Amor por Contrato escrita por pandorabox240


Capítulo 4
Adivinhe quem vem para o brunch


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas! Obrigada pelos reviews que têm me mandado! Fico feliz pelo fato de vocês lerem APC. Queria agradecer a:
Thais1_6, NatyC, jana_mi, ThaisMissy, pryla, lorrana isabela, Arline, bella_masen_13. Obrigada mesmo!^^



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Capítulo 4: Adivinhe quem vem para o brunch

Isabella Swan POV

            Meu Deus! Como uma pessoa pode ser tão burra, idiota, ingênua, tonta e tapada ao mesmo tempo? Por pior que pareça, existem pessoas assim e uma delas sou eu! Como fui tola ao pensar que Edward queria me levar ao seu apartamento para me mostrar sua coleção de livros. Ele queria me mostrar outra coisa, isso sim! Senti tanta raiva de mim mesma ao chegar em casa após o ocorrido e ainda tive de levar bronca de Renée por chegar muito tarde. Mas a bronca não foi tão grande assim; minha mãe ficou preocupada comigo e prometi a ela que isso jamais se repetiria.

           Quando eu era mais nova, sempre imaginei que o primeiro beijo de uma garota, especialmente o meu, seria mágico, como nos contos de fadas, onde o casal de protagonistas termina junto e feliz, selando seu amor com um beijo casto. Mas estórias com finais assim só existem nos filmes da Disney e o meu primeiro beijo foi totalmente diferente do que imaginei.

           Alguns dias depois eu tentei tirar isso da minha mente, mas meu coração se recusava a realizar o que eu mais queria e passei a ter sonhos perturbadores envolvendo Edward Masen. Várias vezes eu acordei no meio da noite, trêmula, ofegando e suando frio depois de me imaginar com Edward em posições nada ortodoxas! E me fazendo gemer e gritar feito uma mulher mundana! Minha mãe sempre acordava, apavorada ao ouvir meus gritos, mas não podia contar a ela... O que ela iria pensar? Eu juro que tentei esquecê-lo durante esses últimos dias, mas passei a lembrar-me mais daqueles momentos. Aqueles lábios macios se juntando aos meus... Aquelas mãos fortes acariciando meu corpo... Eu não entendo isso! Não entendo o fato de desejar aquilo ainda mais! Logo eu que, inicialmente, achei tão asqueroso!

          O melhor a ser feito agora é concentrar-me nos afazeres domésticos. A baronesa Esme convidou uma de suas amigas para um brunch* aqui no domingo. Até imagino a cena: Esme falando de futilidades com os convidados. Esme e os convidados falando de viagens ou decoração de interiores. Sem deixar de falar de seus filhos que se destacam estudando nos melhores colégios da Inglaterra ou em Oxbridge. Não sei como aguento isso. Continuei com as minhas tarefas; se eu parasse em algum momento, Maggie me daria mais broncas ainda. Ela já me chamou tanto a atenção por ter me distraído e ficado sonolenta demais nesses últimos dias. Quase quebrei todas as coisas daqui.

            No domingo, acordamos bem mais cedo do que o costume para arrumar tudo para o brunch. E mais uma vez, não dormi direito após ter mais um daqueles sonhos estranhos com Edward. Quando fui vagarosamente à sala de jantar entregar toalhas de mesa para minha mãe e Leah colocarem na mesa, Maggie veio reclamar:

-Isabella, já lhe disse desde o começo da semana que não quero atrasos nas realizações das tarefas! Principalmente hoje! Sabe que a baronesa deseja tudo pronto o mais rápido possível!

-Sim, senhora Maggie... – disse cansada – Prometo que não faço mais isso.

-Assim está ótimo.

-Poupe a garota, Margaret – disse Renée – Isabella tem estado doente, um pouco indisposta e não dormiu direito nas últimas noites.

        Parte do que minha mãe afirmou era verdade. Mas eu não estava tão doente assim. Ela deve ter pensado isso por ter me visto acordar muito cansada.

-Pois dê um jeito de melhorar sua indisposição até a hora dos convidados chegarem, Isabella. Você também irá servi-los hoje.

- Sim, senhora. Não se preocupe quanto a isso. – respondi desejando esganá-la.

-Ótimo. – disse saindo da sala de jantar.

-Por que ela sempre faz isso? – perguntou Leah – Quando cheguei aqui, pensei que ela fosse rigorosa quanto às normas de conduta daqui. Mas pelo que vejo, ela é uma carrasca!

-Por que ela gosta de deixar os outros aqui com raiva. – minha mãe respondeu – Simplesmente.

-Mas é pior se reclamar com ela. E a senhora sabe disso, não é mãe?

-É, mas essa mulher me encheu a paciência a semana toda. De qualquer forma, me ajudem a colocar essas toalhas. Não podemos deixar nenhum vinco.

-Tudo bem, mãe...

            Quando fui à cozinha arrumar as refeições, acabei vendo dois dos convidados da baronesa. Na verdade, eram duas adolescentes: uma era ruiva de olhos verdes e parecia falar como uma mulher adulta com a baronesa; a outra era loira de olhos azuis, como os de Rosalie e estava encantada com tudo que via. Parecia até eu quando via algo diferente pela televisão da cozinha. Eu aqui espiando as pessoas que chegam, nem me lembrei de ir logo a cozinha arrumar tudo! “Ah, meu Deus! Maggie vai me esfolar se eu não chegar a tempo,” pensei quando comecei a correr. Por sorte, cheguei bem na hora em que ela repassava as tarefas para todos. Pude ajudar a minha mãe a arrumar a bandeja enorme de chá que tive de levar a sala de visitas para servir aos convidados dos barões. Coloquei a bandeja no carrinho de chá e saí levando até a sala de visitas, junto com Maggie. Abrimos a porta do cômodo e continuei empurrando o carrinho de chá até o centro da sala. Assim que levantei a cabeça para olhar para os convidados, me deparei com Edward Masen sentado em uma das poltronas. Não sei por quanto tempo fiquei observando-o, mas quando voltei a mim, percebi que todos na sala olhavam em minha direção, sem entender nada, até mesmo as garotas que vi há pouco. Que vergonha! Na pressa de sair logo do cômodo, quase derrubava a bandeja com louças antigas da família da baronesa no chão.

- Perdoe-me, senhora baronesa. – disse, tentando sair do lugar – Eu juro que não foi a minha intenção.

-Tudo bem, Isabella. Não há problema nenhum. – garantiu Esme. Sempre tão boa comigo...

-Hum... Com licença. 

