Remendo escrita por juvsandrade


Capítulo 23
Terra do Nunca


Notas iniciais do capítulo

Do sossego do lar e do dia de começar
Até o fim ainda por descobrir,
Nada se compara ao prazer de vencer
A não ser rir e ter amigos para amar
(Hilaire Belloc)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/151962/chapter/23

A família Weasley Potter e a família Granger Weasley, quando juntas, tinham o hábito de compartilharem – as mesmas – histórias. Ronald adorava gabar-se um pouco ao recordar-se inúmeras vezes sobre o teste de goleiro de Quadribol que fizera no sexto-ano. Hermione adorava relembrar-se de cada centímetro quadrado da biblioteca e dos grandes autores ali deixados nas estantes. Gina sempre sorria quando se referia a Armada de Dumbledore. E Harry Potter, em uma das vezes que se sentara depois do jantar para jogar uma partida de xadrez de bruxo com seu grande amigo e irmão e, de certa forma, cunhado, contava uma ou outra de suas lembranças, sempre dando ênfase para coisas mais "bobas", como uma partida de Quadribol contra a Sonserina ou como um passeio a Hogsmeade. A batalha das batalhas sempre era sussurrada como uma história proibida; de terror absoluto.
E os pequenos Weasleys e os pequenos Potters protestavam, choramingavam e, em alguns casos mais extremos, chegavam a espernear.
Era sempre Hermione ou Gina que acabava com a festa.

— Hora de ir para a cama todos vocês! — uma das cuspia as palavras, tendo a noção de que os seus maridos não ergueriam um único dedo para acalmar os filhos.
— Mas mamãe... — um dos pequenos começava a implorar, com os olhos cristalinos: — Queremos saber o que aconteceu direito!
— Vocês ainda são novos... — Ronald sorria e espreguiçava-se no sofá ao dizer a mesma frase de quase todas as noites.

— Eu e Rose já temos quase onze anos! — Albus protestava e arrancava uma risada do pai.
— Ou seja: vocês ainda são novos!— Gina quem finalizava o assunto, causando uma seqüência de muxoxos e lamurias.
— Tio Harry... — Rose empilhava-se no sofá, dando um sorriso gigantesco e fazendo com que uma mecha de cabelo ruivo acastanhado caísse sobre as suas bochechas sardentas. — Se eu disser que tirei nota máxima na prova de cálculos você conta a história da Batalha para nós?
— Não, — Harry segurava a pequena com zelo no colo e postava um beijo nas duas bochechas da garota. — mas vou parabenizá-la e falar que você é uma réplica da sua mãe.
— Mãe o que é réplica? — Lily perguntou, puxando a barra do vestido de Gina com uma mão e segurando um hipogrifo de pelúcia com a outra.
— O seu pai quis dizer que a Rose é muito parecida com a Hermione, querida.
— Isso quer dizer que eu sou uma réplica sua?
— De certa forma, sim... — Gina disse antes de pegá-la no colo e observá-la bocejar. — Está tarde, crianças... Nós precisamos ir embora...
— Não podemos ficar só mais um pouquinho? O papai nem terminou a partida com o tio Rony! Sem contar que a Lily pode dormir no sofá!
— James, não é simplesmente "a Lily pode dormir no sofá!"... Sua irmã é pequena, lembre-se disso.— Harry censurou-o e fingiu não ver a careta que Lily fazia sobre o ombro da mãe para o irmão mais velho.
— Então ela pode dormir no colo da mamãe.
— James, não comece.
— Por que a Lily sempre fica com sono antes do Hugo, sendo que eles têm praticamente a mesma idade? — o Potter do meio cruzou os braços e bufou contrariado.
— Porque o seu primo, esfomeado do jeito que é, come uma porção de açúcar o dia inteiro e quando chega de noite, nem Merlin para fazê-lo dormir cedo. — foi Hermione que explicou, vendo um sorriso nascer na boca dos dois amigos e Ron tentar disfarçar algo. — E o problema, James, é que eu tenho duas crianças na casa.

— Eu não sou mais criança. Sou uma pré-adolescente... —, Rose anunciou, colocando as mãos na cintura e sendo puxada de imediato para os braços do pai.
— E quem permitiu? — a voz de Ronald saiu esganiçada. — Eu sou o seu pai. Eu avisarei a você quando você não for mais uma criança!
— Mas papai, eu já tenho onze anos...
— Você tem quase onze anos...
— Victoire disse que eu sou uma pré-adolescente. E quando o meu... — a garotinha parou de falar para tentar lembrar-se exatamente das palavras que Victoire havia lhe dito outrora. Era uma graça ver Rose Weasley pensando. Era realmente uma cópia de Hermione. — Ah, sim. Quando o meu "fluxo menstrual" vier pela primeira vez, ai sim eu serei uma adolescente...
— Mamãe, o que é fluxo tensmual? — Lily questionou outra vez, apoiando a cabecinha no ombro confortável da mãe e fechando os olhos.
— Daqui sete anos a mamãe explica para você, querida. Agora está na hora de dormir... — Gina esforçou-se para não rir da expressão incomodada do irmão. — Você precisa pagar pelo que você pede Ron... Perguntou, agora agüente.
— Gina, fique quieta. — o ruivo mais velho revirou os olhos e pegou a filha no colo como se fosse niná-la. Hermione precisou parar com a brincadeira que fazia com Hugo e Albus para ver aquela cena. — E você precisa entender, Rose, que ser criança é muito bom. Você não deve esperar que o tempo passe mais rápido, pois você deve aproveitar cada fase da forma certa.
— Mas papai, quando você, a mamãe e o tio Harry tinham onze anos, vocês já estavam enfrentando o Voldemort e...
— Acredite quando eu digo que nós preferiríamos estar no Salão Comunal jogando xadrez de bruxo e comendo o resto dos doces do jantar ao invés de arriscarmos nossas vidas...

