What do You Want From Me? escrita por v_wendy, TheMoonWriter


Capítulo 12
Capítulo 11 - In The End


Notas iniciais do capítulo

Geente, eu sei que devo mais de um milhão de desculpas... Fiquei muito tempo sem postar, sem escrever qualquer coisa... Mas eu simplesmente não conseguia. Nada que saia, nada que eu escrevia parecia suficientemente bom ou parecido com "What Do You Want From Me?". Demorou bastante para que eu me inspirasse de novo e voltasse a escrever essa fic que eu amo.
Eu realmente espero que gostem do capítulo, que é dedicado a todos os meus leitores lindos, que eu amo demais.
Nos vemos lá embaixo
*-*



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Capítulo 11 – In The End



(n/a:link da música: http://letras.terra.com.br/snow-patrol/1986959/traducao.html)

Pensamentos são a nossa própria prisão. Podemos fugir e enganar tudo e todos, mas não podemos fugir nem enganar nossa própria mente, nossa consciência. Lá está tudo o que passamos, que vivemos... Que erramos.

É o preço, eu acho

Pelas mentiras que eu contei

Que a verdade já não me alegra

Hermione, naquele momento, sabia disso melhor do que ninguém. Pela primeira vez em sua vida, teve a vontade de desaprender uma lição, de esquecer tudo o que lhe havia acontecido desde que pisara em 1942. Agora, que tinha uma varinha nova, sua vontade era se obliviar ou fazer ao parecido. Algo que a livrasse daquela culpa e confusão em que se encontrava.

E por que não podemos rir?

Quando é isso tudo que temos.

Temos que colocar essas coisas de criança longe?

Perdemos a magia que nós tivemos uma vez?

Respirou duas ou três vezes buscando o autocontrole dentro de si. Isso a acalmou em parte e ela correu os olhos pela sala que a abrigava. Ela sabia que a Sala Vem e Vai compreendia as necessidades das pessoas, mas não sabia que isso se estendia as necessidades psicológicas. Quando chegou a Sala desejando um abrigo seguro e familiar esperava encontrar qualquer coisa menos o que viu.

No final, no final

Não há nada mais na vida do que o amor, o amor existe?

No final, no final

É hora para nós perdermos nossas mentes cansadas

Sua casa. Na verdade, era apenas um cômodo da casa: o escritório de seu pai, mas era onde se sentia mais segura e feliz no mundo. Ela estava sentada no sofá de couro, sentindo cheiro amaiderado da sala, pensando em como proceder...

Você vai dançar comigo?

Como costumávamos dançar

E lembrar como se mover juntos

Como, por Merlin, havia chegado àquela situação? Sentia-se suja e desleal. Precisava colocar, urgentemente, seus pensamentos em ordem. Sentou-se reta e fechou os olhos.

Você é a tocha

E isso tudo faz sentido

Eu esperei aqui por você para sempre

Eu esperei aqui por você para sempre

Para quase tudo que havia feito tinha apenas um único, claro, coeso e compreensível objetivo. Ela queria se infiltrar nas linhas inimigas e descobrir informações que pudessem ser úteis a Harry futuramente, mas, quando ela vira que Riddle era capaz de fazer muitíssimo mais do que ela sabia, se assustara.

No final, no final

Não há nada mais na vida do que o amor, o amor existe?

No final, no final

É hora para nós perdermos nossas mentes cansadas

Mas, de qualquer forma, ela ainda precisava ajudar Harry, ainda tinha que ajudar Hagrid e também ajudar a deter uma guerra cruel e violenta. No fundo, bem no âmago de seu ser, ela sabia o que teria que fazer. Era sua única chance, única chance de Harry, de Hagrid, do mundo bruxo... De todos que amava.

Estamos perdidos, até nós aprendemos como perguntar

Estamos perdidos, até nós aprendemos como perguntar

Estamos perdidos, até nós aprendemos como perguntar

Então por favor, por favor apenas pergunte.