         Corri da sala de visitas, envergonhada. Não queria mais ficar ali. Ver Edward mais uma vez, mais lindo do que nunca... Então era ele um dos convidados da baronesa? Nem prestei atenção quando falaram sobre Edward e sua família durante a semana. Eu desejei não vê-lo nunca mais, mas parece que algo ou alguém está conspirando contra mim. E depois dessa, eu só queria virar um avestruz e enfiar a minha cabeça num buraco! No momento em que entrei na sala e vi Edward, eu me lembrei daqueles momentos, desejando mais... E quando todos na sala me encararam, fiquei ainda mais envergonhada. Acho que todos os outros devem ter pensado que sou uma garota tapada ou algo do tipo. E ainda vou ter de fazer mais tarefas. É a maneira que a Maggie inventou de me dar broncas! Eu estava sentada no chão da cozinha, perto da porta da saída, quando ela me chamou:

-Isabella, levanta daí! – Eu não disse? – Você e Leah irão arrumar a mesa da sala de jantar para o brunch! Tem sorte de não ter lascado nenhuma daquelas louças! E é melhor não pensar em besteira enquanto estiver trabalhando. Não quero que quebre mais nada!

         Além de ter a audição aguçada, ela lia mentes?

-Sim, senhora. – disse, me levantando.

          Depois de arrumar tudo, tive de ajudar Renée e as outras empregadas a servir os convidados. Eu tentava fazer nenhum tipo de contato visual com os que estavam à mesa, mas sentia os olhos de Edward fixados em mim. Por alguns instantes, observei a cena que se desenrolava durante a refeição: todos conversando juntos sobre qualquer coisa como decoração, viagens, eventos sociais e o spitz alemão de Esme, que mais parecia membro da família do que um animal de estimação. A ração que ele comia era mais cara que o meu salário! Edward permanecia alheio a tudo e olhava para mim maliciosamente, dando aquele sorriso torto que me deixava mais ainda desconcertada. Por que ele me faz ter esse tipo de reação? Eu deveria pensar que Edward é um tipo de verme asqueroso, mas isso é a última coisa que quero pensar dele no momento. Em meio aos diálogos proferidos pelos Cullen e as mulheres Masen, Edward tentava falar comigo por meio de algum código desconhecido. Eu não entendia leitura labial! Espero que ninguém perceba os gestos que ele fez para mim!

       Terminado o brunch, os aristocratas presentes foram conversar perto do gazebo do jardim. Pelo que pude ver, Rose se entretinha conversando com Katherine e Claire, as irmãs de Edward, enquanto a baronesa e Elizabeth Masen deviam estar falando da vida alheia. Mas não vi Edward junto com elas... Onde ele estaria? Não entendo a razão de me preocupar tanto com isso, mas...  Eu devia me preocupar mais com as tarefas que me foram impostas. Estava andando com um cesto enorme com várias roupas para serem passadas a ferro quando fui puxada para dentro de um dos quartos.

-O quê?!

       As mãos fortes que me puxaram para dentro do quarto escuro, passaram a envolver meu corpo, me empurrando contra a parede. Logo o reconheci antes mesmo dele tentar me beijar.

-O que você ainda quer de mim? – perguntei me afastando de Edward e ligando a luz do quarto.

       Edward veio até a minha direção e me agarrou novamente. Ele me abraçava tão apertado, que eu não conseguia soltar.

-Me larga, Edward! – tentei falar o mais baixo possível para que ninguém ao passar pelo corredor ouvisse a tudo aquilo.

        Por mais que eu tentasse me desvencilhar de Edward, ele estava disposto a não me soltar.

-Edward, por favor, se nos virem aqui... – disse, ofegante.

       Edward afrouxou mais o aperto e afundou o rosto no meu pescoço, me deixando mais nervosa.

-Eu desejava tanto te ver novamente, Isabella... – disse sem me encarar.

-Para quê? Para conseguir o que não teve quando estávamos no seu apartamento? – perguntei, quando pude finalmente me soltar dele. Quase tropeçava no cesto de roupas.

-Não... Não é isso, Isabella... – respondeu, passando as mãos pelos cabelos, deixando-os mais caóticos – Por Deus, eu sabia que isso seria mais difícil... Eu sei que não me comportei muito bem naquele dia...

-Falar assim é eufemismo. O que você fez foi uma indecência! – disse, tentando parecer furiosa. A verdade que estar ali naquele quarto, sozinha com Edward, me fazia ter pensamentos obscenos.

-Eu entendo... Mas eu queria muito que você aceitasse as minhas desculpas. Eu só agi daquela maneira, por que simplesmente não consigo frear meus instintos quando estou perto de você.

- O que disse? – perguntei surpresa, arregalando os olhos.

-Exatamente o que ouviu. Você me deixou louco, Isabella! Estou apaixonado por você!

-Isso só pode ser uma brincadeira de muito mau gosto. – disse, com braços cruzados numa postura defensiva. Internamente, eu estava pulando de alegria com a declaração.

-Mas não é... – afirmou, parecendo estar consternado – Se me deixar explicar... – e se aproximou de mim.

-Não dá... Tenho muitas coisas a fazer; estou muito ocupada. – disse, sem encará-lo – Se me dá licença...

            Eu já ia em direção à porta, quando ouvi aquela voz aveludada mais uma vez:

- Isabella, espera! Eu quero muito te ver, podemos nos encontrar novamente?

-Eu não sei se devo Edward...

-Por favor... Eu juro que só quero conversar e tentar resolver essa situação. Eu quero reverter isso.

-Olha, Edward, eu...

-Por favor, Isabella...

             Edward estava tão próximo que não pude fazer nada. Eu estava tremendo e com a respiração falhando. E agora?

            Edward me segurou pelos braços, provavelmente achando que eu fosse escapar mais uma vez. Virei o rosto para o lado por não conseguir sustentar meu olhar; sentia a intensidade com que aqueles olhos verdes me fitavam. Ele segurou meu rosto suavemente, endireitando-o para que eu o olhasse diretamente. Não relutei. Quando meus olhos encontraram os dele, eu senti como se tivesse sido enfeitiçada, como no dia da festa. Edward deslizou uma das mãos até o meu queixo e o segurou, passando levemente o polegar pelos meus lábios. Arfei. Estava tão fora de mim por conta daquele olhar, que não percebi Edward roçando seus lábios nos meus. Com uma das mãos livres, ele me mantinha presa pela nuca, enquanto seus lábios quentes e úmidos se uniam aos meus. Entreabri meus lábios, deixando que sua língua entrasse em minha boca, fazendo-me ansiar por mais. Muito mais. 

