Decode escrita por Miller


Capítulo 8
I'm screaming 'I love you so'...


Notas iniciais do capítulo

Bem, okay, eu passei vários dias escrevendo este capítulo e resultou nisto daqui: mais de quatro mil palavras.
Mas, enfim, chegamos ao último capítulo e, sinceramente? Eu estou bem feliz com o rumo que esta estória tomou.
Decode foi uma experiência incrível e eu amei escrevê-la, principalmente por se tratar de uma fic totalmente PoV Lily.
Eu espero que gostem



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I'm screaming "I love you so"...

(Capítulo Oito)

A sensação que tinha era de como se minha boca estivesse cheia de algodão. Minha garganta ardia pela sede e meu corpo inteiro doía como se eu houvesse sido espancada até desmaiar. Minha cabeça latejava como se tivesse um gongo dentro de minhas têmporas.

Meus olhos estavam pesados demais e eu estava cansada demais – tanto física quanto mentalmente – para que eu tentasse abri-los.

Eu me sentia uma merda. Uma grande, grande, grande merda.

Onde eu estava com a cabeça quando tinha cogitado a idéia de sair com Lucius Malfoy? Onde eu estava com a cabeça quando eu resolvi me direcionar para a mesa da Sonserina e convidar alguém? Onde eu estava com a cabeça quando eu criei um plano para fazer ciúmes em James? Ou melhor, onde é que eu, Lily Evans estava com a maldita cabeça quando resolvi afastar James quando eu havia descoberto meu amor por ele?

Bem, com certeza meu cérebro deveria estar sofrendo de seriíssimos problemas mentais degenerativos para me fazer ter idéias desse tipo.

– Como ela está? – a voz de Lene penetrou meus devaneios e eu quase senti vontade de abrir os olhos, mas desisti no meio do caminho.

– Ah, ela sofreu um choque muito grande o que causou um desencadeamento de reações no seu corpo. – Passos rápidos se aproximaram de minha cama e eu soube, pelo som de pantufas, que era Madame Pomfrey quem estava ali com Lene. – Ela estava com uma febre muito alta hoje mais cedo, e ontem à noite ela parecia estar congelando de frio. Não teve muito que eu pudesse fazer além de compressas. Eu fui preparada para lidar com ferimentos na pele, ossos quebrados, fraturas, gripes... Não com ferimentos emocionais, desses, ela parece ter muitos – a voz de madame Pomfrey parecia abafada aos meus ouvidos. – Assim que ela acordar e estiver bem, vai poder ter alta.

Senti algo frio pousar sobre minha testa antes de ouvir novamente as pantufas arrastarem pelo chão e saber que Madame Pomfrey já havia se afastado.

Ferimentos emocionais...

Ferimentos emocionais? É, então talvez fosse isso mesmo que eu tivesse e não um sério problema mental degenerativo (mas eu ainda não excluiria essa possibilidade).

Eu estava ferida, meu coração estava ferido. Esse meu ultimo ano parecia estar indo de mal a pior, desde o começo, eu tive uma briga séria com minha família (lê-se Petúnia), pus fim em minha amizade completamente masoquista entre mim e Snape, terminei o meu namoro de quase um ano com Amus, depois descobri que estava apaixonada pelo ultimo cara que eu imaginava poder gostar, ai, logo em seguida, provei todas as minhas capacidades de burrice quando eu enxotei esse mesmo cara apenas por medo.

É, definitivamente eu estava bastante ferida. E isso era ruim, pois depois que a enfermeira falou aquilo, parecia que eu finalmente tinha aberto os olhos (não literalmente, claro, pois meus olhos continuavam fechados e eu não me importava em abri-los) e estava vendo o quanto minha vida parecia estar incompleta e vazia.

Merlin, o que eu havia feito? Porque eu precisava ser assim tão complicada?

Suspirei longamente.

– Lily? – Lene, que eu havia me esquecido que ainda estava ali, me chamou. – Você está acordada?

Eu discuti mentalmente se deveria fingir que estava dormindo e esperar que ela fosse embora para que eu pudesse organizar meus pensamentos. Mas não, Lene merecia mais do que aquilo.

– Oi – eu resmunguei.

– Ah, oi – senti-a se aproximar. – Hum, será que você pode abrir os olhos? É estranho conversar com alguém assim sabe...

