Remendo escrita por juvsandrade


Capítulo 24
Felicidade


Notas iniciais do capítulo

Leia escutando The Beatles - In My Life.



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O artefato trouxa que Ronald mais abominava era, sem sombra de duvidas, o relógio-despertador que Hermione insistia em ter ao lado da cama. O relógio costumava acordá-los todos os dias às seis e meia da manhã, para dar tempo de tomar banho, café e deixar as crianças em seus colégios. Ron aprendera a não empurrar ou tentar quebrar manualmente aquele objeto, porque Hermione sempre o repararia com magia e nem ao menos se aventurava a tentar lançar um feitiço naquele objeto, sabendo que era bem capaz da esposa lhe lançar outro como resposta. E Ron odiava... Odiava, com ganas, aquele relógio. Mas nunca tanto quanto naquela manhã.
Quando o apito do aparelho soou, com a intenção de despertá-los, de nada adiantou. Ele não pregara os olhos durante a noite inteira e sabia que Hermione fizera o mesmo. Mas eles não trocaram uma palavra, mesmos sabendo que o outro se encontrava desperto. Ele, pelo menos, tentou em vão acreditar, assimilar, aceitar... E não conseguiu.

Horas de reflexão de nada valiam, não para ele. Afundou o rosto com força no travesseiro e rolou na cama para desligar o irritante barulho, constatando que o lugar de Hermione se encontrava frio devido ao fato dela ter levantado no mínimo uma hora e meia antes para perambular para casa, sem direção, com os pés descalços e pensamentos a mil. Não havia muita claridade do lado de fora. Provavelmente choveria naquela manhã. Suspirou.
Esqueceu o relógio por ali e não se dispôs a tomar banho àquela hora, espreguiçando-se na cama e decidindo se levantaria ou não. A primeira opção, por pior que fosse, era a mais aceitável. Sem contar que não queria que a esposa pensasse que ele estava dormindo, ou que silenciara o despertador pela milésima vez... Enfiou uma camisa qualquer, deixou os sapatos descansarem no guarda-roupa e saiu do quarto, olhando tristemente para as portas no final do corredor. Hugo ainda deveria estar dormindo. Rose... Suspirou, arrastando os pés no assoalho de madeira para evitar fazer qualquer barulho que pudesse perturbar alguém, descendo as escadas e procurou por Hermione no andar inteiro, exasperando-se ao não encontrá-la e seguindo para o jardim dos fundos, esperando que ela ali não estivesse pelo frio que fazia naquela hora. Mas ela estava ali, encolhida em um banco de três lugares, com a gata de Rose adormecida no colo e com uma manta lhe cobrindo o corpo. Em silêncio, olhando para um ponto fixo no canteiro de flores, sem nem ao menor ligar para como o vento gélido que bagunçava os cabelos castanhos e lhe coravam a face. Tudo o que ela fazia era mover alguns dedos contra o pêlo branco do animal que causavam ronronares preguiçosos... As pequenas olheiras ao redor dos olhos dela marcavam a pele clara, mostrando que a noite que ela tivera fora tão ruim quanto à dele. Mesmo estando frágil, sentou-se ao lado dela, tendo o olhar castanho por alguns segundos e um sorriso mínimo, até a cabeça de Hermione se voltar para as mesmas flores, perdendo-se mais uma vez.
Ron passou um braço pelos ombros dela e sentiu como ela o cobria com a manta no mesmo instante, apertando-lhe a mão que ali se encontrava por debaixo da mesma e suspirando baixo. O dia amanhecia cinza e tudo o que Ron mais queria era segurar uma mão da esposa e voltar para cama, fingindo que aquele dia nem ao menos havia começado.
Mas não era possível.
Passou alguns minutos ali, calado e pensativo, semelhante à Hermione e quando notou que ela estava prestes a falar algo, pois abrira a boca e soltara outro suspiro carregado, subiu o olhar, não encontrando o dela, mas encontrando palavras.

