Remendo escrita por juvsandrade


Capítulo 7
Promessas


Notas iniciais do capítulo

Leia escutando The Beatles - In My Life.



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— Nós precisamos mesmo cumprimentar os convidados? — Ron soltou um suspiro desesperado quando adentrou na tenda branda, onde as mesas estavam posicionadas. — São tantos...

— E todos eles vieram para ver vocês! — Molly fungou e voltou a secar as lágrimas que não deixavam de cair, mas que já estavam mais ralas, ao mesmo tempo em que empurrava o filho para frente.

— Mas mamãe...

— Rony, sua mãe está certa! Tantas pessoas vieram de longe...

— Distância não existe quando se há pó de flu ou chave do portal. Sem contar que também dá para se aparatar. É tão mais fácil.

— Não comece Ronald. — cerrando as sobrancelhas, a mãe deu um alerta. — Olhe, ali estão os pais da Fleur!

— Mãe, eu não sei falar francês.

— Então faça mímica! — empurrando o filho com mais força e fazendo-o andar sozinho alguns passos, Molly lançou um olhar para a nora como se quisesse dizer para ela não deixá-lo voltar atrás. Hermione entendera o recado.

— Eu não acredito que até no meu casamento eu recebo ordens. — o ruivo bufou, percebendo somente na hora que se aproximara da mesa da família de Fleur que estava com uma mão na cintura de sua esposa, trazendo-a para perto como sempre gostava de fazer. — Não posso nem conversar com a minha esposa direito... Não, eu tenho que conversar com a família da esposa do meu irmão!

Aquele movimento tornara-se automático.

— Rony, nós só vamos passar nas mesas cumprimentando os convidados. Não é como ter que enfrentar algumas aranhas gigantes ou coisa do tipo. — Hermione sorriu, mesmo que sentisse a mesma ansiedade que ele para ficarem as sós um pouco.

— Nessas horas eu preferia enfrentar as aranhas gigantes. — o ruivo resmungou, como uma criança que, na hora do jantar, era obrigada a comer somente legumes. Quando Hermione arqueou as sobrancelhas, desconfiadas, ele deixou a cabeça pender para frente e balançou-a de forma negativa, enquanto fechava os olhos. — Ok, esqueça o que eu disse. Vamos cumprimentar todo mundo logo.

— Dê um sorriso ao menos. — a morena deu uma risada e outra vez ficou na ponta dos pés para dar um beijo na bochecha dele. — E não seja grosso, Ronald.

— E desde quando eu sou grosso?

Hermione preferiu não responder.

— Olá Herrrmioni, olá Roná-áld. — a miss Delacour cumprimentou-os sorridente e o seu marido fez o mesmo. — O casamento está sendo uma marravilha! E você está perrfeita, querrida!

— Eu falei parra a senhorra que Herrrmione estava perrfeita! — os longos cabelos loiros de Fleur tamparam a visão de Hermione, que recebeu um abraço amoroso da outra e retribuiu com a mesma intensidade.

Ron, por outro lado, recebia um abraço catastrófico de Gui, que praticamente sufocava-o em seus braços.

— E agora Ron, você vai criar um rumo na vida? — Gui morria de rir e apertava as orelhas do outro, que tentava, inutilmente, soltar-se do irmão.

— Gui, por favorrr, deixe-o respirrar! Não querremos que o noivo desmaie agorra! — Fleur censurou-o e o marido fez o que ela pedira na hora. — Esperro que Ronald seja tão bom parra você como Gui é parra mim.

— Não sei como esse brutamonte pode ser bom para alguém. — arrumando o cabelo bagunçado com os dedos, Ron soltou e ganhou uma nova risada do irmão.

— E ai, tio, tudo em cima? — Teddy chegou à mesa, com os seus quatro anos expostos no sorriso banguela e com o cabelo perdido em uma tonalidade azul-céu. Ronald se esqueceu de fazer uma carranca para cumprimentar o garoto.

— E ai, garoto, eu fiquei orgulhoso de você. Acho que o cheiro da tia Muriel vai ser um pouco mais aceitável agora.

