Às vezes me pergunto se em algum verão no acampamento eu somente vou curtir o acampamento, como um campista meio-sangue normal. Mais eu sei que minha sorte não é tão boa assim.

Desde o dia que eu tive o sonho/pesadelo com a volta de Luke e a aparição de Oceano, quase todas as noites desde então tenho o mesmo pesadelo. Luke deitado em uma cama com lenções de seda o cobrindo. Oceano conversando com Anfitrite sobre algo que eu não faço ideia e que eu nunca gostaria de saber.

Mais de tudo que aconteceu, o que mais me perturbava era Luke. Ele estava parecendo um cara normal e sem a cicatriz no rosto. Ele deu sua vida para salvar a todos e de uma hora para outra volta para o outro lado, de novo.

Até me acostumei quando tenho esse pesadelo, no começo acordava no meio da noite suando e tremendo, nada do que eu ou Annabeth fazíamos fazia com que eu voltasse a dormir. Agora nem mais acordo de madrugada. O que é um alivio.

Graças aos Deuses fazia um mês que não tinha mais esses sonhos, o que é MUITO bom. Mas de alguma forma sentia que isso não era muito bom assim não.

Senti um par de mãozinhas no rosto me fazendo acordar. Abriu os olhos e vi Damon em cima de mim sorrindo sapeca. Quando ele viu que eu abri os olhos ele olhou para o lado, eu segui o olhar dele, e vi Annabeth sorrindo para nos dois.

– Papa. – disse Damon bem devagar apontando o dedinho para mim.

Se fosse possível Annabeth abriu ainda mais seu sorriso e deu um beijinho bem demorado no rosto de Damon que riu mais ainda. Ela fica toda toda quando Damon fala, ela acha a coisa mais fofa do mundo, palavras dela.

Fazia pouco tempo que Damon tinha aprendido a falar, mais a convivência com Annabeth faz qualquer um aprender bem rápido algumas coisas, eu sou um exemplo disso.

A primeira palavra que Damon falou foi papa, Annabeth ficou de cara fechada até o dia que ele falou mama. Ela não aceitava que a primeira palavra dele fosse papa e não mama. Fiquei dias escutando de como era injusto ele ter dito isso se era ela que passava a maior parte do tempo com ele, fazer o que eu não tive culpa nem uma nisso, foi ele que falou.

O pior foi Zeus que não gostou nada do Damon me chamar de papa. Por uma semana inteira ficou chovendo e a única maneira de eu sair do apartamento sem levar um raio na cabeça era carregando Damon a onde quer que eu fosse. O bom é que fiquei sem ir à escola por essa semana inteira.

No fim até que foi muito divertido isso tudo, exceto a greve de sexo que Annabeth fez...

– Ai. – reclamei quando Annabeth me deu um tapa na cabeça. As vezes esqueço que ela pode ler pensamentos.

– Parabéns filhinho. – disse Annabeth tocando gentilmente a cabeça de Damon. – Acordar esse ai... – ela apontou pra mim. –... não é para qualquer um não.

Damon riu com seus quatro dentinhos, dois em cima e dois em baixo, ele engatinhou e me deu um beijo no meu queixo. Pequei Damon e o levantei brincando de aviãozinho. Ele adora essa brincadeira.

Annabeth pegou Damon no colo, quando passei ele para ela, e lhe deu mais um beijo na bochecha.

– Bom dia, Cabeça de Alga. – disse Annabeth e me deu um beijo na bochecha. – Se levanta para tomar café.

– Bom dia. Já vou, só vou tomar um banho.

Olhei Annabeth e Damon saírem do quarto e me levantei.  Tomei um banho bem gostoso, adoro a banheira daqui. Banheira?

Pois é. Por causa do Damon Annabeth e eu resolvemos morar juntos, sabe assim fica mais fácil para nos dois cuidarmos e sermos presentes na vida de Damon. Sem falar que Annabeth foi estudar na mesma escola que eu então tudo esta uma maravilha.

Minha mãe fica com Damon de manhã. Ela adora ficar com ele, mais ela não fica sozinha com ele, Annabeth e eu contratamos uma empregada então ela ajuda minha mãe. Minha mãe disse que essa era uma maneira dela nos ajudar para que tanto eu e Annabeth pudéssemos estudar tranquilos cedo e ela ainda podia escrever seu novo livro. É isso ai minha mãe esta escrevendo mais um livro e com isso agora ela não trabalha mais fora, se dedica totalmente aos seus futuros projetos literários.

