Remendo escrita por juvsandrade


Capítulo 18
Três




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When you have to look away
Quando você tem que olhar pra longe
When you don't have much to say
Quando você não tem muito a dizer
That's when I love you
É quando eu amo você, amo você

2:00 pm

Ter um filho é uma sensação única que se carrega por todo o resto da vida. Uma criança é sinônimo de compromisso, de responsabilidade, de proteção. Tomar a paternidade ou a maternidade com carinho significa arcar com mais problemas que o normal. É se preocupar com machucados, doenças, educação, alimentação, poupança... É dispor tempo, paciência, cuidados extremos, dedicação, fios de cabelo... É abrir mão de hobbies, passar a fazer sacrifícios, amadurecer.
Ter um filho é reforçar alguns laços e criar outros novos.
Ter um filho era, no ponto de vista da família Weasley, uma benção.

I love you just that way
Bem do jeito que voce é
To hear you stumble when you speak
Ouvir você se atrapalhando quando fala
Or see you walk with two left feet
Ou ver você caminhando com dois pés esquerdos
That's when I love you
É quando eu amo você
I love you endlessly
Amo você infinitamente

A infância de Hermione se resumia a um vazio, um tipo estranho de solidão. Por mais que possuísse o amor de seus pais, algo faltava na mesa do jantar, no percurso para a escola, nas visitas a casa dos avôs, nos feriados...
Ser filha única tinha as suas vantagens, é claro. Ela nunca precisara dividir os pais com ninguém, nem ao menos emprestar seus brinquedos e livros ou brigar pela atenção.

Todavia, era aquilo que fizera falta. Uma discussão, um puxão de cabelo, uma careta feia, um abraço de irmão, uma proteção sem limites... Algo que somente outra criança, mais velha ou mais nova, poderia ter lhe dado.
Se Hermione tivesse tido um irmão... A lista de seu aniversário de onze anos não permaneceria vazia.
Se Hermione tivesse tido um irmão... Ela teria alguém para enfrentar Elidth Amurri no primário ou, ao menos, ajudá-la a superar os machucados.
E talvez fosse por aquele fato que ela sentia uma ponta de ciúmes de Ron... Ele, em todas as situações, possuíra irmãos que por mais que o atazanassem, amavam-no e estavam presentes em todos os aniversários e em todas as ocasiões importantes - ou relevantes.
Por aqueles motivos Hermione não poderia estar mais feliz em saber que Rose teria um alguém para ela.

And when you're mad cause you lost the game
E quando você fica louco porque perdeu o jogo
Forget I'm waiting in the rain
Esquece que estou esperando na chuva
Baby I love you,
Baby eu amo você
I love you anyway
Amo você mesmo assim

3:37 pm

— As contrações estão ocorrendo com maior frequência. — alguém avisou – Ron não sabia distinguir uma profissão de outra, só sabia que seria uma médica a realizar o parto – e terminou: — Duração de 35 segundos, a cada quatro minutos.
— O colo do útero se encontra com oito centímetros de dilatação.

Nove centímetros? Ron engasgou em seco.
Pichi deveria ter nove centímetros!

— Está tudo certo. O coração do bebê está batendo em um ritmo adequado e o da Sra. Weasley também. Podemos começar o trabalho...

Podiam? Já?
Será que eles não queriam esperar mais um pouco? Até, tipo, Ronald se lembrar de como é que se respirava?

— Rony? — por mais que a voz de Hermione se mostrasse sôfrega, existia tanta emoção reunida que ele não pode deixar de se afetar por uns segundos. — Ron, você está bem?

Por que diabos Hermione estava lhe perguntando se ele estava bem? Ela é quem deveria escutar aquela pergunta, afinal, não era ela que se encontrava deitada em uma "cama", de pernas para o ar, prestes a dar a luz?
Por acaso ele era tão covarde a ponto de não conseguir passar segurança a própria esposa, em uma hora como aquela?
Balançou a cabeça, saindo mais uma vez do transe.