— Você sempre teve tudo da Rose... — surpreso por não estar preparado para aquelas palavras, Ron arregalou os olhos e tragou a saliva. — Eu sei que ela me ama e ela sabe que eu a amo, mas você... A primeira palavra que Rose disse foi papai. Era você por quem ela pedia de noite, quando tinha algum pesadelo. Era por você que ela chorava caso não chegasse na hora do jantar. Sempre foi por você, Ron. Quando ela era menor, ela sempre tentava imitá-lo em tudo, agradá-lo em tudo, deixá-lo orgulhoso... Quase que quebrou as mãos diversas vezes por ser pequenina demais para tentar defender as goles que os primos arremessavam contra ela no Quadribol, assim como treinou xadrez de bruxo sozinha durante meses quando tinha cinco anos, só para poder fazê-lo sorrir... — parou, secando as lágrimas que molhavam-lhe a bochecha e respirando fundo, antes de seguir: — Ela economizou o dinheiro que nós dávamos para ela comprar o lanche no colégio durante meses para comprar um presente de aniversário para você, e quando eu lhe perguntei o porquê de não ter me pedido, ela disse que queria que o presente fosse só dela, para você. Durante os passeios ela gostava de segurar a sua mão, queria que você a levasse nos lugares e só saia de perto de você quando era para ir ao banheiro... — a voz dela não continha mágoa, muito menos ciúme... Mas continha uma tristeza palpável. — Porém... Uma coisa de Rose foi minha. — deu um sorriso pequenino, regressando a olhar para o canteiro. — Ela mal havia aprendido a ficar sentada sozinha quando eu a trouxe para cá, para tomar um pouco de Sol de manhã. Nós estávamos sentadas ali, brincando com alguns brinquedos e Rose se apoiava nos meus joelhos, para ficar sentadinha. Uma hora ela arremessou um bichinho de pelúcia nas flores e ameaçou chorar, por isso eu fiquei em pé depois de conferir se ela ficaria sentada sem mim e fui pegar o bichinho. Quando olhei para trás, ela me dava um sorriso maravilhoso, tanto que eu me distrai com ele e demorei a perceber que ela estava em pé, tentando andar para me encontrar.. — a voz embargou e os olhos se cristalizaram. Um soluço foi contido entre dentes e Hermione se esforçou para conseguir finalizar: — Ela não caiu. Em nenhum momento pareceu que cairia... Ela simplesmente... Andou até mim e me agarrou pelas pernas. Eu a olhei nos olhos e pude ver os seus olhos, Ron, e eu entendi naquele momento que o que você tem com Rose, eu nunca terei... Mas eu soube, quando ela deu um sorriso com os primeiros dentes de leite para mim, que ela era minha também e que eu tinha o direito de amá-la de uma forma tão grande que não se pode medir. Isso foi meu... Vê-la aprender a andar com os próprios pés... — o choro se intensificou e Hermione apoiou a cabeça no ombro dele, deixando as lágrimas caírem sem vergonha alguma. — Então por que é tão difícil vê-la seguir o próprio caminho?
— Rose nunca foi somente minha, Hermione... — Ron começou a dizer. Ele a beijou nos cabelos, encaixando o rosto no pescoço dela e a envolvendo com ambos os braços. — Rose sempre foi nossa, e o que você tem com ela, eu nunca terei... — falou e Hermione soltou um muxoxo, não compreendendo o que ele queria dizer. — Eu a colocava na cama para dormir, mas era você quem lhe contava as histórias. Rose dizia que não havia melhor contadora de histórias que você, e quando você demorava a chegar do trabalho, ela não me deixava ler nenhum livro para ela. Isso era uma coisa que a mãe dela que tinha que fazer. Ela pode ter aprendido a jogar Quadribol por minha causa, mas quando ela se machucava, sempre pedia pela mãe. Era você quem a colocava no colo nessas horas, limpava-lhe as lágrimas e a acalmava. Ela pode ter economizado dinheiro para me comprar um presente no meu aniversário, mas nos seus aniversários ela sempre pedia para a minha mãe ajudá-la a preparar um bolo especial para você. Durante os passeios ela segurava a minha mão, mas quando íamos às apresentações da escola dela, era sempre por você que ela procurava com o olhar enquanto estava em cima do palco e era sempre você que ela puxava para apresentar aos professores. Rose aprendeu a jogar xadrez de bruxo com cinco anos para me impressionar, mas ela aprendeu a ler com quatro para poder se sentar com você no sofá da sala de noite e folhear algum livro...

Ele parou por um minuto, escutando o choro abafado da esposa em seu peito e segurando as próprias lágrimas que há muito queria derrubar.