— Eu preferia estar lendo um livro... — Hermione disse, descontraída, e os mais velhos deram risadas, cúmplices de um passado conjunto. — Sem contar que os doces não eramsobras, Ronald. Você sabe que os elfos...
— Eu sei, eu sei... Desculpe-me, querida. — o ruivo tentou dar como encerrado aquele assunto e conseguiu.

Gina despediu-se da cunhada com um abraço carinhoso e aceitou o beijo estalado no meio da franja do irmão. Beijou os sobrinhos com amor e despediu-se deles, prometendo que logo voltaria com um saco de doces da Dedos de Mel e então segurou na mão de James e Albus, vendo como os dois pequenos faziam caretas antecipadas, odiando a sensação de aparatar antes mesmo de sumirem pelo ar. Harry pegou Lily no colo e ganhou um suspiro sonolento de uma garotinha ruiva já adormecida. Precisou pegar a bolsa de Gina, esquecida sobre o sofá, e equilibrar o bichinho de pelúcia de sua filha com a outra mão.
Ron deu uma risada.

— Quer uma ajuda ai, Harry? — o mesmo perguntou, oferecendo-se para levar alguma das coisas até a casa do cunhado.
— Não precisa. Acho que consigo me virar aqui. Obrigado. — ele deu um sorriso agradecido e os óculos ovais deslizaram por seu nariz e ficaram presos em alguns fios do cabelo de Lily. Hermione adiantou-se e concertou a situação. Harry agradeceu com um sorriso.
— O que seria de mim sem vocês?
— Ainda me faço essa pergunta todos os dias. — Ron resmungou e os outros dois caíram em risadas.
— Tchau tio Harry. — Rose disse animada, demonstrando que ainda estava bem acordada. — Muito obrigada por ter vindo jantar hoje conosco.
— É. — Hugo acompanhou a irmã, dando um sorriso banguela e abraçando uma das pernas do pai. — Foi legal.
— Hermione, eu agradeço todos os dias por você ser a mãe dos filhos de Ron. — Harry sussurrou no ouvido da amiga, que precisou abafar a risada para não chamar a atenção do marido ou dos filhos.

— Vai embora, Harry. A Gina deve estar esperando por você. — ela respondeu, dando um leve empurrão no ombro dele e depositando um carinho nos cabelos de Lily. Assim que ele aparatou, Hermione bateu palmas e falou: — Vamos subir, colocar os pijamas, escovar os dentes e dormir, que tal?
— Mas eu estou sem sono ainda, mamãe! — os seus filhos choramingaram, em coro, e Hugo subiu ao colo do pai enquanto Rose apoiava a cabeça na barriga dele. — Podemos ficar acordados só mais um pouquinho?
— É... Ai você pode ler uma história para nós!

Como Hermione diria não depois de receber aqueles olhares de seus dois pequenos? O sorriso perdurou nos lábios de Ron, dizendo em silêncio que aqueles dois estavam pegando o jeito em passar a perna neles... E estavam mesmo!

— Está bem... — Hermione deu-se por vencida. — Mas vamos subir e nos aprontar para dormir, de todo jeito.

Hugo dependurou-se no braço do pai, como um macaco, e junto da irmã, correu escada a cima, quase tropeçando nos próprios pés e escutando um aviso de cuidado de uma mãe preocupada. Ron abraçou-a com zelo, beijando-lhe com calma nos lábios frisados para cima e perguntando se ela conseguiria tomar conta das "crias" por alguns minutos sem ele.

— Carreguei cada um durante nove meses, querido... Consigo ficar o tempo que for sozinha com eles. Claro, eu posso ficar um tanto quanto louca no meio do caminho, mas...
— Não vamos deixar que isso aconteça. — ele beijou-a mais uma vez e se afastou apenas para apagar a lareira, voltando para o abraço da esposa por mais alguns minutos até precisar se afastar por completo. — Vou tomar um banho correndo...
— E vista alguma coisa quente... Está esfriando.
— Há outra forma melhor para eu me aquecer... — sussurrando na beirada do ouvido dele enquanto dirigia-se para a escada, Ron foi premiado com uma risada um tanto quanto maliciosa, mas com certa incredulidade no meio.

— Vai logo! — Hermione, ligeiramente envergonhada com o olhar que ele lançou-lhe do primeiro degrau, arremessou uma almofada em sua direção, sendo a vez dela escutar uma risada gostosa ecoando pela sala.

