Mais uma noite, mais um show. Era para ser só mais um show, apenas mais uma noite em que ele e os amigos e colegas de banda divulgavam o novo CD. Apenas mais uma vez em que ele cantava Saviour a todos que os assistiam, em frente a uma platéia com vários casais no meio. Estranhamente, desta vez estava diferente. Rodava os olhos pela platéia enquanto cantava a mais lenta música do novo álbum, que havia feito em homenagem à uma garota que nunca pensou que se veria apaixonado.

              As notas soavam e seu coração apertava. As lágrimas ameaçavam fugir e ele se segurava para não deixar transparecer sua tristeza.

             Seus olhos se fixaram em um casal que não estava muito longe do palco, na pista premium. Fisicamente eram parecidos, se não estivesse abraçados e se olhassem apaixonadamente a cada quinze minutos, poderia se dizer que eram irmãos. Ambos eram altos e magros, o garoto tinha o cabelo castanho médio desfiado levemente comprido e bagunçado, a garota tinha cabelos castanhos mais escuros que o do namorado com uma franja jogada de lado e desfiado. Ela tinha uma camiseta do Green Day desbotada, ele uma do Avenged Sevenfold.

              O vocalista observava-os enquanto cantava, notando que independentemente das semelhanças físicas, a personalidade deles era notavelmente diferença, ela era completamente animada, ele menos. Eram feitos um para o outro, era notável. Não havia dúvidas de que aqueles dois sim, eram almas gêmeas. E por ser a última música, Andy se permitiu derramar algumas lágrimas ao terminar de cantar. Fãs se emocionavam, dizendo palavras para que ele não chorasse, mas era inevitável. Aquele casal o emocionara, o fizera se lembrar da garota que tanto amou e que agora provavelmente seria tarde demais para voltar e dizer o quanto errou.

             Foi para o backstage com lágrimas nos olhos e seus amigos vieram lhe consolar com palavras e abraços. Pegou uma garrafinha de Smirnoff no frigobar e encarou o celular, jogando-se no sofá de couro preto que ali ficava. Logo um de seus melhores amigos jogou-se ao seu lado com uma lata de cerveja, bebericando-a lentamente.

-- Por que não liga para ela? -- Jake perguntou enquanto bebia a cerveja -- É estranho te ver assim sabia Six? 

-- Por quê? Só por que eu não estou indo atrás de alguma groupie morrendo de vontade de dar pra mim? 

-- Sim. E por que não liga pra ela? Está na cara que você só está assim por causa dela.

-- Estou. Mas não sei. Não acho que ela quer ouvir minha voz depois de eu ter dito o que eu disse. 

-- Talvez, mas não custa tentar.

             Ficou sozinho, imerso em pensamentos depois de algum tempo, enquanto seus amigos se levantavam e iam. Decidiu que ficaria mais um pouco, ainda tinha muito o que pensar. Foi para a área externa e acendeu um cigarro, dando algumas tragadas enquanto sua mente voava bem longe de lá. Era uma noite de calor em São Paulo, fim de Janeiro, o calor era quase insuportável, mas ele aguentava bem. 

 -- Então, acho que é melhor nós terminarmos. Que eu vou sair de tour com os caras e sabe? Tem todas aquelas groupies e...

-- Pelo amor de Deus Andy, se vai terminar comigo me dê pelo menos um motivo decente ao invés de uma desculpa esfarrapada.

-- Eu não queria dizer isso...

-- Já disse. Então por favor, seja um pouco mais direto.

-- Sabe, desde que começamos a namorar você já sabia que eu era pegador e...

-- Está querendo dizer então que quer terminar comigo para poder ir comer groupies?

-- Não foi...

-- Tudo bem! 

-- Hã?

-- Se quer terminar comigo pra comer quantas groupies você conseguir, termine. Não há problemas

-- Mas Annie...

-- Eu já disse Andy. -- a garota disse se levantando e indo em direção a porta, destrancando-a e colocando-se na soleira, logo sendo segurada pelo moreno -- Eu já te disse Andy. A partir do momento em que você diz que quer sair em tour e pegar várias, enquanto estamos namorando e considerar seriamente a possibilidade de terminar comigo pra isso, você não merece que eu diga qualquer coisa a respeito. -- a ruiva olhou para a mão de Andy, que afrouxara o aperto em seu braço -- Assim sendo, gostaria que você me soltasse me deixasse ir. 

-- Por que vai? Por que não me dá mais uma chance?