          No entanto, eu não devia deixá-lo continuar com isso. Interrompi o beijo, afastando-o com uma das minhas mãos. Fiquei bem longe de Edward, sem encará-lo. Se eu olhasse para aquele homem novamente, não responderia pelos meus atos.

-Diga logo onde podemos nos encontrar – disse, ainda abalada. Eu estava me apoiando em uma escrivaninha para não cair.

-Em Hyde Park, às 16 horas. – afirmou, entusiasmado.

-Eu não sei se devo...

-Por favor, Isabella... É só isso que estou lhe pedindo. – disse, quando se aproximou de mim tocando meu braço levemente.

-Eu ainda vou pensar nisso. – disse quando pude encará-lo novamente.

-Tudo bem... Mas eu queria muito que fosse.

-Certo... De qualquer forma, é melhor não sairmos juntos desse quarto. Podem suspeitar.

-Entendo... Eu vou primeiro. Até mais... – disse, dando-me um selinho.

            Edward saiu do quarto me deixando abobada com a situação. Eu deveria ir a esse encontro ou não? Ele me garantiu que conversaríamos no parque. Mas e depois? O que iríamos fazer? Eu queria muito vê-lo novamente. Mas eu ainda estava com dois pés atrás em relação a isso. Depois do que ele me fez no apartamento, ainda estou desconfiando de suas intenções... Porém, algo me dizia que deveria ouvir o que ele tem a falar. Saí do quarto, olhando para os lados para verificar se tinha alguém. O corredor estava vazio, mas a sensação de estar sendo vigiada era intensa.

         À noite, enquanto servia o jantar dos Cullen, tentei não pensar muito no que aconteceu no quarto. Eu tinha vontade de vê-lo na sexta-feira da minha folga, mas... Eu simplesmente não sei o que pensar! Depois eu decido isso... Tenho é mais que me concentrar para não desequilibrar com nada. Já bastam as louças que quase quebrei hoje. Fui tirada dos meus pensamentos por mais uma pequena discussão entre a baronesa e a Rosalie sobre esta comer bem menos do que devia. É claro que Rose se mostrou alheia aos comentários da mãe. Ela não percebe que está atraente a olhares masculinos o suficiente para desejar emagrecer mais? Vai entender essa garota... Logo depois o assunto à mesa mudou e os Cullen passaram a falar da conversa que tiveram com os Masen de manhã. Eles se mostravam indiferentes ao falatório das outras famílias sobre a atual situação dos Masen. Espera aí! Que situação era essa em que eles se encontravam?

          “Eu morava em outro lugar no tempo das vacas gordas”. Foi o que Edward disse quando fui ao apartamento dele. Mas como eu iria prestar atenção ao que ele falava se eu estava nervosa na ocasião? Então era essa a situação pela qual a família de Edward passava? Se forem pobres como dizem os barões, então não há problema nenhum.

             Meu Deus! Quão fingidos eles são! Antes eles demonstravam não se importar, mas agora falam mal! Como se eu não tivesse visto isso outras vezes...

             Poucos dias depois, eu permanecia com aquela dúvida: ver Edward e tentar dar um rumo diferente a esta situação ou deixá-lo esperando em Hyde Park e esquecer tudo isso? Eu ainda não me esqueci do que ele fez no aniversário de Rosalie e quando estivemos em seu apartamento. Entretanto, a ideia de não ver mais Edward me deixava angustiada. Por quê?

              Um dia, soube que Rosalie tinha ido às compras com Alice e a arrastara para Hertford. Quando fiquei livre de tarefas por alguns minutos, fui ver Alice. Pedi licença para entrar no quarto e ouvi as duas conversando sobre algo que não pude entender, mas o assunto parecia ser sério. Rosalie percebeu a minha presença e se calou; Alice fez o mesmo e estava com o semblante aflito quando a vi, o que era raro se tratando do humor da Brandon. O que estava acontecendo?

-Isabella! – disse Rosalie, contente – Que bom que está aqui!

-Olá, Rosalie! Olá, Alice! – disse, me aproximando das duas.

             Alice, depois de instantes, voltou a sorrir e a ter a agitação de sempre.

-Isabella! Há quanto tempo não te via! – disse, me dando mais um daqueles seus abraços apertados – Como está?

-Indo... Fiquei feliz quando soube que estava por aqui!

-É! Rosie insistiu em me tirar das aulas de História da Arte para irmos às compras hoje.

-Fala como se gostasse de assistir aquilo tudo...

-Eu gosto, só não encontrei algo que me estimule a prestar atenção no que aqueles professores dizem. – disse, sentando-se graciosamente na cama.

-Claro! O que você quer não está naqueles auditórios... – comentou Rosalie enquanto eu assistia a tudo rindo.

-Sua maldosa!

-Eu não disse nada! Você que tem a mente pervertida!

-Eu? Eu estava falando de aulas, não é, Isabella?

-Se você diz... – afirmei, rindo.

-Até a Isabella concorda! – disse Rosalie, divertida.

-Sabe que eu não estava falando nada disso, Rosalie! Foi você quem paquerou quase todos os homens lindos de Cambridge!

         Era sempre assim: Alice e Rosalie discutiam por qualquer coisa; Alice se irritava fácil e Rosalie a irritava ainda mais. Eu sempre ficava olhando as duas brigando. Já sabia que elas voltariam a se falar mais uma vez. Foi divertido conversar com as duas por alguns momentos. Fiquei mais distraída e esqueci um pouco o que me afligia. Se bem que aqueles pensamentos voltaram com força total posteriormente, mas eu tentava não pensar muito.

           Na sexta-feira, fui a Biblioteca Britânica para estudar. Quanto mais eu tentava me concentrar, mais eu ficava ansiosa! Eu tentava estudar, mas acabava lembrando-me de Edward e do encontro em Hyde Park. A bibliotecária me pediu para fazer silêncio várias vezes, impaciente, durante as horas em que tentei estudar. Mas também não era para menos: eu fazia mais barulho mexendo as pernas e tamborilando os dedos sobre a mesa do que os outros faziam virando as páginas dos livros. Eu olhava para o grande relógio de pêndulo na parede, mas as horas pareciam se arrastar. Não que eu tivesse decidido ver Edward no parque, mas eu odiava isso.

           A vontade de ver Edward só estava aumentando a cada minuto que passava. Mas eu já tinha me decidido que não o veria e voltaria logo para Hertford assim que terminasse tudo aqui. No entanto, a lembrança daquele beijo que ele me deu no quarto me deixou ainda mais indecisa. Eu ficava ainda mais ansiosa quando vi que estava perto das dezesseis horas. Eu desejei não ver Edward, mas se eu não o visse... Ah, quer saber? Eu vou a Hyde Park. Edward falou que iríamos conversar então nós iremos conversar. Afinal, tenho de ouvir o que ele tem a dizer. E caso ele se descontrole, eu dou um jeito de ir logo embora.