Levantou-se, determinada e certa do que iria fazer, e saiu da sala, do refúgio que havia conseguido para si no meio de toda aquela estranha confusão, seguindo diretamente para o olho do furacão.

No final, no final

Não há nada mais na vida do que amor, o amor existe?

No final, no final

É hora para nós perdermos nossas mentes cansadas

Não há nada mais na vida do que o amor, não é?

#*#*#

– Jay! Jay! – Amatha chamava freneticamente – Jade!

Jade se livrou do torpor ao olhar para a melhor amiga e sua cara de pouquíssimos amigos. Pelo que parecia, Amatha estivera chamando Jade por um longo período, mas a morena nada lhe respondia.

– Amy! O que foi?

A loira sacudiu um envelope frente à face da morena.

– Você recebeu uma carta, Jay! É da Sra. Avery!

Isso pareceu despertar o interesse de Jade. Ela se levantou de um salto, como se o banco estivesse cheio de formigas, e praticamente arrancou o envelope das mãos da amiga.

Jade estava praticamente maluca por notícias! Há alguns dias, Gunther fora levado para o St. Mungus, para um “tratamento adequado a sua condição”, como dissera Slughorn. Celine, mãe de Gunther, manteve Jade informada, com cartas bastante detalhadas a respeito do estado de saúde do rapaz e dos procedimentos dos curandeiros. Mas, durante os últimos dois dias, ela havia deixado Jade em um completo escuro e a morena estava praticamente ficando louca!

Ela rompeu o lacre e correu os olhos pela carta.

Cara Jade,

Desculpe ter lhe faltado com informações nos últimos dois dias, mas eu não tinha nada de novo para lhe apresentar. Gunther está muito melhor do que quando chegou aqui, está acordado, na verdade, enquanto lhe escrevo.

Os curandeiros recomendaram que ele ficasse de repouso hoje, pois amanhã estará de alta. Queria levá-lo para casa, Slughorn e Dippet entenderiam com certeza, mas ele diz que já se sente apto para voltar para Hogwarts e o curandeiro dele diz que não há problemas...

Ah, Jade, não sei! Tenho medo que Gunther seja atacado de novo! Isso é... Horrível! Agora, você deve concordar comigo que o Herdeiro de Salazar Slytherin – a quem me foi atribuída a culpa pelo que aconteceu a ele – não atacaria um Sonserino! Isso não faz nenhum sentido, Jade!

Se quer mesmo saber a minha opinião é alguém de outra casa fazendo isso e colocando a culpa no herdeiro.

Jade, agora, pela primeira vez, irei pedir-lhe algo: cuide de Gunther por mim. Sabe tanto quanto eu que ele não se queixa de nada, só quando a situação está fugindo de seu controle, então você terá que ficar de olho.

Manteremos contato, espero eu.

Celine

Jade ficou completamente aliviada quando chegou ao final da carta. Gunther vai voltar!

– Jay, o que a Sra. Avery disse? – perguntou Amatha.

– Gunther vai voltar, Amy! – ela sorriu para a amiga e elas se abraçaram – Ele vai voltar.

Aquela sensação – de saber que Gunther estaria de volta – era tão confortadora, tão mágica, que deixou Jade completamente inebriada! Ela teria seu melhor amigo novamente perto dela.

– Boas notícias? – a voz a fez gelar. Não de medo, mas de raiva. Ela se afastou de Amatha e encarou quem estava perguntando.

– Tom. – ela cuspiu o nome, encarando o garoto a sua frente. Era difícil se controlar e não atacá-lo ali mesmo, estava com raiva. Controlou-se ao sentir o olhar de Amatha, ele dizia claramente “não faça bobagens, Jay!”.

– Então, boas notícias?

– As melhores. – ele a encarou com ar de quem queria saber mais, mas ela não disse mais nada.

– Então, Amatha... – disse Tom se virando para a amiga de Jade – Como tem andado? Faz muito tempo que não vejo vocês duas. Parece até que andam fugindo de mim...

