Capítulo 18 – Fotos de uma vida

Pov's Bella:

         Era noite. A casa estava silenciosa, o que significava que todos estavam, provavelmente, dormindo. De meu quarto, podia ouvir seus corações batendo e suas respirações ressonando levemente contra o travesseiro.

         Há alguns dias, tinha chegado à simples conclusão que, à noite, minha parte vampira ficava mais visível – porém, para meu imenso descontentamento (já que eu não contara a ninguém sobre isso), às vezes minha parte vampiresca aflorava de manhã, ou nos treinos de luta que estávamos fazendo.

         Eu tentava mantê-la escondida e bem guardada, deixando somente o Sangue Real e a Bruxaria à vista – ora, ninguém, ninguém, podia suspeitar.

         Felizmente, eu não tinha voltado a tomar sangue. Claro que, quando parecia mais Lunar do que Solar, uma leve brasa parecia se apossar em minha garganta, mas nada que doesse como das últimas vezes. Então, eu ignorava.

Daqui a quatro dias iríamos para Inglaterra no jatinho particular e eu tentava aproveitar ao máximo, principalmente minhas noites com Edward. Como agora.

Estávamos deitados em minha cama, que era grande, mas muito próximos. Meu corpo estava virado em sua direção e eu descansava minha cabeça no vão de seu pescoço enquanto conversávamos baixinho. Ele me contava sobre como Alice não parava de quicar na casa dos Cullen, arrumando malas e tentando pensar no que levar.

         Eu ri: - Não se preocupe. Amanhã irei lá e falarei o que vocês precisam levar. Não é muito, com certeza. Conhecendo minha mãe, ela terá preparado um guarda-roupa para vocês.

- De tudo que você me contou esses dias, teremos que dormir de terno? – ele riu e seu corpo tremeu levemente com isso.

         Dei um sorriso de canto de boca.

- Como se dormissem, não é? Mas talvez seja quase isso. No Sol são todos muito antiquados, vestidos longos, armaduras. O mais moderno que temos é as roupas de treinamento, os uniformes escolares e os ternos masculinos, imagino.

- Mas... – ele parou por um momento, beijando meus cabelos e prosseguiu alguns segundos depois – mas você me falou que quando criança usava roupas comuns, digo, da Terra.

- E usava. Os adultos não recriminam crianças, principalmente meninas, por usar calças jeans ou vestidos leves que não arrastam no chão. – concordei – Afinal, são somente crianças, correm, brincam e se sujam. E, principalmente, estão iniciando o treinamento com seus poderes, o que pode ser... Bem, desastroso.

         Eu ri, pensando em quantos desastres eu tinha feito quando menor. Ui.

- Eu amaria ver você menor, sabia? – ele sorriu quando levantei a cabeça, surpresa com seu comentário.

- Não gostaria, não. E, além do que, não é tão diferente de hoje, imagino. Somente mais infantil – não que meu corpo fosse curvilíneo, claro. Com eternos quinze, ter um corpo como o de Rosalie era difícil.

- De qualquer forma, você era e é linda – Edward beijou levemente meus lábios. E parou rápido demais.

         Suspirei profundamente, apreciando o beijo, mesmo tendo sido rápido e leve. Eu simplesmente amava ficar com meu Edward, era o momento em que me sentia calma e livre dos problemas. Porém, também me sentia culpada. Extremamente culpada com o fato de que, no Sol, não poderíamos ficar assim: juntos.

         Ele ficaria em seu próprio quarto durante a noite e eu dormiria sozinha. Não trocaremos beijos públicos e, quando nos beijarmos discretamente, será algo pequeno demais para saciar nosso desejo. Edward não poderia, também, passar ser braço por minha cintura e eu encostar a cabeça em seu peito, enquanto ele descansava seu queixo no topo de meu couro cabeludo, devido a nossa óbvia diferença de altura.

         Uma lágrima escorreu solitária por minha bochecha e Edward a tocou.

- O que foi? Está se sentindo mal? – essa era uma pergunta freqüente dele, principalmente depois da luta com James. Bobagem. Na hora, sim, eu estava cansada, mas, depois de dormir como nunca dormira, sentia-me renovada e pronta para outra.

         Edward não pensava bem assim.

- Não, só... Só acho que posso fazer com que seu desejo bobo se torne realidade – eu ri levemente, levantando-me da cama com esforço, afinal, lá estava muito bom.

         Edward observou-me enquanto eu caminhava até uma gaveta na minha bancada e tirava de lá um álbum. Meu álbum de fotografias. Eu não sabia ao certo quantos anos ele tinha – mais velho que eu? Ou compraram assim que nasci? -, mas isso não importava realmente. Claro que há muitas pinturas e fotos no Palácio, entretanto, esse álbum são minhas melhores recordações.

         Foi essa explicação que dei a Edward e seus olhos pareceram brilhar diante da perspectiva de ver minha vida. Sorri com isso, ele parecia realmente interessado se eu era feliz, como era o Sol, e essas coisas.

- Essa capa é totalmente impossível no mundo normal, você sabe disso, não é? – foi seu primeiro comentário sobre o álbum.