— Rose sempre foi sua e sempre será. Ela é nossa, assim como Hugo, e por serem nossos que é difícil de vê-los darem os próprios passos... — beijando-a mais diversas vezes nos cabelos e no rosto, Ron a afastou um pouco, somente, para lhe sorrir e falar com a voz rouca: — Você mesma disse que nós não criamos os nossos filhos para eles nos abandonarem, meu amor. — ganhou um sorriso úmido dela e retribuiu, apostando um leve beijo nos lábios mornos para depois pronunciar frente aos mesmos: — Sem contar que Rose sempre andará para encontrar você, não se preocupe. Você é a mãe dela e isso é seu. — terminou, recebendo mais um beijo e ficando em pé, levando-a junto. — Acho que é melhor entrarmos...
— Sim, é melhor. — pegou a manta do banco e viu que Noelle, a gata de Rose, resmungava por ser expulsa. — Eu vou preparar o café da manhã. Você pode acordar as crianças?
— Não se preocupe com o café... — Ron sorriu com os olhos, andando de mãos dadas com ela até a porta. — Eu preparo alguma coisa. Por que você não vai acordar os nosso filhos?

Agradecida e sem ter o que dizer, Hermione confirmou com a cabeça, controlando os novos pares de lágrimas que imploravam para cair e se soltando vagarosamente dele. Quando ela se afastou e sumiu pela escada, Ron teve a certeza de que não gostaria de ter acordado naquele dia, pois, enfim, teria que deixar a sua pequena Rosie caminhar sem ele ao lado.

But of all these friends and lovers,
Mas de todos esses amigos e amores,
There is no one compares with you...
Não há ninguém que se compare a você...

O café da manhã foi estranho, só não tão quanto o percurso que fizeram até o Beco Diagonal, dentro do carro que Ron havia comprado como presente para ele mesmo, por finalmente ter resolvido (e conseguido) tirar uma carta de motorista. Hugo não conversava, porque diferente dos pais, demonstrava que não apreciava a idéia de deixar a irmã embarcar para Hogwarts sem ele. Hermione até mesmo tentara arrancar algumas palavras do garoto, mas ele cruzara os braços e lançara um olhar triste para a mãe, dizendo em silêncio que não estava para conversa. Sem saber o que fazer, Rose olhava pela janela do carro, observando atentamente cada detalhe daquelas ruas pelas quais passava diariamente durante anos, como se quisesse guardar na memória todos eles. Hermione, agoniada com aquele silêncio estranho entre todos eles, ligou o aparelho de som (Ron ainda não sabia lidar com aquela "modernidade") e deixou uma música qualquer soar pelo carro, até o momento em que pararam em um local perto do Beco Diagonal e rumaram para o mesmo. Assim que se depararam com a movimentação, Ron passou um braço por cima dos ombros da filha, aproximando-a e dando um sorriso pequeno para a esposa, que andava quase colada em Hugo, para ter a certeza de que ele não se perderia.

— Acho que devemos comprar primeiro as vestes na Madame Malkin... — Hermione falou, olhando para a lista de objetos a comprar, como se não soubesse de cor. — Ron, você e Hugo podem passar na farmácia?
— Justamente na farmácia, Hermione? — o ruivo choramingou, lembrando-se do cheiro das poções mal-feitas e das broncas levadas durante a aula. — Eu não posso ir...
— Você sabe que Rose usará uma vassoura de Hogwarts esse ano para, supostamente, aprender a voar, não sabe? Como também sabe que ela não pode ingressar no time de Quadribol ainda, por isso não, Ron, você não pode ir ver as vassouras.

— Mas justamente na farmácia?
— Sim, na farmácia. E passe na loja de caldeirões, também. É ao lado. — ela sorriu divertida ao ver o marido revirar os olhos, indignado com os pedidos. — Rose e eu vamos comprar as vestimentas e depois vamos passar na Floreios e Borrões.

Ron tragou a saliva, sabendo que aquilo não daria certo. Hermione e livros não eram duas palavras que combinavam, sem contar que Rose e livros também não combinavam nem um pouco. Provavelmente as duas se enfiariam na livraria e não sairiam tão cedo, a não ser que estivessem carregando todos os livros que pudessem carregar nas mãos. Porém havia um lado positivo... Se elas se demorassem, ele poderia aproveitar para levar o filho para conferir os novos lançamentos de vassouras daquele ano...

— Está bem. — ele sorriu para Hermione de forma suspeita, mas ela achou melhor não comentar. — Vocês precisam passar em Gringotes?
— Não, estou com dinheiro aqui. — segura do que dizia, a morena sorriu um pouco, olhando ao redor. — Vamos nos encontrar na loja do Jorge?
— O.k. — abaixando-se para dar um beijo na bochecha da filha e dando um beijo na esposa quando voltou a se ajeitar, Ron acenou com a cabeça para o filho com um sorriso levado nos lábios e, antes de se afastar das mulheres, disse: — Tampe o nariz e respire pela boca, Hugo. Aquela farmácia cheira que nem estrume de dragão.