Recolhendo a almofada perdida pelo assoalho, fechando as janelas com magia e conferindo se havia ração para Noah, o gato de Rose, Hermione apagou as luzes e subiu enfim. Viu, através da porta escancarada do quarto da menina, os seus filhos observando a prateleira de livro com afinco, procurando uma história que ambos quisessem escutar sem brigar ou causar dores de cabeça.
Hermione sorriu. Afinal, existia forma de não sorrir ao ver aquela cena?

— Já escutamos tantas vezes essa história... Não agüento mais escutar sobre a Babbity, a Coelha, e o Toco que Cacarejava. — Hugo entortou o nariz e apoiou-se na irmã, para ter uma visão melhor. — Cadê os livros de histórias trouxas, que a vovó Granger deu?
— Ali! — Rose apontou e eles deram alguns passos para o lado para então enxergarem os outros livros. — Olha, ali tem a continuação daquele livro que a mamãe lia sempre para nós quando éramos menores.
— Qual? Peter Pan?
— Esse mesmo. Quer esse?
— Eu gosto do Peter Pan. Acho que na verdade ele é um bruxo, mas o escritor trouxa não sabe.
— Só porque ele voa não quer dizer que ele é bruxo, Hugo. Você por acaso se esqueceu que os trouxas também voam?
— É, mas eles só voam naquelas máquinas gigantes...
— E nós só voamos em vassouras.
— Eu ainda acho que o Peter Pan é um bruxo.
— Você quer ou não que seja esse livro?
— Sim... — o pequeno voltou a dar um sorriso com dentes a menos. — Eu gosto de piratas. — ele falou, fingindo ter um gancho na mão e espetando a irmã com o seu dedo erguido. — Você vai para a prancha, marujo...
— Por que eu vou para a prancha?
— Porque você é uma menina.

— E de onde você tirou que não existem piratas mulheres?
— Rose, Hugo, já escolheram? — Hermione achou melhor finalizar a discussão antes mesmo que aquela começasse. Depois conversaria com Hugo a respeito daquele leve acesso machista, todavia, deixaria para outra hora.

Os seus filhos, engomados naqueles pijaminhas bonitinhos, com pantufas e olhares sapecas, eram, sem a menor sombra de duvidas, a coisa mais gostosa de se ver.
Hermione quis tirar uma foto daquele momento.

— Sim, mamãe! Tem esse livro que a vovó Granger me deu... Peter Pan Escarlate. Você pode ler para nós um pedaço?
— Claro que posso... Mas não muito, pois já passou da hora de vocês dormirem...
— Não quero ir dormir! — Hugo cruzou os braços e fechou a cara. — Não quero, não quero, não quero!
— Querido, por acaso você está tendo pesadelos de novo? — visivelmente preocupada Hermione avizinhou-se do filho e ajoelhou-se, ficando da altura dele.
— Não... — o menininho murmurou. — Eu não quero dormir porque todo dia que eu acordo é um dia a menos que eu tenho com Rose. Daqui a pouco ela já vai para Hogwarts e eu vou ficar aqui... — a confissão inocente do filho trouxe lágrimas tanto aos olhos da mãe, quanto da irmã. Merlin, Hermione pensou, é muito amor...
— Hugo, não dormir não vai fazer com que o tempo passe mais devagar. Nem a mamãe e nem o papai estavam ansiosos para o dia em que a carta de Rose chegasse, assim como não estamos ansiosos para o dia que a sua carta chegará... Mas querido, nós não podemos evitar certas coisas. A sua irmã vai para Hogwarts e se tornará uma grande bruxa, e logo em seguida você também irá e será um grande bruxo também. Vocês dois deixarão o papai e a mamãe muito orgulhosos, farão novas e eternas amizades e quem sabe vocês não encontrarão o amor de suas vidas por lá?

— Mas eu ainda sou uma criança! Não quero me apaixonar ainda. E eu já tenho muitos amigos, mamãe... E ainda vai demorar três anos para eu receber uma carta de Hogwarts... Com quem eu vou brincar durante três anos?
— Hugo... — Rose, abaixando também e dando um abraço apertado no irmão, deu um sorriso meigo, aquele típico sorriso de Rose, e acariciou os cabelos do menininho. — Não são três anos, são dois... E eu vou estar aqui em todas as festas e feriados. Você sabe que eu não consigo passar muito tempo longe de você e dos nossos pais. Você nem terá tempo de sentir a minha falta...
— Mas eu já estou sentindo a sua falta!

Hermione odiou Ronald por uma fração de segundos por não estar ali, ao seu lado, assistindo aquela cena. Nunca conseguiria encontrar as palavras necessárias para descrever o que se passava ali.
Nunca, nem mesmo se procurasse em todos os dicionários e livros do mundo.

— Eu estou aqui, Hugo! E eu já prometi a você que escreverei um monte de cartas toda semana. Contarei tantos detalhes que quando você for a Hogwarts, já se sentirá em casa!
— Você promete voltar para casa no meu aniversário?
— Claro que sim!
— Mesmo se for ele cair em uma terça-feira?
— Eu prometo...
— Então está bem. — o sorriso sardento e levado de Hugo retornou. — Mamãe, você pode ler o livro para nós na sua cama? É mais confortável...

