Little Princess Ii escrita por Emmy Black Potter


Capítulo 14
O amor de Bella - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Sugiro ouvir "Versos Simples", de Chimarruts, no início. E sugiro ouvir "Dynamite" de Taio Cruz, no final. Boa leitura!



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Capítulo 14 – O amor de Bella – Parte II

Pov's Bella:

- Bella? Bella? – a voz que me chamava era – ou no mínimo parecia - distante.

         Parecia que eu estava saindo de um enorme torpor. Sabe aquela sensação que temos antes de acordar? Não estamos despertos, mas também não estamos dormindo. E encontrava-me assim no momento.

- Bella? – a voz chamou novamente. Era doce, suave, melódica – como sinos balançando ao vento. E era de Edward.

         Por alguns segundos, surpreendentes segundos, vi-me brava com ele. Não era exatamente a pessoa que eu queria ver no instante. O sonho que tive há poucos segundos ainda estava fresco em minha mente e isso não era um bom contribuinte para eu não ficar irritada.

         Emburrada talvez fosse a palavra certa. Eu estava emburrada com Edward por ele ter magoado Isabella Cullen. Mas por quê? Por que se eu mal a conhecia? Coisas tão estranhas estavam acontecendo, tão estranhas...

         Ora, eu não devia estar irritada com Bella por ela amar o homem que amo? Ciúmes, eu não deveria senti-lo? No entanto... Era pena. Bella tinha morrido, não havia como ficar brava com alguém morto. Mas, sim, sentir pena, porque, depois disso – desse sonho -, de repente eu sabia sobre sua morte. Não sabia quem a matará, nem como. Mas sabia quando – logo depois que ela correra de sua família.

         E Edward... Por que ele não tinha me contado? Entendo que seja difícil, mas eu me abrira em relação à Ever... Ele podia ter me contado que Bella o amava daquele jeito – e eu nem mesmo chegara, a saber, se era recíproco, já que o sonho não continuou.

         Ah. Eu me sentia tão confusa.

         E aqueles olhos azuis? Não eram olhos quaisquer, eram meus olhos, indubitavelmente meus. E eles encaravam Edward com tanto ódio – e amor ao mesmo tempo – que me arrepiava. Eu nunca conseguiria odiá-lo, mas ali estavam meus olhos, olhando-o desse jeito. Como? Tudo esquisito, muito esquisito.

         Eu queria entender tudo.

         Entenderá, alguém disse. Levou algum tempo para me tocar que essas palavras foram trazidas ao vento e sussurraram alegremente em minha orelha. Mas, não era somente uma pessoa dizendo... Eram... Duas? Uma voz eu conhecia, sem dúvida era de Bella. Porém Bella tinha morrido, não poderia ter murmurado nada.

         E a outra era familiar, mas era desconhecida – tantas antíteses... Eu tinha certeza que conhecia, mas onde ouvira? Era feminina, exalava poder e eu quase conseguia imaginar a mais bela mulher dizendo isso. Quem, quem era?

         Ah, suspirei internamente.

- Bella... – a voz de Edward chamou-me novamente.

         E eu decidi que já estava na hora de acordar.

         Minhas pálpebras tremeram e abriram, mas logo se fecharam com a repentina luz direta. Aos poucos, acostumando-me abri-os novamente. A primeira coisa que percebi foi que não estava mais desconfortavelmente deitada no tronco e, sim, delicadamente deitada sobre folhas macias e secas. Ainda na floresta, mas mais cômoda.

         Tive de segurar todos os impulsos para não bater em Edward nesse instante.

         Tive de segurar todos os impulsos para não beijar Edward nesse instante.

         Argh! Era como se algo me impelisse a fazer certa coisa, e outro lado me puxasse para fazer outra. Eu estava absolutamente pirada, era definitivo! Por que eu não podia simplesmente amá-lo e ser retribuída? Por que tinha que envolver tantas coisas confusas e irritantes de se decifrar?

         Seus olhos dourados me encararam com evidente preocupação.

- Bella? Você está bem?

         Fisicamente? Sim. Mentalmente? Bom...

- Sim – eu disse calmamente, enquanto erguia meu tronco e me sentava, cuidando com o meu curto vestido e meu salto, que tinha voltado aos meus pés. Ele provavelmente os pusera de volta.