– Ah, Lene, eu realmente não tenho forças para isso – eu disse e a ouvi rir baixinho.

– É incrível essa sua capacidade de fazer piada nos piores momentos – Lene comentou.

– Você devia ter ouvido meus pensamentos quando eu estava naquele galpão, ai sim você saberia da minha capacidade de fazer piadas nos piores momentos – eu comentei enquanto lembrava da minha piadinha interna completamente estúpida sobre ‘as varinhas’ do Malfoy. Sim, eu sofria de problemas mentais degenerativos também.

– Hum, tudo bem então – senti a cama afundar na parte dos pés e deduzi que Lene deveria estar sentada lá. – O que foi que houve Lily?

– Lene, tudo que eu sei é que em um momento eu estava caminhando para a loja de penas e no outro, puff, eu desmaiei e acordei em um galpão fétido e asqueroso – franzi o nariz ao recordar do lugar.

– Eu pensei... – Lene começou, mas sua voz ficou fraca e ela não conseguiu concluir a frase.

Com muito, muito, muito esforço eu finalmente abri meus olhos. Lene estava com o uniforme da escola, seu cabelo preso em um rabo de cavalo e a expressão cansada.

– Eu sei, mas está tudo bem – eu me esforcei e sentei na cama, sentindo-me estranhamente rígida ao fazer aquilo. – Outch, tudo dói – eu reclamei e pus a mão em uma das minhas costelas do lado esquerdo. Estava latejando ali.

– Madame Pomfrey disse que você poderia sair daqui quando acordasse, mas eu acho que se você está sentindo dor...

– Esqueça, eu estou ótima – eu disse e teria saltado para fora da cama não fosse o fato de ter travado quando vi quem estava entrando pela porta da Ala Hospitalar.

Era ele. O – mesmo que indiretamente – causador de toda aquela confusão. Não que eu me importasse, afinal de contas a burra da história toda era eu.

Então como eu estava quase pulando da cama, mas parei no meio do caminho é CLARO que meus pés se enroscaram com os lençóis da cama e me fizeram cair e bater com a testa diretamente na patinha da frente da mesa que ficava ao lado da cama onde eu estava.

Uma coisa do tipo que só acontece comigo.

Eu teria ficado no chão, fingindo de morta até de fato acontecer isso, mas mais alguns passos na porta chamaram a minha atenção e de repente o vozeirão do diretor ressoou pela sala.

– Ah, Srtª Evans – Dumbledore entrou a passos largos pela sala e estendeu a mão para mim que ainda estava estatelada no chão. – Vejo que parece melhor – e quando consegui desenroscar meus pés do lençol o diretor ergueu uma sobrancelha. – Ou nem tanto? Estava se sentindo tonta? Por isso estava no chão? – ele perguntou preocupadamente e eu senti vontade de me transformar em avestruz e enterrar minha cabeça no chão.

Porque meu Merlin? Porque aquele tipo de coisa somente acontecia comigo? Eu já não tinha sofrido bastante? Já não estava bastante ruim para meu lado? Não acha que era suficiente?

Respirei fundo antes de responder, enroscando minhas mãos no lençol e apertando-o fortemente para descontar um pouquinho da minha irritação antes que – do jeito que eu estava pegando pratica – acabasse lançando um Levicorpus no diretor também.

– Ah não, eu apenas me enrosquei com os lençóis – eu murmurei baixinho sentindo meu rosto esquentar.

– Oh, enroscou-se nos lençóis? – o diretor deu algumas risadas e passou a mão por sua longa barba. – Isso me faz lembrar quando eu era jovem e dormia na casa de um vizinho meu. Ah, bons tempos aqueles, e uma vez quando eu estava lá, ele tinha um lençol que...

–AH! Você acordou – Madame Pomfrey saiu rapidamente de sua salinha interrompendo o que parecia ser um longo discurso sobre lençóis do diretor.

Intimamente senti-me aliviada.

Pomfrey veio até onde eu estava e examinou meus olhos, a pulsação e tocou em minhas costelas com dois dedos – o que eu não entendi. Logo em seguida me estendeu um copo onde havia um líquido branco e melequento que não me atraiu nenhum pouco.

