Estávamos no quarto de Rebeca, muito arrumado, comparado com o de James. Eu estava sentada no canto de sua cama, chorando. Rebeca estava ao meu lado, com a mão no meu ombro, me apoiando.

–Eu não tenho ideia do que você está sentindo, sei que deve ser difícil, mas vai dar tudo certo, vai ficar tudo bem.

–Você não entende... Desde sempre éramos eu, mamãe e Hugo, meu “pai”. Pablo ia nos visitar algumas vezes. Uma ou duas por ano, ele sempre trabalhou demais.

Mamãe era feliz com ele, com Hugo, mas por alguma razão eu nunca consegui gostar dele. Eu acho que eu sentia que ele não era realmente meu pai. Sempre preferi Pablo, ele era mais gentil comigo. Mas mesmo não gostando dele, éramos felizes. Vivíamos bem. Eu o respeitava, pois ele fazia minha mãe feliz. Até que um dia... – ela respirou fundo - Eu vi. Hugo, o cara que minha mãe amava, o cara que a fazia sorrir, a matou... Hugo parecia fora de si aquela noite, ele a empurrou, fazendo-a bater com a cabeça no chão,e a esfaqueou repetidas vezes. Na minha frente. Depois, como se não voltasse a si, chamou a polícia e a ambulância. Seus olhos demonstravam tristeza, mas nunca tive certeza e que era inocente. Antes de matá-la, ele disse que eles disseram que ele devia fazer aquilo, ou eles iriam matá-lo. Por ter apenas 10 anos, não soube que dizer, então guardei em silêncio.

Certo tempo depois, ainda durante a busca pelo assassino, as provas indicavam que meu “pai” havia tentado matar minha mãe. Um dia antes do julgamento, ele também foi assassinado.

Tornei-me assim “órfã”, entre aspas, pois eu não sabia que Pablo era meu pai. Fui mandada para um orfanato e a mãe de uma amiga minha me adotou, foi quanto nos mudamos de volta para França..

–Sinto muito pela sua mãe. – disse Rebeca.

Eu apenas sorri.

–Passei a vida inteira odiando um pai que nem ao menos meu pai era... – falei triste - Não entendo porquê Pablo mentiu para mim...

–Talvez tenha sido por um bom motivo... – disse ela. Encarei-a confusa e alguém bateu na porta. Ela levantou para atender, era James.

–Hey! – ele nos cumprimentou – Então... Agora o Pablo explodiu, desculpe a insensibilidade, Marie. E nós? Voltamos a estaca zero?

–Não necessariamente. – falou Rebeca, tirando um caderninho do bolso – Peguei isso do escritório de Pablo quanto ele levou o tiro.

–Caralho! Você é cleptomaníaca? – perguntou James. Rebeca apenas sorriu sapeca.