Por falar na minha mãe. Ela ralhou MUITO comigo e com a Annabeth quando voltamos do acampamento com Damon e contamos, oficialmente, que adotamos ele. Mais depois ela deu o maior apoio e disse que nos ajudaria, como disse logo acima ela esta ajudando e muito.

Outra noticia boa envolvendo minha mãe é que ela teve uma linda menininha, Samantha. Minha irmãzinha esta com dois meses é a coisinha mais fofa, ela é idêntica a minha mãe, os olhos, a cor dos cabelos, tudo. Paul é um pai coruja daqueles.

Minha mãe ficou toda feliz.  Todos os dias ela vem com a Sam aqui no apartamento e ela, Sam e Damon se divertem há valer juntos, quando ela não esta escrevendo o seu novo livro, enquanto a empregada limpa a sujeira dos três, fala serio né?

À tarde Annabeth fica com Damon em casa. Ela fica projetando alguma coisa, o que geralmente é alguma coisa que algum Deus pediu, e tomando conta das reformas do Olimpo e do palácio do meu pai via MI.

Eu? Bom, eu trabalho à tarde, somente meio período, no parque aquático, nada melhor para um filho de Poseidon né? Volto no começo da noite e ai Annabeth e eu dividimos os cuidados com o Damon.

Isso me lembrou que eu vou fazer faculdade de Biologia Marinha depois do verão. Annabeth vai fazer Arquitetura. Estão surpresos né?

– Percy. – gritou lá de baixo Annabeth. – Anda Cabeça de Alga.

Sai da banheira e me sequei rapidamente, gosto de fazer isso – me sinto mais normal fazendo essas coisas simples. Fiz minha higiene bucal. Coloquei uma simples calça jeans, uma regata preta e tênis Nick. Sem querer meus olhos caíram na direção da porta do cofre. Pois é, Annabeth tem um cofre no quarto, mais não vou contar a onde é.

Olhando para o cofre me lembrei das caixas que os Deuses nos deram, uma para mim, outra para a Annabeth e a terceira para o Nico. Nos três resolvemos deixar elas juntas dentro desse cofre. Nunca as abrimos, nunca precisamos na verdade. Às vezes me pego pensando o que será que tem dentro delas, mais esse pensamento logo some.

As caixas me fizeram lembrar das nossas fênix, outro presente que os Deuses deram para nos três. As três estão no acampamento agora, achamos que assim seria mais fácil e também qualquer coisa é só chamar o nome delas que elas aparecem na nossa frente.

Chacoalhei a cabeça dispersando meus pensamentos antes que Annabeth me chamasse de novo, ela não gosta de falar duas vezes. Desci até a cozinha e encontrei Damon na cadeirinha dele comendo, Annabeth estava fazendo panquecas e Nico tomando café da manhã.

Nico? Você deve estar se perguntando o que pelo raio de Zeus esse emo Caveirinha Junior esta fazendo aqui, né?

Bom, no final das férias de verão do ano passado Nico perguntou se ele poderia morar com a gente. Eu queria perguntar por que mais Annabeth riu muito nessa hora que eu nem perguntei. Ela disse que sim pra ele e eu fiquei boiando.

Depois ela me contou que o Nico queria ficar mais perto da Ashley para ver se ele tinha coragem de se declarar para ela e para ficar perto caso Marvin estivesse por perto dela também. Não preciso dizer que eu sempre pego no pé dele por ele não ter se declarado ainda, né?

Agora você se pergunta como é que a gente ainda esta vivo morando em um apartamento com três filhos dos três Grandes e uma filha de Atena?

Simples. Annabeth aprendeu um feitiço com Hécate que cria uma barreira protetora em torno do prédio que impede que os monstros entrem aqui, como a do Acampamento – a diferença é que essa permite que os mortais vejam o que ela encobre e podem atravessar ela –, por isso minha mãe vem aqui em vez de deixarmos Damon no apartamento dela.

Annabeth também fez outro feitiço no nosso apartamento. Aqui só entra mortais que a gente, Annabeth, Nico e eu convidarmos, porque vai que Anfitrite resolve mandar mercenários mortais atrás da gente de novo. Com esse feitiço ficamos mais tranquilos quando deixamos Damon com minha mãe.