Amatha ruborizou e Jade se xingou por dentro. Ela que impedira Amy de andar com os outros Comensais e ficara prendendo sua atenção sobre o problema de Gunther. Mas ela achava, que pela primeira vez em sua vida, precisava de algum apoio! Precisava de alguém para dividir seus tremores! Seu medo de perder o melhor amigo.

– Não estamos fugindo de ninguém, Tom. – ela disse com cara de poucos amigos – Só temos outras coisas para fazer além de...

– Lembrar-se de seus compromissos? Lembrar-se de que é uma seguidora do Lorde das Trevas?

Jade não o viu se aproximar, mas ele estava há alguns centímetros em poucos segundos, silvando bem perto dela. Sentiu raiva, sentiu vontade socar aquele rosto perfeito que havia a usado e que ela já havia amado tanto.

– Amy, nos dê um minuto.

A loira hesitou. Jade podia ver claramente que Amatha não queria deixá-la com Tom, mas ela assentiu minimamente e a loira foi. Quando a silhueta de Amatha sumiu no fim do corredor, Jade se virou para Tom.

– O que você quer?

Ele deu um sorriso sarcástico.

– Não posso querer conversar com você? – ele se sentou no banco que antes ela estivera e recostou-se a parede – Como vai Gunther?

A raiva borbulhou dentro da morena e sua vontade de esbofetear Tom e fazê-lo se arrepender de ter nascido cresceu exponencialmente, tanto que ela quase o fez. O que a impediu foi sua intuição. Seu instinto praticamente berrava: é isso que ele quer.

Então a ficha caiu.

Ele queria vê-la perder o controle.

Queria um razão para poder puni-la.

Só que ela não lhe daria nada, nem uma fagulha sequer, disso.

– Gunther está bem, Tom. E você? Como está?

Riddle piscou.

– Ótimo, Jade. Estou muito bem. – ela o analisou enquanto o olhar dele se perdia; ele não parecia bem. Tresloucado, talvez, mas não bem – Nunca gostei muito de aniversários, mas esse parece estar sendo particularmente bom.

Então é ai que ele está querendo chegar, ela pensou. É claro que Jade sabia que era aniversário de Tom, havia lhe comprado o presente há quase um mês. Era uma pena de prata pura. Corria o boato de que fora de Merlin, mas não havia uma comprovação certa. A morena sabia que ele tinha um quê por esse tipo de objeto, mas, agora, ela não tinha mais certeza se queria presenteá-lo. Não depois do que ele fizera com Gunther.

– Parabéns. – ela disse com secura e voltou seu olhar para a parede rochosa.

– Obrigada, querida. – ele chegou perto o suficiente para sussurrar em seu ouvido – Para de me culpar, Jade. O que houve com Gunther foi unicamente sua culpa. Você sabe, eu sei e ele também sabe. Está se tornando muito relapsa, querida. Não lembra mais de suas obrigações e compromissos... Tsc, tsc... Essa não é a Jade que conheço.

O jeito como ele falava, com humor negro, fazia-a ter que se segurar para não matá-lo naquele momento mesmo. Ela queria, seu sangue estava clamando por isso, pela vingança, por fazer Tom pagar por cada palavra que saia de sua boca. “Querida!” Ele nunca usou esse tipo de tratamento comigo... Está tentando me fazer desmoronar, me fazer perder o controle completamente e está usando artilharia pesada.

As coisas que Amatha lhe disse rondaram sua cabeça:

– Jade, preste atenção no que vou lhe dizer: o Lorde é insano. Se ele quase matou Gunther por causa de uma detenção imagine o que ele não faria com você quando soubesse que está desistindo de ser uma Comensal... Lembro-me muito bem das palavras que ele me disse quando ganhei a marca. – ela estremeceu, mas pôs-se as recitar, fielmente – “Caminho sem volta, Srta. Yaxley. Um maravilhoso caminho sem volta!”

Ela não podia desistir, não podia tomar as rédeas de sua vida, estava atrelada a Tom até o último! Dentre todas as coisas erradas que fiz, creio que essa foi a pior. Aliar-me a ele... Tudo o que eu queria era Adele Bran e toda a escória a que ela pertence morta e não Gunther machucado... Gunther machucado nunca!

