Just boiling in my blood, but you think that I can't see.

(Capítulo Três)

Minha mãe sempre me disse que eu sou uma pessoa muito inconstante, que mudava muito rápido de opinião. Eu costumava sempre revirar os olhos quando ela dizia isso e discordava.

Hoje, porém, eu tenho que dizer que minha mãe me conhece muito melhor do que eu. Porque, de uma hora para a outra, começar a gostar do cara por quem você nutria sentimentos de desprezo é realmente uma amostra do quão inconstante eu sou.

Agora já faziam duas semanas desde aquele fatídico dia.

Não posso negar que seria uma situação engraçada – se não fosse trágica – quando eu contei a Lene o que havia ocorrido no Três Vassouras e ela fez uma careta muito estranha de surpresa.

Bom, é eu descobri que gosto do Potter. Ou melhor, que eu estou apaixonada pelo Potter.  E eu fiz uma baita burrada quando disse a ele aquelas coisas, maldito orgulho!, e agora eu precisava ajeitar as coisas, mas eu não fazia a menor idéia de por onde começar. Eu estava sentada, olhando fixamente para o meu trabalho inacabado de Transfiguração e o Potter estava lá, do outro lado da sala, rindo e brincando com seus amigos marotos. E ele não me lançou nenhum olhar, nenhunzinho. E eu acho que deveria parar de ficar irritada por causa disso porque, afinal de contas e infelizmente, havia sido eu quem tinha dito a ele que não queria que me importunasse mais.

Às vezes, eu me odeio. É.

Toda vez que eu brigava com Petúnia eu dizia a ele que ela já tinha tudo que queria e mais, e que ela deveria dar mais valor as coisas, porque um dia tudo poderia acabar e... Aqui estou eu engolindo todas as minhas palavras, uma a uma, descendo por minha garganta e me fazendo sentir vontade de vomitar. Ugh! Como eu fui idiota.

A sensação de imbecilidade estava tomando conta de mim, fazendo-me querer me encolher em um canto qualquer e nunca mais sair de lá.

As risadas de Potter me atingiam, cada uma delas, como facas pontiagudas abrindo um caminha por meu corpo que eu nem sabia que existia, me deixando enjoada ao perceber que eu não era a causa delas. Eu nunca havia feito Potter sorrir, ou pelo menos nunca intencionalmente.

“Os humanos que adquirem o poder de se transformar em animais – animagos – têm de passar por diversos testes e exames para...”

Mais uma vez a gargalhada dele veio até mim e eu comecei a me perguntar se ele não estaria fazendo isso por gosto.  Mas logo em seguida esse pensamento foi varrido de minha mente, quando recordei que eu tinha cortado todas as chances que poderia ter com ele.

“ ...saber se a transformação ocorreu com perfeição, pois se...”

- Olá garotos, James – a voz (inconfundível voz) de Emmeline Vance chegou até meus ouvidos, e eu não pude deixar de notar que, ao dizer o nome dele, a voz dela parecia um ronronar de gato. Eu nunca tive nada contra Emmeline. Até aquele momento.

- Hey Emme – ele respondeu sua voz um pouco mais afável que o normal. A voz que ele usava comigo. – Porque não senta com a gente?

Eu me resignei a não olhar para eles, embora pudesse sentir meu pescoço – assim como meu rosto – esquentar em uma fúria muda. Apostaria dez galeões que Emmeline estava tão surpresa quanto eu pela reação dele. Normalmente ele a ignorava, cumprimentando-a como mandava os bons-costumes e logo em seguida se afastando, num gesto tão frio quanto eu era capaz.

 “...executado erroneamente, o feitiço de animagia pode acarretar muitos problemas à saúde...”

- A que devo a essa recepção tão calorosa de sua parte, James? – Vance perguntou e eu pude ouvir um arrastar de cadeiras, indicando que ela estava sentando junto deles.

- Sei lá, novos ares, acho – Potter falou e sua voz tinha subentendidos. – O que você acha de ir comigo no próximo passeio à Hogsmead?

Emmeline Vance soltou um gritinho e eu a agradeci internamente porque no mesmo momento eu soltei um grunhido de irritação.

- É claro que sim – ela respondeu e um suspiro baixo escapou pelos meus lábios.

- Eu te espero as nove em no Salão Principal então – ele disse e pela sua voz dava para ver que ele estava sorrindo.