— Hermione eu não poderia estar melhor. — afastou a franja dela com uma mão e postou um beijo em sua testa úmida. — E você? Está pronta?
— Espero que sim. — ela sussurrou, franzindo os olhos quando os espasmos regressaram. — É bom que você não solte a minha mão, Ron, porque eu recordo muito bem o feitiço que conjura pássaros!

Tragando a saliva, Ron procurou com prontidão uma das mãos da esposa e tomou-a entre as suas, segurando-a sem força. Ele não queria arriscar. Já estava passando por muitas emoções naquela noite, e tudo o que faltava era um bando de pássaros ariscos tentando acertá-lo em cheio na cabeça.

Cause here's my promise made tonight
Porque aqui está a promessa que fiz essa noite
You can count on me for life
Você pode contar comigo para a vida
Cause that's when I love you
Porque é assim que eu amo você

4:00 pm

Ron cumpriu a promessa. Em nenhum piscar de olhos, deixou de comprimir os dedos de Hermione contra os seus. Quando a médica avisou com aquela tonalidade morna que começariam de vez, o ruivo estremeceu em seu canto, porém se manteve firme, com os pés fixados no chão e com a concentração inteiramente voltada para Hermione.

When nothing you do can change my mind
Quando nada que fizer mudará minha cabeça
The more I learn, the more I love,
Quanto mais eu aprendo, quanto mais eu amo
The more my heart can't get enough
Quanto mais meu coração não ache o suficiente
That's when I love you,
É quando eu amo você
When I love you no matter what
Quando eu amo você e não importa mais nada

"Tudo ficará bem, tudo ficará bem... Respire, Hermione... Eu estou do seu lado... Não vou sair daqui..."

Hermione queria sorrir diante ao zelo ao qual Ron a submetia. Ela sabia, pois era perceptível, que o marido se encontrava aflito com toda aquela correria e agitação, e por isso que se encantava perdidamente pela forma como ele tentava manter uma pose de tranqüilidade, quando, na verdade, tranqüilidade era o que mais lhe faltava.
Ele permaneceu ao lado dela.
Tremendo, prendendo a respiração, rolando os olhos, perguntando de segundo em segundo como é que ela estava, desesperando-se a cada vez que a médica dizia: "empurre!"... Entretanto ele não saiu dali.

"Você está escutando o que a médica disse, Hermione? O nosso filho já está nascendo... Apenas mais um pouco..."

So when you turn to hide your eyes
Então, quando você gira pra esconder seus olhos
Cause the movie it made you cry
porque o filme te fez chorar
That's when I love you,
É quando eu amo você

4:56 pm

Três palavras possuem o poder de mudar um mundo. Três palavras, nada mais.
Seu legume insensível.
Victor Krum bobão.
Eu vou embora.
Fred está morto.
Namore comigo, Hermione.
Eu amo você.
Quer casar comigo?
É um menininho!

Menino. Saudável. Ruivo. 3,5 kg. 52 cm. Perfeito.

And when you can't quite match your clothes
E quando não consegue combinar suas roupas
Or when you laugh at your own jokes
Ou quando você ri das suas próprias piadas
That's when I love you,
É quando eu amo você
I love you more than you know
Amo você mais do que imagina

5:10 pm

— É um menininho. — Ron repetia aquela frase diversas vezes, tanto que Hermione perdeu as contas. Não só por causa da repetição, como também por causa do sorriso abobalhado dos lábios dele.
— Mais um Weasley. — foi o que ela conseguiu sussurrar, beijando ternamente uma mão dele e deixando a cabeça descansar no travesseiro empapado de suor.
— Eu disse que a chance dele nascer com os cabelos cor-de-cenoura eram grandes. — ajoelhando-se ao lado da cama, sem desprender os dedos dos dela, Ron lhe deu um sorriso ainda maior.
— Se nós tivéssemos ido ao supermercado, seria bem provável que o nosso filho tivesse cabelos castanhos. — ela brincou, com a voz mansa, sentindo o carinho do marido em seu braço. — Mas eu prefiro assim. Gosto de saber que terei um mini-Ron...

Antes de Ron conseguir comentar qualquer coisa, o choro de seu filho invadiu mais uma vez a sala. Era bem agudo e alto, mas foi o barulho mais bonito que Ron já havia escutado.