Sabem de uma coisa, Annabeth esta me dando medo. Desde o verão passado ela esta estudando magia e ela é muito boa nisso que da até medo. Mais deixa isso quieto.

Continuando a falar do Nico. Ele estuda na mesma escola que a Ashley, já devem ter sacado o porquê né, ele passa as tardes com a Ashley em um grupo de conscientização sobre meio ambiente – o que o amor não faz –, e voltam junto comigo, quando passo para pegar os dois lá.

Me sentei ao lado da cadeirinha de Damon e lhe deu um beijinho na testa.

– Bom dia. – falei sorrindo para Damon, não tinha falado para ele ainda, e me virei para Nico. – Bom dia, Nico.

– Bom dia. – disse Nico e depois comeu um grande pedaço de panqueca com calda de mel.

Annabeth colocou um prato de panquecas na minha frente com cobertura azul. Fiquei muito mal acostumado com minha mãe e Annabeth entrou na brincadeira da comida azul também, mais ela só faz isso de vez em quando.

– Não tem problema mesmo você ficar com Damon, os dois sozinhos, hoje? – me pergunto Annabeth pela enésima vez essa semana.

Desde a semana passada Annabeth combinou de levar o Nico e a Ashley para o acampamento e eu iria ficar com o Damon durante o dia inteiro e agora ela não para de me perguntar isso.

Mais uma informação. Era para os três terem ido ontem, que foi o ultimo dia de aula para a gente, mais Annabeth só não levou eles porque Anthony, pai da Ashley, nos convidou para jantar. Aproveitamos também e fizemos uma festinha para o Damon já que amanha é aniversario dele.

Edwin, Mandy, Marvin e Grover vieram nessa festinha. Mesmo sendo dois dias antes foi bem divertido a festinha de aniversario do Damon com direito a torta na cara de todo mundo.

Então ficou para hoje mesmo ela levar eles para o Acampamento.

Annabeth também vai aproveitar para dar uma olhada em como esta a reforma no palácio do meu pai, por isso ela só vai voltar à noite. Agora ela esta em uma área muito importante do palácio, a sala de jogos, então ela quer ver pessoalmente. Pois é eu sei, grande responsabilidade.

– Já disse que não. – respondi a mesma coisa que eu respondo a uma semana. – A gente vai ficar bem né, garotão?

– Ne. – disse Damon rindo.

Vocês devem se estar perguntando mais uma coisa, não é? Por que Annabeth, Damon e eu não vamos para o acampamento junto com eles?

Segunda feira Damon tem consulta com a sua pediatra, não é nada de mais e só exame de rotina. Então assim Annabeth e eu resolvemos passar uma semana aqui, pois teríamos que pegar os resultado dos exames no final dessa semana, e só depois iriamos para o acampamento.

Quiron não iria deixar nos dois aqui em Nova York enquanto ele precisava de professores no Acampamento com a chegada de muitos meio-sangues reclamados. Annabeth da aula de grego antigo e eu de esgrima.

– Pega suas coisa Nico, ainda temos que passar na casa da Ashley. –disse Annabeth olhando para o relógio.

– Você me acordou às sete da manhã? – gritei indignado quando olhei as horas.

Annabeth riu com gosto da minha atitude nada madura. Damon também acompanhou a “mama” dele e ai não deu para eu ficar com raiva dos dois.

– Ai Percy para de criancice. Eu só te acordei porque eu não poderia deixar Damon acordado sozinho enquanto você dorme. – se explicou ela inocentemente.

– Sei. – falei fazendo biquinho.

Annabeth rolou olhos e me deu um selinho que eu fiz questão de virar um beijo bem longo e prazeroso.

– Ecla. – disse Damon fazendo eu e Annabeth nos separarmos rindo.

– Ecla mesmo Damon. – falou Nico escorado no batente da porta da cozinha com sua mochila no chão. – Vamos Annie?

– Vamos. – disse Annabeth e me deu um selinho.

Annabeth limpo a boquinha de Damon e o pegou no colo e juntos, nos quatro, fomos até a garagem do prédio.

Paramos perto do carro de Annabeth, um Audi azul escuro modelo RS4. Annabeth me passou Damon e destravou o carro.

Damon e eu nos despedimos deles, ou tentamos já que Annabeth repetia pela milionésima vez tudo o que eu precisaria para manter Damon vivo até ela voltar.

