1918
Branco.
Essa era a cor do teto de gesso sem ornamentos acima dele, muito diferente do elegante estuque que decorava sua casa, com aquela mistura de mármore e dourado que ele havia memorizado desde a infância. Branco era também a cor dos lençóis que o cobriam, lençóis de tecido áspero sob o toque, bem diferentes dos finos lençóis de algodão no qual ele estava acostumado e nos quais sua mãe tanto prezava, ela sempre atenta aos mínimos detalhes, desde as porcelanas chinesas até as toalhas de linho sobre a mesa de jantar.
Óbvio que coisas como lençóis de algodão, porcelanas e teto de estuque não tinham mais a mínima importância, mas se lembrar do conforto de seu lar havia se tornado um hábito desde que ele chegou ali, horas tendo se arrastado como dias e dias passados como anos – ele estava longe de casa há quase uma semana, mas poderiam ter sido há décadas. O tempo passava diferente naquele lugar.
“Não... Não o lugar em si”, ele se corrigiu: o tempo passava diferente para as pessoas que estavam na mesma situação dele.
Edward respirou arfante, o ar com cheiro asséptico de álcool e clorofórmio enchendo seus pulmões doloridos, ele tentando ao máximo não transformar a respiração em uma tosse seca e sanguinolenta; Após inspirar, ele soltou o ar pela boca entreaberta, seus lábios ressecados trêmulos enquanto a garganta doía por aquele esforço mínimo.
— Edward? – a voz o chamou. – Edward, sou eu... Consegue me ouvir, meu bem?
Por um momento ele achou que estava sonhando, mas o toque carinhoso de dedos em seu cabelo oleoso pela transpiração o fez ter certeza de que não estava.