Coletânea de Song Fics escrita por Ana Paula Fanfics


Capítulo 2
Fuckin' Perfect


Notas iniciais do capítulo

http://www.youtube.com/watch?v=vS_cYnIg2do



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“Por que você é perfeito. Fodidamente perfeito pra mim.”

Segui o caminho errado

Uma ou duas vezes

Cavei até conseguir sair

Sangue e fogo

Mas não dava mais. Não dessa vez.

Olhei a navalha em minha mão trêmula e engoli em seco pela milésima vez. Não, eu não poderia me acovardar logo agora. Sim, eu tinha que fazer isso. Minha cabeça... estava tão repleta de toda aquela merda!

Eu só queria paz. E a paz só viria com a total escuridão. Com a total inconsciência.

Com a morte.

Decisões ruins

Tudo bem

Bem vindo à minha vida boba

Perfeita. A vida dos sonhos de qualquer pessoa.

Rico, famoso, aclamado, adorado... eu era a perfeição aos olhos dos meus muitos fãs.

Mas... quem era eu? Quem eu era além de um rosto bonito, de um corpo desejável e de uma voz hipnotizante?

Sim, eu conhecia Edward Cullen, o queridinho vocalista de uma das melhores bandas de rock do momento. Mas eu havia me perdido... eu não sabia mais onde estava àquele Edward de antes... àquele Edward ao qual eu costumava admirar.

Por que eu o assassinara na busca por me tornar esse Edward que eu via agora.

E era por isso que eu devia morrer.

Mal tratada,

Deslocada, mal compreendida

Sabichona, tá tudo bem

Mas isso não me parou

Suspirei.

Deus... será que ele existia? E se existia, será que ele me via? Será que seus olhos que sempre foram vistos como maravilhosamente misericordiosos podiam me ver em todo esse lodo, em toda essa carniça, em toda essa podridão?

Limpei o canto de minha boca por onde escorria um pouco do sêmen nojento do homem ao qual eu acabara de chupar naquele banheiro de boate. Levantei-me e não tentei sorrir ou ser simpática: apenas estendi meus dedos numa cobrança muda.

- Tem uma boca deliciosa, vadia. – Peter, John, William ou Barny? Não sei e pouco me importa. No fim, todos eles são iguais mesmo.

O que me interessa era o quanto eles me pagavam. Por que esse dinheiro seria o que me tiraria do buraco no qual a vida me lançara.

Errada,

Sempre em dúvida

Subestimada,

Olha ainda estou por aqui

Esperei que a silhueta masculina saísse pela porta da cabine sanitária e então também me movi até estar em frente a pia. Lavei minha boca cuidando pra não borrar minha maquiagem. A noite ainda seria longa.

Duzentas pratas por noite... e esse era um dinheiro maldito.

Mas esse dinheiro maldito era o que me alimentava, pagava meus estudos e meu aluguel.

Por que a vida pode ser muito cruel com uma jovem mulher sozinha. E eu provei de toda essa crueldade. Só que, ao contrário de muitas, jamais desisti.

Mesmo sob constantes críticas e preconceitos, ali estava eu, lutando por um futuro ao sol.

Um futuro onde eu não teria de me envergonhar de quem eu era.

Um futuro onde eu poderia encarar meus olhos no espelho sem sentir pena de mim mesma.

E foi então que eu ouvi o gemido abafado em um canto daquele banheiro de boate.

Querido, querido, por favor,

Nunca nunca se sinta

Como se fosse menos do que perfeito pra caralho

Fechei meus olhos e prendi a respiração: era agora. Alguns minutos de dor e tudo estaria acabado.

- Não faça isso!

Era um brado, um apelo. Abri meus olhos e então vi dois intensos e tristes olhos castanhos fixos em meu rosto, suas mãos estendidas em minha direção como se me quisesse impedir de concluir o tão... libertador suicídio.

Quem era ela?

- Isso não vai adiantar. – ela continuou mordendo o lábio inferior muito vermelho. – Isso não vai fazer a dor desaparecer.

