Deixe o Amor Nascer. escrita por Kira Urashima


Capítulo 6
Banho de Chuva




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(Cap. 6) Banho de Chuva

A chuva engrossava cada vez mais, dificultando a visão de Yusuke e de Botan. Tudo parecia muito cinzento e eles não viam nem sinal de Kuwabara.

–Mas que droga! - reclamou o detetive puxando Botan pra debaixo de um toldo azul que devia ser de algum comércio – Com essa chuva não vamos enxergar aquele mané nem se ele estiver vestido de palhaço! E com ele sem energia espiritual, vai ser mais difícil ainda!

Ao seu lado, a guia torcia o rabo de cavalo para tentar tirar um pouco da água que encharcou seu cabelo. Suas roupas estavam igualmente ensopadas.

–Tenta ficar calmo, vamos esperar um pouco e depois voltamos a procurar. Pode ser que o tal show nem tenha acabado ainda.

–Fazer o quê? – sentou-se no degrau que tinha na entrada da loja e Botan fez o mesmo. Os dois ficaram em silêncio por alguns minutos até que Yusuke falou:

–Ô, Botan, que papagaiada foi aquela entre você e o Kaito lá atrás hein? Tá de namorico?

A surpresa pela pergunta fez com que a guia tivesse um ataque de tosse antes de responder:

–Que é isso! Eu hein, sai pra lá! – respondeu arredia.

– Então, o quatro-olhos tá mesmo a fim de você! Hahahahaha! Eu percebi!

–Para com isso, Yusukeeeee! – a garota esticou o braço pra dar um tapa na cabeça do amigo – Não é nada disso! Ele só estava preocupado!

–Hum, é mesmo? Não me diga! Hahahaha! Sabe que eu percebi outra coisa também?

Botan cruzou os braços e fez uma cara de quem não estava nem um pouco interessada em saber:

–O quê o “gênio” Yusuke Urameshi percebeu? Que seu cérebro é do tamanho de uma noz? – debochou.

Os olhos do detetive brilharam antes dele revelar sua descoberta:

–Que tem alguém arrastando uma asa, ou melhor, um remo enormeeee por um tal ruivo de olhos verdes, né não, Botan? Hahahahaha! – falou cutucando a garota com o cotovelo.

Por esse comentário Botan não esperava de jeito nenhum, ainda mais vindo de Yusuke, que parecia tão avoado, tão desligado de tudo. Como assim? Ele tinha percebido que ela estava de olho em Kurama? Mas, peraí, ela não estava de olho nele! Pelo menos era nisso que ela estava se forçando a acreditar.

–MAS QUE HISTÓRIA DOIDA É ESSA, YUSUKE? PIROU, É? – gritou, vermelha de vergonha.

–Não vem dando uma de desentendida pro meu lado não, que eu já me liguei! É só você olhar pra ele ou falar com ele que fica mais boba do que o normal! Vai dizer que não? Até perde o rumo das palavras! E olha que você fala mais que uma matraca... – o detetive constatou.

–AHHHH! -Botan cerrou os punhos e a vontade que teve de dar uns bons socos em Yusuke foi enorme, mas ela não o fez e fechou a cara, emburrada. Ela tinha interesse em Kurama? Haha, que besteira! Mas não era nenhuma novidade vindo de Yusuke, afinal, ele sempre procurava alguma forma de deixá-la irritada... E não é que ele conseguia com perfeição?

–RÁ, se vai ficar muda desse jeito é porque é verdade! – Yusuke caçoou apontando o dedo para o rosto da garota – Pode se abrir, minha filha, fala o que te aflige!

–Não tem nada de verdade nisso que você falou, tá? – Botan procurou parecer séria para ver se conseguia fazer o detetive parar com aquele assunto que estava deixando-a cada vez mais embaraçada e sem saída– Eu... Eu só acho ele bonito... Aliás, eu e todo mundo! Algum problema nisso?

O amigo jogou a cabeça pra trás, divertindo-se com a situação:

–Sei! Queria que pudesse ver sua cara agora, tá mais vermelha que o cabelo do Kurama! Hahahahaha! Eu não aguento! Hahahaha

–AIIIII, QUE ÓDIOOOO! – a garota não se conteve e foi marchando pra rua – Com tantas coisas sérias acontecendo, você fica me atazanando com essas deduções idiotas e sem fundamento!