Como se eu fosse um irresponsável, imaturo. Levei um belo tapa na cabeça por esse comentário mental.

– Feliz aniversario, garotão. – disse Nico despenteando os poucos cabelinhos da cabeça de Damon que ria feliz.

– Ale, arinha xunior. – Damon falou devagar e nos três caímos na gargalhada. Cara, Damon é uma graça.

Nico não se importa que Damon, mesmo que o Damon o chame de arinha xunior, ou Ashley lhe chame de Caveirinha Júnior, mais os resto de nós ele quase joga no Tártaro cada vez que falamos seu apelido.

– Nos vemos daqui uma semana. Tchau papai. – disse Nico pra mim e entrou no carro.

– Sei tudo que preciso saber. Nos dois vamos ficar bem e esperar você como dois anjinhos. – disse eu antes que Annabeth começasse o falatório de novo.

– Tudo bem. – falou Annabeth rolando os olhos. Ela me deu um beijo e um beijo na bochecha de Damon. – Se comportem hein.

– Pochi decha. – disse Damon devagar tentando fazer joinha com o dedão.

– Fica tranquila. – falei e dei um selinho nela.

Annabeth entrou no carro e saiu pela porta do estacionamento. Ficamos Damon e eu olhando para o nada a nossa frente. Meu carro estava estacionado do lado do da Annabeth, ele estava parecendo novo – Jake Manson, filho de Hefesto, adorou tirar o amassado que tinha na porta do carro. Ver o meu carro me deu uma ideia.

– O que acha de dar uma volta no Central Park? – perguntei para Damon sorrindo.

– Sovete. – disse Damon sorrindo. Cara o sorriso dele é muito contagioso.

Uma coisa que o Damon adora é sorvete, se não conseguir fazer ele parar de chorar ou qualquer outra coisa é só dar sorvete para ele que ele fica quietinho na hora. Mais eu não dou muito se não Annabeth me joga no Tártaro.

– Ah mais que lindo. – disse alguém atrás de mim.

Olhei para trás e me deparei com Vicky Virgil, eu sei nome esquisito né, e Karl Montgomery. Karl tem 30 anos, mora aqui no prédio e Vicky é namorada dele, ela só tem 20 anos e passa mais tempo na casa do Karl do que na dela, que no caso seria o dormitório da faculdade.

– Fala serio, Karl, Damon não é uma fofura. – disse Vicky sorrindo para Damon que retribuiu o sorriso fazendo Vicky se derreter.

– Acho que vou perder minha namorada para o Damon, que é um bebê. Vê se pode. – comentou Karl fazendo todos rirem.

– Não se preocupe, vou esperar ele pelo menos ter uns 17 anos antes de eu te largar para ficar com ele. – disse Vicky consolando o namorado, se isso for um consolo claro.

– Falando tudo isso, eu tenho certeza absoluta, que Karl se sentiu bem melhor. – falei rindo da cara que o Karl fez de desiludido.

– Eu sei. – disse ela convencida. – Mais vamos ter que ir. Férias no Brasil. – cantarolou ela dando um beijo na bochecha de Damon e um beijo na minha bochecha.

Ainda cantarolando alguma musica, que eu tenho certeza que é brasileira mais eu não conheço, ela entrou no carro de Karl.

–Boa viagem. – desejei a ela. – Brasil é? – perguntei apertando a mão de Karl e depois ele fez um cafune em Damon.

– Para você ver. Mais temos que ir antes que percamos o nosso voo. – respondeu Karl indo para o carro dele e logo dando partida.

– Boas férias. – falei acenando para eles e eles sumiram pela entrada/saída da garagem.

– Noi doi. – disse Damon rindo e batendo palminha.

– É garotão.  Agora é só nos dois. – disse indo para o elevador. – Antes de irmos para o Central Park vamos trocar de roupa. A sua está suja de papinha de neném.

– Zul. – falou ele e eu sei bem no que ele estava referindo com “zul”. Damon é viciado em roupas azuis, você pode colocar qualquer roupa nele que Damon fica quietinho, mais essa roupa tem que ter alguma coisa azul se não...

É melhor eu nem falar sobre essa parte, fiquei algumas semanas sem ouvir direito quando tentei colocar uma roupinha que não tinha nada de azul nele. O garoto tem uns pulmões.

– Com certeza roupa zul. – concordei com ele quando as portas do elevador se fecharam.