- Okay – ela disse alegremente e a cadeira arrastou novamente e de repente Emmeline estava vindo em minha direção. – Lily! – ela sorriu amigável e eu sorri de volta, tentando não transparecer minha raiva e ciúme. – O que você está fazendo?

- Trabalho de transfiguração – respondi secamente, e eu percebi que a sala estava em silêncio, como se todos estivessem prestando atenção em mim. Ergui meus olhos e me deparei com aqueles olhos avelãs. Merda.

Ergui minhas sobrancelhas para ele e seus amigos que me encaravam, todos com receio em seus rostos. Eles viraram para o outro lado quando fiz isso, todos menos ele. Ele sorriu em escárnio para mim, como em deboche e piscou para Emmeline. Ela soltou outro gritinho e me encarou seu rosto pingando alegria e emoção.

- Eu vou sair com James Potter! Isso não é in-cri-vel? – ela exclamou, sorrindo tanto que seu rosto parecia estar prestes a rachar ao meio. E, intimamente, eu rezava para que isso acontecesse.

- ‘Ta mais para hor-ri-vel! – eu disse impassível. Se eu estava gostando do Potter tudo okay, mas eu não precisava deixar ninguém mais saber não é?

Emmeline revirou os olhos.

- Você e seu ódio pelo James – amor, infelizmente – se você não quer aproveitar as chances que tem problema seu, eu vou é ver a roupa que vou usar amanhã – ela levantou da cadeira e sorriu largamente. Aquilo já estava ficando insuportável. – E você? Vai ir com alguém amanhã? Algum encontro? – Emmeline sussurrou teatralmente a última palavras, mas todos na sala ouviram de qualquer forma.

- Ah, vou, vou sim – eu falei, sorrindo tão largamente quanto ela e pude ver um brilho repentino nos olhos dela.

- Com quem? – ela perguntou.

- Você verá – eu disse, com meu melhor tom misterioso.

Emmeline deu de ombros e saltitou até a escadaria que levaria ao quarto das garotas.

Involuntariamente – nem tanto assim – meus olhos vagaram para a mesa deles, e me surpreendi ao encontrar o seu olhar novamente. Ele parecia bem irritado com alguma coisa.

Um pequeno sorriso curvou meus lábios quando o pensamento “ciúmes” perpassou por minha mente.

Talvez, então, eu não houvesse estragado com todas as minhas chances com ele. Só daria mais trabalho para reconquistá-lo.

Ele ficou vermelho quando viu meu sorriso e voltou sua atenção para seus amigos que jogavam uma acirrada partida de xadrez.

O sentimento ainda estava lá, mas ele achava que eu não podia ver. Mas eu via. E ficava extremamente feliz com ele.

O único problema, eu disse a mim mesma quando me voltei ao meu trabalho novamente, é que eu não vou ir com ninguém em Hogsmead. E o próximo passeio é amanhã.

Eu decidi parar de pensar nessas coisas e voltar a ler, antes que eu ficasse com mais problemas além do meus sentimentos recém descobertos pelo Potter.

“...todos eles incuráveis.”

Está fazendo um dia chuvoso e o Salão Principal pisca toda a vez que um relâmpago clareia o teto enfeitiçado. E eu estou aqui, minhas mãos suando tanto que eu posso ficar desidratada há qualquer momento.

Eu não tenho um par para ir a Hogsmead!

Ah meu Deus, porque eu disse aquilo para Emmeline? Porque eu não disse a ela que iria ficar no castelo curtindo minha fossa?

Passei meus olhos pelas mesas das casas, à procura de alguém interessante para levar até Hogsmead. Mas nada, nadica de nada.

Ah meu Deus!

Eu podia ver Amos lançar olhares em minha direção como se pensando se deveria vir até mim, mas não dei atenção.

Eu precisava de alguém interessante, mas quem?

Ou talvez...

Bem...

NÃO! Eu não estou tão desesperada assim.

Mas ele não iria gostar...

Não! NÃO!

Viro meu rosto e olho para meu prato cheio e desisto.

Levanto da mesa e caminho inexoravelmente para o meu fim... Okay, eu não preciso ser tão melodramática.

Eu só estava caminhando para uma mesa...

Tanto fazia se o salão inteiro estava olhando para mim.

Respiro fundo vinte vezes e vou até onde ele está sentado. Ele está tão pálido quanto o normal e me encara como se não pudesse acreditar.

- Lily?