– Isso é um energizante, vai te ajudar um pouco com o cansaço e a dor – ela sorriu para mim, o que eu estranhei, pois nunca a havia visto fazer aquilo. – Beba, beba.

Eu tomei o liquido que estranhamente era quente, mesmo que houvesse cubos de gelo dentro do copo. Aquilo pareceu irradiar calor por todo o meu corpo, fazendo com que a dor em minhas costelas e no meu recente provável hematoma na testa diminuísse.

– Obrigado – eu agradeci à enfermeira e ela sorriu novamente.

Estranho.

– Ela já pode sair Pomfrey? – Dumbledore perguntou e a mulher confirmou com a cabeça, dando espaço para que o diretor se aproximasse de onde eu estava. – Ah, muito bem, será que a senhorita poderia me acompanhar até minha sala junto com o senhor Potter e a senhorita McKinnon? – ele perguntou bondosamente, como se receasse que eu pudesse cair desmaiada novamente.

– Claro – eu disse e confirmei com a cabeça.

Dumbledore sorriu para mim e falou mais alguma coisa com Madame Pomfrey antes de caminhar em direção à saída. Eu o segui, Lene ao meu lado e James mais a frente – sem nunca olhar em minha direção.

E então eu lembrei que antes de toda a loucura com Malfoy acontecer, eu tinha um plano para tentar deixar as coisas legais entre nós dois.

E o plano nada era se não: a verdade. Somente isso. Eu iria até ele, explicaria sobre meus problemas mentais e que foi por causa deles e de meu medo com relação aos meus sentimentos que eu havia feito todas as loucuras que aconteceram. Porque não adiantaria de nada se eu tentasse fazer milhares de armações imbecis na louca tentativa de deixá-lo com ciúme sendo que ele poderia apenas ficar mais confuso com relação às minhas ações. Afinal eu havia dito que não gostava dele e por mais que fosse a maior mentira que eu já tenha dito, ele acreditou.

O diretor cantarolava baixinho uma musica alegre quando chegamos ao sétimo andar e paramos em frente à gárgula que protegia a porta.

Feijõezinhos de todos os sabores – o diretor disse e a gárgula girou, deixando a vista uma escada.

Nós subimos, todos em silêncio, e quando entramos na sala a primeira coisa que vi foi que Dorcas estava lá com a habitual aparência de alguém que está perdida em pensamentos.

– Ah, Lily, você está bem? – ela perguntou assim que me viu, parecendo muito mais séria do que o normal.

– Yeah, eu estou – eu resmunguei enquanto ela me dava um abraço apertado e eu sentia uma grande onda de gratidão me preencher. – Ah, Dorcas, muito, muito obrigado – eu agradeci e a encarei nos olhos tentando demonstrar o quanto eu me sentia grata pelo que ela havia feito.

Afinal, não era todos os dias que minha vida era salva de um provável estuprador – e eu sentia calafrios quando pensava em quão perto ele esteve – com ameixas dirigíveis.

– De nada – ela deu de ombros como se fizesse aquilo todos os dias.

O diretor pigarreou e eu virei para encará-lo, assim como todos os outros – e eu não havia visto que Remus e Sirius estavam ali até aquele momento.

– Bem, acho que vocês já devem ter suposto o porquê de eu tê-los chamado até aqui – o diretor olhou para cada um. – Preciso dizer que foi um choque para mim quando Hagrid me contou o que havia acontecido – ele me encarou com os olhos bondosos. – O senhor Malfoy fugiu antes que conseguíssemos pegá-lo – senti um calafrio perpassar por mim – mas já tomamos as providencias e o Ministério da Magia foi informado da tentativa... Bem, do acontecimento – Dumbledore passou uma mão pelas barbas e olhou para Dorcas.

– Senhorita Meadowes – ele chamou. – A senhorita estava com Lily quando aconteceu?

– Ah, não senhor, eu fui com a Lily para Hogsmead e nós íamos para o Três Vassouras quando Lily disse que queria ver as novas penas que haviam chegado. Disse a ela que guardaria uma mesa para a gente e ela se foi. Percebi que ela estava demorando demais e resolvi checar na loja – Dorcas me encarou, um pouco de desespero brilhando em seus olhos. – Mas não a vi e então os zonzóbulos me avisaram que alguma coisa ruim estava acontecendo com ela.