–Peraí, nervosinha! Hahahahaha! – Yusuke se curvava de tanto que ria, enquanto tentava correr atrás da guia que já apressava o passo na calçada molhada.

Uma quadra à frente, um rapaz ruivo corria na chuva procurando seus amigos, quando avistou duas silhuetas que pareciam estar em algum desentendimento. Uma empurrou a outra e logo saiu correndo na frente e a outra, meio cambaleante, tentava alcançá-la.

Um pensamento ruim passou na mente do ruivo:

–Será que é a Botan?– e correu pra chegar mais perto e ver o que estava realmente acontecendo ali – Espero que não esteja em algum perigo!

Enquanto isso, mais a frente, a discussão entre o detetive e a guia continuava:

–Deixa de ser besta, Botan! Para de fugir, mulher! – Yusuke colocou-se à frente dela, segurando-a e fazendo-a olhar para ele.

–Não estou fugindo! Só não quero que fique falando essas coisas sem cabimento! – respondeu cansada, soltando-se dele e apoiando as mãos nos joelhos.

–Mas é uma tonta mesmo! Nem consegue assumir o que sê vê a quilômetros!

–Olha só quem fala! Quer que eu assuma igual você assume que gosta da Keiko, é? – ela olhou pra cima, com um sorriso triunfante, tendo a certeza que atingira o ponto fraco do rapaz. Agora queria ver o que Yusuke ia falar.

O detetive franziu a testa e falou sério:

–É muito atrevimento! Tá achando que tá podendo... Não estamos falando de mim, valeu?– fez uma pausa e passou a mão nos cabelos molhados – Mas se quer mesmo saber... Eu gosto da Keiko, sim... - olhou desafiador pra amiga- E você, pode assumir o que sente?

Botan endireitou-se e encarou Yusuke. Sentia um misto de vergonha, de raiva e ao mesmo tempo uma vontade de falar algo que ela não sabia bem o que era. Estava escutando muita coisa a esse respeito e pra o seu azar ou sorte, nenhuma de suas explicações estava convencendo ninguém. Os dois ficaram se olhando por um momento, enquanto a chuva caía forte sobre eles. Yusuke cruzou os braços, falando mais alto por causa do barulho da água:

–E aí? Vai falar ou não? – provocou, dando um meio sorriso.

A guia abriu a boca pra falar qualquer coisa, porém algo atrás de Yusuke a fez parar assustada, fazendo com que o detetive virasse pra trás desferindo um soco. O suposto oponente, porém, defendeu-o com facilidade:

–Calma aí! Sou eu!

–KURAMA! Vai assustar outro, pelo amor, hein! – Yusuke respondeu. Já Botan foi tomada por uma vontade imensa de sorrir, enquanto seu estômago gelava, só por vislumbrar aqueles olhos verdes no meio da chuva.

–Que bom que está aqui!

–Aê, Kurama! Que bom que apareceu, sua orelha não tá vermelha, não?

O rapaz soltou um riso curioso e perguntou:

–Não, porque estaria?

Botan deu um beliscão e lançou um olhar assassino para o detetive, enquanto falava por telepatia:

–Fale alguma asneira e EU TE MATO!

–AI, AI, Ô! –o detetive olhou feio para amiga enquanto passava a mão no braço pra aliviar a dor da beliscada. Kurama assistia a cena pensando qual seria o motivo da briga entre Botan e Yusuke.

–Não que eles costumem discutir por motivos sérios... – constatou com um sorriso, reparando como a guia parecia ameaçadora quando estava brava, porém aquela fúria toda passou quando ela olhou pra ele. Qualquer nuvem de irritação que havia naquele rosto tinha desaparecido, dando lugar para as habituais bochechas coradas que ele estava aprendendo a gostar de ver.

–Tá tudo bem, gente? – Kurama perguntou olhando pra Botan.