Sentiu um aperto em seu peito. Também havia o fato que não podia deixar de ser uma Comensal da Morte. Pensar em Adele Bran a fez lembrar-se disso, precisava vingar a morte de sua mãe, vingar tudo que ela passou com seu pai e o amor platônico que ele tinha por aquela francesa infeliz. Aliei-me a Tom, em primeira instância, por causa de vingança contra aquela mulher que destruiu meu pai e matou minha mãe! Tenho que continuar a fazer isso... Tenho que continuar a eliminar os sangues sujos... Só assim minha mãe ficará em paz.

Aquela sempre havia sido a sua lógica. Mas tinha que pesar todas as consequências de seus atos de agora em diante. Permanecer ou abandonar o posto de namorada de Tom e sua mais fiel Comensal da Morte?

Ficou com a primeira opção, mas não desistiria de sua vingança contra Tom. Iria, como uma cobra, esperar o momento que lhe fosse mais oportuno para dar o bote. Assim estaria satisfeita.

Mas antes precisava deixar algumas coisas claras a Tom, porque ela não era mais uma tola apaixonada. Tinha retomado seus objetivos.

– Nosso namoro são apenas aparências. Ambos sabemos disso, Tom. Não reclamo, até que não é mau negócio, quando você não machuca e tortura meus amigos, mas não exija demais de mim, afinal, são só aparências.

Jade colocou seu sorriso de zombetearia no rosto e saiu dali. Não queria ver Tom, mas iria ter que fazê-lo, então era bom que os pingos fossem colocados nos i’s.

#*#*#

Gina estava absolutamente preocupada, faziam horas que Hermione não aparecia... A amiga simplesmente havia evaporado! Isso não a deixava nem um pouquinho feliz, não mesmo...

O que estava acontecendo com Hermione? Desde que chegaram lá ela parecia mais uma maluca completa que qualquer outra coisa, nada daquela menina inteligente perspicaz e mandona que Gina conhecia tão bem.

Deve ser algo com o Rony. Eles se acertaram, Mione não fala tanto nele, mas acho que estar na presença dele deve ser doloroso para ela. Em 1996, ela o evitava de todo o jeito, mas aqui não há como fazer isso, já que devemos permanecer unidos por tudo que aconteceu e estava acontecendo.

A Câmara Secreta. Isso ainda deixava Gina completamente arrepiada e saber que aquele monstro maldito que carregava o nome de Tom Marvolo Riddle estava lá não a confortava nem um pouquinho... Ela tinha quase que certeza, mesmo que Harry discordasse terminantemente, que fora ele que atacara aquele garoto da Sonserina. Ela tinha quase que certeza que, para ele, a casa e o sangue já não fazem mais diferença. É um monstro. Uma máquina de fazer mal.

– Gina? – chamou Rony.

– Rony. Oi.

– Está tudo bem?

– Estou preocupada com a Mione, Ron.

Ele pareceu meio bobo quando a irmã tocou no nome da castanha.

– Rony, pare de babar e preste atenção.

– Não estou babando. Pelo que eu babaria?

Gina riu.

– E eu que vou saber? Mas escute que é sério, a Mione saiu aquela hora e ainda não voltou! Estou preocupada... Ela tem andando estranha, evitando certos lugares do castelo... Não sei.

– É a Hermione, Gina. Ela é completamente... Ah, bom, de qualquer maneira, eu nunca a entendi.

– Claro, porque você é um energúmeno! Mas nós somos amigas e... Ah, que adianta falar isso para você, Ron?

A ruiva saiu enfurecida e se trancou no dormitório. Ron não entendia o que ela estava querendo dizer, por isso ela gostava de conversar mais com Harry do que com o próprio irmão. Harry entenderia o que ela estava querendo dizer... Entenderia a gravidade da situação.

– Só espero que minha amiga não esteja se metendo em confusões.

