Gritei.

Meu primeiro impulso foi salvar Marie, mas antes que pudesse fazê-lo, suas palavras se repetiram em minha mente.

Digamos que isso seja um adeus francês. (...) Salve James e mate Hanaggan.

Adeus francês... Ela estava me pedindo para deixá-la para trás. Olhei para ela, as pedras caídas sobre seu corpo. Ela sofria, mas mesmo assim seu olhar me dizia para salvar James.

Corri em direção a eles, ambos cobertos por pedras. Libertei James e beijei-o rapidamente. Hanaggan estava preso entre as pedras, sem conseguir sair dali. Peguei sua faca, que estava jogada no chão.

Tirei algumas pedras de cima dele, percebendo que seus olhos estavam fechados e ele não respirava. Havia um pouco de sangue ali.

-Talvez ele esteja morto... – eu disse – Talvez... – antes que eu completasse a segunda frase, Hanaggan conseguiu se livrar das pedras, rolando-nos e caindo por cima de mim. Ele pegou a faca de minha mão. Lutei contra ele, tentando me livrar e desviando de suas tentativas de me cortar. James tirou o de cima de mim, acertando uma pedra dos destroços em sua cabeça.

Hanaggan caiu. Rolei para cima dele, pegando a faca de volta. Passei a mão por seu pescoço, tocando a faca em sua marca. Sorri.

-Mais poderoso? – perguntei ironicamente.

-Parece que Marie te contou, huh? – ele riu – Isso não muda nada... Você não vai conseguir me matar, Rebeca...

-Pés. – eu disse. James bateu nos pés dele com força, fazendo o gritar. Pude escutar o som de algo quebrando. Sorri – Você não vai a lugar algum.

Mate-o. – a voz de Marie soou em minha mente. Olhei de relance para ela, apenas parte de seu corpo podia ser vista entre as pedras.

-Por que você é mais poderoso? – perguntei.

Ele apenas riu em resposta. Pressionei a faca em sua marca com mais força, o que o fez rir mais alto.

-Isso, corte a marca! – ele disse – Vá em frente!

Você disse que eu saberia como matá-lo...

Corte. Quebre. Arranque. Por precaução, jogue o corpo no incêndio e quebre a cabeça nas pedras.

Como você sabe disso? Como sabe que vai funcionar?

Não sei, mas espero que sim... Antes, faça-o dizer. Faça-o explicar.

Marie, por que fez isso?

Ela não respondeu.

Pressionei a faca com mais força, o corte começava a se abrir.

-Não vai dizer? – perguntei.

Ele apenas sorriu.

-Certo, então.

Num movimento rápido, cortei a marca, ele gritou ao mesmo tempo em que ria.

-Boa tentativa, Cortez. – disse ainda rindo.

-Por quê... Por que ele não morreu? – perguntou James.

Encarei Hanaggan no fundo dos olhos.

-Pelo mesmo motivo que eu sobrevivi. – disse por fim, largando a faca e, rapidamente, quebrando o pescoço do falso Colby, arrancando sua cabeça em seguida.

James emitiu um som de nojo que me fez rir um pouco, mas no fundo eu ainda estava assustada com a feracidade que me dominava quando o poder da marca tomava o controle. Levantei. O fogo já havia deixado o subsolo e tomava parte do lugar onde estávamos.

-Jogue o corpo dele no fogo. – falei e assim Jimmy o fez.

Voltei meu olhar para Marie. Ela me encarava. Corri até ela, tentando livrá-la de algumas pedras.

-Pare. – ela disse. Continuei puxando as pedras – Rebeca, pare! – gritou. Olhei para ela.

-Por quê? Por que não me deixa salvá-la?

-Rebeca, quase todos os meus ossos estão quebrados... Você não tem noção de como é dolorosa a recomposição deles. Quando Victor quebrou meu braço eu sofri muito enquanto os ossos se recompunham. Até suportei, mas agora estamos falando que um inteiro eu... Já sofri demais em minha vida. Fisica, emocional e psicologicamente. Cansei disso, sabe? Apenas me deixe aqui e fuja com James antes que vocês sejam presos por destruir um monumento histórico. – brincou.

Eu não ri. Segurei sua mão.

-Por que fez isso?

-Fogo. Lá embaixo, enquanto Victor e James lutavam, eles acabaram pondo fogo no local. Vi o desespero nos olhos de Hanaggan. Isso o amedrontou, então ele fugiu assim que teve a chance. Imaginei que se visse fogo novamente, fugiria, deixando James em paz, então você poderia impedi-lo e matá-lo... – ela gemeu de dor – Eu sabia que a estrutura estaria fragilizada, mas decidi arriscar mesmo assim.

Ouvi barulhos de sirenes ao longe.

-Vão! – ela disse – Vão embora daqui!

-Marie...

-Rebeca, vá. Eu não tenho nada nem ninguém. Minha vida já perdeu o sentido, não tenho nada a perder. Agora, você e James ainda tem um ao outro. Você tem seu pai e Lucas, ele tem a mãe e Miguel.

-Há algo que eu possa fazer por você?

Ela me olhou nos olhos e um pequeno sorriso brotou em seus lábios.

-Você vê meu tornozelo marcado?

Calculei onde ele estaria e tirei algumas pedras de cima. Olhei para ela, perguntando o que queria que eu fizesse, apesar de já desconfiar da resposta.

-Corte. – foi a última coisa que ela me disse, antes de fechar os olhos e esperar receptiva pela morte.