- Depois que você saiu, Alice disse que não estaria na aula, então segui seu cheiro e a encontrei deitada... – ele fez uma pausa breve antes de continuar – fiquei preocupado que tivesse acontecido algo, mas você parecia bem. E somente dormia.

- Quanto tempo eu dormi? – perguntei, colocando a mão na cabeça. A tontura voltava, assim como a ardência na garganta começava. Isso não era bom. Isso significava... Eu espero que seja somente uma doença corriqueira e, não, aquilo.

         Sede. A palavra dita mentalmente me fez estremecer.

 - Algo dói? O que foi? – Edward rapidamente tocou meu rosto, sentado diante de mim com olhos atentos a algum possível machucado. Uma parte de mim quis gritar em seu rosto que tudo isso era falso, ele amava outra pessoa e só queria esquecer sua morte brincando comigo. A parte mais racional de minha mente disse que ele estava sendo verdadeiro.

         Sem eu perceber, lágrimas escaparam de meus olhos e, depois que começaram, não parou mais. Eu nem sabia exatamente por que diabos estava chorando, não fazia sentido algum! Quando eu me tornara tão chorona? Tão sentimental? Tão confusa sobre tudo a minha volta?

         Ah.

- Bella, por favor... – ele pareceu implorar, segurando meu rosto pequeno entre suas mãos. Seus olhos dourados me encararam – Onde está doendo, meu amor?

         A forma como ele dissera "meu amor" me fez chorar mais ainda. Ugh! Eu queria – muito, demais – parar de choradeira e simplesmente perguntar tudo sobre Isabella e sua relação com ela. Como fora sua morte, há quanto tempo, quem era o culpado. Mas as lágrimas sufocaram todas as palavras.

- N-nada dó-ói – eu gaguejei debilmente para o vampiro a minha frente.

- Então o que foi? – ele gentilmente me puxou para seu colo e eu enterrei minha cabeça no vão de seu pescoço, sentindo seus dedos percorrer meus cabelos com doçura.

- Se eu falar vai me achar estúpida – e acharia.

- Eu nunca acharia isso, Bella – ele beijou o topo de minha cabeça.

         Enquanto as últimas lágrimas pingavam, pensei em como tínhamos nos dado bem em tão pouco tempo. Quer dizer, tão pouco tempo depois de eu contar meu segredo, porque antes... Um mês sem se falar era um longo tempo.

         No entanto, sentia-me completamente à vontade com Edward – como se o conhecesse há décadas e não semanas. Acho que o destino agia de um jeito engraçado. Afinal, sempre achara que achar meu "príncipe encantado" seria tolice. Eu era a Princesa do Sol, contos de fadas não existiam. Tolices humanas.

         Entretanto... Eu estava experimentando o amor bem de perto. Amor... Eu amava Edward? Sentindo seus dedos entre meus cabelos, acariciando-os... Sim. Sim, eu o amava. Com todas as minhas forças.                                                                                                                                                 

- Quanto tempo eu dormi? – perguntei novamente, após, finalmente, controlar-me e parar de chorar.

- Falta quinze minutos para as aulas acabarem por hoje – foi simplista.

         Um bom tempo, então, eu tinha dormido. Tirei o rosto do pescoço de Edward e o encarei sinceramente nos olhos.

- Enquanto eu dormia... – comecei hesitante.

- Sim?

- Eu tive um sonho... – como contar que sonhei com sua irmã, possível amor, morta? – Lembra que no sábado te contei sobre Ever? Sobre como descobrira que ela existia por causa de meus sonhos? – vendo-o assentir confuso, continuei – Sobre como eu via somente seu rosto, ali, parado. Ela não falava comigo, nunca. Até hoje não fala. Somente sorri e, às vezes, me abraça. Uma vez indicou a si mesma e colocou a mão sobre o meu coração.

"Não sei, mas... Naquela hora, inexplicavelmente, eu soube que ela era minha irmã. Uma parte de minha família. Aquela parte que sempre faltava entre meus pais e eu".

         Eu ri sem humor: - Ever não pareceu surpresa quando gritei "Irmã!" e no segundo seguinte acordei. Fiquei desesperada quando parei de sonhar com ela... Tinha desistido de me visitar? De sorrir para mim?... Mas ela voltou alguns dias depois, e começou a fazer mímicas para se comunicar. Nunca entendi por que não falava – acredite se quiser, mas até me perguntei se era muda, certo dia -, porém estava ali e bastava".