#*#*#

Seguindo pelos corredores rapidamente e os percorrendo com olhos cirúrgicos. Era isso que Hermione fazia naquele momento. Parecia completamente alucinada, ao mesmo que tempo que via tudo ao seu redor não via nada. Apenas queria achar o que procurava.

A decisão já estava tomada, e agora ela não estava mais em condições de repensá-la, se arrepender ou voltar atrás.

Irônico era o destino. Nunca cogitaria, em toda a sua vida, que um dia o faria, mas agora isso parecia tão... Sem escapatória. Não tinha outra saída, não tinha outra decisão a tomar, outro rumo a tomar para tentar ajeitar tudo que estava fora do lugar. Precisava fazer isso. Precisava consertar o passado para mudar o presente e acertar o futuro.

Irônico, muito mais do que irônico. Porque o plano inicial, aquele que a levara a toda aquela confusão de ir parar em um tempo passado, tinha exatamente esse objetivo. Ajeitar as possibilidades que haviam sido destruídas anteriormente para retomar sua vida de um jeito melhor.

Mas, mesmo que voltando no passado, não podemos controlar nossos destinos. Tudo o que ela podia fazer era torcer para que o seu plano desse certo, porque ele era a única saída de toda uma população.

Ergueu os olhos e saiu correndo pelo corredor. Seus passos estavam abafados, se não estivesse sentindo as lufadas de ar batendo em seu rosto poderia jurar que estava parada. Ali não estava, isso era certeza... Talvez em outra ala do castelo...?

Procurou por todo o lado, mas nada encontrou. Começou a achar que ele tinha isso para seu Salão Comunal. Ah, que maravilha! Só me faltava essa, na verdade, não poderia ser melhor! Pensou, com azedume. Se ele foi para seu Salão Comunal como irei achá-lo? Sugou ar para dentro de seus pulmões. Que faria agora? Voltaria para Torre e falaria que Dumbledore quis lhe falar por muito tempo...

Olhou o relógio. Até que seria um bom álibi, se ela não tivesse passado horas na Sala Precisa.

Merlin, você deve gostar de causar confusões em minha vida. Ah, me esqueci, não preciso da ajuda de Merlin para fazer bobagens!

Mas ainda havia outra possibilidade – a última, aliás –: a biblioteca. No ínfimo do seu ser, ela esperava que ele estivesse lá, mas duvidava um pouco dessa perspectiva. Era otimista demais. Com certeza, ele estaria se abrigando do frio em seu dormitório.

Ela recomeçou a andar. Os corredores estavam silenciosos, o que não era mais nenhuma novidade pra ela, já tinha se acostumado com esse vazio de Hogwarts. Essa falta de alunos barulhentos no corredor, pregando peças uns nos outros... Abanou a cabeça, não era hora de saudosismos.

Entrou na biblioteca, andando devagar e meio sorrateira. Olhava entre as estantes, procurando vestígios do sonserino em algum lugar. Estava quase desistindo quando o viu, parecia extremamente irritado e o olhar vagava pela estante como se nada visse. Hermione encaminhou-se para sua frente, mas ele não pareceu notar, então pigarreou.

Sua atenção voltou-se imediatamente para ela.

– Hermione. – ele disse com a voz impregnada de pura irritação.

– Tom. – ela sustentou o olhar dele – Precisamos conversar.

Ele desviou o olhar e pegou um livro grosso e meio amarelado. Bateu a poeira que tinha nele sem olhar para a castanha e depois deu as costas a ela, costurando entre as estantes até chegar a uma mesa de nogueira onde se sentou.

– Não é uma hora muito oportuna, Hermione. Não estou muito suscetível a qualquer tipo de... Conversa.

A castanha bufou, indignada até a raiz dos cabelos. Ela não estava com muita paciência para Riddle naquele dia, pelo menos, não depois daquele beijo.

Pensar no beijo foi uma enorme besteira. Começou a se culpar instantaneamente, mas uma parte dela, uma pequena parte dela, sussurrou em sua mente: até que ele beija bem. Mas o que era aquilo? Que desproposito ridículo e sem fundamento era aquele? Agora ela achava que o monstro beijava bem? Qual seria a próxima atrocidade que sua mente sopraria? Que ele era bonito?

