POV Nico

Olhei para o meu celular incrédulo vendo escrito no visor chamada encerrada e depois voltando ao papel de parede, que era uma foto minha com a Ashley no Central Park em um passeio escolar.

– Mais que sem educação eles são. – falei emburrado cruzando os braços e olhando para frente.

Daqui dava para ver perfeitamente Ashley, com Damon nos braços, e Marvin, ambos estavam sentados um do lado do outro na área de embarque com suas mochilas escoradas ao lado dos pés deles e eles não tinham como me ver.

Fiquei olhando atentamente para Ashley e pensando no que a Annie e o meu primo peixe me disseram e o conselho deles.

Eu realmente deveria fazer o que eles me falaram? Mas e se eles estivessem enganados sobre isso? Posso acabar perdendo minha melhor amiga e isso eu não quero. Se bem que eu já disse que gosto muito dela.

Bom, o Percy poderia até estar enganado e querer aprontar uma comigo, mas ele não brincaria com uma coisa dessas e também a Annie é de suprema confiança e nunca brincaria com isso. Ela não gosta que as pessoas fiquem brincando com os sentimentos dos outros.

Sem falar que ainda tem a mãe dela. Perséfone não gosta muito de mim, mesmo a gente estando se aturando e ninguém esta falando ofensivas a ninguém, não sei se ela permitiria que Ashley e eu namorássemos.

– Argh, o que eu faço? – perguntei a ninguém em especifico e senti meu celular vibrar em minha mão, ainda não o tinha guardado.

Olhei para o visor e quase cai da cadeira em que estava quando vi meu pai, Hades nele. Eu não sabia o que fazer, quem sabe dar um tchauzinho talvez?

– Não é hora para brincadeiras menino. – disse meu pai com sua voz seria que me dava arrepios.

– Oi pai, me desculpa. A que devo a honra de sua ligação? – perguntei não sabendo muito bem o que fazer ou falar.

Nunca na minha vida eu conversei com meu pai por telefone e vou te contar uma coisa, isso não muda em nada o fato dele ser assustador com sua cara de serio.

– Honra? Honra seria se você fizesse logo o que seus amigos lhe falaram. – disse Hades olhando atentamente para mim que até eu me senti muito desconfortável com isso.

– Então o senhor escutou a nossa conversa? – perguntei mesmo eu já sabendo que a resposta era sim, mas eu não tenho culpa. Essa foi a primeira coisa que veio na minha cabeça nesse momento.

– Eu e a maioria dos Deuses. – disse meu pai e bufou. – Perséfone mandou dizer que se você magoar a filha dela e principalmente não for fiel a ela, ela vai te torturar de uma maneira que você nem sonharia que poderia acontecer.

– Isso é um incentivo para eu me acertar com a Ashley? – perguntei sentindo medo.

– Sim. – disse Hades. Abri a boca para retrucar, mas ele me lançou aquele olhar e eu fechei a boca. – Se você prestar atenção no que ela me pediu para te dizer vai perceber que ela aceita o namoro de vocês, você só tem que andar na linha.

– Ok, isso é um incentivo, pelo menos minha sogra não vai me trucidar por namorar a filha dela. – falei não escondendo o sorriso.

– Ótimo. Agora faço o favor de beijar logo aquela menina e a pedir em namoro para que todos fiquem felizes por vocês. – disse meu pai e a tela escureceu voltando ao papel de parede, mas eu vi um sorriso brincando nos lábios do meu pai antes da tela escurecer.

– ... Voo para Chicago embarque em 10 minutos. – foi o que eu ouvi da voz de robô do aeroporto.

Vi no relógio do celular que já tinham se passado os trinta minutos que Annabeth havia falado então eu teria que agir agora.

Percy, Annabeth, meu pai e até Perséfone disseram que eu deveria seguir em frente e atravessar a linha da amizade com a Ashley. Com esse incentivo me levantei e peguei minha mochila e fui em direção aos três.

Damon foi o primeiro a me ver. Abriu um sorriso e apontou o dedinho na minha direção e falou alguma coisa e isso fez Ashley e Marvin olharem para mim. Ashley sorriu e Marvin chacoalhou a cabeça como se soubesse de alguma coisa.