- Bella, ainda não entendo – Edward admitiu envergonhado. No entanto, eu não esperava que entendesse, não ainda. Eu não tinha terminado.

- O que quero dizer, Edward, é que, há poucos minutos, eu estava sonhando com Isabella Cullen.

         Ele parou totalmente no ato de mexer em meus cabelos. Isso significava que ele a amava mais do que me amava? A idéia pareceu tão ridícula em minha mente, que logo a descartei – eu estava me preocupando com coisas tolas em épocas erradas.

- Como?

- Veja bem. Antes de conhecer vocês, eu já vinha sonhando com Bella – aliás, sei que ela prefere ser chamada assim – na mesma época que Ever apareceu, Bella também apareceu. Eu tinha sonhos com ela. Não eram como com minha irmã... Bella não ficava parada e sorria para mim. Ela sempre estava fazendo algo e, tal como as pessoas a sua volta no sonho, não parecia me enxergar. Eu era somente um espectro em uma lembrança.

         Suspirei. Essas últimas palavras fluíram tão facilmente pela minha boca, que me perguntei quando foi que chegara a essa conclusão.

- Quando conheci vocês, Cullen, fiquei confusa. Afinal, quais eram as chances de Bella não ser da família de vocês? Ela era vampira, vocês são vampiros, com o mesmo sobrenome... Conforme ia descobrindo, fiquei mais e mais confusa. Então, bam... Bella estava morta – doeu ver a careta de Edward com minhas palavras, eu mesma não tinha gostado de dizê-las – por esse motivo ela não estava com vocês no momento. Por esse motivo, você era triste. E é.

         Ele não discordou. Sabia que não adiantava negar o que era verdade: Edward ainda sofria, e muito, pela perda da irmã. Editei algumas coisas em minha cabeça – algumas coisas que ele não poderia saber (e algumas que nem mesmo eu sabia) ainda. Como o fato de que Bella falara comigo, de verdade, uma única vez. E não fora um sonho.

- Há poucos minutos – retomei o assunto – sonhei com Bella... e você.

- Comigo? – Edward exclamou surpreso, totalmente despreparado.

- E sobre como ela disse que o amava – prossegui como se ele não tivesse me interrompido. Se parasse, possivelmente choraria de novo – mas você a rejeitou... Por que fez isso? Ela disse que estava apaixonada por você... – engoli seco antes de continuar – Tão apaixonada quanto eu estou, e por você... Irá fazer comigo o que fez com ela?

         Ele não pareceu surpreso por eu falar que estava apaixonada por ele – o que, acho, era um bom sinal. Mas ficou realmente incrédulo quando lhe fiz a última pergunta.

- Você é tão absurda, Bella – ele beijou minha testa. Seus lábios frios contra minha pele quente vieram com correntes elétricas que passaram por todo o meu corpo. – É por isso que chorava? Acha que vou deixá-la?

- Não sei... Tenho medo – admiti e senti minhas bochechas corarem – eu... Eu te amo, Edward. E não quero que você vá embora. Nunca.

         Ele sorriu como se minha fala tivesse sido a melhor coisa que ouvira em sua existência – mas eu duvidava. O para sempre às vezes é muito longo e declarar que tal momento era o melhor... Dificilmente.

- Eu também te amo, Bella Kathleen. Hoje e sempre.

         Seus lábios tocaram delicadamente os meus. De inicio, foi um beijo leve, singelo. Amoroso. Nossas bocas dançavam uma contra a outra, com correntes percorrendo nossos corpos. Quente e frio. Mas logo se tornou urgente – e eu não gostei disso. Como se fosse o último, mas eu não queria isso, não mesmo.

         Toquei sua nuca, segurando com força os poucos cabelos cobre que tinha ali, puxando-o mais para mim. Ele terminou o beijo alguns segundos depois.

- Não posso ir longe demais, não quero machucar você... Muito menos atacá-la – ele desculpou-se, mas obviamente não queria parar.

         Suspirei frustrada. Eu também não queria correr o risco de deixar meu sangue de – literalmente – fogo a sua mostra. Isso resultaria em sua morte e era o que eu menos queria.