Piscando os olhos sem parar, Hermione não conseguiu acreditar. Realmente, a sua sogra estava certa quando dizia que Hugo e Rose eram a mistura perfeita dela e de Ronald. Não dava para negar... Não existia como duvidar... Diante dos seus olhos encontravam-se um mini-Ron-Hermione e uma mini-Hermione-Ron. Até mesmo Krum achava aquilo!
A genética era realmente brilhante.

— Vamos para o quarto então! — a matriarca mandou docemente, ficando em pé e pegando o livro para depois guiar os filhos ao cômodo.

Aconchegaram debaixo das cobertas e entre os travesseiros. Hugo deitou no colo da mãe enquanto Rose apoiava a cabeçinha no ombro, usando os cachos fofos de Hermione como travesseiro.

Abrindo o livro com cuidado para não atrapalhar os filhos, ela folheou algumas páginas e respirou fundo antes de começar:

"— Voltar!

Voltar para a Terra do Nunca? Voltar para a ilha misteriosa, com suas sereias, piratas e índios peles-vermelhas? Os Senhores de Respeito bufaram e vociferaram e sacudiram as cabeças até suas bochechas sacolejarem. Voltar para a Terra do Nunca? Nunca!

— Absurdo!
— Ridículo!
— Tolice!
— Despautério! Chorumela! Disparate!
— Sou um homem ocupado!

Na claridade rósea de sua sala de visitas, a senhora Wendy serviu mais chá e ofereceu os sanduíches de pepino.

— A meu ver, existem três problemas — disse ela, ignorando as exclamações de protesto deles. — Primeiro, estamos todos crescidos demais. E só crianças podem voar para a Terra do Nunca.
— Exato! — O juiz Piuí baixou os olhos para os botões repuxados de seu colete. Com o passar dos anos, ele havia realmente crescido um bocado, em todas as direções.
— Segundo, não podemos mais voar como fazíamos antes — acrescentou a senhora Wendy.
— Pois é, então! — O senhor João lembrou-se da noite em que um menino vestido com uma roupa toda feita de folhas secas entrara voando em sua vida e ensinara-lhe a voar também.

Lembrou-se do salto da janela aberta de seu quarto de dormir e daquele primeiro momento de suspense em que a noite o segurara na palma da mão. Lembrou-se de mergulhar e depois subir bem alto no céu negro, detectado pelos morcegos, pinicado pelo frio da geada, agarrado ao cabo de seu guarda-chuva... Ah, como ele era corajoso naquele tempo! O senhor João sobressaltou-se quando a senhora Wendy deixou cair um torrão de açúcar na xícara dele com uma pinça de prata: seus pensamentos estavam soltos lá em cima ao luar.

— E, além disso, para podermos voar — estava dizendo a senhora Wendy —, precisamos de poeira das fadas.
— Então, a idéia é simplesmente 
impossível.

O olhar de Sua Excelência Deleve pousou nos farelos de pão que haviam caído em suas calças e ele sentiu um nó na garganta. Lembrou-se da poeira das fadas. De como cintilava em sua pele como se fossem gotas d'água. Lembrou-se da sensação que despertava, do formigamento que lhe corria pelas veias. Mesmo depois de tantos anos, ele ainda se lembrava.

— Acho melhor não contarmos a ninguém que vamos — aconselhou a senhora Wendy. — Pode preocupar aqueles que amamos. E também atrair a atenção dos jornais.
Pelo jeito, não adiantava discutir com ela, de modo que os Senhores de Respeito anotaram o que ela disse em suas agendas de compromissos, sob o título:

Tarefas a cumprir:
- Deixar de ser adulto.
- Lembrar como voar.
- Encontrar poeira de fadas.
- Inventar alguma coisa para dizer à esposa.

— Eu posso cumprir essas tarefas com facilidade. — sussurrou um Hugo levemente sonolento. — Eu não sou adulto, sei voar de vassoura, posso perguntar o tio Jorge se ele pode me arranjar poeira de fadas e eu não tenho esposa para dar explicações. — os olhinhos se fecharam e as orelhas escutaram as risadas das mulheres. — Eu posso ir à Terra do Nunca.

— Não, você não pode. — Hermione negou com a cabeça e fez um cafuné nos cabelos dele. — Você não vai deixar a mamãe. Ainda está cedo...
— Sim, ainda está cedo...

— Acho que de sábado há uma semana vai ser a melhor data — disse a senhora Wendy. — Vai haver lua cheia nessa noite e sábado é um dia em que ninguém precisa ir buscar as crianças no colégio. Até lá, espero também que este meu incômodo resfriado já tenha passado. Portanto, cavalheiros, ficamos combinados para o dia 5 de junho, certo? Creio que posso contar com os senhores para tomar todas as providências, não é?
Os Senhores de Respeito escreveram em suas agendas:

Sábado, 5 de junho.
Ir para a Terra do Nunca.

Depois, morderam seus lápis e esperaram que a senhora Wendy lhes dissesse o que fazer em seguida. Wendy saberia. Ora, pois se, mesmo resfriada, ela nem precisava de uma agenda para lembrá-la quais as tarefas a realizar!
No dia seguinte, o resfriado da senhora Wendy impediu-a de sair, mas os Senhores de Respeito encontraram-se nos Jardins de Kensington munidos de redes de caçar borboletas, andando de um lado para outro. 
Procurando fadas.