              Arrumei-me, colocando as minhas canetas e meu caderno na minha bolsa tiracolo. Já passavam das dezesseis; eu teria de andar rápido, pegar um ônibus que passasse perto do parque por que era bem longe da Biblioteca. Ele não podia ter escolhido um lugar mais perto? Depois de algum tempo, consegui chegar ao parque, mas não conseguia encontrar Edward na entrada. Será que ele esperou por muito tempo e decidiu ir embora? Ou simplesmente não veio? Eu deveria ter imaginado isso...

               Entrei no parque e vi uma pessoa conhecida sentada em um dos bancos, olhando para o chão. Era Edward! Então ele esperou para me ver!

               Edward levantou a cabeça e quando aqueles olhos encontraram-se com os meus, eu não tinha ideia do que fazer. Involuntariamente minhas pernas se moveram até onde Edward estava, onde ele já me esperava de pé. Quando o alcancei, eu não conseguia olhar para outra coisa senão Edward. Como não olhar para aquele homem tão lindo? E com aquele sorriso tão perfeito...

-Edward... – foi somente o que consegui falar depois de minutos encarando-o.

-Isabella... – disse me abraçando – Que bom que veio...

            Eu não tinha certeza do que aquela decisão acarretaria em meu futuro. Contudo, eu sabia que não poderia mais recuar.

Edward Masen POV

           Os últimos dias estavam sendo um inferno! Eu estava mais estava estressado do que nunca! Minha irmã, Kate, me ligava constantemente para saber a quantas andava a compra do seu notebook. Minha mãe me ligava, mas eu preferia não atender as suas ligações. De advertências, já bastavam as que a diretoria da Eton estava me dando nos últimos dias. Eu não conseguia me concentrar para dar aulas e os adolescentes também não contribuíam em nada. Eles bagunçavam ou conversavam demais! Eu me perdia nas explicações e demorava a voltar para a linha de raciocínio que tentava desenvolver. Eu gritava com todos eles para chamar a atenção, mas a maioria deles não dava à mínima. Isso me deixava tão puto que tive de mandar pelo menos uns dez alunos para a coordenação do colégio! Até aí tudo bem. O único problema era ter de aguentar a diretoria, o gestor da instituição e os pais cheios de dinheiro no bolso dos alunos prontos para me demitirem, falando que eu deveria relevar as atitudes dos garotos.

        Relevar? Quem são eles para dizer que eu devo relevar as atitudes de moleques que estão passando por alterações hormonais? Se os moleques se comportam mal é por que não têm a devida atenção em casa. Mas quem sou eu para falar disso? Meus pais só falavam comigo quando achavam necessário. Se bem que o velho Anthony sempre estava mais presente em minha vida do que a minha mãe. Mas isso não importa... Só o que pude fazer para resolver este problema foi ignorar as reclamações do Conselho e garantir que isso não iria se repetir. Se for para continuar com o meu adorado emprego aqui na Eton, por mim tudo bem.

         A verdade é que sempre suportei isso tudo calado, mas nesses últimos dias eu estava uma pilha de nervos e não conseguia ficar muito tempo sem fumar cigarros. É... Eu tinha esse péssimo hábito desde não sei quando, mas fumava apenas quando me encontrava em situações assim. Se fossem somente as cobranças da minha família para me deixar nervoso, tudo bem. Não teria nenhum problema. O fora de uma garota de olhos castanho-chocolate e em especial me deixou chateado. Depois do que fiz o que eu poderia tentar para vê-la de novo? Aposto que ela nem quer me ver pintado de ouro, mas eu precisava vê-la.

         “Você assustou a coitada da garota, ora! O que você queria que ela fizesse? Dar para você numa boa é o que ela não iria fazer!”, foi o que Victoria comentou quando nos encontramos. Ben, apesar de ser um pervertido, brigou comigo por eu ter tentado agarrar Isabella. Eles estavam certos: o que fiz foi totalmente errado. Mas o que eu poderia fazer em relação a isso? De alguma forma, só pelo fato de ver Isabella, eu ficava maluco, não raciocinava direito! Não conseguia preparar aulas, não conseguia me concentrar! Fiquei tão louco que cheguei a esperá-la na Biblioteca Britânica nas sextas-feiras, mas eu não a via. Muitas vezes eu achava que via Isabella andando nas ruas de Londres. Cheguei até a pensar que uma colegial que estudava em Berkshire seria ela. E quanto mais eu tentava me “aliviar”, mais eu pensava em Isabella, mais eu tinha vontade de possuí-la! Só mesmo um maço de Marlboro para me deixar menos ansioso...

           Em uma tarde quente de sábado, onde eu me encontrava no apartamento vestindo apenas uma calça moletom preta e criando apresentações de slides no Power Point, quando minha mãe me ligava pela vigésima vez no dia.

-Edward, por que você não atende esse telefone? – Ela devia achar que eu tenho problema de surdez pra ficar gritando comigo – Se não quer mesmo falar com ninguém, joga isso na lixeira!

-Boa tarde para a senhora também, mãe! – disse fingindo falsa alegria – Como vai a senhora?

-Vou muito bem, querido. – respondeu. Sempre achei que essa mulher era bipolar. – Liguei para dizer que amanhã vamos sair. Todos nós. Você, as meninas e eu.

-Mas amanhã é domingo, mãe.  E estou atolado de trabalhos para corrigir!

-Tire uma folga amanhã. Você precisa de um descanso. A baronesa Esme nos convidou para um brunch em Hertford.

       Um brunch na casa dos Cullen? Era a oportunidade que eu estava precisando! Lá eu daria um jeito de falar com Isabella...

-Que horas eu passo aí para buscar vocês? – perguntei, entusiasmado. Se ela se espantou com minha alteração de humor, eu nem me importo!

-Esteja aqui às 9 horas em ponto! – falou.

-Não se preocupe. Estarei aí no horário marcado.

         Ela desligou o telefone na minha cara, mas eu não fiz caso em relação a isso! Eu mal podia esperar por esse brunch!

         No dia seguinte, eu já estava na casa de minha mãe bem cedo esperando ela e as minhas irmãs terminarem de se arrumar. Engraçado que mulher sempre diz: “Só mais uns cinco minutinhos” e demora ainda mais. Não foi muito diferente nesse dia. Eram mais de nove horas, Elizabeth e Claire ainda estavam se arrumando. Elas deviam achar que iriam a uma festa. Não precisavam disso! Deviam fazer que nem a Katherine: só colocar uma roupa casual, mas elegante e ir, poxa! Fazem isso só para me deixar impaciente...