– Nico. – disseram Marvin e Ashley juntos se levantando. Odeio quando eles falam juntos.

– Arinha xunior. – disse Damon sorrindo pra mim e esticando os bracinhos na minha direção.

– Oi pessoal, oi garotão. – falei sorrindo pegando ele no colo. – Só um segundo, segura ele.

Passei Damon para Marvin. Os três me olharam curiosos pela minha atitude, mas eu não podia dar explicações agora.

– O que esta fazendo aqui? – perguntou Ashley e eu sorri mais ainda.

– Isso. – respondi me aproximando dela, passando minhas mãos pela cintura dela e lhe dando um beijo.

No começo ela ficou espantada com minha atitude e não fez nada, mas isso durou pouco e logo ela correspondeu ao meu beijo. Senti vontade de gritar de tamanha felicidade que eu estava sentindo em poder novamente beijar aqueles lábios e poderia ter ficado assim pra sempre se uma voz não tivesse feito nós dois voltarmos à realidade.

– Ecla. – disse Damon.

Me separei relutante de Ashley e olhei para ela. Ela estava corada e com os lábios vermelhos formando um sorriso tímido. Já eu não conseguia parar de sorrir.

– O que eu te disse hoje cedo foi a mais pura verdade e eu queria saber se você não quer ser mais do que minha amiga? – perguntei de uma vez antes que eu perdesse a coragem.

Ashley sorriu abertamente e abraçou meu pescoço me puxando para perto dela me dando um beijo, que pelo amor de todos os Deuses, foi muito bom.

– Ecla, ala tom icho. – disse Damon e mais uma vez tive que fazer um grande esforço para me separar de Ashley.

– Levo esse beijo como um sim e não aceito outra resposta. – falei e Ashley sorriu assentindo.

– Desculpa, não queria interromper vocês, mas... – disse Marvin e eu sabia bem que ele queria sim. – ... se vocês olharem para lá vão ter um ótimo motivo para sairmos correndo daqui.

Olhei na direção que ele apontava e vi diversos monstros vindo em nossa direção. É, parece que ele não queria nos interromper mesmo.

– Corram. – gritou Marvin pegando sua mochila e a de Damon. – Para a área de embarque.

Peguei a mão de Ashley enquanto ela pegava sua mochila e segui Marvin que corria na frente da gente gritando para as pessoas abrirem caminho. Olhei mais uma vez para trás e vi um cão infernal pulando pelas pessoas e já estava chegando perto da gente.

Soltei a mão de Ashley e peguei o pingente em forma de lua e ele se transformou em meu arco. Desejei que uma flecha que criasse uma fumaça preta e desça aparecesse e em um segundo ela já estava no arco.

– O que você vai fazer? – gritou Ashley tocando o meu ombro.

– Só corre. – falei olhando para ela e me virando.

Mirei bem em uma pilastra e soltei a flecha. Em poucos segundos uma nuvem preta tomou conta do lugar fazendo as pessoas tossirem ao inalarem ela. O cão infernal saltou sob a fumaça na nossa frente, mas antes de nos acertar ele se transformou em pó e uma faca caiu no chão.

– Corram, essa fumaça não vai durar muito tempo. – gritou Marvin enquanto corria. Pegou alguma coisa em seu bolso e apertou.

– Vamos. – falei e sem hesitar seguimos ele.

Subimos uma escada e eu olhei para trás. A fumaça preta encobria todo o andar, essa flecha foi bem potente. Marvin diminuiu a velocidade quando chegamos perto da área em que entraríamos. Ele estalou os dedos na frente da mulher que pegaria nossas passagens e checaria sem lá o que, não me culpem nunca viajei de avião antes, falou alguma coisa para ela que assentiu e nos guiou para dentro do avião.

Guardamos nossas coisas e cada um sentou em seu lugar, que eu não acho que seja nosso mesmo. Ashley e eu estávamos sentados em uma fileira e Marvin e Damon estavam na fileira da frente.