Quem era ela?

- Quem você pensa que é pra me dizer o que devo ou não fazer? – resmunguei por entre dentes, a navalha ainda apertada contra  a pele do pulso, apenas esperando uma pressão maior pra me colocar num caminho sem volta. – Quem é você pra saber o que é ou não o melhor pra mim?

Ela não disse mais nada.

Apenas estendeu ambos os braços com as palmas das mãos viradas pra cima.

E em seus pulsos, tão nítidas, reluziram na clara luz do banheiro duas grossas e lívidas cicatrizes.

Querido, querido, por favor,

Se em algum momento você se sentir

Como se fosse nada,

Você é perfeito pra caralho pra mim.

- Quem é você? – perguntei agora em um sussurro. Mas apesar da pergunta ser a mesma de antes, minhas intenções eram outras. Por que ali em minha frente estava uma alma perdida assim como eu. Desde seus olhos tristes até as cicatrizes em seus pulsos... ela era tão vazia quanto eu era.

Então por que ela não me deixava concluir o trabalho e acabar de foder com minha desgraça de vida?

- Eu não sou ninguém. – ela deu de ombros com um riso triste. – Não sou ninguém pra eles. Mas sou muito mais do que eles merecem. Pelo menos pra mim.

- Eu também não sou ninguém. – desabafei com os olhos baixos agora, a coragem de antes se esvaindo como a água que escoa pelo ralo. Mas mesmo assim a navalha ainda esta ali, pressionada contra meu pulso. Por que, seu eu não acabasse com aquilo ali... pra onde eu iria? Quem eu seria? O que eu faria?

- Você é Edward Cullen, cara. – ela disse surpresa com a minha afirmação. – Eu reconheço você.

- Uma porra que eu sou. – funguei sentindo minha garganta se apertar. Merda, merda, merda! Eu era o desgraçado de um bastardo! Eu tinha, eu precisava morrer. – Uma porra.

Você é tão mau

Quando fala

Sobre si

Você está errado.

- Por que diz isso? – estranhei ao me aproximar e delicadamente deslizar meu corpo até estar sentada ao lado dele, sondando sua postura tão descuidada e infeliz. Não parecia nem mesmo com o reflexo do homem tão cobiçado que passava em programas de TV com tanta freqüência. – Você tem tudo o...

- Tudo o que absolutamente todas as pessoas almejam. – ele completou com um riso de escárnio. E aquele riso sem alegria me arrepiou assim como os olhos verdes sem vida que me fitavam. Por que ele estava morto por dentro. Aquela navalha era apenas pra completar o serviço. – Mas o que ninguém te diz, garota, é que você acaba virando um maldito filho da puta pra conseguir o que tanto quer.

Mude essas vozes

Na sua cabeça

Faça eles gostarem de você dessa vez.

- Você está falando isso por que eu pareço feliz? Por que eu pareço realizada? Por que eu pareço ser amada e respeitada? – bufei, sarcástica. – Acorde, Edward. Você não é o único que sofre no mundo.

- E quem é você pra me dizer isso? – mais uma vez ele me questionava. Olhei bem fundo em seus olhos antes de responder sem qualquer emoção em minha voz.

- Uma maldita prostituta que tem que chupar paus realmente nojentos apenas pra não morrer de fome. – dei de ombros. – Essa é minha vida perfeita.

Tão complicado

Olha como estamos conseguindo

Cheio de ódio

Um jogo tão empatado

- E quem... quem te salvou? – atordoado com sua declaração tão aberta, apontei pras grossas cicatrizes. Ela riu em tom amargo.

- Ninguém me salvou, Edward, pois não havia ninguém ali pra me salvar. – vi que seus olhos nublaram pelas lágrimas. – Nunca houve.

- E como... como você... – eu não estava entendendo. Se ninguém a tinha impedido, por que ela ainda estava viva?

