Tenesse, Estados Unidos:

Merda… Era a palavra essencial para descrever minha vida naquele momento.

-Miguel. É sério. Preciso da grana agora.

-Pra que, cara? Você já tem uma ferrari. Já mora sozinho numa mansão. Já recebe mais do que eu vou ganhar na minha vida inteira em mesada por ano, isso porque você nem mora mais com seus pais, imagina se morasse? E, claro, ainda tem sua própria fonte de chocolate. Por quê você precisa da grana?

-Porque eu te emprestei e você tem que pagar, talvez? - falei em tom interrogativo, porém irônico.

-Não tenho no momento. Pra que você quer o dinheiro?

-Pra… Uma viagem.

-Viagem?

-É.

-Pra onde?

-Por que te interessa? - ele apenas levantou uma sobrancelha - Londres. - respondi.

-Vai pra Londres? Por quê? Achei que você odiasse europeus…

-Não odeio. Só não gosto da mania de grandeza deles.

-Diz o americano…

Ignorei-o.

-A questão é, eu tenho uns lances pra resolver e eu sei que só posso resolvê-los em Londres. Por isso preciso ir pra lá.

-E por quê tem que ser com o dinheiro que eu te devo?

-Não tem. Eu só quero ter certeza de que, se eu morrer lá, não vou morrer sem ter meu dinheiro de volta.

Ele riu e jogou-se no sofá. Estávamos em seu apartamento não muito luxuoso, nem muito humilde, mas que retratava seu estilo riquinho, de um jeito pobre. Que é o que ele realmente era.

-Se você morrer, posso ter Rachel para mim? - perguntou.

-Terminamos semana passada, por quê não poderia?

-Sei lá. Talvez você ainda sentisse algo por ela, quero dizer, cara, ela é gostosa!

-Menos, Miguel, menos.

-Só estou falando a verdade.

-Por que mexicanos tem esse jeito de falso malandro mesmo?

Ele revirou os olhos e jogou uma almofada em mim. Sentei-me em sua poltrona. Observei-o abrir uma bolsa em cima da mesinha de centro e tirar uma sacolinha com um pó de dentro dela.

-Ah, não cara! - resmunguei.

-Que foi? - perguntou, fazendo-se de desentendido.

-Você voltou pras drogas?

-Nunca larguei minha lindas. - falou, beijando a sacola.

-Cara isso é nojento… Você me dá nojo, sabe? Muito nojo.

-Foda-se.

Respirei fundo. Ele colocou a sacolinha na mesa de centro, mostrando o mínimo de respeito pela minha presença.

-Então você não vai me dar o dinheiro, certo?

-No way.

-Certo… Pelo menos, toma conta da Tonks pra mim?

-Tonks? Tipo, a Tonks de Harry Potter? A Nymphadora?

-Não, cara! Porra, você sabe que não! É a cachorra da minha irmã!

-Que falta de respeito com a irmã, hein? Chamando de cachorra… - fitei-o sério - Tá bom, parei, parei. - Tonks veio na nossa direção e pulou no meu colo - Por que o nome dela é Tonks, mesmo?

-Era a personagem favorita da minha irmã…

Fizemos silêncio por um momento. Passei a mão na marca em forma de uma estrela de seis pontas em meu pescoço.

-Você é judeu? - perguntou Miguel, quebrando o silêncio.

-Hã?

-Você tem uma Estrela de David tatuada no pescoço. - falou apontando para a marca.

É, eu tinha uma Estrela de David no pescoço. Mas não era tatuada. E não era exatamente a Estrela de David. Era o mesmo símbolo: Uma estrela de seis pontas. Mas tinha um significado diferente. Bem diferente. E pior. Eu ainda não sabia o quão pior. Nem ao menos sabia o significado exato daquela marca. Apenas sabia que coisa boa não era.

-Bem… Vou indo, cara.

Miguel levantou e me guiou até a porta.

Olhei-o por alguns segundos e o abracei.

-Cara, que porra é essa? Você sabe que eu não gosto de abraço! - reclamou. Afastei-me dele e encarei-o novamente.

-Se eu morrer…

-Morrer? Que papo é esse?

-… entregue isso aos meus pais. - entreguei-o um envelope.

Ele me olhou como se eu fosse um maníaco e disse:

-Como eu vou saber se você morreu?

Olhei para seu telefone.

-Você vai ser informado. - disse, antes de sair.