"Ora, francamente, Ron, você já enfrentou coisas piores!"
Hermione comentava, com a tonalidade mesclada em um divertimento contido e uma incredulidade óbvia. Não que ela estivesse rindo da expressão de terror que ele fazia, mas ainda não conseguia entender como aquele antigo medo – ou seria melhor chamar de pavor? – de seu namorado-noivo-quase-marido ainda não passara, mesmo depois de tê-lo enfrentado cara a cara diversas vezes.
"Eu odeio aranhas!", Ron resmungou com a voz alterada.
O aracnídeo se encontrava a metros deles, pendurado tranquilamente na cortina nova do apartamento novo, e, se não fosse pela capacidade assustadora do ruivo de detectar aqueles pequenos animais, tudo estaria bem e eles poderiam, finalmente, jantar pela primeira vez no novo lar.
"Ron, você enfrentou a Aragogue!", somente a menção do antigo bichinho-de-estimação de Hagrid fez com que Ron fizesse uma careta de nojo.
"Sim, mas foi só porque você estava em perigo!", murmurando ao mesmo tempo em que entortava o nariz, o ruivo respondeu sem saber como aquilo soava como uma frase de amor.
"E as aranhas no dia da Batalha? Elas também eram quinhentas vezes maiores do que essa..."
"Sim, mas nós estávamos em perigo! Não que nós não estejamos agora. Eu não confio nesses bichos..."
"Ah, francamente!", a morena revirou os olhos, pegando na mão do outro e tentando puxá-lo até o outro cômodo. Mas, pelo visto, ele estava travado no chão. "Por Merlin, Ron, ela não vai nos atacar. Vamos para a cozinha..."
"Mas e se ela pular em cima de você?"
"Eu dou um peteleco e pronto."
"E se ela pular em cima... De mim?", o pensamento fez com que as orelhas dele queimassem e que uma nova careta assustada tomasse conta de seu rosto.
"Eu salvarei você. Assim está bom?"
"Você promete?"
"Eu prometo, meu amor. Você me salvou duas vezes delas, por que eu não posso salvá-lo uma?"
"É justo...", ele respondeu brincalhão, demonstrando que estava voltando ao normal – ao poucos.
"Agora deixe a pobrezinha em paz e vamos jantar..."
"Eu não posso nem ao menos estuporá-la?"
"Pelo amor de Merlin, olha o tamanho dela e olha o seu!"
"Mas ela pode ser venenosa, Hermione! E se ela me picar? E se ela picar você?", na segunda parte Ron se mostrou assustado em demasia, coisa que a fez sorrir singelamente, escondida dele. "Vamos lá, ela não sentirá nada..."
Hermione não disse mais nada. Deu alguns passos em direção a janela, até chegar perto da cortina e, abaixando-se para pegar um livro atirado em cima do sofá, ela ficou ereta em seguida, colocando o exemplar por debaixo da aranha e colocando-a na jardineira, do lado de fora do apartamento, e fechando a janela em seqüência.
"Pronto, Ron, ela não nos fará nenhum mal..."
"Hermione...", aproximando-se dela rapidamente e envolvendo-a em um abraço delicado, o ruivo a beijo nos lábios meigamente, sorrindo ao falar: "Você é a minha heroína, ah, você é!"
Retribuindo o sorriso à morena tornou a beijá-lo rapidamente nos lábios, para depois pegar uma das mãos dele e guiá-lo até a cozinha, satisfeita que finalmente poderiam jantar em paz, sem nenhuma preocupação.
Porém ela se enganou ao acreditar que aquilo aconteceria, de verdade.
"Aquilo ali é outra aranha?", Ron perguntou, apontando com um dedo trêmulo um ponto na parede e entortando a boca.
A castanha não olhou para onde ele apontava. Apenas suspirou alto e falou: "Pegue o seu casaco, Ron. Nós vamos jantar fora."