You won't take away my pride.

(Capítulo Dois)

Eu me sentia um lixo. As emoções, que antes haviam me tomado por inteiro, deixando-me mais confusa do que cego em um Clube de Duelos, agora pareciam terem ido todas embora me deixando vazia por dentro. Eu me sentia um monte de nada. A neve continuava caindo, agora muito mais forte e fustigava meu rosto, congelando algumas poucas lágrimas de frustração. Eu era completamente patetica, tentando demonstrar para os outros que eu não precisava de ninguém quando tudo que eu queria era correr para os braços do cara que eu havia humilhado por diversos anos seguidos.

Acho que eu estava recebendo algum tipo de castigo. Magoar alguém tanto tempo assim, como eu fiz com ele, deveria valer alguma vaga no inferno.

Eu caminhei lentamente pela estradinha de terra que levava aos portões do castelo. Ninguém mais estava voltando para a escola essa hora, todos estavam muito ocupados saindo com os amigos ou se divertindo como casais no café da Madame Puddifoot.

Suspirei ao entrar na escola, a perspectiva de cruzar com Potter deixando-me nervosa e me fazendo demorar muito mais do que deveria, perdendo mais do que uma hora redemoinhando pela biblioteca até que finalmente decidi fazer meu caminho até a torre da Grifinória. Ao passar pelo salão principal não o vi enquanto percorria as mesas das casas, muito menos nos corredores e nem mesmo nas escadarias. Quando cheguei em frente ao retrato da mulher gorda, estaquei. E se eu o encontrasse lá dentro? O que eu iria fazer? Agir friamente como sempre, como se ele fosse menos que um inseto insignificante que ficava zumbido em meu ouvido? Eu acho que não seria capaz de tamanha proeza depois de descobrir meus tão profundos sentimentos por ele.

– Diga a senha de uma vez, menina! - A Mulher Gorda exclamou, depois de eu ter ficado quase quinze minutos enrolando ali em frente.

Eu abri a boca para falar a senha mas a porta foi aberta antes de eu proferir qualquer palavra.

Eu poderia criar algum tipo de escala para as pessoas azaradas, algo como "Escala Lily", porque caramba, eu realmente não tinha sorte. E eu estaria no último nível dessa escala.

– Ah - a pessoa que abriu a porta falou, descaso tingindo sua voz enquanto seus olhos faiscavam por debaixo dos óculos.

Meu coração disparou incrivelmente quando eu o encarei.

Novamente eu abri a boca para falar mas outra pessoa apareceu pelo buraco do retrato.

– Ah Lily! Você já chegou! - Lene, minha melhor amiga completamente louca, exclamou eufórica.

– Hum, oi - eu falei, minha voz um pouco rouca por causa do choro de um pouco mais cedo.

Lene franziu o cenho para mim, alheia ao olhar mortal que Potter estava me lançando por detrás dela.

– Você está bem? Parece meio, hum, parece meio triste - Lene falou enrugando um pouco mais a testa.

– Eu estou bem - eu respondi fraquinho, quando Potter, cansando de esperar que nós conversássemos para deixá-lo passar, me empurrou um pouco mais forte do que o necessário para o lado, saindo pelo retrato.

Eu respirei fundo antes de tomar qualquer tipo de decisão. Até que eu sai pelo retrato também e o chamei.

– Potter - eu não iria chamá-lo de James de uma hora para outra, e eu realmente não me sentia muito confortável chamando-o pelo primeiro nome.

Potter, que estava quase dobrando o corredor, virou devagar na minha direção com as sobrancelhas arqueadas.

– Hum? - ele resmungou tão friamente que eu me impressionei em como um simples hum poderia me deixar tão mal.

– Eu queria te pedir... - mas ele não deixou eu concluir.

– Não precisa me pedir desculpas - ele disse. Lene que estava pendurado no retrato com a própria Mulher Gorda presenciando a cena, parecia estar confusa com o nosso diálogo. - Eu entendi. Não precisa se preocupar, eu não vou mais te encher Evans, eu sei que isso te chateia. Eu vou te dar a paz que você tanto queria. Feliz? - ele disse tudo tão friamente que eu podia sentir meu coração congelando por dentro.

– Me des...

– Eu disse que eu não preciso das suas desculpas - Potter me interrompeu novamente, rispido. - Eu não preciso de nada que venha de você. - eu engoli em seco nesse momento, minha garganta fechando deixando pouco espaço para respirar. - Eu nunca precisei, eu só estava cego - ele tocou seus óculos como em uma piada. - Por isso foi até bom o que você fez lá em Hogsmead, me fez ver que você não era tudo isso. Obrigado por me mostrar Lily, que eu não preciso de você.

Eu poderia ter berrado, ter me atirado no chão e chorado até a morte, poderia ter gritado para ele que eu o amava e que eu me arrependia por ter sido tão cruel, mas ele havia me machucado. Ele havia ferido meu orgulho. E eu sou extremamente orgulhosa. Eu não consigo simplesmente ficar parada enquanto outra pessoa me destroça por dentro deixando meu coração em pedaços. Talvez esse fosse meu maior defeito, mas eu não conseguia deixar que me ferissem quando eu podia revidar.

Eu tenho certeza de que meus olhos refletiam isso quando eu sorri em escárnio para ele.

– Fico feliz que isso tenha lhe servido de alguma forma, Potter - eu disse da forma mais fria que eu podia.

Potter estreitou os olhos e me deu as costas.

E foi ai que eu percebi.

Eu o havia perdido, havia esmagado e estraçalhado com todos os sentimentos dele em relação a mim. Ele estava terrivelmente machucado e a culpa era minha. O arrependimento estava começando a me corroer por dentro.

– Uau, será que você pode me dizer o que foi isso? - ouvi a voz de Lene perguntar, ainda do retrato.

Quando me virei encontrei-a com uma sobrancelha arqueada encarando-me, esperando por explicações.

– Eu preciso da sua ajuda! - Lene pareceu confusa por alguns instantes. - Eu acabei de cometer o maior erra da minha vida e eu preciso da sua ajuda para concertar.

Lene sorriu, parecendo entender do que eu estava falando e por um momento eu fiquei com medo das loucuras que ela me faria fazer. Mas já era tarde demais para desistir.

Pela primeira vez não seria Lily Evans quem estaria sendo perseguida, e sim Lily Evans que estaria perseguindo.