– Desculpe – Remus a interrompeu, encarando-a com a testa franzida. – Zonzo o quê?

– Zonzóbulos, criaturas que entram no cérebro e nos fazem ficar confusos, eles ajudam muito se precisamos de informação – Dorcas respondeu rapidamente.

– Mas se esses zonbólubos...

– Zonzóbulos.

– Isso daí – Remus a encarava estranhamente. – Mas se essas coisas te fazem ficar confusos como vão te ajudar com a orientação?

Dorcas abriu a boca para responder, mas eu interrompi antes que aquilo se estendesse e minha cabeça voltasse a doer.

Conhecia Remus bem demais para saber que ele não acreditaria em nenhuma das loucuras de Dorcas. Não que eu acreditasse muito, mas se tivessem sido MESMO esses zonzos alguma coisa que ajudaram a salvar minha vida, eu acreditaria neles oras!

– Remus, deixe para lá okay? – eu o encarei com um pedido silencioso nos olhos. Remus pareceu um pouco inconformado, mas não perguntou mais nada.

– Hum, sim, zonzóbulos são criatura muito interessantes – Dumbledore disse e todos olharam para ele com expressões confusas. – Mas voltando ao assunto principal, não que eu esteja dizendo que zonzóbulos não sejam importantes, mas no momento existem outras coisas mais extremas – e olhou amigavelmente para Dorcas antes de se voltar em minha direção. – Senhorita Evans, poderia me dizer o que você acha que causou essas atitudes da parte do senhor Malfoy?

Eu abri a boca para responder e a fechei logo em seguida. O que eu iria dizer? Que a culpa de tudo ter acontecido era por causa de um plano estúpido que eu havia feito para tentar fazer ciúme em Potter? Era muito infantil embora fosse verdade. Era realmente impressionante do que as pessoas eram capazes quando estavam apaixonadas.

Eu estava começando a entender o porquê de James fazer todas aquelas loucuras por anos seguidos. E pensar naquilo me deixou com uma dor no peito que nenhuma poção de Madame Pomfrey seria capaz de fazer passar.

Dumbledore pareceu perceber o meu constrangimento e sorriu antes de fazer outra pergunta.

– Tem alguma coisa a ver com o senhor Malfoy ter aparecido pendurado magicamente de cabeça para baixo em um corredor do quarto andar na quinta-feira passada? – ele disse e eu ouvi exclamações espantadas dos três garotos que estavam na sala.

Senti meu rosto corar furiosamente, mas não desviei os olhos dos azuis do diretor.

– Ah, acho que isso foi boa parte do problema – eu resmunguei baixinho, mas todos ouviram.

– Hum, entendo. Malfoy é orgulhoso demais para permitir que alguém o humilhe daquela forma – e parecia que o diretor estava divertido com aquilo, mas de repente a seriedade tomou conta novamente. – Me desculpe se estou sendo indiscreto, mas o que foi exatamente que aconteceu quando o senhor Malfoy lhe ‘seqüestrou’? – ele perguntou amigavelmente, mas isso não me impediu de corar ainda mais.

Eu pude ver pelo canto do olho James cerrar os punhos.

– Ah, bem, não aconteceu nada – eu disse e o diretor ergueu uma sobrancelha. – Eu me lembro de estar indo para uma loja e de desmaiar, ai depois eu acordei no galpão com minhas mãos amarradas e um pano tapando minha boca...

– Um pano tapando a boca? – Sirius questionou atraindo meu olhar para ele. – Porque ele simplesmente não lançou o feitiço do silêncio?

– Isso é uma boa pergunta – Remus concordou e me encarou, assim como todos os outros da sala.

Eu fiz uma careta. Aquilo não era o tipo de coisa sobre o qual eu gostaria de relembrar.

– Bem, huh, ele disse que preferia não usar o feitiço – eu disse tentando fugir do assunto.

– Por quê? – Lene perguntou e eu tive vontade de bater nela.

Olhei para cada um dos que estavam ali, demorando um pouco meu olhar em James e voltei a encarar Dumbledore.

Sentia os tremores voltarem pouco a pouco até mim. Aquilo com certeza não estava ajudando a melhorar o meu trauma. Porque aquilo seria um trauma eterno, daquilo eu tinha certeza.