And these memories lose their meaning
E essas memórias perdem o sentido
When I think of love as something new.
Quando eu penso em amor como uma coisa nova

Quando os olhos de Ron e de Hugo arderam de tanto observar cada mísero adorno de cada vassoura e quando os braços de Hermione e de Rose começaram a doer devido ao peso que carregavam, os quatro seguiram, ainda em pares separados, para o ponto de encontro.

O patriarca não se surpreendeu quando viu que, de fato, as duas mal conseguiam caminhar de tantos livros que queria carregar. Aproximou-se delas, antes mesmo delas o verem, e pegou as sacolas da Floreios e Borrões com certa facilidade, recebendo dois olhares agradecidos e sorrindo meigamente em resposta. Quando entraram na loja de Jorge, a primeira coisa que Hermione disse foi: "não levaremos nada, só passamos para dar um alô!", coisa que fez Hugo revirar os olhos e Rose prender uma risadinha. Como se Hermione não soubesse que os dois filhos tinham quase tudo o que era daquela loja dentro dos guarda-roupas, como presente do tio.
A loja, abarrotada, mal dava para se movimentar. Alunos de todos os anos berravam, deixando os pais ou acompanhantes de cabelos em pé. Meninas se debruçavam sobre um perfume que prometia encantar os pretendentes por algumas horas e meninos se dependuravam sobre a vitrine do novo kit mata-aula.
Foi à primeira vez do dia em que Hugo sorriu.

— Hey, família Weasley! — quem os encontrou primeiro foi Teddy, filho de Lupin e Tonks, que sorria de orelha a orelha e se aproximava com facilidade. — Olá!
— Olá, Teddy! — Hermione o cumprimentou com um abraço e um sorriso enorme. — Fiquei sabendo que você fez o que eu lhe pedi...
— Sim, eu fiz. — Teddy deu uma risada. — Não coloquei Hogwarts de ponta-cabeça. Ainda há como se estudar lá, por mais que eu e Pirraça tenhamos nos desentendido no último ano e acabamos alagando alguns corredores... — Rose tampou o rosto com as duas mãos, escondendo uma risada. — Garanto que ainda há uma escola para Rose estudar.

— É claro que há, agora que você saiu de lá. — Ron tirou com a cara do garoto, fazendo um cafuné na cabeça do mesmo. — Você foi aventureiro... Ser ajudante do Hagrid? Quer dizer, quem comete uma loucura dessas? Ou ele me mandava seguir as aranhas, ou ele pedia para nós bancarmos as babás de um meio-irmão gingante. Sério, cara, eu não quero nem saber o que ele pediu para você fazer.
— Ronald, não seja insensível. — Hermione o repreendeu. — O que você está fazendo aqui, Teddy? Veio com Victoire, comprar as coisas de Dominique?
— Na verdade não. Estou dando uma mãozinha para o Jorge aqui, na loja, nesses últimos dias. Não para de entrar gente por essa porta, acreditem. — o garoto/homem olhou para Rose, sorrindo para ela e a cumprimentando com um beijo estralado na bochecha. — E ai, Rosie, você está pronta?
— Acho que sim. — meio incerta, ela respondeu. — Estou nervosa e ansiosa...
— Não se preocupe, você se dará bem. Todo mundo já está comentando que finalmente uma Granger Weasley vai dar as caras por lá. James finalmente terá com quem dividir o fardo do sobrenome. — Ron deu uma risadinha e se calou ao ver o olhar preocupado da mulher. — Mas você tem sorte que Albus e Domi vão entrar com você, no mesmo ano, né? Hugo também tirou na sorte porque Lily e Fred vão embarcar com ele. Vocês não estarão solitários...

A ruivinha ia falar algo, mas avistou o tio se aproximando e rapidamente se atirou nos braços dele, recebendo um abraço apertado e abrindo o maior sorriso do mundo. Todo mundo sabia que Rose e Hugo eram os sobrinhos mais paparicados por Jorge Weasley (não que os outros não fossem) e aquilo era óbvio na maneira como Jorge sorria para eles. Hugo deixou a carranca outra vez de lado para abraçar o tio também e murmurar um "oi" bem baixo.