- Eu me salvei, eu acho. – ela deu de ombros, o olhar distante. – Quando percebi que morreria sozinha, senti-me ainda mais triste do que antes estava. E então... então me dei conta de que estava sendo covarde. E que, desistindo daquela forma, eu daria razão a eles.

- Razão a eles? – perguntei realmente interessado nas palavras da estranha jovem ao meu lado. Ela me encarou com aqueles olhos tão intensos.

- Eu lhes mostraria que eu sou fraca. – sua voz era lenta, mas firme. – E que, como eles tanto dizem, não valho nada.

Chega,

Eu fiz tudo que pude

Eu persegui todos os meus demônios

E vejo que você faz o mesmo

- Só você pode parar isso. – continuei, mais uma vez deslizando meu olhar pra longe dos arregalados e surpresos olhos verdes que me fitavam com confusão. – Se acredita que sua vida é uma merda e que não há motivos pra continuar, não coloque fim a sua existência. Coloque um fim em sua vida.

- E qual a diferença? – ele perguntou confuso.

- Por que assim você acaba com tudo. – apontei pra navalha ainda em sua mão. – E acabando com sua vida, você apenas encerra uma má etapa e se lança em outra. E simplesmente tenta fazer a coisa certa dessa vez.

Querido, querido, por favor,

Nunca nunca se sinta

Como se fosse menos do que perfeito pra caralho

Querido, querido, por favor,

Se em algum momento você se sentir

Como se fosse nada,

Você é perfeito pra caralho pra mim.

- Como é o seu nome? – perguntei ao me sentar mais ereto contra a parede, sem desviar meus olhos da garota vestida de forma tão vulgar. Mas com a alma mais pura que eu já vira. Por que nem mesmo a vida de merda que ela levava fora capaz de sujá-la.

Ei, isso daria uma boa música!

- Isabella Swan. – ela respondeu ainda de olhos baixos, as unhas compridas desenhando no piso branco em meio a suas pernas abertas.

- Por que está perdendo seu tempo comigo, Isabella? – meu cenho se franziu. Certamente que agora ela diria que eu era famoso, que era um ídolo e que não me queria morto. E faria de tudo pra se aproveitar do meu status e poder. A mesma merda de sempre.

- Por que simplesmente não tenho mais nada pra fazer. Além de sair por aí até ser agarrada e receber uma oferta pra uma trepada rápida, claro.

Eu nunca antes estivera tão surpreso por uma resposta.

E também jamais ouvira tanta amargura em uma unica frase.

O mundo inteiro está assustado,

Então eu engulo o meu medo

E a única coisa que eu deveria beber

Era uma cerveja bem gelada

- Você está sendo malditamente hipócrita. – ele resmungou voltando a desviar seus olhos que antes me encaravam fixamente. – Me diz pra mudar de vida e que isso me fará mais feliz, mas está aí largada em uma vida miserável.

- E quem disse que essa é a vida que eu quero pra mim? – questionei com minhas sobrancelhas arqueadas ao enfrentar seus olhos críticos. – E jamais te disse que pra chegar onde você quer será fácil. Por que pra mim nunca foi... não é. – suspirei. – Mas eu me forço a jamais desistir. Por que quero provar que eles estão errados. E você deveria fazer o mesmo.

Facilmente mentindo

E nós tentamos, tentamos

Mas nós tentamos demais,

É um desperdício do meu tempo

- Ser você de verdade. Essa é a solução pra esse vazio que você sente. – ela ainda dizia, os olhos mais uma vez seguindo a trilha de suas unhas pelo piso. – Enquanto você se subjugar a ser o que eles esperam que você seja... você jamais será feliz.

- O que entende de felicidade? – provoquei. Sim, eu era um filho da puta por cutucar suas feridas. Mas... saberia eu ser diferente?

- É, eu não a conheço. – ela respondeu sem se alterar. – Mas estou lutando pra conhecê-la um dia. E você?

Foi um tapa na cara.

