- Senhora McPhiil – insisti, mas não adiantava, pois lá parada não estava a senhora McPhiil, e sim um fantasma.

Era uma mulher. Devia ter uns 30 anos. Atrás dela apareceu uma outra mulher, bem mais velha - A que estava contemplando chamas mais cedo.

- Oi querida, eu sou a senhora McPhiil, prazer. E você? Quem é? – Falou ela enquanto caminhava na minha direção, não parecia ser vítima da depressão – Ugh! - Ela gemeu e abraçou o próprio corpo - Que frio, não?

É... Talvez estivesse frio para ela porque, bem, ela acabou de atravessar um fantasma... E parece que o fantasma não gostou muito.

- Meu nome é Suzannah.

- Suzannah, nome bonito. O que você quer assim tão tarde da noite, querida?

Não pude deixar de olhar para o relógio... Realmente estava tarde, 23 horas. Resolvi que aquela visita acabaria rápido.

- Vim lhe entregar isso – entreguei o pacote para ela – E agora, se não se incomoda, eu tenho que voltar para casa

- De quem é? – Ela perguntou, parecia um pouco nervosa.

- Não sei, apenas me mandaram entregar para você – eu já estava perto da porta.

- Vamos abrir? – Ela sorriu.

Abrir? Algo em mim falou que não. E eu ia embora, juro que ia, mas minha curiosidade me fez ficar e olhar por mais alguns segundos - E isso foi fatal.

- Acho que eu não deveria. Já está tarde e eu tenho que voltar para casa.

- Não, querida, venha. Eu insisto. É só um segundinho. – já que ela insistia...

- Tudo bem... mas eu...

- Venha.

Eu fui. Mas deveria não ter ido, eu sei.

A fantasma veio junto, acho que também estava curiosa – a curiosidade não podia matar ela. Já estava morta. Mas realmente ela estava assustada, deveria conhecer aquele pacote - A senhora McPhiil tirou o papel que envolvia o pacote, revelando uma caixa de guardar jóias. As duas paralisaram, ficaram boquiabertas. A fantasma foi a que teve a primeira reação.

- A... A caixa... Sua vaca, como pôde? – O fantasma olhou para mim, dava para sentir a raiva em seu olhar.

- Como você...? – A senhora McPhiil estava em choque – Quem foi que te mandou entregar isso? Quem foi!? - Pude sentir raiva, de ambas, e senti medo.

Senti muito medo.

Corri o máximo possível para fora daquela casa. A senhora McPhiil ficaria grata pelo resto da vida? Acho que não...

Corri por entre os jardins e saltei rochas. Tudo muito rápido. Arranhei meus joelhos, minhas mãos e lembrei que tinha deixado minhas luvas naquela casa, mas eu não voltaria para pegar. Parei na frente das rochas que deveria descer – não tinha nenhum atalho ou coisa assim? – Uma mão apertou meu ombro e me virei. Era a fantasma, e segurava um pedaço de madeira.

Me acertou bem na cabeça. Andei pra trás.

Talvez eu tivesse partido pra cima dela e arranjado um jeito de – não poderia matar ela, já que estava morta – machucá-la bastante. Porque fantasmas sentem dor, experiência própria, já quebrei o nariz de muitos – Pena que eles se recuperam muito rápido.

Mas eu não poderia fazer isso.

Eu estava caindo.

Dizem que quando você está para morrer, passa um filme de toda a sua vida em sua mente. É verdade. Eu estava me lembrando o quanto fui rude com Jesse. Se eu ficasse em casa como Jesse queria...

Pelo menos se eu desse um beijo de despedida...

Mas agora já era tarde, eu iria morrer. Talvez eu encontre Jesse na forma de um fantasma, mas o que ele iria pensar? Provavelmente iria me xingar e ignorar pelo resto da vida – quero dizer, resto da morte.

Não pude agüentar. Lágrimas se misturavam com o sangue que caia da minha testa. Antes de me esborrachar no chão, desmaiei. Talvez fosse melhor assim.