– Eu... – suspirei fundo, sentindo todas as minhas dores corporais voltarem, o efeito do energizante sumindo apenas com as lembranças de algo que eu não queria ter vivido. – Eu não acho que queira falar sobre isso – eu disse e desviei os olhos do diretor, encarando a neve que caia pela janela.

Talvez fosse idiota da minha parte não querer falar sobre aquele assunto quando o diretor estava pedindo, mas eu realmente não me sentia preparada. Era quase como reviver as cenas terríveis com Malfoy. E mesmo que nada houvesse acontecido, ainda assim eu me sentia suja, um lixo. Algo melequento atirado no chão.

– Ah, Merlin, desculpe-me minha falta de tato – Dumbledore disse. – Isso deve ter sido traumático para você – ergui meus olhos e vi que ele me encarava com culpa. – Bem, se quiser ir, está livre. Não vou te obrigar a falar mais nada – ele sorriu bondosamente e eu tentei retribuir, mas acho que tudo que consegui foi uma careta dolorida.

Lene me encarou culpadamente e a expressão de Dorcas – a mais séria que eu já havia visto na vida – era de quase pena. Desviei os olhos. Tudo que eu menos precisava era de culpa e pena a mais em minha vida.

Eu comecei a caminhar para fora da sala rapidamente, sentindo-me completamente sufocada sem nenhum motivo aparente.

– Sr. Potter acompanhe a Srtª. Evans até a Ala Hospitalar, ela parece bastante abatida – eu ouvi o diretor dizer assim que sai pela porta.

Senti um tremor me percorrer, mas dessa vez não tinha relação alguma com minhas dores ou o frio.

Droga! Droga, droga, droga! Porque aquilo estava acontecendo? Eu ainda tinha pés razoavelmente bons com os quais eu poderia me locomover pela escola sem causar muitos estragos. Não precisava de ninguém que me acompanhasse.

Quando eu desci o último degrau da escada da sala do diretor, meus pés pareceram querer discordar de mim. Eu tropecei, sabe-se Merlin onde, e foi preciso segurar-me na gárgula ‘hey, tire as mãos de mim’ para que eu não caísse estatelada no chão.

Huh, aquele não era o meu dia.

– Hey – a maldita voz dele me pegou desprevenida, fazendo-me largar a gárgula e ir em direção ao chão.

Eu fechei os olhos para o que seria um baque doloroso no chão frio de pedra, mas a colisão não veio. Abri os olhos e percebi o porquê daquilo não ter acontecido.

James segurava-me pela cintura, puxando meu corpo para perto do seu. O que não ajudava nenhum pouco com os tremores e calafrios sobre meu corpo.

O encarei por algum tempo, e uma imensa vontade de chorar/gritar/bater me atingiu, tudo ao mesmo tempo.

Desvencilhei-me dele e voltei a caminhar em direção aos corredores que me levariam à enfermaria. Talvez Madame Pomfrey tivesse alguma poção do esquecimento de sentimentos. Porque seria muito mais fácil se eu esquecesse que gostada do Potter. Seria muito, muito, muito mais fácil.

Fácil. Não o certo.

Parei de andar abruptamente e senti-o quase colidir sobre mim – afinal ele estava me seguindo.

Virei de frente para ele e decidi que eu já estava cansada demais para continuar com toda aquela bobagem imbecil.

– O que...? – ele começou, mas eu o interrompi.