         Ficamos num silêncio agradável por alguns minutos. O sinal logo tocaria e iríamos embora. Essa tarde veríamos os lobos, ou seja, eu ficaria longe de Edward. Mas eu não queria ficar longe dele.

- Edward? – chamei-o – Se eu te fizer uma pergunta, promete não ficar bravo?

- Sim, minha Bella? – eu gostei da maneira de como isso saiu de sua boca. Sua Bella. Sua. Reconfortante.

- Quem matou Isabella?

         O silêncio que caíra sobre nós agora era tenso. O clima tranqüilo fora embora, dando lugar à quietude desconfortável.

- Os Volturi – sua resposta não foi mais que um murmúrio descontente, mas eu ouvi mesmo assim.

         Claro, tão improvavelmente óbvio. Os Volturi! Quem mais haveria de ser, senão a "realeza vampiresca" para matar uma vampira? Decidi-me por não perguntar o por que de terem matado-a. Quero dizer, havia uma teoria... Eu não sabia muito sobre as leis dos Vampiros, mas entendia o suficiente para entender que a regra número era não se revelar aos humanos. E a outra... Crianças imortais não podem existir. Nunca. Jamais. Em hipótese alguma.

         Eu já vira Bella o suficiente para saber que ela era uma criança imortal. Logo... Eu nem queria imaginar.

         Suspirei. Isabella Cullen morrera na década de 1980 – dez anos antes de meu nascimento – por ser uma criança imortal, punida pelos Volturi. Pelo que eu deduzira e descobrira, ela fora transformada na época em que meus pais estavam na Terra, mais especificamente na Itália. E Carlisle Cullen estava lá. Mas quem a transformara? Carlisle? Ele não parecia ser do tipo que quebra leis. Por que parecia faltar um pedaço da história aí? Eu tinha certeza que algo faltava – minha mãe saberia sobre isso? Ela parecia conhecer Carlisle...

         E Lucy... Lucy dizia ter conhecido os Cullen quando criança. Mas ela fora criança na década de 40, há muito, muito tempo. Quando chegou aos seus dezenove e se imortalizou, nem um ano depois, conheceu Ang e Ben. Quando ela conheceu os Cullen? Conhecera Bella? Por que ela não tocava nesse assunto? Por que os Cullen não se lembravam de seu nome, mesmo que, na época, a mesma fosse uma criança?

- Bella? – Edward chamou minha atenção, tirando-me de meus devaneios.

- Sim?

- Está na hora de irmos. Posso ouvir os pensamentos dos meus irmãos e dos seus amigos indo para o estacionamento. Além do sinal ter batido, é claro – ele deu o sorriso mais lindo do mundo, e não pude me impedir de devolvê-lo.

         Levantei-me com a ajuda de Edward, os saltos não incomodavam, mas eram realmente chatos nessas horas. Quero dizer, incomodam, mas não doem – é isso.

         Comecei a caminhar de volta para o estacionamento, mas Edward segurou-me meu pulso e puxou meu corpo para ele, colando-nos tão próximos que sua respiração fria bateu em meu rosto. O sorriso ainda estava ali, e foi com esses dentes à mostra que ele tocou seus lábios nos meus.

         Passou seus braços em volta da minha cintura e eu levemente espalmei minhas mãos em seu tórax – ui, será que era sarado? (Ai, que hora, Bella!).

         Então, fomos completamente interrompidos por um gritinho histérico.

- Ah, eu sabia! – era Alice, quem mais seria?

         Rapidamente descolei meus lábios dos de Edward e olhei para os meus amigos – incríveis fofoqueiros curiosos, estavam todos ali! Corei diante da sobrancelha arqueada de meu padrinho... Que ele não contasse aos meus pais, espero.

- Sabia que aquela visão estava certa! Eu nunca erro – Alice continuava a se gabar.

         Ela começou a dar saltinhos e bater palminhas junto com Lucy.

- Ed, mano, sabia que você não era gay! – Emmett exclamou em seu jeito feliz de ser, e eu corei loucamente.

         Edward tentou fechar a cara, emburrado para o irmão, mas ele sorria logo se tornou impossível.

- Se você magoá-la vou cortá-lo em pedacinhos – Rosalie foi direta, olhos no olhos, para Edward.

