meus sentimentos por minha bela hermosa.

As ondas saltavam e cobriam as rochas, e aos poucos eu me convenci de que tudo aquilo era impossível. Tocá-la... amá-la... respirar seu corpo, sentir seu calor. Imagino como seja o cheiro dela, o gosto dela. Isso é uma tortura para mim, e seria para minha doce niña?

Não havia mais nada para fazer ali. Olhei uma última vez para aquela casa, num sorriso, a última vez... Era difícil, mas necessário.

– Adios, hermosa.

POV Suzannah

Voltei para meu quarto e joguei o livro sobre fantasmas que Mestre havia me dado de presente sobre a cama e sentei ao seu lado. Esse aniversário estava tão animado. Passei os olhos pelo meu quarto, lembrando as situações entre mim e Jesse. Meus olhos congelaram, vidrados sobre algo em cima de uma mesinha.

Era o lenço. O lenço de Jesse. As iniciais M.D.S. estava tudo lá! Era de Jesse!

Praticamente voei para lá e peguei ele apertando-o contra meu peito. Ele estava sobre pérolas.

Então percebi que tudo não passava de uma brincadeira. Ah, Jesse, como você me assustou!

Sentei sobre a cama e comecei a ler o livro enquanto admirava aquelas pérolas... Fiquei lá, esperando que Jesse voltasse...

Fim