– Fique calado, eu vou falar e você vai me escutar – eu mais mandei do que pedi e ele ergueu uma sobrancelha para mim. – Eu só quero esclarecer as coisas e se você ficar me interrompendo eu não vou conseguir coisa alguma – ele assentiu e eu juntei toda a minha coragem para falar. – Bem, então, como você sabe, à duas semanas atrás, eu decidi pela primeira vez em vários anos aceitar sair com você – ele fez uma careta e concordou. – Eu nem esperava muito daquele encontro, afinal de contas você era o ‘Potter-estúpido’ e eu só estava fazendo aquilo porque eu havia terminado com Amus e queria tentar esquecer um pouco as coisas – James pareceu ficar chocado com as minhas palavras, mas novamente não dei tempo a ele de me interromper. – Não me interrompa – eu disse. – Mas o que eu não esperava, e eu realmente fiquei chocada com aquilo, era que você fosse uma pessoa legal e gentil, que puxasse cadeiras e todas essas coisas idiotas que vemos em filmes românticos trouxas – ele ficou ainda mais boquiaberto comigo. – Você falava piadas estúpidas e eu ria delas, nós dois tínhamos assunto e não caiamos na mesmice – suspirei. – E então eu percebi algo que eu não teria visto nem mesmo se um elefante com tutu dançasse em minha frente, tenho que admitir, mas aquilo estava tão claro que era realmente incrível que eu não tivesse percebido antes – o encarei profundamente antes de continuar. – Bem, eu descobri que eu gostava de você – Os olhos de James ficaram escuros, me deixando confusa sobre o que poderia estar passando pela cabeça dele naquele momento. Mas já era tarde demais para voltar atrás. – Gostava não, eu estava apaixonada por você – e depois disso minhas palavras saíram irrefreáveis. – Só que você imagina a loucura que aquilo tudo pareceu em minha mente? Como eu poderia gostar de VOCÊ? Poxa, depois de todo o tempo, depois de todos os ‘nãos’, depois de tudo. Eu não podia realmente acreditar naquilo, principalmente pelo fato de eu me sentir extrema e totalmente culpada por ter enxotado e humilhado você diversas vezes em tantos anos – tirei uma mecha de cabelos de minha testa, um movimento involuntário que demonstrava o meu nervosismo. – Então eu quis fugir, porque aquilo era estúpido, insano e completamente doido. E eu não estava preparada para todo aquele desabamento de emoções que pareciam cair sobre mim – balancei minha cabeça e olhei pela janela, a neve agora caia mais fortemente, como se estivesse seguindo o ritmo de meus pensamentos. – Eu saí do pub, deixando-o completamente confuso...

– Completamente mesmo – ele comentou e eu ergui uma sobrancelha para ele. – Okay, desculpe – ele pediu e eu prossegui.

– Então você veio atrás de mim e eu estava tão enlouquecida com minha descoberta que acabei enxotando você mais uma vez, mesmo que me doesse fazer aquilo. E doeu, doeu muito, principalmente quando vi o que havia feito com seus sentimentos com relação à mim. Justo quando eu descubro que gostava de você, eu faço a merda de te afastar. Sim, eu era mesmo uma idiota. Você me chamou de ‘Realeza de Gelo’ e era aquilo que eu me sentia no momento – balancei a cabeça com a minha idiotice – eu voltei para Hogwarts, e você já estava aqui. Com toda a minha sorte, foi justamente com você que eu encontrei quando disse a senha à Mulher Gorda e nós brigamos novamente, tudo por culpa de meu orgulho infantil. E eu soube naquele momento que se eu quisesse realmente você, eu teria de lutar por isso, pois eu vi em seus olhos que você tinha desistido.

Eu parei de falar e voltei a encarar a neve. Estava tomando coragem para terminar o resto. A pior parte. Onde meu plano imbecil aparecia.

– Eu pedi ajuda a Lene e ela disse que eu poderia tentar fazer uma das coisas mais simples e mais comuns: te fazer sentir ciúme – eu ri sarcasticamente. – Bem, eu não concordei no inicio, mas depois Lene estava ocupada pensando em seu encontro com Sirius, não conte isso à ele – encarei James com um pedido e ele confirmou com a cabeça. – E eu fiquei sozinha com meu plano completamente imbecil. Duas semanas passaram e eu já não sabia mais o que fazer. Então você convidou Emmeline – fiz uma careta – para ir à Hogsmead com você e eu senti que deveria tomar uma atitude logo. E foi isso que fiz, pensei em alguém que você odiaria – ri sarcástica novamente. – e me dirigi até a mesa da Sonserina. Mas eu não tive coragem, então eu aproveitei que Malfoy estava falando comigo e fugi dali, dizendo a ele que queria falar sobre a monitoria – balancei a cabeça. – Ele me convidou para ir a Hogsmead e eu aceitei – James bufou e eu o encarei por um momento antes de prosseguir. – Bem, então Snape veio falar comigo e nós meio que brigamos. Eu o corri de perto de mim e fiquei chorando nas escadas até que você apareceu – dei de ombros. – Você sabe o que aconteceu depois disso.