–Tá sim, tudo bem! – a guia respondeu virando para Yusuke, como quem pede uma confirmação para aquela resposta. O detetive fingiu não ver e se pôs a falar com o amigo que, até o momento, tinha sido deixado de lado:

– Bom, Kurama, já que você chegou, vamos ao que interessa: Kuwabara! Temos que saber onde aquele sem noção se meteu, e depressa, que eu não tô mais a fim de ficar nessa chuva!

–Melhor mesmo, estão todos preocupados lá no apartamento... –respondeu – alguma pista de onde ele está?

Yusuke continuou explicando, mas Botan parou de ouvir a explicação e só conseguia pensar em uma coisa:

–Kurama foi até o apartamento e a Shizuka está lá... – pensava – Ele deve ter vindo procurar Kuwabara a pedido dela... Será que está realmente acontecendo alguma coisa?

–Botan? – Kurama colocou a mão no ombro da garota fazendo-a assustar-se com os próprios pensamentos e, no mesmo instante em que ela lançava mão de mais um dos muitos sorrisos sem graça que dava na frente dele e de mais explicações nada convincentes sobre a tonalidade avermelhada do seu rosto, Yusuke se segurava pra não rir da cara dela.

Como é tonta! É tão óbvio... - o detetive divertia-se com a cena. Pensando bem, ter dois amigos seus namorando seria muito legal, mas, se dependesse do comportamento de Botan, que mais parecia um tomate falante naquele momento, o detetive precisaria intrometer-se na situação.

 –Ou... Talvez eu não precise fazer nada... – confirmou dando um sorrisinho malicioso, observando como o ruivo estava sorrindo de forma diferente e carinhosa, olhando para aquela garota de cabelo azul, completamente encharcada.

–Bom, minha gente, vamos caçar o Kuwabara e deixa acontecer naturalmente, como já dizia o poeta! - e começou a assobiar uma melodia qualquer.

–Do que você tá falando? – Botan perguntou mexendo as pernas pra espantar o frio que estava sentindo.

–DO KUWABARA! DE QUEM MAIS? Ele já deve ter morrido nas mãos de alguém com a nossa demora, filha! – falou alto.

Logo, os três puseram-se a correr sob a chuva, às vezes parando um pouco pra respirar, mais por causa de Botan. Kurama percebia que ela estava cansada e correndo num ritmo menor, o que fez com que ele diminuísse o passo também, para poder acompanhá-la. Era o mínimo que ele podia fazer naquele momento, porém não era o que ele gostaria de fazer. Preferiria que ela estivesse junto com os outros no apartamento e não naquela situação desconfortável.

Mas, estava se referindo a Botan, e ela não era do tipo que preferia o conforto a ajudar. Kurama sentia um afeto cada vez maior por esse jeito da guia.

Rodaram por quase dez quarteirões sem encontrar nenhuma pista de Kuwabara, então resolveram voltar ao apartamento. A chuva tinha diminuído, contudo, o ar úmido acentuava o frio que eles já começavam a sentir, mesmo estando com o sangue quente pela corrida.

–Vai ver que ele já está lá e nós aqui tomando chuva! Deixa só eu encontrar aquele cara de pau... - Yusuke estralava os dedos, num sinal de que Kuwabara iria se arrepender de ter ido ver a tal banda Mega-qualquer-coisa.

Botan e Kurama se olharam rindo, como que prevendo o resultado daquele encontro, e Kurama não pôde deixar de reparar como as gotículas de água que estavam nos lábios dela deixavam aquele sorriso muito mais iluminado.

A alguns metros da entrada do prédio, podia-se notar alguns corpos caídos na calçada, o que já deixou o trio em alerta, apressando-os até a portaria. Assim que chegaram lá o susto: Kuwabara e mais quatro rapazes estavam muito machucados e caídos no chão. Todos ficaram em choque.

–KUWABARA! – a garota de cabelos azuis se ajoelhou ao lado do amigo e colocou a mão em sua testa - Que aconteceu? Fala comigo!

–Ele está muito fraco pra contar o que houve... Vamos levá-los lá pra cima e depois a gente tenta descobrir o que aconteceu – Kurama agachou perto dos dois.

–Kuwabara, você não toma jeito mesmo! Se tivesse ficado com a gente... - Yusuke resmungou, mas estava na cara que ele estava muito preocupado com o amigo e se sentindo culpado por não ter ido atrás dele antes. Botan percebeu isso o confortou:

–Ele vai ficar bem, você vai ver! – disse pra o detetive, sorrindo.