O que, ela tinha que admitir, era verdade. Riddle era bonito.

E também é um monstro sanguinário! Pelo amor de Merlin, Hermione! Tenha amor próprio e juízo. Agora, volte ao que interessa.

– É importante. Muito importante. – ela frisou.

Riddle arqueou as sobrancelhas, mas não lhe dirigiu o olhar. Ela teria que ser mais... Convincente.

– Acha que, depois do que fez hoje, eu estaria aqui se não o fosse?

Isso despertou sua atenção. Os olhos verdes, quase castanhos, fitaram-na meticulosamente. Ele parecia decidir entre se irritar mais ou relaxar.

– Do que se trata? – ele perguntou, finalmente.

Hermione correu os olhos pela biblioteca. Normalmente, aquela seria sua primeira opção para levar a cabo um conversa confidencial e de extrema importância, mas a Hogwarts de 1942 provara ter vários desocupados, que gostavam muito de cuidar da vida alheia.

– Venha e verá. – respondeu, com simplicidade. Dando as costas para ela, seguiu seu caminho.

Decidiu fazer o que nunca lhe passaria pela cabeça: usar o mapa do maroto. Não que estivesse com ele, mas se lembrava perfeitamente das horas a fio que passara investigando aquele objetozinho revelador e intruso. Harry nunca chegou a saber sobre essas noites, nem sobre o porque de seu interesse exagerado na invenção de James Potter, Sirius Black, Remo Lupin e Pedro Pettigrew, mas ele se devia a guerra proeminente de 1996. Depois do assassinato de Madame Bones ficou completamente aterrorizada! E seu desespero aumentava porque um dos criadores do mapa estava ao lado de Voldemort... Rabicho nunca pareceu inteligente, mas alguma coisa sobre as saídas/entradas secretas deveria saber.

E ela decidiu saber tanto quanto ele. Estudou o máximo que pode, decorando caminhos, passagens e algumas salas que, na época dos marotos, eram acessíveis e em 1996 não mais. Não sabia se era seguro ir a um lugar tão secreto assim com Riddle, mas optou por uma câmara atrás de uma estatueta de um cavaleiro.

Por um momento, achou que Riddle havia ficado na biblioteca, resmungando e procurando uma próxima vítima. Mas logo ouviu a voz cortante perguntar.

– Pra onde estamos indo?

Ele estava irritado. Hermione gostou dessa sensação, de lhe provocar um desagrado. Era como se deixá-lo irritado fosse uma minúscula punição por tudo aquilo que ele tinha feito com as pessoas que ela amava. Era infantil pensar assim, mas o que podia fazer? Ela não estava sendo racional, nem adulta... Nem ela mesma.

– Venha e verá, Tom.

Ele bufou.

– Estamos chegando, pelo menos?

Ela sorriu afetadamente.

– Venha e verá.

O descontentamento dele aumentava a cada passo, ela sentia isso. Podia ouvi-lo resmungando baixinho. Ela sabia o motivo. Ninguém fica feliz em sair de território conhecido.

Como ela sabia disso.

Chegaram perto da estatueta de cavaleiro. Tom a olhou, zombeteiro. Hermione via muito bem o que seu olhar dizia. Ele deu voz a seu olhar.

– Uma estátua? – fechou os olhos, buscando autocontrole – Diga que é uma piada.

Ela não lhe deu ouvidos. Aproximou-se do cavaleiro com a varinha em punho e sussurrou as duas palavras que sabia que deveria pronunciar.

Ostendere Usque!

Foi instantâneo. O cavaleiro se moveu para frente, revelando um nicho na parede. Pequeno, mas suficientemente grande para que os dois passassem sem danos. Virou-se para Riddle, que a olhava, pasmo.

– Como sabia disso?

– Não interessa. – ele estreitou o olhar – Temos que entrar logo, antes que mais alguém veja.

– Vá na frente.