– Por isso que você pendurou Malfoy pelo tornozelo? – ele perguntou e eu o encarei sem acreditar que sorria.

– Foi – eu resmunguei cansadamente. Sentia como se um peso enorme tivesse saído de cima de mim. Mas eu me sentia triste também.

Nós ficamos nos encarando por algum tempo, James parecia querer ler meus pensamentos e eu o olhava com um pedido de desculpas no olhar.

Ele não disse nada e eu compreendi que talvez não houvesse nada a ser dito. Dei as costas para ele e voltei a caminhar para a Ala Hospitalar, a dor voltando depois que o surto de adrenalina fugiu de meu corpo.

Senti passos rápidos atrás de mim e de repente eu estava de frente para James, um dos meus pulsos sendo segurado por ele.

– O quê...? – eu comecei a perguntar, mas foi a vez dele me interromper.

– Escute – ele disse e pôs um dedo sobre meus lábios. Respirei fundo para não me descontrolar. – Todo esse tempo eu... Bem, eu não tinha desistido de você – ele sorriu deixando-me ainda mais confusa. – Eu só estava dando um tempo, tentando pensar em algo que pudesse fazê-la gostar de mim. Por isso que aceitei sair com Emmeline – ele franziu a testa. – Eu também quis fazer ciúme em você – meu corpo parecia anestesiado de repente. Não conseguis sentir nada, exceto os lábios onde ele me tocava. – E então nós nos beijamos e eu não conseguia acreditar realmente naquilo – ele me encarou com os olhos sonhadores. Não que eu estivesse muito diferente. – Mas Malfoy apareceu e disse que vocês iriam juntos à Hogsmead. Eu fiquei louco de ciúmes – e era possível ver aquilo nos olhos dele. – E sai de perto antes que eu lançasse um feitiço em Malfoy e você me odiasse por aquilo.

Eu sorri desta vez.

– Ah, mas eu lancei um feitiço por você.

– E recebeu detenções por isso – ele riu também e se aproximou um pouco, passando as mãos pelos meus cabelos. – Ontem, quando eu fui a Hogsmead, dispensei Emmeline, acho que ela ficou bastante revoltada com aquilo – ele sorriu marotamente. – E fui sozinho com Remus, até que Sirius apareceu e disse que alguma coisa estava acontecendo e que você estava envolvida. Eu fiquei possesso e nós saímos à procura de Lene, que segundo Sirius sabia onde você estava. Demoramos um pouco, até que um estardalhaço nos chamou atenção para o galpão abandonado perto da Casa dos Gritos. Quando chegamos lá e eu te vi, juro que nunca senti tanta raiva. Eu poderia ter lançado um Avada no Malfoy se ele já não tivesse fugido quando chegamos lá.

James ficou em silêncio, apenas me encarando.

Eu senti como se finalmente as coisas estivessem se encaixando, como se finalmente o vazio em minha vida tivesse sido preenchido.

Todo aquele tempo, tudo. Era tudo um grande mal entendido.

James se aproximou um pouco mais de mim e eu senti meu corpo arrepiar, mas desta vez a dor parecia realmente ter ido embora para não mais voltar.

Eu sorri para ele. Era como se nós dois estivéssemos gritando ‘Eu te amo’ há muito tempo e só agora parecíamos termos ouvido. Finalmente.

Minhas mãos subiram involuntariamente para seus cabelos sedosos e encostei-me a ele, sentindo as batidas aceleradas de seu coração antes de erguer meus olhos para os dele.

– Eu te amo – eu disse e ele sorriu.

– É bom ouvir isso – ele disse e me deu um pequeno selinho. – Eu também te amo.

E nos beijamos, porque aquilo era a coisa mais certa a se fazer. Só que desta vez tínhamos a certeza de que nada poderia nos atrapalhar.


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Notas finais do capítulo

Espero, de coração, que tenham gostado do capítulo, pois o escrevi com muio carinho para vocês.
O próximo é o epílogo, o qual espero postar Sábado de manhã.
Se você é um leitor fantasma, por favor, esta é uma de suas últimas oportunidades de vir aqui e me contar o que achou da fanfic.
Vamos lá, faça o dia da autora aqui muito feliz!
Beijos amores, e até o epílogo