         Enquanto minha mãe e Claire demoravam, eu espiava o que Kate estava fazendo em seu recém-comprado notebook na mesa da sala de estar.

-Kate, quando você me ligou pedindo para comprar um computador para você, achei que fosse somente para estudar. Mas pelo que eu estou vendo... Messenger e atualizar a página do Facebook são novas formas de estudar?

      Ela se assustou enquanto eu dava gargalhadas.

-Estou conversando com as minhas amigas do colégio sobre um trabalho se é o que quer saber, seu bisbilhoteiro! – disse ela estreitando os olhos para mim.

-A essa hora? Entendi... – comentei, pegando uma cadeira para sentar-me perto dela – Já usou demais por hoje, agora é a minha vez!

-O que disse?

-Estou começando a me entediar. Não quero esperar Claire e mamãe por muito tempo sem fazer nada.

-Podemos ir? – perguntou Elizabeth quando descia as escadas com Claire.

-Já não era sem tempo! – exclamei – Por que demoraram? – Quero ver qual é a desculpa que elas inventam desta vez.

-Ah não! – minha mãe reclamou quando nos viu na sala – Vocês não irão vestidos assim!

-Por que não, mãe? – Kate perguntou olhando para suas roupas – Não há nada demais no que estou usando!

-Por isso mesmo: é simples demais! Vá se trocar!

-Vamos demorar ainda mais! – Kate saiu resmungando para o quarto – Tudo isso é culpa da Claire, essa Árvore de Natal Ambulante!

-Eu ouvi isso! – falou Claire com raiva – Mãe, a Kate só implica comigo! Por quê? – choramingou.

-Por que implicar com o Edward não tem graça!

-Por favor, deixem de brigar as duas! – pedi – Kate, não precisa trocar de roupa. Está bonita assim mesmo. Estamos mais do que atrasados. Vamos logo.

            Eu não queria perder tempo. Nunca gostei desses eventos mais íntimos, mas hoje eu estava disposto a aguentar. Eu realmente esperava que a viagem a Hertford fosse tranquila, mas não. Eu tinha de optar entre ouvir as reclamações de minha mãe e seu cotidiano ou as implicâncias das minhas irmãs. Se existisse algo com uma tecla mute, seria muito bem-vindo nessa hora. Passamos pelo portão principal da propriedade dos Cullen e as garotas pareciam estar encantadas com tudo o que viam. Já havíamos visto lugares assim antes, por que elas agiam assim?

-Katherine e Claire, lembrem-se... – Elizabeth começou a falar – Sejam educadas com os barões e Rosalie Lilian. Comentem algo sobre a casa ou algo do tipo, mas não quero passar por nenhum vexame!

-Certo mamãe. – comentou Kate - Nós vamos nos comportar direitinho, não é Claire?

-Com certeza. – respondeu com um sorriso forçado.

             As duas saíram juntas do carro, de mãos dadas. Apesar das brigas, Kate e Claire eram muito unidas. Mas era para serem assim mesmo, as duas passam a semana no internato, sozinhas e quando vêm para casa, Elizabeth não lhes dá a atenção devida. Quando eu era adolescente, também não foi diferente...

             Estávamos no hall de entrada observando as esculturas e as obras de arte antigas quando Esme e Rosalie vieram nos cumprimentar.

-Elizabeth, querida! – disse Esme, sorrindo com um cachorro agarrado ao braço – É ótimo ter a presença de você e sua família aqui!

-Eu também posso dizer o mesmo, Esme! Como vai?

-Vamos à sala de estar – disse a baronesa com o cachorro ainda no braço - Lá ficaremos mais a vontade!

          Quando entramos na sala de estar, as duas senhoras ainda apresentavam a família e bajulavam uma a outra. E foi aí que pude falar realmente com Rosalie. Era estranho vê-la depois do que aconteceu durante a festa. Confesso que eu não me sentia muito bem. Não era ela quem eu queria ver. No entanto, eu a correspondi adequadamente.

-Desculpem-me o atraso – disse Carlisle Cullen, entrando na sala – Estava resolvendo alguns assuntos que ficaram pendentes. Bom dia a todos!

          Jura que eu acredito que você estava ocupado com trabalho em um dia de domingo, Cullen? Nem trabalha...

-Bom dia, senhor barão. – disse para manter a civilidade.

-Por favor, meu caro Edward, sem formalidades por hoje. – comentou – Estamos entre amigos aqui.

-Ah, claro...

-Mas vamos nos sentar! Eu não pretendo ficar em pé o dia todo! – disse e todos riram se acomodando – Como vão todos? Há tempos que não vejo nenhum de vocês.

         Por que ele foi perguntar isso? Minha mãe começou a falar dela, das minhas irmãs e de mim. O problema é que ela não parava de falar. Falava do que estávamos fazendo em nossas vidas como o êxito das minhas irmãs em Gresham e o fato de eu lecionar na Eton. Para piorar: Elizabeth falava dessas coisas como se não estivéssemos presentes. Meu Deus! Claire cochichava com Kate sobre algo que eu não podia entender, mas já tinha uma ideia do que seria: garotos. Com certeza, ela queria que tivesse alguém da sua idade, principalmente do sexo masculino, para tirá-la do tédio. Credo, com quatorze anos ela já pensava nisso? Depois eu teria uma conversa com Claire sobre isso. Ah, eu teria! E a minha mãe continuava falando... Falando muito! Nem eu nem minhas irmãs estávamos aguentando! Eu ainda queria dar um jeito de ver a Isabella... Precisava fazer algo! Mas eu não podia simplesmente sair e ir atrás dela. Já sei o que eu poderia fazer! Furtivamente peguei meu BlackBerry do bolso. Todos iriam pensar que eu teria de atender uma ligação, e para não ser mal-educado, pediria para atender em outro lugar. Aí daria um jeito de conversar com ela.

             Eu já estava prestes a colocar o alarme para disparar, quando Isabella entrou pela porta da sala de estar, empurrando um carrinho de chá junto com uma mulher alta e gorda. Eu não consegui fazer nada, apenas olhar para Isabella. Mas ela continuava a exercer sua função. Mesmo vendo-a desse jeito, eu ainda me sentia atraído por Isabella. Foi nesse momento que nossos olhares se encontraram. Ficamos assim nos encarando por vários minutos, não sei ao certo, até que ela começou a servir aos que estavam na sala. Ela devia estar tão nervosa e envergonhada que quase quebrava as louças quando colocou em cima da mesa. É como eu disse antes: é o efeito Edward Masen que deixa as mulheres assim. Agora que consegui vê-la, eu teria de arrumar uma maneira de conversar com ela sem que ninguém visse. Mas como?