— Nós já fomos nesse Jardim, né, mamãe? — Hugo perguntou e foi Rose quem respondeu:
— Sim, Hugo. Nós fomos assim que mamãe terminou de ler Peter Pan para nós, pois é nesse jardim que tem a estátua dele, lembra? E também tem aquele palácio bonito, em que a Rainha Vitória nasceu e viveu.
— A Rainha Vitória deveria gostar bastante do Peter Pan para mandar fazer até uma estátua dele. — o comentário bobo do menino rendeu risadas.

— A estátua do Peter Pan foi colocada lá muito depois da morte da rainha, querido. J. M. Barrie, o autor do livro, escreveu a história como se passasse por perto dos Jardins de Kensington, por isso que há uma estátua do Peter ali.
— Ah... — as orelhas do garoto coraram um pouco. — Eu gostei daquela estátua... Pode continuar a história, mamãe.

Soprava uma brisa forte. Alguma coisa branca e esvoaçante roçou no rosto do senhor Bicudo e ele deu um grito esganiçado:

— Tem uma aqui! Ela me beijou!

E todos os cavalheiros saíram atrás, agitando as suas redes de borboletas. O vento estava aumentando. Outros fragmentos brancos passaram voando por eles, até o ar parecer cheio de flocos de neve, todos rodopiando e dançando, leves como plumas. Os Senhores de Respeito achatavam a grama, pesadões, correndo para lá e para cá, dando golpes nas fadas com as redes, de vez em quando batendo uns nos outros sem querer, resfolegando e gritando:

— Peguei uma!
— Eu tamb... 
Ai!
— Olhe uma aqui!

Quando foram espiar dentro de suas redes de borboletas, porém, só encontraram as penugens que transportam pelo ar as sementes dos primeiros dentes-de-leão do verão. Não havia uma única fada no meio delas.
Procuraram durante o dia inteiro. Quando o sol se pôs e os estorninhos reuniram-se esvoaçando acima da cidade cintilante, os Meninos Perdidos esconderam-se no meio dos arbustos dos Jardins de Kensington. As primeiras estrelas aventuraram-se no céu, seu reflexo espalhando lantejoulas na água do Serpentine. E, súbito, o ar palpitava de tanto bater de asas!
Exultantes, os emboscados saíram de seus esconderijos e lançaram-se para todos os lados, redes em punho, na caçada.

— Peguei uma!
— Por Júpiter!
— Cuidado, não as machuquem!

Ron saiu do banheiro naquele exato momento, secando os cabelos com a toalha e sentindo a brisa gélida da noite batendo contra o seu dorso despido. Hermione, como sempre, estava certa ao mandá-lo agasalhar-se. Procurou o olhar da esposa, que se encontrava concentrada demais lendo a história para os filhos para lhe repreender. Não escondeu um sorriso ao ver a sua família envolvida em um ambiente só deles, tão morno e doce que lhe dava vontade de sorrir ainda mais.
Sua família não poderia ser mais perfeita.

— Papai, deite-se conosco para escutar a história! — Rose chamou-o assim que ele terminou de vestir uma camisa laranja, onde os escritos Chudley Cannons se destacavam com letras prateadas. — Mamãe parou na parte em que a Wendy e os irmãos dela, que já não são mais crianças, querem voltar para a Terra do Nunca.
— É! Agora eles estão tentando capturar fadas... — Hugo abriu os olhinhos azuis e fitou o pai, rodopiando na cama e tornando a aconchegar-se no colo maternal. — Deite aqui, papai...

De imediato ele obedeceu ao pedido dos filhos. Acomodou-se também por debaixo das cobertas, roçando o corpo úmido ao corpo quente da esposa e aceitando a cabeça dela em seu ombro. Uma mão de Rose procurou uma sua. E Hugo descansou as pernas nas suas.
Era um amontoado. Amontoado de mãos, pernas, pés, braços e sorrisos.

— Ui! Preste mais atenção, meu caro!
— Ora, mas isso é um bocado divertido! Entretanto, quando viraram as redes do avesso, o que encontraram? Mosquitos, mariposas e cupins.
— Tenho uma aqui! — gritou o senhor João, comprimindo seu chapéu-coco na cabeça para manter a cativa no interior.

Os outros se reuniram em torno dele, acotovelando-se para ver. O chapéu foi retirado, produzindo um ruído de sucção; o senhor João colocou o polegar e o indicador lá dentro, pegou algo no forro de cetim e levantou-o para mostrar a eles: o corpo iridescente, purpúreo, brilhante, flexível, azul-turquesa de...
Uma libélula.
O senhor João abriu os dedos e sete pares de olhos desapontados acompanharam a linda criatura fazer um ziguezague no ar e retomar sua valsa na direção da água.