- Awnnn, Rose – eu disse para minha amiga, emocionada que fosse tão boa comigo. Dei-lhe um rápido abraço.

- Parabéns – ela murmurou no meu ouvido, mas é óbvio que todos os vampiros ouviram. Lucy, Ang e Ben não tinham audição tão boa... Quer dizer, Ben tinha, razoavelmente.

         Olhei amorosamente para Edward, por mais que fosse um pouco vergonhoso ser pega no flagra, eu não podia parar de quicar de felicidade por dentro. Minha família – os Cullen podiam entrar facilmente na categoria, junto com meus amigos – tinha descoberto o meu relacionamento. Não vi problema algum nisso.

         Jasper lançou-me um sorriso, provavelmente vendo meus sentimentos, e eu lancei-lhe um sorrisinho de volta.

- Agora, vamos dar licença aos novos pompinhos para eles se despedirem, pois um dia longe um do outro é muito – nem Ang perdeu a chance de me zoar, fazendo uma voz dramática ao final.

         Todos riram, mas rapidamente saíram dali – Rose lançando um olhar irmã-mais-velha-durona para Edward.

- Meus irmãos são uma comédia, impressionante – Edward comentou sorridente

- Mas eu amo eles. E amo meus amigos também. E amo meus pais. Também amo Chel, Esme, Carl e Corin. – e, sorrindo de rasgar o rosto – mas amo mais você. Será que eles se importam?

         A cada frase eu dava um selinho em seus lábios. Algo tão absolutamente meloso, algo que pensei que nunca me daria o trabalho de fazer. Porém, oh, ironia! Aqui estava eu, justamente fazendo.

- Bom, eu não me importo – ele deu-me um beijo demorado, parando somente quando eu tive de respirar e ele se controlar.

         Edward me abraçou mais forte.

- Eu te amo, minha Bella.

- Eu te amo, Eddie – murmurei sob minha respiração.

         Admito, queria ver sua reação. Foi cruel, eu sei, Bella Cullen o chamava assim, e, até sua morte, eles eram somente irmãos. Mas, até sua morte, ela também o amava. Então...

         Edward, na verdade, não pareceu irritado comigo, talvez nostálgico, como se estivesse perdendo-se em lembranças dos bons tempos, mas deu um sorriso mínimo.

- Se incomoda? – indaguei cuidadosamente.

- Não – o vento mexeu rapidamente em seus cabelos, mas quando parou os mesmos continuavam no lugar, perfeitamente bagunçados – Na verdade, é bom ser chamado assim de novo.

- Sério, Eddie? – eu perguntei de novo, dando-lhe um beijo na bochecha.

- Sério – ele disse.

         Fiz um biquinho pensativo, ora, quem diria. Bem, todavia, ele não ligava. E chamá-lo assim era divertido, carinhoso, até, se você analisar bem.

         Derreti-me inteira quando senti seus lábios desfazendo meu biquinho.

- Que bom que Lucy dirigiu hoje – comentei enquanto voltávamos. O estacionamento já estava quase todo vazio, tirando o Volvo e o Porshe, somente mais cinco carros estavam ali.

         Caminhamos em direção ao Porshe canário-discreto da minha amiga excêntrica.

- Minhas pernas estão tremendo tanto que não seria capaz de dirigi-lo – terminei meu comentário e Edward riu levemente.

- "Vambora", Belleen – Lucy disse já no banco do motorista – do mesmo que jeito que você curtiu seu vampirinho, que curtir meu lobinho.

- Adolescentes inocentes, aqui, obrigada – ironizei. Mas ignorei totalmente seus protestos, simplesmente me virando para Edward e dando-lhe um beijo de despedida – Te vejo mais tarde, Eddie.

- Boa sorte com a loira – ele riu e ouvi meus amigos o acompanhando do banco de trás. Lucy bem que tentou ficar séria, entretanto estava feliz demais.

         Eu já estava entrando, quando Edward virou e falou rapidamente, tão baixo que ninguém, além de mim e dos vampiros, escutaria: - Ah, Bella. Ontem Carlisle sugeriu que convidássemos um clã amigo nosso para ir ao Sol com você. Eles também são vegetarianos, e os conhecemos há décadas.

         Mais aliados. Minha vinda à Terra não tinha sido inútil.