— Vocês gostariam de conhecer o filho de vocês? — uma pessoa que segurava o pequeno Weasley no colo, já envolto em uma manta azul, questionou.

Sem ter palavras, os pais balançaram a cabeça, com os olhares paralisados no embrulho.

Cause here's my promise made tonight
Porque aqui está minha promessa feita essa noite
You can count on me for life
Você pode contar comigo o resto da vida
Cause that's when I love you
Porque é quando eu te amo
When nothing you do can change my mind
Quando nada que fizer mudará minha mente...

As mãozinhas se achavam recolhidas sobre um pedaço da manta. A coloração era cândida, diferente das maças do rosto protuberantes roseadas, marca característica de recém-nascidos. Os cílios alvos possuíam o mesmo formato dos do pai; longos, curvados, notáveis. Os lábios se envergavam, formulando um bico formoso. A expressão declarava que o pequeno bebê parecia saber que estava sendo entregue aos braços de sua mãe, pois as rugas que enfeitavam o rosto esculpido se desfizeram quando as mãos de Hermione o tocaram pela primeira vez, mostrando-se dócil para aquele acalento afetuoso. Ronald fraquejou, sem vergonha, e se deixou suspirar, embriagado com aquela cena.
A beleza da situação era inenarrável.
Três palavras:Olá, pequeno Weasley...

The more I learn, the more I love,
O mais que eu aprendo, o mais que eu amo
The more my heart can't get enough
É o máximo que meu coração pode agüentar
That's when I love you,
É quando eu amo você,
When I love you no matter what
Quando eu amo você nada mais importa

6:18 am

— Maninho 'unito? — Rose indagava sem parar, enquanto andava pelo corredor segurando uma mão de sua tia.
— Ele é um Weasley, querida. Não há como ele ser feio! — Gina gracejou, parando na porta do quarto em que Hermione fora hospedada e batendo para pedir permissão para entrar.

Jorge, que chegara ao Hospital um pouco antes das seis horas da manhã, fazia caretas para a sobrinha do lugar onde estava sentado e ganhava risadas, ainda meio sonolentas, da pequenina. Molly repreendia o filho pelas momices.

— Pode entrar? — abrindo um pouco da porta, Gina perguntou. — Há uma pequena aqui que está louca para conhecer o irmão...

— É claro que pode! — foi Ron que respondeu, afastando a porta para a garotinha entrar. Gina disse que voltaria outra hora, junto de Harry, e saiu para não incomodar.

Ron deu um sorriso gigantesco para a filha e o olhar dizia muito. A ruivinha o abraçou pela perna, esticando a cabeça para o lado para tentar olhar adiante, mas como existia um pequeno empecilho que era um estreito corredor, conseguiu observar apenas a beirada da cama.
O pai deu uma risada ao notar a curiosidade e, de certa forma, o medo da filha.

— Quer dar um olá para o seu irmão, Rose?
— Si. — a resposta soou meio incerta.
— Então vem... — pegando-a no colo como se fosse uma boneca, Ron a levou até o cômodo, aproximando-se da cama aos poucos.

Hermione, que não desgrudara um segundo sequer do pequeno embrulho azul, ergueu a mirada para encontrar a filha aforada que suspendia a cabeça o máximo que conseguia. O bebê se remexeu em seus braços e colocou um bracinho para fora da manta. Rose, quando viu um pedaço de seu irmão, entreabriu a boca, amedrontada, e se agarrou ao pai.

— Po'que é 'nininho assim? — sussurrou para Ron, escondendo o rosto com as mãozinhas.
— Ele é pequenininho, não é mesmo? — o pai riu, dando mais alguns passos e parando na beirada da cama. — Mas é porque ele acabou de nascer, pequena. Daqui algum tempo ele crescerá e terá tamanho suficiente para jogar Quadribol com você...
— 'Dibol! — aquela palavra pareceu ganhar, por inteiro, a garotinha. — Cadê maninho?