— Oi, pessoal! — o dono cumprimentou os demais e postou um beijo na testa da cunhada. — Vieram para comprar alguma coisa? Porque se não eu serei obrigado a pedir educadamente para vocês se retirarem, porque acho que dá para perceber que a loja está lotada e que não há espaço de sobra para pessoas que não vão gastar alguns galeões aqui. — falou em tom zombeteiro, já puxando a cunhada e os sobrinhos para adentrar mais na loja. — Na verdade cabe todo mundo, menos o Ronald e o nariz imenso dele.
— Vá para o Inferno, Jorge. — o irmão mais novo resmungou e cerrou as sobrancelhas.
— Como é agressivo esse meu irmãozinho. — o mais velho zombou um pouco mais, começando a falar pelos cotovelos em seguida: — Pensei que vocês viriam com o Harry e com a Gina...
— Eles já passaram por aqui?
— Faz alguns minutos. Lily está com uma carranca que vocês precisam ver, se bem que não está muito diferente da do Hugo aqui. — apertou o nariz do menino, que lhe mostrou a língua. — James levou metade da loja com ele, escondido, obviamente, e prometeu que testará os meus novos experimentos... — deu uma risadinha e viu que Rose olhava discretamente para o perfume que todas as demais garotas carregavam, o suficiente para ele cruzar os braços e se por sério. — Nem pense em comprar um desse, Rose. Não quero ver a minha sobrinha cercada por... Homens... — falou com desprezo e viu as bochechas da menina queimarem.
— Caso você não tenha reparado, tio Jorge, eu sempre estou cercada de homens. Há um número bem menor de mulheres em nossa família... — dando uma gargalhada, Jorge confirmou com a cabeça, tornando a ficar sério depois que a diversão passou.
— E é uma pena que esses mesmos homens não poderão ir para Hogwarts com você, para protegê-la. Mas não se preocupe, Roniquinho, já conversei com James e Albus, e eles me prometeram ficar de olho na nossa Rosie aqui...

— É impressionante. — Hermione bateu uma mão na testa, não acreditando naquilo. — Se eu soubesse que me casar com um homem extremamente protetor me traria mais alguns vários de brinde, teria me apaixonado pelo Neville. — disse brincando e todos riram, menos Ron, que revirou os olhos.
— Por que vocês se preocupam tanto com isso? Quer dizer, mamãe, você e papai se conheceram em Hogwarts, assim com o padrinho e a madrinha, e assim como você, tio Jorge, e a tia Angelina...
— Não vamos fazer comparações, Rose... — Jorge sorriu de lado. — Sobrinha minha só casa quando eu partir dessa para melhor. — comentou, colocando algumas coisas disfarçadamente nos bolsos de Hugo enquanto Hermione voltava a tampar os olhos. — Teddy, eu acho que o seu sogro e a sua sogra chegaram. Espera, eu tenho certeza de que eles chegaram, quer dizer, não é todo ruivo de quase dois metros e com o rosto cheio de cicatrizes que é casado com uma veela, não é mesmo?
— Pode ter certeza que não. — Teddy deu uma risada e viu Rose ficar nas pontas dos pés, procurando o restante da família. — Vou trazê-los até aqui...
— Não se preocupe com isso, Teddy. Nós vamos com você até lá, porque já estamos de saída. Passamos para dar um oi, somente. Ainda temos que comprar algumas coisas... — Hermione se adiantou a dizer enquanto entrelaçava um braço ao do marido e repousava a cabeça no mesmo. — Sem contar que nós estamos prendendo vocês...
— Eu adoro ser preso por você, Hermione. — Jorge comentou maliciosamente e Ron o encarou furiosamente, fazendo os demais rirem outra vez. — A proposta ainda está de pé, irmãozinho.
— Que proposta? — ele se arrependeu de ter perguntado.
— A de trocar a loja, Angelina, minha vassoura e as figurinhas da Agripa e do Ptolomeu por Hermione. — o comentário lhe rendeu um soco no ombro e, sem ter condições de revidar por se encontrar rindo sem parar, Jorge disse que iria atender alguns clientes e depois iria cumprimentar o outro irmão.

Em questão de segundos ele desapareceu entre cabeças e logros.
Quando conseguiram regressar a porta, viram Victoire de mãos dadas com a pequena Lily, enquanto Dominique não parava de falar, deixando a mãe evidentemente zonza. Gui sorria pelo canto, como todos os irmãos Weasley faziam com freqüência, e olhava para a filha menor com afeto. Antes que qualquer um se cumprimentasse, Rose se atirou no colo de Victoire, enquanto Hugo ia para o lado do tio, receber um abraço de quebrar os ossos. Dominique, assim que viu a prima, desatou a falar mais ainda, deixando Fleur de lado por algum tempo para voltar à atenção a ruivinha. Agradecida, a veela deslizou até o lado de Teddy e Hermione, que assistiam a cena.