— A tia Murriel fedi! — Victoire, na pureza da infância, falou sem cabimentos.

Todos riram, menos Fleur, que ralhou com a filha e disse que não poderia dizer nunca que outras pessoas cheiravam mal. A pequena Victoire fez bico e escondeu-se atrás do vestido branco de Hermione, agarrando com as mãozinhas o tecido e esperando uma bronca do pai também, só que essa não veio.

— Tia você está assim ó... — Teddy ergueu uma mão e fez um sinal de "jóia" com a mão, apontando para Hermione, que deu uma risada doce como resposta. — Bem que o tio Jorge tem razão quando disse que tinha mais de um na fila para se casar com você, mas o tio Jorge também disse que eu sou muito novo para estar nessa fila.

— Teddy! — Hermione exclamou surpresa e sentiu-se ruborizar.

— Hey, Teddy, por acaso você está paquerando a minha mulher?

— Não, tio Rony, eu já disse que novo demais para pensar em casamento.

— Acho bom mesmo. — como uma criança, Ron mostrou a língua para o garoto. — E quem são os outros da fila?

— Então Hermione, nós esbarramos com Hagrid quando estávamos vindo para cá. — Gui fez uma pausa. — É meio difícil não esbarrar com ele. — fez outra pausa para abaixar-se e pegar a filha no colo. — Ele disse que queria cumprimentá-los.

Dando um olhar de agradecimento para Gui, Hermione despediu-se de todos rapidamente e puxou o marido pela mão a tempo de ouvi-lo dizer que compraria algumas bengalas de alcaçuz para Teddy, caso ele espalhasse a fofoca.

Merlin, Hermione pensou sorrindo, casei-me com uma criança.

— Teddy está muito atrevido para a idade que ele tem.

— Ah, Ron, ele é uma criança. Sem contar que ele passa muito tempo ao lado de Gui e de Jorge. Você quer que ele seja como?

— Vou obrigá-lo há passar mais tempo com o Percy. — foi a vez dele fazer uma pausa. — Não, coitado do Teddy. Seria preferível até mandá-lo para casa da tia Muriel, ao invés da casa do Percy. Ou para a Floresta Proibida. Garotinho atrevido...

— Você é mesmo muito bobo Ronald.

— Não é questão de ser bobo, é questão de proteger a minha mulher. Até agora eu não entendo o porquê de você ter convidado o Krum para nosso casamento.

— Porque seria uma falta de educação não convidar um amigo. — risonha, ela firmou o contato das mãos e puxou-o com um pouco mais de pressa.

— Ah, claro, você ficaria muito feliz se eu, por acaso, tivesse convidado a...

— Não fale o nome dela. — desfazendo o sorriso, Hermione pôs-se em posição de ataque.

— Eu não posso nem falar o nome da... — ao receber um olhar seco, Ron limpou a garganta e deu de ombros. — E você pode convidar o Krumzinho, né?

— Por Merlin, Ron! — parando de andar para colocar as mãos na cintura e depois no rosto vermelho dele, Hermione suspirou cansada daquele repertório e disposta a não começar o casamento com o pé esquerdo. — Trocamos juras diante de todos há menos de uma hora atrás e eu não quero começar a brigar com você pelo mesmo motivo de sempre. Escute o que eu estou falando e olhe em meus olhos! — Ron obedeceu, mirando-a acanhadamente e sentindo como o pensamento afundava-se aos poucos na imensidão castanha dos olhos dela. — Você tem que acreditar em mim quando eu digo que o que eu sinto por Victor ou por qualquer outro homem desse mundo é somente amizade ou admiração. Agora eu sou sua esposa e você precisa confiar em mim...

— Mas você não entende que o Krum...

— Ron, nós não podemos voltar ao tempo e você não pode me impedir de conhecer e gostar dele... Krum sempre foi muito bom para mim, e, desculpe confessar, mas ele também foi um grande amigo. Harry sempre teve muito com o que se preocupar e você também, e eu não queria ser um fardo para vocês, por isso procurava a ajuda de Victor porque eu precisava de alguém com quem conversar...