Cansei de procurar pelas criticas,

Porque elas estão por todo lado

Eles não gostam do meu jeans,

Não entendem o meu cabelo

- Por que seu cabelo dita moda, por que seus jeans são a onda do momento, por que suas tatuagens são o máximo, por que sua fortuna atrai olhares cobiçosos de interesse. – ela riu amargamente ao voltar a me fitar. – Se isso não te faz feliz, por que ainda insiste?

- Por que eu não saberia ser diferente. – minha voz estava seca e naquele momento eu a odiei. Quem ela achava que era? Minha maldita consciência?

- Não saberia... ou tem medo de tentar? – vi a insinuação de um sorriso divertido em seus lábios muito vermelhos.

Sempre tão rigorosos com nós mesmos

E somos o tempo todo

Por que fazemos isso? Por que faço isso?

Por que faço isso?

Por que mesmo eu queria me matar? Por que mesmo minha vida era uma merda?

Que porra eu estava fazendo?

Como eu me permitira chegar tão baixo?

E eu pensando que empunhar aquela maldita navalha tinha sido um gesto corajoso...

Eu era um filho de uma puta de um covarde, isso sim.

- Não, você não é covarde, camarada. – ela riu de leve ao me olhar no fundo dos olhos. Era como se ela pudesse ler a minha alma. – Você é perfeito. Fodidamente perfeito. Basta você acreditar nisso.

Querido, querido, por favor,

Nunca nunca se sinta

Como se fosse menos do que perfeito pra caralho

Querido, querido, por favor,

Se em algum momento você se sentir

Como se fosse nada,

Você é perfeito pra caralho pra mim.

Castanhos e verdes.

Duas cores, duas vidas tão distintas... mas dores tão parecidas.

Almas tão feridas...

Edward não era nada do que a mídia transmitia. Era muito mais sensível, muito mais carente, nada, nada feliz e satisfeito.

Muito mais humano.

E seres humanos simplesmente tem o direito de errar. E recomeçar.

Simplesmente recomeçar.

Você é perfeito

Você é perfeito

Perfeito... eu, perfeito?

Isso era uma inverdade. Sim, uma grande inverdade.

Mas por que parecia tão verdade quando as palavras saiam por aqueles tão sedutores lábios vermelhos?

Querido, querido, por favor,

Nunca nunca se sinta

Como se fosse menos do que perfeito pra caralho

- Fodidamente perfeito. – suspirei ao me levantar ajeitando minha saia tão minúscula. – Simplesmente perfeito pra caralho.

E saí dali sem olhar pra trás.

Edward seria apenas mais um que passaria por minha vida. E como todos os outros, passaria. Por que ninguém jamais ficava. Todos se iam.

E eu seguia em minha vida solitária. Em busca de um amanhã melhor.

Um amanhã que nunca chegava. Mas que eu jamais me cansaria de buscar.

Querido, querido, por favor,

Isabella Swan...

O nome se desenhou em meus lábios antes que eu me pudesse conter. E então eu ri.

Sim, eu ri da ironia que era essa coisa foda chamada de vida.

Por que agora, nesses minutos, uma prostituta acabara de me impedir de acabar com minha vida fodida. Mas não fora qualquer prostituta. Fora Isabella Swan.

Antes de me levantar, meu sorriso se alargou quando meus olhos se baixaram pro meu colo. Em algum momento eu largara a navalha.

E em algum momento Isabella a pegara, levando-a consigo.

Sim, ela era.

Era perfeita.

Perfeita pra caralho.

Perfeita pra mim.

E as palavras de minha nova canção já saiam em acordes de minha boca enquanto eu saía apressadamente daquele banheiro em busca daquela incrível garota.

Se em algum momento você se sentir

Como se fosse nada,

Você é perfeito pra caralho pra mim.


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Notas finais do capítulo

Fanfic baseada livremente na música Fuckin Perfect da cantora renomada e mundialmente conhecida Pink. Todos os créditos e direitos autorais sobre a letra da música aqui citada pertencem à ela.