-- Porque você não merece

-- Eu acho que você não deveria ter ligado Andy -- Annie disse do outro lado da linha, enrolada no cobertor, já que em Nova York faziam mais ou menos -5°C -- Dois meses se passaram, sabe?

-- Deveria sim. Perdi muito tempo sendo um idiota 

-- Como assim?

-- Dois meses atrás eu disse a maior besteira da minha vida para garota que eu mais amei, que amo e que um dia irei amar na minha vida. A troquei por groupies. E na primeira noite que uma groupie tentou algo comigo, eu me lembrei dessa garota e não olhei mais groupie nenhuma, porque todas me faziam ter saudades dessa garota. 

-- Andy...

-- Olha Annie, eu sei que sou um completo babaca e que errei feio com você, mas não posso ficar sem dizer nada. Vi um casal hoje, e eles eram fisicamente muito parecidos, mas a personalidade era notávelmente diferente. E isso me fez lembrar de nós dois. De todas as vezes que ficamos juntos durante a noite, as vezes que você saia correndo e eu ia atrás de você. Da manhã depois da nossa primeira vez, que depois que eu acordei, fiquei te observando e te esperando acordar, enquanto escrevia Saviour. E todas as vezes que ouvi essa música tocar no rádio lembrava de você, do seu sorriso, dos seus olhos, dos seus beijos... Me lembrava de tudo que vivemos junto.

-- Andy... Eu não sei nem o que dizer

-- Quero apenas que pense. Para que quando eu voltar, pudermos voltar também.

-- E eu quero que ouça agora. -- a garota respondeu, respirando fundo -- Não me interrompa, independentemente do que eu falar. 

-- Diga. 

-- Minha amiga, Jamie, me apresentou um cara. O Olliver. Ele é perfeito. Tem uma enorme compostura em toda e qualquer situação, não bebe, não fuma, é um completo engomadinho, é rico, tem um futuro brilhante como advogado em Harvard, mora em uma cobertura na frente do Central Park, tem um inconfundível cheiro de perfume francês e é admirado pelos colegas e por todas as pessoas que o veêm, independentemente de onde estivermos. Primeira vez que falei com ele, ele me levou em um restaurante extremamente caro, um dos mais famosos da região e no momento que nós nos beijamos, foi simplesmente bom. -- o moreno já estava ficando levemente deprimido com a descrição de perfeição desse tal cara -- Mas antes que você pense que estou fazendo isso apenas para te deixar com ciúmes, ou algum tipo de castigo, que você sabe bem que sou capaz, eu já aviso que não. O beijo dele era bom, mas não perfeito que nem o seu. Ele tentou me levar para a cama mas não deixei, me lembrei de você quando ele começou a tentar me tocar, e isso me impediu de ter mais algo com qualquer cara que me aparecesse, porque sabia que não tinha superado você. Olliver tinha aquele cheiro de perfume francês, mas você tem aquele cheiro incrivelmente bom, que usa os perfumes que eu te compro. Você não tem um futuro brilhante em Harvard, mas você tem um futuro brilhante como o incrivel músico que você é e você segue seus sonhos apesar de tudo. Você divide o apartamento com seus melhores amigos no subúrbio de Nova York, mas ainda sim é um dos melhores lugares que existem naquela cidade, pelo menos pra mim. E você pode nunca ter me levado em um restaurante incrivelmente caro, mas o fato de você preparar comigo aquelas noites de filme com pipoca que eu ficava abraçada com você e nós assistiamos filmes trash na TV a cabo. Ou seja, você pode ser um idiota de marca maior Andrew Dennis Biersack, mas acho que sou uma idiota maior ainda... Acho que sou uma idiota porque por mais que você seja um completo idiota, eu vou te achar perfeito do mesmo modo...

-- Annie...

-- Quero você aqui Andy e preciso de você. Quero muito que essas três semanas acabem logo, para eu poder estar com você de novo.

-- Vou te mandar as passagens.

-- Hm?

-- Vou te mandar as passagens pra você vir pra onde estarei próxima semana. Vai em tour com a gente. Preciso passar todo o tempo possível com você.

-- Andy, tenho que desligar. Minha irmã está me chamando pra ir fazer bolo.

-- Qual?

-- O de chocolate com menta. Que você gosta tanto. 

-- Mal posso esperar pra você fazer comigo.

-- Eu te amo Andy, boa noite.

-- Também te amo minha Annie.

             Uma noite nunca foi tão quente como aquela, nunca foi tão aconchegante e tão saudosa como aquela noite de Janeiro.