— Não acredito que haja uma única fada... — começou o doutor Cabelinho, mas os outros o derrubaram no chão e num instante taparam-lhe a boca com as mãos.
— 
Calado! Não diga isso! Jamais diga isso! — exclamou o senhor Bicudo, horrorizado. — Não se lembra? Toda vez que alguém diz que não acredita em fadas, uma fada morre em algum lugar!
— Eu não disse que 
não acreditava nelas! — retrucou o doutor, alisando o terno amarrotado. — Eu só ia dizer que não acredito que haja uma única fada aqui. Esta noite. Neste parque. Minhas calças estão sujas de lama, os mosquitos morderam minhas canelas e ainda não jantei. Será que agora não é melhor desistirmos?

Os outros Senhores de Respeito olharam ao redor para o parque na penumbra do anoitecer, para a luz fraca e distante dos postes da rua. Examinaram as solas dos sapatos, para o caso de alguém ter pisado por engano em alguma fada. Contemplaram as águas do Serpentine, para o caso de algumas daquelas estrelas ali refletidas serem na realidade fadas, nadando. Sem fadas, não haveria poeira de fadas. Talvez, afinal de contas, eles não fossem mesmo voltar à Terra do Nunca.

— É melhor assim. Idéia mais absurda... — resmungou o senhor João, mas ninguém respondeu.

Sua Excelência Deleve tirou do bolso uma bolha diáfana e luzidia com todas as cores do arco-íris.

— Na noite passada, sonhei que estava jogando pólo aquático com as sereias — contou. — Isto estava em cima do meu travesseiro quando acordei. A bolha rebentou e desapareceu.

Os portões do parque estavam trancados quando eles os alcançaram. Os Senhores de Respeito tiveram de pulá-los, e com isso o juiz Piuí rasgou seu melhor paletó de lã.
E afinal foi mesmo a senhora Wendy quem resolveu a questão, é claro. No dia seguinte, ela saiu com eles para os Jardins de Kensington, caminhando à frente do grupo, vestida com um casaco de linho e usando um esplêndido chapéu enfeitado com uma pluma.

— Mas nós já olhamos aqui ontem! — protestou seu irmão. — Não havia uma única fada!
— Não estamos procurando fadas — replicou a senhora Wendy. — Estamos procurando carrinhos de bebê!

Vinte anos antes, o parque estaria cheio de babás empurrando carrinhos de bebês para cima e para baixo, enchendo as crianças de bom ar puro. Mas, com o passar do tempo, as babás tinham-se tornado uma espécie mais rara. Havia apenas três naquele momento, empurrando carrinhos, dando comida aos patos, limpando os narizes dos bebês, apanhando chocalhos atirados na grama. Era uma cena que sempre perturbava os Senhores de Respeito...
Um dia, Cabelinho e Piuí, Bicudo, Deleve e os Gêmeos haviam sido bebês como aqueles dos carrinhos. Um dia, alguém os aconchegara em suas mantas e, agasalhados e confortáveis, tinham visto o céu azul com seus grandes e deslumbrados olhos azuis, olhos de recém-nascidos. Mas caíram de seus carrinhos.
E perderam-se. Extraviaram-se.
Foram entregues ao departamento de Achados e Perdidos e, no depósito, guardados na letra B, entre A de "aquários" e C de "críquete, bastões de". Ninguém apareceu para reclamá-los e, depois de mais ou menos uma semana, foram mandados pelo Correio para a 
Terra do Nunca.

Lá, juntaram-se a todos os outros Meninos Perdidos, tendo de se arranjar sem boas maneiras e sem mães, precisando se contentar com refeições de faz-de-conta e metendo-se em uma porção de aventuras com seu chefe, Peter Pan.
Quando um carrinho de bebê passou por eles, o senhor Bicudo não se conteve e pediu:

— Oh, por favor, tome muito cuidado com esse bebê, moça! Sei que não é tão terrível assim ser um Menino Perdido, mas, de qualquer maneira, tome muito cuidado para que ele não caia do carrinho! Nem todos os Meninos Perdidos têm tanta sorte quanto nós! Nem todos são adotados por gente como o senhor e a senhora Darling, e amados, e queridos, e abençoados com tortas de creme aos domingos e uma educação universitária!
— Bem, eu nunca deixei nenhum cair! — exclamou a babá. — Espero que o senhor não esteja insinuando que eu possa perder um dos meus bebês, não é, meu senhor? Como se isso fosse possível! Como se eu nunca... — mas antes que o acesso de mau humor dela se intensificasse, o bebê dentro do carrinho começou a chorar.

Enquanto eles falavam, a senhora Wendy estivera debruçada no carrinho, usando a pluma do seu chapéu para fazer cócegas no bebê.

— O que a senhora está fazendo, madame? — assustou-se a babá. — Esse aí é alérgico a plumas.
— Droga! — disse a senhora Wendy, irritada consigo mesma e, secretamente, com o bebê também. — Senhor Deleve, não fique aí parado! Cante!

E Sua Excelência Deleve (que, caso vocês não se lembrem, tocava clarineta num clube noturno), repentinamente, percebeu que o sucesso do plano todo dependia dele. Segurando o bebê, ele começou a cantar: — Orfeu, com seu alaúde, com seu alaúde fez as árvores...

Não adiantava. O bebê berrava mais alto ainda.

— Oh, o grande duque de York tinha dez mil homens...

E o bebê continuava a chorar.