Percebi que Damon estava rindo enquanto Marvin colocava ele em algum tipo de bercinho. Um monte de monstros correm a trás da gente e ele esta rindo? Não resisti e comecei a rir também. Logo Ashley e Marvin estavam nos acompanhando.

– Não tem problema sentarmos aqui? – perguntou Ashley olhando para os lados. Não tinha muitas pessoas nesse voo.

– Não. Eu chequei a venda de passagens o tempo inteiro e por causa desse atraso muitos tiveram que cancelar o pedido e essas poltronas estão vagas. Como o voo é direto para Chicago não tem problema, ninguém vai entrar no avião quando ele estiver no céu. – respondeu Marvin

– Obrigado, Damon. – falei baixinho. Se Damon não estivesse nesse avião junto comigo, meu tio Zeus poderia muito bem dar um jeito desse avião cair. Isso me fez lembrar de como eu segui eles.

Percy me emprestou BlackJack e eu fui direto para o aeroporto achar um lugar para ficar de olho nos três sem que eles me visem. Não gosto de voar, mas era necessário, era o único meio mais rápido de se chegar ao aeroporto, não dava para usar o transporte pelas sombras de dia.

– Será que vamos decolar? – perguntou Ashley. – E os monstros vão vir atrás da gente aqui?

– Vamos decolar sim. – foi Marvin que respondeu. – Usei a nevoa e disse para a mulher que era só uma brincadeira de alguma criança que estava acontecendo atrás da gente e por causa da nevoa é exatamente isso que os mortais vão pensar e ela já vai falar que já podemos decolar e os monstros não vão nós seguir porque eu liguei isso. – falou chacoalhando um mp4. – E a fumaça vai ajudar atrapalhando o olfato e a visão deles.

– Ah. – falamos Ashley e eu juntos entendendo o que ele queria dizer.

Esse mp4 manda um tipo de sinal que desorienta os monstros e encobre a presença de meio-sangues que estão em um raio de 1 km, se não me engano, perto dele, mas se um monstro esta na sua frente isso não vai ajudar muito a não ser o deixar um pouco desorientado na hora de nos atacar.

– Porque não ligou isso antes? – perguntei começando a ficar irritado.

– Porque ele gasta muita energia, só da para ficar com ele ligado por alguns minutos, minutos esse que vão ser o suficiente para decolarmos. – respondeu Marvin.

– Hum. – murmurei enquanto ouvia o piloto falar um monte de coisas que não dei a mínima atenção. Preferi entrelaçar meus dedos com os de Ashley e olhar para ela.

Cara, ela é minha namorada. MINHA namorada. Como é bom pensar assim e saber que é real e não um sonho.

– Annabeth. – disse Ashley sorrindo e descansando a cabeça em meu ombro. – Eu sabia que ela não ia deixar Damon com a gente tão fácil assim.

– Temos que ligar pra ela. – disse Marvin. – Pode deixar que eu ligo depois que a gente decolar.

– Já vamos decolar? – perguntei. Não fazia muito tempo que estávamos no avião.

– Foi o que o piloto disse. – respondeu Ashley. – Você não ouviu? – chacoalhei a cabeça indicando que não, tinha coisas melhores para fazer do que escutar um cara falando.

– Por favor coloquem os cintos. – disse uma aeromoça passando por nos verificando se todos estavam com cintos.

– Iupiiiiiiiiiii. – gritou Damon fazendo a gente rir.

POV Atena

Mais uma vez Zeus havia nos convocado para uma reunião e desça vez eu já estava preparada e tanto Poseidon como eu já estávamos no Olimpo, na sala dos Tronos esperando os outros Deuses. Chegamos bem cedo e só estávamos nos dois e Hestia.

– Hera vai querer te jogar no Tártaro. – disse Hestia quando contei o porque dessa reunião.

Estávamos em pé em volta da lareira central observando as chamas crepitarem. Meu marido estava me abraçando por trás e descansando a cabeça em meu ombro enquanto que Hestia fazia algumas brincadeiras com o fogo.

– Provavelmente, mas eu não tenho culpa. Se ela quer se meter com os semideuses nada impede que os outros Deuses também façam isso. – falei calmamente.