Kurama e Yusuke pegaram Kuwabara e o levaram pra cima. Na volta, cada um levou um colega de Kuwabara e Botan ficou com o último rapaz lá embaixo, (que mais tarde, descobririam que se chamava Mitarai), estancando o sangue com uma toalha que levaram pra ela. Yanagisawa e Kaito não desceram pra ajudar, tinham ido embora a pedido da mestra, pois como a reunião tinha sido cancelada, não fazia sentido eles ficarem ali.

–Ainda bem, não estava a fim de ver o Kaito... – pensou ao lembrar-se dele segurando em seu braço, dizendo pra ela não sair pra procurar Kuwabara e das palavras de Yusuke dizendo que o rapaz estava interessado nela.

–Tomara que seja só uma brincadeira do Yusuke! Era só o que me faltava agora!

Suspirou cansada. Que dia! E ainda não tinha acabado. Provavelmente, ficaria até tarde cuidando dos machucados dos rapazes. Quando foi que tudo tinha ficado tão complicado? Essa última pergunta foi especialmente para o seu coração.

Até Yusuke tinha percebido que algo estava diferente com ela e se era assim, possivelmente, os outros, além do Sr Koema e do Renkai inteiro, deviam estar pensando a mesma coisa: que ela estava interessada em Kurama.

–O que não é verdade, claro! – disse pra si mesma. Ela o admirava muito, ele era um homem incrível e cativante e pensava nele todos os dias... E sentia saudades daqueles olhos todos os dias...

–E minha amiga pode estar interessada nele, ou até já tendo algo com ele! – esse último pensamento até fez sua cabeça doer.

Cobriu o rosto num sinal de angústia. Não conseguia discernir porque se sentia assim. Estava muito cansada pra tentar entender seus pensamentos.

O rapaz loiro que estava deitado no seu colo gemeu fazendo com que ela acordasse de seus devaneios ajeitando-o melhor, até que a porta do prédio se abriu e Kurama apareceu.

–Vim buscar vocês! – e abaixou-se para pegar o último ferido. Ao fazer isso, a franja, que estava molhada, cobriu seus olhos.

Sem pensar duas vezes, a guia afastou o cabelo molhado de Kurama com o dedo indicador, descobrindo assim os olhos verdes dele.

Botan só conseguia corar olhando pra aqueles olhos.

–Obrigado! – ele agradeceu.

–Não foi nada! Assim você enxerga melhor... - respondeu desviando o olhar para a calçada molhada pela garoa fina que se seguia.

Kurama esticou o braço direito aproximando a mão do rosto úmido da garota, afastando algumas mechas de cabelo que cobriam parcialmente seu rosto. A sensação dos dedos dele roçando em seu rosto fez com que ela se arrepiasse.

–Pronto! Assim nós dois podemos enxergar melhor! –sorriu pra ela.

As bochechas da guia ganharam um tom de vermelho-quente e ela abaixou levemente a cabeça, antes de olhá-lo novamente.

–Obrigada...

–Não precisa agradecer, Botan... – Kurama falou sorrindo, enquanto examinava o rosto da guia.

O vento agitou a copa das árvores da rua.

–Por que será que ele está fazendo isso comigo? – pensou consigo mesma, sentindo um misto de frio e calor passar pelo seu corpo trêmulo.

Kurama se perdeu naqueles olhos rosados que pareciam tão confusos... Tão confusos como ele estava naquele momento. Como entender o que estava acontecendo ali? E o que dizer da sensação incômoda que ele sentiu quando não a encontrou no apartamento? Sentia-se aliviado por poder olhar pra aquele rosto corado, aquele rosto que ficou na sua cabeça durante o dia.

–Será que Shizuka estava certa? – pensava, sentindo um leve agitar no peito.

O rapaz loiro gemeu mais uma vez, acordando-os de seus pensamentos e lembrando os dois de que precisavam subir.

–Lá em cima está melhor... Vamos? – chamou-a, levantando-se.