         Soltei uma leve gargalhada. Ele de fato estava certo. A capa de meu álbum era vermelha, de couro de Schitaw – um animal mágico existente no Sol (ninguém o matou, ele é como uma ovelha, seu couro saí, só que há outra camada embaixo) -, até aí tudo bem. Só que, no centro, há uma grande foto de mim e de minha mãe.

         Seu rosto aparecia parcialmente, podendo-se ver seus cabelos claros e macios, os olhos prazerosamente fechados enquanto seus lábios beijavam minha bochecha. Eu era somente um bebê na foto, olhando bobamente para a câmera. Meu corpo estava deitado em cima de minha mãe. Podiam-se ver meus cabelos, obviamente mais escuros na infância. Meus olhos já claros e meu corpo pequeno.

         A diferença de uma foto normal era o fato de que em minha cabeça havia uma pequena coroa prateada, só que ela brilhava vivamente, como se houvesse glitter, mas era simplesmente magia. Em letras rosa e de forma lia-se: Princess e uma bonita coroinha sobre o P. Tudo isso piscava como luzes de natal brilhantes, era uma coisa impossível, mas linda. E estava bem ali.

         Sorri para o pequeno coração rosa que piscava entre preto e rosa choque no canto da foto. Parecia um coração pulsante animado, que nunca pararia de bater. Idéias da Lucy, nunca contrarie – diz minha mãe com muita freqüência.

         Em silêncio, Edward abriu o álbum e viu a primeira foto. Como todas ali, era uma das minhas favoritas. Era uma coisa tão absurdamente simples, mas tão infinitamente especial para mim. A primeira foto do álbum mostrava, justamente, a primeira vez que fui mostrada ao povo do Sol. Claro, alguns já tinham me visto, mas eu quero dizer ser apresentada como Bella Kathleen, Princesa do Reino do Sol. Nesse dia, posso dizer que minha vida começou de verdade.

         E estava até engraçada essa foto. Levando em conta que, em minha carinha de bebê, eu estava olhando para cima, com olhos de graciosamente estrábicos e com a boca aberta num sorriso sem dentes. Via-se a bochecha de minha mãe que me segurava nesse dia, mas somente isso. Meu cabelo já estava mais claro do que na foto da capa, o que indicava que já estava mais velha, porém o rosto continuava o mesmo.

- Linda – Edward murmurou, deslizando o dedo no contorno de meu rosto.

         Dificilmente, quis responder, mas sabia que ele franziria o cenho e discordaria até me fazer concordar que eu era bonita. Então, simplesmente engoli o comentário e o vi olhar para a foto embaixo. Se não me falha a memória, eu tinha um ano na foto. Estava de pé, com um vestido branco e sandálias confortáveis. Eu parecia meio perdida andando na grama – que era, minha mãe me contaria ao ver a foto pela primeira vez, no jardim.

         Meu cabelo estava, a meu ver, ridiculamente redondo, mas, ao mesmo tempo, fofo. Era um corte de cabelo que eu nunca aprovaria, no entanto, estava bom naquela foto e quase suspirei satisfeita.

         Edward viu mais algumas fotos em silêncio, fazendo comentários silábicos sobre como eu estava bonita ou divertida na foto. Minha primeira vez em Solari – capital do Reino do Sol -, caminhando pelas ruas e acenando para os Solares. Minha primeira vez na Terra, onde se via eu junto de Angela - que estava até de cabelo curto, sorri com isso. Fotos comigo e Lucy, comigo e Ben, seja lá onde fosse – Estados Unidos, Ásia, Sol, Europa.

         Fotos comigo pronta para ir a alguma festa que meus pais davam em seu castelo, vestida para meu aniversário, ou somente extremamente desarrumada ou lambuzada de chocolate. A primeira vez que usei salto – mesmo tendo três anos – e achando um máximo.

         As fotos na Terra eram as mais fáceis de reparar, pois as pessoas em volta usavam roupas comuns e, em algumas, havia lixo nas calçadas – no Sol nunca haveria lixo em lugar nenhum, são ecológicos maníacos. Há única coisa que se vê nas calçadas do Reino são folhas – aliás, havia uma foto comigo de braços cruzados, parecendo meio birrenta (Isso por algum motivo fez Eddie rir).

- Minha mãe diz que essa foto seria perfeita... – eu bufei – se eu não tivesse piscado.

         Indiquei uma foto comigo, com nove anos, acho, em uma campina. Eu amo aquele lugar, é próximo ao castelo e é aonde vou quando quero pensar. Lá é absolutamente mágico e sinto-me calma de tudo – das guerras, dos problemas, dos treinos.

         Na primavera, a campina fica cheia de flores roxas e o sol – acredite se quiser, mas, apesar de lá ser o Sol, há luz, justamente, do sol (bizarro não?) – bate diretamente, dando um aspecto luminoso e mágico ao local. Incrível, maravilhoso, pacifico.