– Jason é precioso para ela. – disse Hestia sorrindo timidamente.

– Assim como todos os outros filhos dos Deuses. – falou Poseidon beijando meu pescoço. – Se ela quer burlar as regras ela deveria...

Poseidon não terminou de falar e a porta da Sala dos Tronos se abriu com um estrondo. Virei lentamente na direção da porta e vi uma Hera furiosa adentrando a sala. Poseidon me abraçou mais forte.

– Como ousa contar sobre ele para aquelazinha. – gritou Hera chegando perto de mim com o braço erguido como se fosse me dar um tapa.

– Nem ouse pensar em tocar na minha mulher, Hera. – disse Poseidon colocando seu corpo na frente do meu.

– Então coloque sua mulher no lugar e a faça não se meter na vida dos outros. – gritou Hera soltando fumaça de tão raivosa que estava.

Os outros Deuses chegaram bem nessa hora, em sincronia, e ficaram assustados com os berros de Hera. Vi meu pai ao lado de Hera colocando as mãos em seus ombros.

– Por favor...

– Por favor nada Zeus. Sua filha não pode sair impune dessa. – disse Hera. Ela falou com tanto despreza sua filha que eu podia jurar que escorreria veneno pelo canto de sua boca.

– Então nos duas seremos punidas nisso tudo Hera. – falei saindo de trás de Poseidon e encarando ela. – Foi você que se meteu com quem não devia. Foi você que fez a escolha errada em subjugar a mim, justamente a mim. A Deusa da Sabedoria e Estratégia em Batalha.

– Eu subjuguei você? – disse ela com mais desprezo ainda cada palavra.

– Mexeu com minha filha e com a família dela. Colocando em risco a vida de alguém que ela aprecia muito. Acha mesmo que eu ia deixar você subjugar assim ela? Subjugou ela, subjugou a mim.

– Você contou tudo para ela. – gritou Hera com o rosto vermelho de fúria.

– Nem tudo, devo dizer. Somente aquilo que ela precisava saber para salvar Damon.

Assim que eu falei o nome de Damon Hera perdeu o controle e avançou sobre mim. Zeus envolveu seus braços na cintura de Hera impedindo que ela avançasse mais para cima de mim. Poseidon colocou uma mão em minha cintura me trazendo para mais perto dele e senti que seu corpo estava rígido.

– O que foi Hera? Porque quer tanto que Damon seja o sacrifício? Porque quer tanto ver minha filha triste e impotente? Não creio que é só para manter Jason vivo, você não gosta de semideuses, principalmente se esse semideus for um filho de seu marido com uma mortal.

– Atena, por favor, não continue com isso. – pediu Zeus, mas eu não podia parar agora, Hera merecia ouvir tudo que eu tinha para falar.

– Você sente inveja dela, não é? Da família que ela criou. De como Annabeth protege cada um e sempre estima o melhor para eles. De como Percy aceitou muito bem a escolha dela de criar Damon e a esta ajudando com tudo isso. Até Nico entrou junto com eles nessa e os ajuda. Uma família unida e que quando estão juntos são uma família muito feliz. Muito diferente dessa família que você quer tanto para você e olha que você esta tentando fazer isso há milênios e Annabeth conseguiu isso tudo em um ano.

– CALA BOCA. – gritou Hera desaparecendo com um clarão forte junto com Zeus.

A Sala dos Tronos caiu em um silencio que até dava para ouvir o barulho que os mortais estavam fazendo lá em baixo.

Olhei para os outros Deuses e somente Ares estava serio, filhinho da mamãe, e ele desapareceu em uma nuvem preta. Os outros Deuses estavam com um sorriso no rosto.

– Até que enfim alguém falou alguma coisa para ela. – falou Apolo e os outros concordaram. – Já estava na hora.

– Mais cuidado, Atena. – disse Ártemis. – Hera é vingativa, muito vingativa.

– Não se preocupe. Meu trabalho é estar sempre passos a frente de meu adversário, estou preparada para tudo que Hera esta planejando. – falei sorrindo.