— Venha para o jardim, Maud, Pois a noite negra qual um morcego já voou!
— Agora vejam só o que vocês fizeram! — disse a babá, atordoada com a barulheira e olhando em torno à procura de um policial.

O senhor Deleve pôs um joelho no chão e cantou:

— Mamãe! Mamãe! Eu andaria um milhão de milhas só por um de seus sorrisos, minha Ma-a-a-mãe!

E, de repente, o bebê começou a rir!
Era um ruído parecido com o gorgolejar da água saindo de uma jarra, e tão delicioso que a babá, alegre, bateu palmas e riu também.

— É a primeira risadinha dele, benza Deus!

Em um movimento conjunto, os Senhores de Respeito tiraram os chapéus. Até a senhora Wendy desalfinetou e tirou o seu. Então, diante da babá estupefata, eles jogaram o bebê de volta dentro do carrinho e saíram em disparada pelos Jardins de Kensington, pulando, brincando de pegar e agitando feito doidos seus chapéus-coco pretos e seus chapéus marrons.

— Ora, ora! — disse a babá. — Este mundo está mesmo virado!

Entre canteiros de aubretia...

— O que é aubretia? — Rose, sempre curiosa e sedenta de novidades, quem perguntou.
— É uma planta ornamental, que pertence à família dos repolhos. — Hermione disse com simplicidade e Ron se questionou pela milésima vez como todas aquelas informações cabiam na cabeça de sua esposa e não escapavam pelos ouvidos.
— Eu não gosto de repolhos. — Hugo fez uma careta de nojo e bocejou.
— Vou terminar de ler esse capítulo e então os dois vão para a cama, está bem? — nenhum deles encontrou forças para resistir. Hermione prosseguiu:

Entre canteiros de aubretia alaranjada, ao lado do memorial da guerra, eles o apanharam — uma coisinha minúscula e azulada de cabelo vermelho, os olhos da cor do mel — uma fada!

Como um tordo saindo do ovo, ele nascera daquela primeira risadinha do bebê que, como vocês sabem, é o que acontece com todas as fadas.
Os Senhores de Respeito estavam cansados e sem fôlego, mas triunfantes.
Equivocadamente, a senhora Wendy batizou o elfo de Con Brio, sem saber que ele já vinha pronto, com nome e tudo.

— Sou o Pirilampo! — disse o elfo, indignado — E estou com fome!

Assim, eles o levaram para os Salões de Chá do Serpentine, alimentaram-no com sorvete, farelos de bolo e chá frio e depois seguiram para casa levando-o no chapéu do senhor João, no alto, igual a um pequeno potentado oriental. Ao chegarem na Praça Cadogan, o chapéu estava ligeiramente chamuscado, mas também quase cheio pela metade de poeira de fadas.

— Você conhece a Sininho? — indagou o senhor João.
— 
Conheço tudo. — respondeu Pirilampo. — O que é uma Sininho?"

— Pois bem, promessa cumprida! — Hermione avisou, fechando o livro e depositando-o sobre o criado-mudo. — Terminei o primeiro capítulo. Amanhã lerei o segundo, se vocês quiserem...
— Claro que queremos! — foi à filha que cantarolou. — Como o Pirilampo não sabe quem é a Sininho, sendo que ele sabe de tudo?
— O Pirilampo é que nem a sua mãe, Rose... — Ron deu um sorriso de lado antes de continuar: — Sabe de tudo e mais um pouco, mas não sabe o básico.
— E o que seria o básico? — arqueando as sobrancelhas de forma ameaçadora, Hermione questionou-o, ficando de pé e pegando Hugo no colo.
— Você não sabe, por exemplo, como é grande o meu amor por você. — a resposta de seu marido fez com que suas pernas tremessem, contudo, precisou retomar o comando de ambas para não se espatifar no chão com o seu filho.
— Eu sei o tamanho do seu amor por mim, Ron... — ela lhe sorriu da forma mais bela existente. — É um pouco menor do que o tamanho do meu amor por você.

— Eu... — Hugo começou a dizer, mas parou para bocejar. — Eu não quero falar de amor agora. Estou com sono. Posso dormir?

Outra vez ganhou risadas dos seus pais e de sua irmã.

— Vamos para a Terra do Nunca agora, Hugo. — Rose segurou uma mão dele até chegarem ao quarto do menor. — Boa noite e até amanhã. — o beijou na bochecha e adentrou no próprio quarto.

Ron ficou encarregado de colocar Rose para dormir ao mesmo tempo em que Hermione arrumava Hugo. Não demorou muito até que os dois pequenos adentrassem no mundo dos sonhos e os dois mais velhos se encolhessem novamente debaixo das cobertas. A morena gostava de dormir com a cabeça apoiada no torso do marido, usando-o como um travesseiro, e gostava ainda mais de sentir o abraço que ele costumava lhe dar a levando para mais perto. Era uma forma deliciosa de se dormir, ainda mais de se acordar.
Por mais que os anos se passassem, a sensação de aconchego permanecia – e crescia – a cada dia que se decorria. As folhas do calendário, ao contrário do que a maioria acreditava, não prejudicavam (aquele) um relacionamento, e sim adicionavam cada vez mais carinho e amor e respeito. Estavam envelhecendo juntos, como um dia haviam prometido diante da família, dos amigos e deles mesmos. Haviam montado uma bonita família, eram bem sucedidos, o sobrado com a cerca branca lhes pertencia e não faltava saúde, comida, dinheiro ou sorrisos... Tudo o que haviam prometido um ao outro, quando mal haviam deixado de ser duas crianças se realizara com esforço, dedicação e a disposição de fazer sempre o melhor para deixar um ao outro feliz.