         Enruguei o nariz em uma foto de mim. Eu ria contente e estava no campo de croquet do castelo. Lembro-me perfeitamente do dia, Ang, Ben e Lucy estavam nos visitando e meu padrinho acabou terminando com uma bola de croquet na boca e um sapo winderlin (uma espécie de sapo azul com pintas fluorescentes) na cabeça. Bons tempos, bons tempos...

         Havia uma foto boba de mim, sorrindo e com um vestido de flores. Lucy – que fizera algumas legendas ao longo do álbum – escrevera Little Princess entre coraçõezinhos desenhados. Controlei um revirar de olhos enquanto via Edward observar a foto com curiosidade.

         Era meu aniversário nessa foto, eu lembrava. Meus padrinhos e Lucy, assim como vários amigos meus no Reino, tinham ido me visitar. Eu ainda tinha oito anos e, nessa época, estava muito irritada com o fato de eu era muito baixinha – não que eu seja alta agora, qualquer um que é mais baixo que Alice é baixinha. Mas, então, Lucy ficava irritando-me sobre esse fato e colocara Litte na legendas. Chata, não? Enfim, com o tempo, aprendi que era baixa, mesmo meus pais sendo altos.

         Hoje posso dizer para mim mesma que sou baixa, pois Bella Cullen era baixa. Uma herança entende? Com o tempo eu descobria que não eram somente os poderes que vieram para essa encarnação.

- Quem é esse gato aqui? – Edward perguntou curioso, indicando um filhote de gato olhando manhosamente para a câmera. Os pelos eram branquinhos como a neve, com leves manchas beges e os olhos cor de mel me encararam contentes.

         Sorri inconscientemente: - É Beeves.

- Quem? – a cara confusa de Eddie era muito fofa, então, tive de ignorá-la para me perder em seus olhos dourados quando respondi.

- Meu gato de estimação. Bom, na verdade não é um gato comum, não existem animais não-mágicos no Sol, todos possuem magia, seja na aparência, seja nos poderes.

- Ele não parece diferente de gatos da Terra – ele comentou, olhando mais atentamente para a foto.

- De fato. Beeves é um gato mágico da raça Nullam, e seus poderes são a imortalidade e o fato de conseguirem criar uma conexão espiritual com seus donos – vendo seu rosto ainda em dúvida, tentei explicar melhor – Por exemplo, eu sou a dona de Bee, mas estou na Terra e ele no Sol, mesmo assim, consigo saber o que ele está fazendo agora, ou se sentindo.

- E o que ele está fazendo?

- Dormindo – eu ri – eu também deveria, sabia? O horário do Sol e da Terra é o mesmo. Todos os três giram na mesma velocidade, somente os cientistas é que não sabem.

- Os três?

- Terra, Sol e Lua.

- Ah, certo.

         Ficamos em silêncio por alguns segundos, antes de voltarmos nossa atenção para o álbum. Na última folha preenchida até agora, havia duas fotos. A primeira era, como sempre, de mim, sentada na campina "mágica". Olhava distraidamente para o lado quando alguém bateu a foto. Devia ter dez anos a foto, mas ainda era bem conservada.

         E a última, finalmente, era recente. Não devia ter mais que alguns meses, na verdade. Eu estava no corredor do Palácio de Verão - onde eu tinha organizado minha saída do Sol – e olhava pela janela com um sorriso. Ainda me lembro da vista como se estivesse lá.

         Pode parecer estranho para você, mas, no meu Reino, quando queremos ver o Universo, simplesmente vamos até a janela. E, dali, eu podia ver a Terra, com toda a sua beleza, e a Lua. Ambas distantes o suficiente para eu não ver nenhum prédio, casa ou reino. Mas eu sabia que havia vida. E a Lua, estranhamente, era bela e brilhante naquele dia. Era tarde, o que significava que ela estava menos brilhosa, porém estava lá: magnífica.

         Suspirei.

- É um lindo lugar o Sol, pelo que vi. E suas fotos também são lindas, Bella – Edward sorriu para mim, depositando um beijo singelo próximo a minha boca.

- Obrigada, Eddie – eu sorri. E sinto tanta falta do Sol...

         Levantei-me e guardei o álbum na gaveta. Amanhã faria as malas, tamanha a ansiedade para voltar para minha casa. As férias tinham acabado e estava na hora de cair de cabeça na situação de meu Reino.

         Entretanto, uma parte de minha mente bateu o pé e resmungou. Ela não queria ir. Sabia que no Sol eu não usaria calças jeans, tênis ou shorts com regatas – um hábito que era muito bom aqui. Eu não conversaria tão livremente com meus amigos, pelo menos, não em público.

         E, principalmente, não ficaria assim com Edward. Dormindo em forma de conchinha enquanto ele cantarolava uma canção de ninar – que, em um sonho da Bella, sabia chamar-se Bella's Lullaby.

         É, eu sentia falta do Sol, mas também sentiria falta das coisas mais simples lá.

         Por que nada podia entrar em um acordo de perfeita paz?

         Respirei fundo, sentindo o cheiro de Edward penetrar profundamente o meu ser. Sim, sim, eu sentiria muita falta disso. Mas do que sinto de casa.

         Eu o amo, afinal. Ele é minha existência agora.