Sentando-se na cama e a levando junto, Ron acomodou-a entre as pernas, deixando-a apoiar a cabeça em um de seus braços, ainda temerosa, e ergueu uma mão para afagar o cabelo da esposa, que seguia a sorrir.

— Rose... — Hermione não conseguiu falar, tendo a emoção tomando-lhe por completo.

Somente curvou o corpo, abaixando-se um pouco para então dar a visão do pequeno bebê que, adormecido, não percebia que três pares de olhos inflamados o observavam atenciosamente. Um dedo da mãe afastou alguns fios lisos e ruivos da testa premida e, sentindo o toque, o garotinho voltou a se remexer.
Ron sorriu como um bobo e Rose cerrou as sobrancelhas.

— Maninho não acorda? — enchendo as bochechas de ar, como se não gostasse do sono do irmão, Rose questionou.
— Ele vai acordar logo para dizer olá para você... — Ron noticiou, beijando a filha nos cabelos. — Mas você já pode dizer um oi para ele, se você quiser...

Vaguejando, Rose se arredou do pai, deixou os joelhos tocarem o colchão e colocou as mãos sobre a barriga da mãe. Solevou o rosto outra vez, ficando em frente ao do irmão e o analisando sem se pronunciar.
Aquele momento parecia crucial, para os pais. Ambos sabiam que Rose era amorosa e carinhosa ao extremo, porém sabiam também que a garotinha não gostava de partilhar as atenções. E um outro bebê... Tragaram a saliva, semelhantemente ansiosos.

— Oi maninho... — Rose cochichou, com medo de acordá-lo e levar uma bronca. Apoiou-se ainda mais no corpo da mãe para poder olhar para o bebê com mais atenção e o viu mover os braçinhos. — Meu nome é Rose...— regressou a sussurrar, escutando-o fazer um barulhinho estranho – mas, ao mesmo tempo, bonitinho – e sorrindo imensamente por causa daquilo. Virou a cabeça para olhar para os pais e falar: —Eu gostei do maninho. Vamos ficar com ele?

Uma gargalhada (aliviada) de Ron ecoou pelo quarto e Hermione balançou a cabeça, acolhendo a filha em seu colo ao mesmo tempo em que segurava o bebê. A mãe riu junto, beijando-a nas bochechas e concordando com a cabeça, como se quisesse dizer que sim, ficariam com ele.
... Parecia que Rose estava pedindo para ficar com um cachorro de rua, todavia, Hermione deixou aquele fato passar batido.

Contemplou sucessivamente o filho e, depois de alguns minutos imersa no silêncio, murmurou:

— Eu gosto do nome Victor Hugo... — não reparou que Ron fez uma careta nem um pouco discreta.
— Não quero que o meu filho tenha Victor no nome. — o pai emburrado anunciou e, antes de revirar os olhos, Hermione riu mais um pouco. — Mas eu gosto de Hugo... É um nome bonito.
— Hugo é um nome forte. Significa pensamento, espírito e razão... — ignorou o olhar sobressaltado do marido e prosseguiu: — Gina e eu compramos um livro com os significados dos nomes. Eu fiz uma lista dos meus preferidos e depois fui eliminando de acordo com o significado e origem. Também levei em conta a numerologia, a simbologia e usei alguns aprendizados das aulas de Runas Antigas para...
— Ok, Hermione, Hugo é um ótimo nome! — Ron se adiantou a dizer, tentando acalmar a mulher. —Hugo Granger Weasley, venha já aqui! — fingindo-se de bravo e treinando uma bronca, o ruivo brandou e após o término da frase, concordou com a cabeça enquanto abria um sorriso. — Eu gostei.
— Ronald, me poupe. Quem o vê acha que você é um pai bravo, sendo que na verdade você não passa de um pai babão. Rose está de prova!

O sorriso mínimo e lateral que brotou na boca de Hermione foi irresistível. Ron se envergou para beijá-la com desvelo e em seguida se sentou na beirada da cama, pousando o olhar no filho.

— Olá, Hugo... Seja bem vindo a família.

The more my heart can't get enough
Eu amo você cada momento mais
That's when I love you,
É quando eu amo você
When I love you no matter what
Quando eu amo você e não importa mais nada


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