Ela obedeceu, sem pestanejar. Enfiou-se no nicho e passou para dentro da parede. Suas mãos, que estavam no chão, tocaram o piso empoeirado e teias de aranha. Tentou ver algo a sua frente, mas só havia escuridão. Apalpou o bolso até achar a varinha.

Lumus.

A pequena luzinha irradiou pela ponta da varinha, ela viu Riddle, parado, a seu lado. Ele não parecia ter nenhum problema com o escuro. Ela se virou para ver o nicho, mas ele já havia se fechado. Riddle acompanhou seu olhar.

– Fechou assim que entrei.

Ela assentiu. Apontou a varinha para frente e conseguiu enxergar a câmara com exatidão. Era uma enorme sala, adornada com mais estatuetas de cavaleiros.

– Pela volta que demos, deve ser um assunto que valha a pena. – comentou o rapaz.

A castanha revirou os olhos, irritada.

– Tem algum problema com a cautela, Tom? Porque, para mim, isso nunca é demais.

O garoto arqueou as sobrancelhas, de mau humor. Algo diferente da irritação faiscou em seus olhos. Algo como... Admiração.

– Ande logo, Hermione. O que há?

Ela deu as costas para ele. Em sua cabeça, fazer aquilo parecia simplesmente mais fácil. Agora, que estava ali, cara a cara com Riddle, não sabia nem ao menos como começar.

– Tom – disse, hesitante –, se, em algum momento, lhe dei a entender que... Estaria abandonando a causa, peço-lhe que me perdoe. Eu nunca quis dar essa impressão e nem abandoná-la, de fato.

Ela não se virou para ver a reação dele. Respirou fundo, tentando controlar seu estômago, que queria, de toda a forma, colocar todo o seu almoço para fora.

– Sobre a causa você nada disse, mas se anda rebelando-se contra mim, é claro que deu a entender que não está tão comprometida quando devia.

Ela sentiu todo o sangue deixar o seu rosto. Merlin, bem que você poderia facilitar um pouco pra mim agora, não é? Virou-se para Riddle, fitando-lhe.

– Quero que saiba e entenda que me assustei, o que não é frequente. O que houve com Gunther Avery...

– Gunther cometeu um erro mais do que muito grave e foi punido por isso. Se isso te assusta...

– Eu entendi o que houve, os motivos... Ainda temos objetivos em comum, eu não desejo abandonar a causa.

Tom parecia digerir as palavras de Hermione. Seu olhar se perdeu e ele começou a andar pela câmara.

– Tem certeza disso, Hermione? Assusta-se por tão pouco... Acho que deveria começar a rever seus conceitos...

Ela não aguentou, voltou a dar as costas para ele, a fim de poder pensar e liberar suas expressões faciais por, pelo menos, alguns segundos. Estava difícil ser fria diante daquelas palavras. Ele fala como se eu estivesse errada. Ele tortura Gunther e fala como... Merlin! Que insolente e maldoso!

– Não preciso rever nada, estou decidida.

Sei o que quero. Quero deter você mais do que a tudo.

Ele sorriu, com escárnio.

– Se é assim que deseja... Empreste-me sua varinha.

Ela o fez, sem nem pensar direito no que estava fazendo. Tom se aproximou dela, pegou seu braço esquerdo e ergueu a manga da blusa. A intuição do que estava para acontecer veio antes do que o próprio ato.

– Acaba de ingressar em um caminho sem volta.

Na luz bruxuleante da varinha de Tom, Hermione mordeu os lábios para não gritar. Uma caveira surgiu em seu braço, queimando sua pele, fazendo com que castanha se lembrasse para sempre do que havia feito. A boca da caveira abriu e uma cobra saiu de dentro dela.

Ela havia recebido a Marca Negra.



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Notas finais do capítulo

Sim, sim! Agora não tem mais volta para a nossa querida Hermione Granger, ela recebeu a Marca Negra, se tornou oficialmente uma Comensal da Morte. E com plena consciência disso.
O que acharam??
Me digam, ok?
:*