— Você poderia ter conversado comigo!

— Ah, claro, eu adoraria discutir com você o quanto eu tinha asco de ver a sua boca junto da daquela... Arg. — respirando fundo para manter a calma e afastar alguns bocados de lembranças ruins, Hermione regressou a falar: — Ron... — as duas mãozinhas pequeninas e meio desajeitadas subiram para o contorno do pescoço do ruivo, segurando a face dele com as pontas de alguns dedos e aprofundando o contato visual. — Olhe para o meu dedo e você verá a sua aliança... Olhe nos meus olhos e você verá você... — sentindo-o abrandar aos poucos, ela retomou o sorriso. — Não vamos mais brigar por isso, ainda mais hoje... Por favor.

— Está bem, desculpe-me. — a voz de Ron foi falha de arrependimento e os olhos azuis expressavam uma leveza incomum... — Desculpe-me. — ele repetiu e beijou-a entre os fios da franja.

— Não precisa se desculpar...

— Mas agora você pode me explicar àquela história de pintar as janelas de vinho...?

— Ron, Hermione, não fiquem parados ai! — aparecendo num piscar de olhos, Molly ralhou come eles, fazendo-os voltar a andar de mesa em mesa, para cumprimentar cada convidado com um grande sorriso.

Dirigir os cumprimentos de gratidão a todos os convidados fora um trabalho árduo e cansativo, e, quando os dois respiraram fundo, tragando um pouco da liberdade momentânea, anunciaram a valsa dos noivos. Hermione, que se sentara na cadeira ao lado da de Gina, forçou um sorriso e notou que Ron fazia o mesmo. Durante a noite inteira, eles haviam trocado poucas palavras um para o outro, e aquilo se tornava algo torturante.

— Não se preocupe... — Gina sussurrou no ouvido da amiga, percebendo como ela transbordava frustração. — Daqui a pouco vocês ficarão muito tempo sozinhos... — e, dando um sorriso malicioso acompanhado de uma careta, Gina empurrou a noiva pelos ombros, fazendo-a ficar em pé e extremamente corada.

— O que a Gina falou? — Ron quis saber, vendo Hermione até mais vermelha do que antes.

— Nada demais. — mentiu um pouco e mordeu o lábio inferior.

Merlin, como ela poderia ter se esquecido da noite de núpcias?

— Tem certeza? — o ruivo voltou a perguntar.

— Sim, não se preocupe. Ela apenas fez com que eu me lembrasse de uma coisa...

— Espero que essa lembrança não seja relacionada com o quanto eu danço mal. — ele resmungou e conquistou uma gargalhada da esposa, que negou com a cabeça e aceitou a mão dele que procurava uma das suas. — Espero não pisar nos seus pés...

— Você sabe que eu não me importo. — Hermione respondeu docemente, escutando a ordem de Molly, que queria encaminhá-los para o meio da pista de dança, e fazendo o que ela mandara, sem desviar os olhos do de Ron nem por um segundo.

A música logo iria começar.

— Mas você sabe que eu realmente não sei dançar bem...

— E nem por isso eu vou deixar de dançar essa música com você. — o sorriso dela aumentou ao ver o dele surgir. — Ron...

— Hum? — ele pousou ambas as mãos na cintura dela para levá-la mais para perto.

— Eu sei que pode parecer bobeira minha... — ao mesmo tempo em que ela recitava as palavras, acomodava-se mais ao corpo dele e sorria um pouco mais: — Mas nós poderíamos fingir que estamos no Baile do Torneio Tribruxo? — Hermione pediu com a voz baixa, ligeiramente emocionada. As palavras tornaram-se escassas para Ron. — Você sabe que ficou me devendo uma dança...

— Fiquei. — quase gaguejando, ele repreendeu-se.

Os primeiros acordes da música começaram a ressoar.