          Deu para perceber que Isabella estava envergonhada pelo acontecido e até achei que os barões fossem repreendê-la. Obviamente que eles mostrariam a imagem de pessoas boas e generosas na frente de todos. E mostraram. Eles não seriam uma versão moderna de Hindley Earnshaw*. Rosalie continuava me encarando, como se me quisesse para algo... Se Rosalie descobrisse que eu não estava aqui por causa dela...

          Depois de ouvir as futilidades que os outros conversavam, fomos à sala de jantar para começarmos a refeição e vi Isabella mais uma vez. Ela estava do lado de uma mulher loira de olhos verdes, que aparentava ter bem mais idade.  Isabella e a mulher tinham traços parecidos, seria essa a mãe dela? Eu queria dar um jeito de falar com Isabella, mas permanecia olhando para o chão, como se não quisesse me ver. Por quê? Quando ela finalmente olhou para mim, eu havia dado aquele meu sorriso torto. É claro que ela tinha ficado desconcertada! Disfarçadamente, eu tentava falar com ela por meio de gestos e falando baixo, mas Isabella devia não estar entendendo nada do que eu tentava dizer. Como eu iria dizer que queria falar com ela se todos poderiam perceber? Se bem que eu poderia tentar algo, já que todos estavam entretidos com os comentários de Claire, a segunda maior falante da minha família, mas preferia não me arriscar. Também havia esse cachorro irritante da baronesa... Por que essa praga não ficava quieta? E Rosalie me observava de vez em quando...

          [...]

          Conversar com Carlisle Cullen sobre negócios no domingo em seu escritório era ainda pior do que aguentar todo aquele teatrinho à mesa. É claro que ele quer ouvir algo das indústrias da minha família. Mas se esse assunto foi tão divulgado na época, o que mais ele desejava saber? Eu sou um completo leigo quando se trata de economia.

-Eu procurei o antigo analista financeiro da Masen Textiles para ter acesso a todos dados da empresa nos últimos meses antes da crise de 2008. No entanto, o trabalho na Eton College, que tem me tomado um tempo maior e o fato de não ter um conhecimento maior de economia fizeram com que eu não tivesse tempo de realizar uma análise.

           Era verdade que eu havia conversado com Erich Smith, mas não tinha dado o trabalho de ver a documentação que ele me mandou.

-Eu compreendo Edward. – comentou Carlisle – Mantém-se ensinando na Eton para continuar provendo uma educação adequada para suas irmãs. É um gesto muito nobre de sua parte.

-Isso não é nada, senhor barão. – afirmei para não dar a impressão de que eu iria me gabar. As garotas estudam com bolsas parciais, caso ele não saiba - Apenas tento continuar o que o meu finado pai fez por elas, que é garantir um futuro bom. Eu tenho bastante interesse em retomar o trabalho nas indústrias. Mas o que me impede mesmo é o fato de ter pouco conhecimento em economia e algo ou alguém que me estimule a esse trabalho.

-Vou mandar o meu consultor financeiro para que possa lhe dar um algum auxílio.

-Já é um bom começo, senhor Carlisle! – disse, parecendo entusiasmado - Não sei como lhe retribuir!

-Não será necessário... Eu apenas tenho o desejo de ajudar o filho de um grande amigo.

           Ah, claro! Como se eles tivessem sido grandes amigos... Primeiro de abril já passou há muito tempo, barão.

-Mesmo assim eu lhe agradeço muito, senhor Carlisle. Será muito importante para a retomada da empresa.

-Isso não é nada, já lhe falei – disse, demonstrando ser gentil.

-Eu entendo. Bom, se o senhor me der licença, eu vou ver como estão minha mãe e minhas irmãs.

-Mas é claro Edward. Sinta-se à vontade.

          Saí do escritório, enquanto Carlisle lia o jornal sossegado. Tendo uma mulher como Esme até eu me trancaria em algum lugar para ter um pouco de sossego.

          Com a ajuda de um analista financeiro, eu poderia encontrar modos para a reconstrução da Masen Textiles. Eu não iria trabalhar diretamente com isso. E é claro que eu contrataria alguém para cuidar de tudo para mim. Chega de pensar nisso... Pelo menos, por enquanto. Eu não saí do escritório do Cullen para aguentar a conversa daquelas mulheres; precisava encontrar Isabella. Mas onde ela estaria? Enquanto andava pelos corredores, tentando arquitetar maneiras para falar com Isabella, eu a vi vindo em minha direção, carregando um cesto de roupas enorme. Eu estava nervoso e não podia falar com ela ali; poderiam nos ver. Rapidamente, entrei em um dos quartos e esperei. Quando ouvi passos que pensei serem de Isabella, abri a porta e a puxei para dentro, deixando cair o cesto de roupas. Não resisti aquele cheiro e a envolvi em meus braços, querendo beijá-la.

-O que você ainda quer de mim? – perguntou se afastando de mim e ligando as luzes do quarto.

             Eu não conseguia pensar em nada. O que essa garota possuía para me deixar assim? A única coisa que consegui fazer foi tentar beijá-la mais uma vez.

-Me larga, Edward! – ela pedia falando baixo.

           Ela tentava se soltar de mim, mas eu não queria soltá-la.

-Edward, por favor, se nos virem aqui... – disse ofegante.

        Soltei-a um pouco, mas mantive Isabella presa a mim para sentir mais o seu cheiro. Dava para perceber que ela estava nervosa: senti que ela estava tremendo mais uma vez.

-Eu desejava tanto te ver novamente... – disse sem olhar para ela.

-Para quê? Para conseguir o que não teve quando estávamos no seu apartamento? – perguntou, se afastando de mim.

-Não... Não é isso, Isabella... – respondi, demonstrando estar angustiado – Por Deus, eu sabia que isso seria mais difícil... Eu sei que não me comportei muito bem naquele dia...

-Falar assim é eufemismo. O que você fez foi uma indecência! – disse, parecendo furiosa.

-Eu entendo... Mas eu queria muito que você aceitasse as minhas desculpas. Eu só agi daquela maneira, por que simplesmente não consigo frear meus instintos quando estou perto de você.

- O que disse?

-Exatamente o que ouviu. Você me deixou louco, Isabella! Estou apaixonado por você!

-Isso só pode ser uma brincadeira de muito mal gosto. – disse ela, incrédula.

           É claro que não iria acreditar no que eu dizia. Depois do que fiz, seria mais fácil ela tentar me queimar com ácido a se convencer de que eu estava realmente apaixonado por ela.