- Claro! Pode explicar a situação para eles e, se aceitarem, os chame para vir logo. Faltam somente três semanas para irmos daqui a York, e, depois, Sol – disse a última parte sonhadoramente.

         Eddie sorriu e continuou andando para carro, onde, antes de partir do estacionamento antes dele, pude ouvir as provocações de Emm e Jazz.

         Lucy me obrigou – aliás, a todos – a trocar de roupa. De acordo com ela, para ver Jake, todos tínhamos que estar perfeitos. Puft! O cara já tinha me visto até desmaiada, qual seria a diferença? Ela fazia parecer o primeiro encontro.

         Enfim, eu acabei continuando com um vestido curtíssimo ("Curtíssimo nada, Bella!", Lucy dissera; claro o dela era menor, se isso é possível), mas pelo menos coloquei um tênis ("Brega, Bella, brega!"). Nem Ben escapou dessa vez.

         Na garagem, em frente ao meu carro – o qual iríamos – todos nos olhamos de olhos arregalados.

- Bella... – Ben disse olhando para o meu mini vestido – Seu pai vai me matar se souber que deixei você usar algo assim.

- Ah, bobagem – Lucy disse confiante. Seu vestido era coladíssimo, e mais parecia que ia para o tapete vermelho do que fazer uma visita amigável a reserva.

- Bobagem – grunhi, entrando no carro e girando a chave na ignição.

         A viagem foi calma, somente ficamos no carro ouvindo Red Hot Chilli Peppers e Coldplay. Músicas terrestres eram legais. Jacob disse para irmos direto para a casa de Emily Young, onde todos os lobos estariam. Seria "tipo" uma reunião intima – eu preferia chamar assim. Lucy chamava de "crazy party". Por isso nos produzira tanto.

         Claro que eu conhecia Emily, Sam nos apresentara. Era uma humana imprinting do mesmo, e tinha uma cicatriz no lado direito do rosto por causa de um acidente "com ursos" – Sam se descontrolara. Mas ela era absurdamente gentil, e linda, mesmo com a desfiguração em um lado do rosto.

         Estacionei na frente na casa de Emily. Lucy bateu palminhas. Já tinha escurecido e algumas luzes estavam ligadas, uma música tocava dentro da casa. Não era muito grande, mas era aconchegante.

- Ei, ei! A galerinha do Sol chegou! – ouvi a voz de Embry vinda lá de dentro e tive que rir. Eles estavam mesmo animados. Porém ainda me perguntava por que dariam uma festa segunda à noite.

         Entramos na "reuniãozinha intima/crazy party.

- Amor! – Jacob gritou por cima da música, tascando um beijo de Lucy, que, boba nem nada, retribuiu. – Está tão gata!

         Lucy deu um risinho.

- Princesa – Jacob fez uma reverencia, provocando-me a ficar brava. Ignorei.

- Jake – Ben fez um cumprimento de mão.

- Ben. Ang – foi sua resposta, antes de puxar Lucy para o meio da pista, onde o resto do bando dançava. Vi Embry e Quil totalmente pirados enquanto dançavam Bad Romance (Eu hein!).

         Caminhei em direção às cadeiras altas, que aparentemente serviam de "bar" hoje.

- Oi, Emily – cumprimentei minha amiga. Até Ang se rendera e fora dançar com Ben.

- Bella! – ela sorriu e beiju meu rosto num cumprimento. – Quer beber algo?

- Não, obrigada, não estou com sede – acomodei-me melhor na cadeira – Não vai dançar, Emily?

- Não, estou servindo as coisas por hoje, sou a anfitriã da festa, não é? – ela riu – De qualquer forma, Sam está fazendo uma última patrulha. Você sabe, não se pode deixar o perímetro livre para nossos inimigos. Depois ele irá trocar com Leah. Minha prima aparentemente não gosta muito de festas.

         Olhei para Leah Clearwater sentada em uma mesa do outro lado da casa. Estava sozinha, correndo os olhos pela festa. Usava um vestido e salto alto – não parecia muito confortável com isso. Claro que eu a conhecia, e também sabia do triangulo Sam-Emily-Leah. Sentia pena, é claro, mas Leah não parecia querer isso – na verdade, ela não gostava muito de mim. Isso ficara óbvio desde que entrou no bando semana passada.