— Dominique não par-rrá de falarr desde que acorrdou... Nunca a vi dessa forrma.
— Você já deveria estar acostumada, Fleur, já que Vic não para de falar um segundo sequer. — o comentário de Teddy fez com que Fleur desse uma risada doce, negando com a cabeça e fazendo com que os longos cabelos loiros balançassem.
— Eu escutei isso, Teddy. — Victoire comentou, lançando um olhar feio ao namorado.
— Desculpe por falar a verdade, Vic.
— Mamãe, Teddy e Vic também começaram a namorar em Hogwarts. — Rose se intrometeu e as orelhas de Ron queimaram na mesma hora.
— Não vamos mais falar sobre isso por hora, Rosie. — tentando cortar o assunto, Hermione puxou a filha para um abraço. — E vocês? Já compraram tudo para a Dominique?
— Mais ou menos. Chegamos há pouco tempo e já demos de cara com Harry e Gina. Só conseguimos comprar os uniformes, ainda. — Gui se manifestou, agarrando Teddy em uma chave de braço do nada. — E ai, garoto, criou jeito na vida?
— Sua filha me coloca na linha, você sabe.
— Até parece que eu consigo. — Victoire fungou. — Mãe, nós podemos cumprimentar logo o tio Jorge? Aqui está lotado...

— Sim, podemos... — Fleur parecia tão desgostosa quanto à filha de estar em um lugar que mal dava para se mover. — Vocês vão conosco?
— Não. — Ron quem respondeu, parando de trocar caretas com Lily e olhando para a cunhada. — Nós já vimos o Jorge e ele disse que viria aqui depois de atender alguns clientes...
— Mas que bonito, da parte dele. Dar prioridade aos clientes, ao invés dos irmãos. — Gui atiçou, fingindo muito mal que estava bravo com aquele ato.
— É que os meus irmãos não me dão lucros, Gui. — Jorge apareceu novamente, ao lado de Fleur. — O que você ainda está fazendo aqui? — perguntou olhando diretamente para Ron.
— Já estou saindo, já estou saindo! — Ron bufou, agarrando o braço da esposa e fumegando pelo nariz. — Nos vemos... — falou para os outros, enquanto Hermione se despedia educadamente com um sorriso.
— Lily, quer vir com a gente? — a morena perguntou e a pequena ruiva confirmou com a cabeça, dando tchau para os outros tios e grudando em Hugo e Rose.

Quando saíram da loja de logros, respiraram fundo, apreciando o espaço que tinham para se moverem. De acordo com a lista faltava apenas uma varinha e andaram tranquilamente até a loja que Olivaras, há pouco tempo, havia reaberto. No meio do caminho pararam para cumprimentar Dino Thomas, esposa e filha e logo chegaram à loja, sendo muito bem recebidos pelo velho Olivaras. Não demorou a uma varinha escolher Rose: vinte e oito centímetros, carvalho, sangue de dragão. A garota, com os olhos brilhando como nunca, saiu da loja empunhando a varinha, deliciada com aquela sensação de finalmente poder se considerar uma verdadeira bruxa. Encontraram com Harry, Gina e os sobrinhos quando se dirigiam ao Caldeirão Furado para tomarem alguma coisa e irem almoçar. Albus, assim como a prima, parecia extasiado.