— Desculpe-me por isso. Prometo sempre tirá-la para dançar, daqui para frente. — um sorriso lateral, costumadamente envergonhado, surgiu depois da frase. Hermione sempre perdia o ar quando ele realizava aquele movimento. — Tudo bem que os seus pés vão me odiar, mas... — ela negou com a cabeça, apoiando a mesma em seguida em um dos ombros largos e estranhamente confortáveis dele, e começando a mover-se devagar, em um dançar bonançoso.

Ron abaixou a cabeça, respirando fundo, baixando sua mão pelas costas descobertas pelo decote do vestido, esperando que aquelas sensações tão características acalmassem um pouco; apenas um pouco. Porém, quando Hermione suspirou, perdida na melodia e nos braços de seu marido, os lábios finos abriram um sorriso que faria uma vez mais que todas aquelas sensações reaparecessem como fumaça, tragando-o para dentro dos fios castanhos e adocicados dos cabelos dela, fazendo-o deixar o garoto de lado para assumir o seu posto de homem.

Agora ele estava casado. Tinha uma esposa. Num futuro – próximo, Merlin sabia -, queria ter filhos. Crianças com os olhos de Hermione e com o mesmo sorriso. E, com sorte, com a mesma inteligência, ele esperava. Crianças com cabelos ruivos, algumas sardas ao redor do nariz e, também com sorte, a mesma paixão por Quadribol que o pai. Teriam crianças... Os dois. E uma casa. Não dividiriam apenas o sobrenome... Seriam, oficialmente, confidentes. Amantes, amigos, esconderijos, sorrisos...

E Ronald Weasley sabia que se esforçaria para se tornar um dos melhores homens por Hermione Weasley.

— Eu amo você, Hermione. — as palavras de Ron foram ainda mais bonitas do que a melodia.

Céus, Hermione já escutara aquelas palavras... Já escutara, saindo da boca dele, aquelas três palavras belas, mas nunca com aquela intensidade... Nunca com aquela firmeza surreal.

A emoção fez com que ela voltasse a abrir os olhos e procurar os dele, para certificar de que estava acordada, lúcida e estupidamente perdida em sentimentos oscilantes.

E talvez ela não estivesse preparada para encontrar o que encontrou dentro daqueles olhos febris.

— Eu amo você. — Ron sentiu necessidade de repetir, para firmar aquelas palavras na memória, alma e coração de sua esposa. — E prometo que lhe direi o quanto a amo todos os dias. Prometo que me esforçarei para ser um ótimo pai para os nossos filhos, um bom amigo, um confidente de seus segredos, um esconderijo para o momento de desespero e prometo, acima de tudo, que tentarei ser o marido que você merece. — ele murmurou, sabendo que falava a verdade. — Eu prometo que nunca esquecerei de lhe dizer que a amo... Independente de estarmos brigados, arrancando o cabelo um do outro ou cuspindo fogo. Eu vou dizer que a amo,pois é isso o que eu sinto... — retendo uma mão dela sobre a própria, guiou-a até onde se localizava o seu coração, que, quando perto de Hermione, sempre se encontrava aos berros. Vibrando, pulsando, vivo. —Sente? — uniu as testas, notando a respiração alterada e o tremor dos dedos de Hermione contra o seu corpo. — É assim que é... — também pode ver como ela apertava os olhos, fechando-os, para escutar o que ele lhe dizia, para sentir o que ele lhe pedia... Não parecia ser real; chegava a ser utópico. — E eu prometo que será para sempre.

Ela podia ouvir e sentir o quão o coração dele batia rápido... As mãos suadas, o corpo levemente trêmulo, todavia, seguro. Ela podia sentir o calor de seus corpos... Era como uma descarga elétrica, intensa... Era tão prazeroso que chegava a ser doloroso.
Hermione demorou mais tempo do que ele para abrir os olhos, e, quando o fez, sorriu, percebendo que nada no mundo poderia quebrar o que estava prestes a se iniciar.
Aquilo era entrega, nua e crua.
Não havia mais o que se fazer...
O destino estava ali, com universo conspirando a favor somente pelo fato de finalmente os sentimentos serem verdadeiros, vindos diretamente do coração.


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