— Rose finalmente tirou a minha figurinha em um sapo de chocolate, sabe... — Ron comentou, acariciando os cabelos de sua mulher. — Por isso que ela não desistirá tão cedo de conseguir arrancar a história completa de nós.

— Precisaremos lhe contar em breve, de uma forma ou de outra. Quer dizer, ela está para embarcar em Hogwarts e eu não quero que a nossa filha saiba o que se passou pela boca de outras pessoas. Vão acabar dramatizando ou tornando tudo pior do que foi. — suspirando devido à carícia e a preocupação palpável, Hermione se permitiu a fechar os olhos, tentando relaxar.
— Eu ainda acho que é cedo. Rose ainda é uma criança.
— De acordo com as palavras dela, ela já é uma pré-adolescente.
— Nem debaixo do meu cadáver. — Ron resmungou e a esposa precisou conter uma risada. — Ela não tem nem onze anos!
— Ela já me pediu para comprar o primeiro sutiã...
— O que? — quase pulando da cama, o ruivo se pegou pasmado com a informação. — Rose precisa parar de andar com Dominique, é sério. Ela mal acabou de sair das fraldas! O que ela quer com um sutiã?
— Ron, querido, logo ela não será mais uma criança, por mais que nós queiramos adiar esse fato. Dominique se tornou mocinha há pouco tempo e é normal que a sua filha esteja ansiosa para deixar de ser criança também...
— Você escutou o que eu falei, Hermione? Ela não tem nem onze anos!
— Sim, eu sei disso. — Hermione respondeu, revirando os olhos por ser óbvio. — Mas uma hora ou outra acontecerá. Você não notou que ela está bem mais delicada? Semana passada ela quis fazer as unhas, Ron... Mal parecia a garotinha que eu sempre vivia brigando por ter terra debaixo de todas as unhas. — sabendo que o acalmaria, beijou-o ternamente na mandíbula e no pescoço, depositando as mãos em cima do peito dele e apoiando o queixo no mesmo. — Eu amo a minha garotinha e, sinceramente, não gostaria que ela crescesse. Tendo ela desse tamanho eu posso ter a certeza de que ela está bem, porque posso mantê-la debaixo do meu olhar... Isso de saber que em breve ela e logo depois Hugo crescerão não me faz bem, mas eu estou tendo que aprender a aceitar isso.

— Nossas crianças estão crescendo, querido... E eu estou feliz por isso, de certa forma. — confessou, abrindo um sorriso quente. — Eu estou feliz porque tive a oportunidade de ter filhos com o homem que eu amo, por tê-los amado desde o primeiro momento e por poder acompanhar o crescimento deles. — parou por um momento, vendo como as palavras surtiam efeito ao ver como a expressão de Ron se transformava em levemente triste. — Nós não criamos os nossos filhos para eles nos abandonarem, Rony... Eles podem crescer, mas nunca vão nos deixar. Infelizmente todas as crianças crescem — menos o Peter Pan, Hermione pensou, com um sorriso nos lábios. —, mas nem por isso deixaremos de amá-los.
— Você está certa... Como sempre. — ele deu uma risada curta, colocando-se sobre o pequeno corpo dela, segurando-lhe o rosto entre as duas grandes mãos e a beijando por cada poro. — Acho que não vou me acostumar com isso, sabe? Meus filhos estão crescendo e eu estou envelhecendo...
— Envelhecer faz parte da vida, querido... — deixou-se ser beijada no queixo, nas bochechas, nos lábios... — Mas isso não significa nada... — afagou-lhe nos cabelos vermelhos, roçando a boca em um ouvido dele para sussurrar: — Para mim você sempre será aquele garotinho com o nariz sujo que tentava fazer um feitiço estúpido quando eu o conheci... — sabia que as bochechas dele ganhavam cor com aquela lembrança um tanto quanto envergonhosa e sorriu um pouco, colocando as mãos por debaixo da camiseta dele, acariciando-lhe nas costas e prosseguindo: — Mas como também sempre será o garoto por quem eu me apaixonei e o homem com o qual eu me casei... Você nunca envelhecerá para mim... Você será para sempre o meu Rony...

Comovido, Ron a abraçou, sabendo que todo o peso que teria que suportar de deixar um filho ir, e logo outro, seria amenizado por ter a esposa ao lado. Sempre forte, sempre lhe dando motivos para não se deixar abalar e tombar ao chão, Hermione se resumia em sua força; em sua vida. E, beijando-lhe com gosto de agradecimento, ele lhe sorriu, esperando um retribuição... Porque em troca de um sorriso, ele poderia, facilmente, mostrar a ela a sua própria Terra do Nunca.

Se você tem amor, você não precisa de mais nada.
(Sir James M. Barrie, autor de Peter Pan)


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Remendo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.