— O Sr. Olivaras disse que a minha foi fabricada na Ásia. — Albus comentava ao mesmo tempo em que caminhava. — É um dos melhores lugares para se fabricar uma varinha, você não acha?
— Acho. — Rose sorria empolgada. — A minha veio da Suiça...
— Eu mal posso esperar para aprender a fazer alguns feitiços...
— Nem me fale! Mamãe não me deixou praticar, mesmo eu já tendo decorado alguns...
— Eu quero uma varinha. — Lily, que se encontrava no colo de Harry, choramingou. — Por que eu não posso comprar a minha agora?
— Lily, nós já conversamos sobre isso. — a mãe, que andava de braços dados com o irmão, quem lhe respondeu. — Você precisa esperar mais dois anos, meu amor. Logo você terá a sua...
— Por que vocês me tiveram por último? Eu não poderia ser a filha do meio? — a pergunta ingênua da mais nova causou um sorriso em todos os mais velhos. — Não riam de mim!
— Não estamos rindo de você, pequena. — Ron olhou nos olhos da sobrinha de forma amorosa. — Não sei por que vocês estão com essa pressa para crescer...
— Eu também não entendo isso... — Harry concordou com o amigo, mas mudou o assunto: — Sua mãe nos chamou para ir almoçar na Toca, Ron...
— Mamãe está toda chorosa. Disse que não acredita que os netos dela estão crescendo tão rápido... — Gina comentou um tanto quanto abalada também. — Agora ela fica chorando pelos cantos, dizendo que a cada ano que passa, a Toca fica mais e mais vazia.
— Gina... — Hermione sussurrou, tentando impedir os olhos de ficarem cristalinos. A amiga lhe lançou um olhar condolente, tão machucado quanto o próprio e confirmou com a cabeça sutilmente, encerrando o assunto.
— Desculpe-me... — a ruiva murmurou e viu que Rose e Albus olhavam para ela com uma tristeza evidente. Abraçou Harry, procurando um apoio que logo encontrou, e Hermione fez o mesmo com o marido.

Assim que saíram do Beco Diagonal, separaram-se por um tempo mínimo até se reencontrarem na Toca. Os Potter's chegaram antes e se espalharam pela casa, ocupando os vários espaços vazios com os seus sorrisos e risadas, que aumentaram quando a família Granger Weasley chegou. Molly comprimiu os netos contra os braços e não os soltou tão cedo. O choro novamente se prendeu entre os dentes de Hermione. Como seriam os domingos sem Rose?
Roxanne, Fred II, filhos de Jorge, estavam por ali, conversando animadamente na mesa da cozinha com Louis, o filho caçula de Gui e Fleur, e com Molly II e Lucy, filhas de Percy. Rose sentou perto do pequeno Fred e de Louis, exibindo a varinha nova e arrancando risadas de todos quando, acidentalmente, quebrou um vaso da avó. Molly, ao invés de bronqueá-la, fungou e limpou as lágrimas no avental, concertando o vaso rapidamente e beijando-a na testa.

— Gina, querida, chame o seu irmão. Preciso de ajuda aqui na cozinha...
— Eu posso ajudá-la, Molly... — Hermione se ofereceu, mas encolheu com o olhar que recebeu da sogra.
— Hermione, querida, você sempre ajuda muito, sem contar que o meu filho precisa melhorar nos feitiços domésticos. Você mesma já falou que Ronald é uma confusão, quando se trata desses feitiços...
— Eu... — corou, abaixando a cabeça. — Pode deixar que eu vou chamá-lo, Gina. Você sabe onde ele está?
— Encontrei com ele quando estava descendo as escadas. Acho que ele foi para o quarto dele. O antigo... — deu um sorriso morno enquanto fazia uma trança nos cabelos de Lucy e olhava para o cômodo ao lado, onde James e Albus morriam de rir por alguma coisa que Harry falara.
— Rose, meu amor, evite mexer com a varinha, está bem? — a mãe lhe pediu, saindo da cozinha depois de receber a confirmação da filha.

Subindo as escadas, Hermione reduziu os passos cada segundo mais ao avistar as fotos espalhadas ao longo dos degraus. A parede, abarrotada de fotografias que se moviam, acenavam e sorriam para ela lhe fez sorrir um pouco. Ali estava toda a sua vida. Sua vida depois de Ron aparecer e entrar nela. Uma garotinha de treze anos, cabelos armados e dentes gigantescos se escondia entre as mãos ao lado de dois amigos inseparáveis, em uma, enquanto em outra, uma garota de recém-completados dezessete anos dançava uma música na cerimônia de casamento de Fleur e Gui com alguém que viria a ser o seu futuro marido, e em outra, uma já recém-mulher fazia inúmeras caras e bocas ao lado de Gina, tão descontraídas que outras pessoas poderiam chegar a ter inveja daquele momento bobo e divertido. Eram tantas recordações pintadas naquela parede que poderia lhe doer o coração saber que aquelas já haviam se passado, mas também trazia uma alegria reconfortante em ver que ainda havia espaço para outras... Seu coração suspirava de alívio ao notar aquilo.
Depois de observar atentamente cada um dos portas-retratos, terminou de subir, antes que Molly tivesse um ataque. Bateu suavemente na porta do quarto de Ron, recordando-se de quantas vezes já estivera ali, quando era menor, e quantas vezes ela ficara parada, do lado de fora, com vergonha de entrar para conversar com ele, sozinha. Ainda conseguia sentir as bochechas queimando pela timidez de se ver solitária, ao lado dele, em qualquer que fosse a situação, em sua adolescência. Deu um sorriso para si mesma, empurrando a porta e adentrando no cômodo, encontrando-o deitado na cama que lhe pertencia e mal lhe cabia, aproximando-se e não esperando permissão para sentar-se na beirada, roçando as mãos nas pernas dele e encontrando o olhar azul perdido.