-Mas não é...  Se me deixar explicar...

-Não dá... Tenho muitas coisas a fazer; estou muito ocupada. – disse sem me encarar – Se me dá licença...

            Ela já estava saindo do quarto, quando tentei convencê-la pela última vez:

- Isabella, espera! Eu quero muito te ver, podemos nos encontrar novamente?

-Eu não sei se devo Edward...

-Por favor... Eu juro que só quero conversar e tentar resolver essa situação. Eu quero reverter isso. – disse, encurtando o espaço entre nós dois.

-Olha, Edward, eu...

-Por favor, Isabella...

            Estávamos tão próximos que eu podia sentir o nervosismo dela mais uma vez.

            Segurei Isabella pelos braços, somente para ter a certeza de que ela não iria escapar.   Eu segurei seu rosto para que não deixasse de olhar para mim. Não podia deixar de encarar aqueles olhos. Passei de leve o polegar em seu lábio inferior, fazendo-a ficar boba. Com uma das mãos em sua nuca, eu a mantinha presa enquanto unia os meus lábios aos dela. Era apenas um beijo, mas isso me fazia desejar ainda mais.

          Porém, Isabella interrompeu o momento e se afastou de mim.

-Diga logo onde podemos nos encontrar – disse, se apoiando em uma mesa. Dava a impressão de que iria cair.

-Em Hyde Park, às 16 horas. – disse, entusiasmado.

-Eu não sei se devo...

-Por favor, Isabella... É só isso que estou lhe pedindo. – disse, quando me aproximei dela, tocando seu braço levemente. Ela estava de costas para mim, mas podia sentir suas reações.

-Eu ainda vou pensar nisso. – disse quando se virou para mim.

-Tudo bem... Mas eu queria muito que fosse.

-Certo... De qualquer forma, é melhor não sairmos juntos desse quarto. Podem suspeitar.

-Entendo... Eu vou primeiro. Até mais... – disse dando um selinho em Isabella.

              Saí do quarto, deixando a garota abobalhada com o que fiz. Isabella podia se fazer de difícil, mas era muito ingênua. Acreditou em tudo que eu disse, e não foi nada demais! Por hora, eu deveria continuar assim: mantendo a minha pose de arrependido e apaixonado para conseguir o que eu queria dela depois.

                Enquanto eu andava pelos corredores do palácio, vi Rosalie vindo em minha direção. Tinha até me esquecido desse detalhe...

-Edward, até que enfim pudemos conversar direito! – disse ela querendo me agarrar.

-Espera Rosalie! – disse, tentando afastá-la– Tenha calma! Não quero que nos vejam fazendo isso...         

-Desculpe-me... Mas é que faz tanto tempo que não nos vemos... – disse, insinuando-se para mim.

         Ela achava mesmo que tínhamos algum tipo de relacionamento depois do que aconteceu entre nós na festa? Ainda mais essa para completar a situação...

-Eu sei Rosalie... Mas eu acho que não é adequado fazermos este tipo de coisa na sua casa... Será que podemos nos encontrar um dia para conversarmos melhor?

-Hum... Claro! Onde podemos nos ver? – perguntava ela animada.

-Eu ainda não sei, mas podemos nos encontrar em um lugar mais reservado... O que acha?

-Eu acho ótimo!

           Quanto mais eu tentava me afastar de Rosalie, mais ela se insinuava para mim. Meu Deus, eu ainda tinha de aguentar isso? Rosalie era uma mulher chata e irritante, mas eu relevaria isso. Afinal, eu poderia tirar algum benefício do relacionamento que ela pensava que tínhamos.

           Poucos dias depois, Rosalie e eu saímos para jantar. Fomos ao The Ivy, ficamos em um lugar mais reservado e conversamos por horas. Na verdade, foi Rosalie quem falou mais. Eu só escutava a tudo calado e concordando com algumas coisas. Na primeira meia hora, eu já estava entediado e desejando voltar logo para meu apartamento. Mas como eu tinha escolhido isso, teria de aguentar até o final. Depois do jantar, deixei Rosalie em casa como o bom cavalheiro que era prometendo que lhe telefonaria no dia seguinte, por que hoje teria trabalhos a corrigir. O que não passava de uma mentira. Estávamos saindo, mas não quer dizer que eu ligaria para ela só para saber como ela estava e dizer que estava com saudades. Isso é coisa para idiotas! Além disso, eu ainda teria de ver Isabella amanhã e precisaria pensar em bons argumentos para convencê-la. Se bem que eu não precisaria me esforçar muito... De qualquer forma, eu teria de pensar em algo.

          No dia seguinte, eu havia me encontrado com Ben e Vicky depois do trabalho em Londres. Estávamos no mesmo pub de sempre enquanto Ben comentava sobre a sua mais nova conquista amorosa: uma das estagiárias do Daily Mirror. Mas quem disse que eu participava da conversa com os dois? Eu só conseguia me concentrar em consultar o relógio para saber as horas.

-Eu posso confirmar que vocês irão a minha exposição? – perguntou Vicky – Você vai dessa vez, não é, Edward? Edward? EDWARD!

-O que foi mulher? Não sou surdo!

-Pois não foi o que pareceu! – disse ela, triste – Diz logo o que aconteceu a você...

-Nada demais... Só estava pensando em umas coisas que aconteceram no trabalho...

-Claro! Jura que eu acredito nisso? – perguntou Ben – Diz aí o que aconteceu!

-Já disse que não é nada... Mas o que mesmo você falava Vicky?

-Consegui um lugar para a minha nova exposição! – dizia ela entusiasmada – Não é maravilhoso?

-Com certeza!

-Mas dessa vez eu quero que você vá! Nem comece a pensar em desculpas esfarrapadas. Não vou aceitá-las!

-Tudo bem... Onde será?

-Arrumei duas salas em uma galeria em Covent Garden!

-Covent Garden, Vicky? – reclamei.

-Se a minha exposição fosse na Tate Modern, você já estaria lá! – queixou-se.

-Mas se você quisesse, seus pais poderiam providenciar isso em um instante. – comentou Ben.

-Prefiro expor meus quadros na rua a pedir algo do tipo aos meus pais! – comentou furiosa.

-Tudo bem... Não está mais aqui quem falou! – Ben desculpou-se.

        Pelo que sei os pais de Victoria sempre foram conservadores e nunca aceitaram bem a sua orientação sexual. Quando Vicky estava no começo da faculdade, já não aguentando mais a pressão da família, decidiu sair de casa e tentar ganhar a vida como artista plástica.