         Diferente de sua irmã, Seth Clearwater era mais jovem, animado, espontâneo. Entrar no bando parecia ser a melhor coisa de sua vida. Ah! E ele idolatrava Jacob.

- Bella! – gritou o dito cujo, enquanto passava dançando ao som de Last Friday Night do meu lado. Acenei com a cabeça. – Não vem dançar?!

- Agora não – respondi na mesma altura. A música estava alta.

         O bando tinha aumentado dessa semana para cá. Acho que a influencia da família Cullen, mais os Solares fizeram com que muitos Transformos assumissem finalmente sua forma – Leah, Seth, Collin, Brady e Jared.

- Bella! – Jacob se aproximou. Vi Lucy a distância, rebolando até o chão (Mama mia!) – Vem dançar!

- Não... Eu... Eu não danço. – não esse tipo de música, completei em minha mente.  Eu só sabia coisas formais e que envolviam damas antigas. Nunca que iria aprender funk, pop, rock ou o que fosse. E também admito que tinha um pouco de vergonha de rebolar como Lucy. Não era tão mais velha como ela, meu corpo não era curvilíneo como o seu, era quatro anos mais jovem. Glup.

- Vem! – ele não ligou e me puxou, fazendo-me parar ao lado de minha amiga.

         Eu estava como uma Tonga na pista de dança, parada, enquanto todos dançavam ao meu redor. Ah, eu não sei dançar! Nada, nadica!

- Bella, tenta fazer assim, ok? – Lucy sussurrou tão baixo ao meu ouvido que somente eu ouvi. Pelo menos ela tinha visto meu desespero.

         Ao som de Dynamite, de Taio Cruz, comecei a dançar. Eu nem conseguia acreditar, mas estava dançando quase tão bem quanto Lucy. Até que era divertido, impressionei-me. Emily lançou-me um sorriso do bar. Devolvi, essa festa estava realmente boa, até...

         Até Sam irromper pela porta, somente com sua típica bermuda jeans – acredite se quiser, mas os Lobos colocaram roupas hoje! – e com rosto tenso.

         A festa parou. Eu parei de dançar no ato, aproximando-me rapidamente.

- Sam? – chamei-o, atraindo a atenção para mim – O que houve?

- Senti o cheiro de Vampiros. Ainda está fresco – ele avisou e o silêncio reinou sobre a sala.

         Claro que foi Lucy que quebrou dando gritinhos histéricos: - Isso! Estava precisando de uma boa luta! – alguns a olharam estranho. Bom, eles não viram nada...

         Suspirei.

- Hoje sou eu que vou matá-los – murmurei irritada – Estragaram o que era para ser uma boa noite para todos nós.

         Rapidamente ajeitei meu vestido: - Bando... – chamei suas atenções – se incomodariam de eu pedir ajuda?

         Eles já tinham em mente a quem eu pediria, então Sam respondeu: - Não sei, Bella, deixá-los entrar em nosso território...

- Por favor. Não sei quantos Vampiros são. Os Cullen não estão com sede – seus olhos dourados hoje constatavam isso – e logo após sairão de seu território.

         Relutante, o líder do bando concordou. Sábia escolha.

- Sou a mais rápida aqui, irei até eles e volto daqui a cinco minutos, estejam prontos.

- Não, Bella, podem te pegar no caminho. Você estará sozinha. E se esse suposto "exército" te achar, e... Matá-la? – Lucy engoliu seco, porém olhou firmemente em meus olhos.

- Então eu os matarei primeiro – coloquei a mão em seu ombro. Subitamente sorri - Imagino que não tenhamos tempo de trocar de roupa, não é? Sinto estragar o vestido novo.

         Ela suspirou dramaticamente: - Tudo bem, imagino. Será um desperdício, é claro. Mas estarei linda para a luta – todos riram levemente, aliviando um pouco o clima de tensão presente.

         Assenti sorridente. Virei as costas para meus amigos e corri em direção a casa dos Cullen.

         Como Sam falou, o cheiro de Vampiros estava no ar. Não consegui definir quantos eram. Mas, levemente, atrás, mascarado, estava um cheiro de Caçadores da Lua. Esse eu identifiquei: dois Caçadores... Só espero que esses dois não tenham vindo, especificamente, para Ang e Lucy.

         Somente continuei correndo, os meus tênis batendo contra as folhas secas tornaram-se o único som da floresta escura.


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