— Um galeão pelos seus pensamentos. — o sussurro de Hermione chegou como melodia aos ouvidos do ruivo, que sorriu pesadamente e lhe puxou com as mãos, para deitar sobre o corpo tão maior dele.
— Estou imaginando as cartas que Rose nos escreverá. Uma, provavelmente, será para dizer que os professores a adoram, mas é claro que ela dirá de forma sutil, para não parecer convencida. Um dia receberei uma carta com ela anunciando que será goleira do time de Quadribol, e outra pedindo ajuda a mãe para escolher um vestido para um baile... — o sorriso diminuiu um pouco, mas não sumiu de seus lábios. — Eu sei que Rose será muito feliz em Hogwarts. Eu preciso ficar feliz por isso, não preciso? Minha filha estará feliz, e tudo o que um pai deseja ao filho é isso... Felicidade.
— Sim, Rose estará feliz. — a esposa concordou, sabendo que aquela era a verdade. — E nós também estaremos. Ela e Hugo nos trarão ainda mais orgulho. Sei que serão bons alunos, farão ótimos amigos e que acolherão Hogwarts como uma segunda casa. — beijou-o no maxilar, abraçando-o docemente e pousando a cabeça em seu torso. — Nós lutamos por isso, Ron, mesmo sem saber... Não existe mais um alguém para lutarmos contra, para nos preocuparmos, para temer por nossas vidas e pela vida das pessoas que amamos... Nós lutamos por isso. E agora temos a oportunidade de ver os nossos filhos aproveitarem por completo essa fase, coisa que nós não pudemos fazer. Então sim, nós temos que ficar muito felizes por nossa garotinha não ter preocupações como a que tivemos.
— Então vamos ficar felizes... — o que ele falou soou como um pedido de uma promessa. Hermione confirmou com a cabeça, sorrindo com os olhos e lhe beijando ternamente nos lábios.
— Vamos ficar felizes...

E eles ficaram. Desceram depois de escutar um berro de Molly na beirada da escada, no primeiro andar, e saíram em disparada para a cozinha. Gui e Fleur, assim como Percy e Audrey, apareceram para o almoço. Jorge e Angelina chegaram para a sobremesa, ao lado de Teddy e Victoire, que namoravam tranquilamente longe do olhar cortante de Gui.
Molly berrava. Arthur ria enquanto folheava o Profeta Diário. As crianças gargalhavam com as mágicas improvisadas de Jorge. Hermione olhava feio para o cunhado, mas se distraia constantemente com o carinho que o marido fazia em sua mão, por debaixo da mesa. Gina comentava alegremente sobre os jogos de Quadribol da temporada com Angelina e Harry, enquanto Fleur tentava pentear os cabelos de Roxanne com os dedos e Audrey ajudava Molly a tirar os pratos da mesa. Percy discutia com o pai sobre os acontecimentos recentes e Ron revirava os olhos indiscretamente, causando risadas de Jorge e Gui.
Tudo estava bem.
A casa agitada, todos os espaços ocupados.
Tudo finalmente estava bem.

— Acho melhor voltarmos para Godric's Hollow, Harry. — Gina falou, olhando o relógio de pulso de Hermione. — Precisamos arrumar as coisas de James e Albus, porque daqui algumas horas nós temos que estar na Plataforma ¾...
— Nós também temos que ir embora... — Hermione anunciou, ficando em pé.

As crianças se despediram dos avôs, com muitos beijos e palavras, prometendo que escreveriam e que sempre os manteriam informados. Também se despediram cada um de seus tios, falando que logo os encontrariam na Plataforma.
Cada família seguiu o seu caminho... Sorrindo.

Porque tudo estava bem.
Estava bem.
Bem.

Though I know I'll never lose affection
Embora eu saiba que eu nunca vou perder o afeto
For people and things that went before...
por pessoas e coisas que vieram antes...


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