-Ah, me desculpem, mas eu já tenho de ir – disse, consultando as horas no relógio mais uma vez – Tenho um compromisso inadiável.

-Mas já vai agora, Edward? – perguntou Vicky.

-Sim, eu tenho de ir logo. Desculpem-me. – falei me levantando da cadeira.

-Mas você chegou há pouco tempo, Edward. – comentou Ben – Fica mais um pouco com a gente.

-Não dá, infelizmente... Eu deveria ter avisado a vocês antes de vir, enfim... Até mais!

            Por enquanto, eles não deveriam saber o que eu iria fazer. Não queria me estressar antecipadamente com as broncas que eles iriam me dar. Contaria isso depois. Deixei o carro em um estacionamento próximo ao parque e fiquei esperando por Isabella em um dos bancos que havia por lá. Pouco tempo depois, eu a vi atravessando a entrada de Hyde Park e me procurando. Não posso deixar de dizer que Isabella estava particularmente bonita neste dia.

-Edward... – foi o que ela disse quando nos encontrávamos frente a frente.

-Isabella... Que bom que você veio – disse, abraçando-a. Podia sentir que ela estava trêmula.

-Eu não posso demorar dessa vez... – afirmou quando se afastou de mim – Naquele dia, minha mãe brigou comigo. Por favor, seja rápido...

-Não se preocupe Isabella... Serei breve...

-Pode falar... – disse, sentando-se no banco.

            A verdade é que eu não tinha ideia de como começar a falar. Isabella me deixava de um jeito que eu não conseguia pensar direito... Isso é o que dá ter o ego inflado e se confiar somente no seu taco, Edward Mané!

-Bom... Primeiramente, eu queria pedir-lhe desculpas por todas as coisas que fiz a você, Isabella. Eu não me orgulho de ter tentado aquilo sem o seu consentimento. – disse sentando-me ao lado de Isabella e segurando suas mãos.

-Não pense que aceitarei suas desculpas tão rapidamente. Você me enganou... – disse triste – Eu realmente achei que...

-Eu sei Isabella... É por isso que estou tentando reverter a situação. Fui totalmente errado com você. Eu quero dar um recomeço melhor ao nosso relacionamento.

-Como temos um relacionamento se eu não sou nada sua?

-Mas eu desejaria muito que fosse. Pode não acreditar, mas é de você quem eu gosto. De verdade. E não há um dia que eu passe sem pensar em você.

-Isso não é verdade... Olha bem... Eu não tenho tantos atrativos como Rosalie.

-Mas para mim você é linda, Isabella... – disse, sustentando seu rosto entre as mãos.

             Não deixei de me encantar mais uma vez por aquele olhar tão penetrante e a beijei.

-Não devíamos... – disse ela se afastando.

-Por quê?

-Não vê que somos diferentes? Isso não dará certo...

-Não vê que não me importo com essas diferenças? Eu só quero estar com você.

-Tem certeza?

-É o que mais quero!

       Isabella olhava para o nada, pensativa. Eu desejaria dar o que fosse somente para saber o que ela estaria pensando.

-Tudo bem... Eu quero muito tentar, mas tenho medo.

-Medo de que, Isabella? Não percebe que vou estar sempre contigo? Confie em mim... Eu prometo.

-Mesmo?

-Eu quero realmente ter algo de bom com você. Por favor, me deixe tentar.

       De repente, Isabella me abraçou forte, fazendo eu me assustar com aquele abraço. Mas não tinha problema. Eu já a havia convencido. Agora é só manter este papel de apaixonado que fica tudo certo.

-Obrigada...

-Ah, Isabella... Não precisava disso. – disse, dando um sorriso torto.

-Eu sei, mas é que... Eu preferiria que não me chamasse de Isabella.

-Por quê?

-Lembra a maneira que a senhora Margaret me chama. Como se estivesse brigando comigo. Não gosto.

-Margaret? Quem é?

-É aquela velha porca que estava comigo quando fui servir o chá naquele dia.

-Ah sim... Deu para perceber que você não gosta dela...

-Não mesmo... Ela tem raiva de mim por algum motivo que não sei o que é.  Portanto, gostaria que me chamasse somente de Bella.

-Tudo bem, Bella.

         Nós continuávamos sentados no banco, olhando as pessoas que entravam e saíam do parque e os carros passando lá fora. Eu não queria permanecer naquele silêncio constrangedor; tinha de me mostrar interessado na vida de Isabella.

-Mas você não tem ideia da razão dessa mulher ter raiva de você?

-Não sei bem... Estou trabalhando lá há poucos meses. Durante o tempo em que eu estudava no colégio interno, passei poucos dias em Hertford contando com as férias e os feriados. Foi somente agora que Maggie me mostrou ser tão carrasca.

-Ah, eu entendo... – ou, pelo menos, fingia entender.

-Se bem que, desde que passei a morar em Hertford, ela já infernizava na vida da minha mãe. Renée passou a trabalhar como empregada dos barões quando o meu pai morreu em uma tentativa de assalto; eu tinha acabado de completar um ano de idade. Tinha perdido o contato com a família e não falava com o meu avô por parte de pai, que achava que a minha mãe tinha posto o meu pai contra ele.

          Bem que Isabella falou que era tímida, mas quando começava a falar...

-Eu lamento...

-Não lamente... Faz tempo que isso aconteceu e não tenho nenhuma lembrança de meu pai.

-Ah, é uma pena...

-É... Às vezes acho que Margaret tem raiva por que acha que eu e minha mãe temos regalias em Hertford. Quem dera se fosse assim mesmo...

-Mas não é assim...?

-Claro que não. – afirmava ela, olhando para o nada – Acha mesmo que eu estaria trabalhando agora se Esme e Carlisle fossem tão bons como aparentam ser? Eles arcaram com os meus estudos por que acharam interessante a ideia de mostrar aos outros a “irmã postiça da Rosalie”. Se fossem generosos como dizem, teriam continuado a pagar pela minha educação mesmo que minha mãe tenha achado que era melhor não.

             Meu Deus! Essa garota que estava falando tudo que tinha vontade era a mesma garota que conheci? Confesso que fiquei espantado com aquilo tudo.

-Desculpe-me por falar desse jeito. Passei por algumas situações chatas nos últimos dias e acabei falando demais.

-Não tem problema. Pode ficar a vontade para falar o que quiser.

       Isabella me olhava de uma forma que demonstrava confiar em mim. Sinal de que tudo saiu como eu imaginei. E foi tão fácil... Só me faltava ser indicado ao BAFTA* por melhor ator.

FIM DO CAPÍTULO 4


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Notas finais do capítulo

*BAFTA: renomado prêmio do cinema britânico.