–Vamos,sim, estou com frio já! – a guia respondeu correndo até a porta e abrindo-a pra Kurama passar com Mitarai. Subiram em silêncio, até que Botan espirrou

Kurama riu:

–Acho que alguém precisa de um banho quente...

–Seria ótimo! Essas roupas estão me incomodando muito! – respondeu abrindo a porta do apartamento pra Kurama – você também precisa de um banho! - a guia respondeu, observando-o levar o menino loiro pra o quarto, onde estava Kuwabara e os outros feridos. Ela tirou o tênis molhado e entrou na sala, dando de cara com Keiko:

–Vocês precisam de um banho, senão vão ficar doentes! – falou entregando uma toalha pra Botan – Só esperem o Yusuke sair do chuveiro. E tem pizza também, se estiverem com fome!

–Banho e comida são tudo que preciso... Estou exausta e faminta! –a guia respondeu, jogando a toalha no sofá e, sentando-se esparramada, fechou os olhos. Kurama fez o mesmo que ela e, no momento em que se sentou, Botan reparou que ele tinha tirado a blusa de manga comprida do uniforme, ficando, assim, com uma camiseta branca que estava molhada, realçando os músculos bem definidos dele. A guia tinha certeza de que nunca tinha visto o amigo desse jeito, e isso só conseguiu deixá-la embaraçada.

–DESOCUPADO! – o detetive anunciou sua saída do banheiro enquanto se dirigia pra o quarto. Sem demora, o rapaz de cabelos ruivos falou:

–Vai na frente, enquanto eu faço um chocolate quente pra nós! – Kurama dirigiu-se até a cozinha. Botan ficou ainda alguns segundos parada, sem coragem nenhuma para levantar daquele sofá. Acabou espirrando mais umas duas vezes, o que fez com que alguém voltasse pra sala e dissesse:

–Melhor você ir, Botan... Não quero que fique resfriada! – a voz suave fez a guia abrir os olhos e olhar pra ele. Pensando em todas as gentilezas que aquele rapaz fazia por ela, sentiu vontade de falar:

–Você é sempre tão bom comigo... Jamais conseguiria te agradecer...

Kurama não esperava uma declaração tão repentina vinda daquela garota, que geralmente agradecia suas preocupações com um envergonhado “obrigada”. A forma natural como disse a frase balançou-o por dentro.

–Não precisa agradecer nada... – e caminhou até o sofá sem cortar o contato visual com ela – nós somos uma equipe... – e estendeu a mão direita pra guia: - E, numa equipe, um cuida do outro... - sorriu – Não é mesmo?

O sorriso tímido que Kurama viu naquele rosto era um dos que ele mais gostava. Botan demorou alguns segundos pra entregar sua mão para que ele a ajudasse a se levantar e, ao fazer isso, percebeu como a textura da mão dele era capaz de provocar ideias. Só gostaria de estar nas mãos dele a noite toda.

–Como você pode estar solteiro ainda? –a guia falou sem nenhuma consideração prévia, sentindo seu coração bater mais rápido. Parece que ela tinha entrado num estado de torpor e proferiu aquelas palavras sem filtrá-las. Esse era um tipo de pensamento que ela guardaria pra si.

–O quê? – Kurama ficou surpreso com aquilo e pareceu levemente embaraçado. Sorriu e procurou se concentrar novamente, enquanto Botan se dava conta do que acabara de dizer e corava mais do que todas as vezes que estivera na frente de dele.

–O QUE FOI QUE VOCÊ DISSE, SUA LOUCAAAA? – pensou aflita.

A guia desvencilhou-se rapidamente  da mão de Kurama e correu pra o banheiro. Fechou a porta. Gostaria de ficar naquele banheiro pelos próximos 257 anos para não ter que encarar aqueles olhos verdes que pareciam não ter entendido nada do que ela dissera. Ou pior: tinham entendido tudo.

–Ai... Estou ficando mesmo louca... O que deu em mim para falar aquilo? QUE VERGONHA! – odiava-se pelo seu comportamento na sala e pela pergunta que fizera. Graças a ela, todos os seus esforços pra não se deixar envolver pelo jovem ruivo tinha ido por água a baixo.

Dois toques suaves foram ouvidos do outro lado da porta, assustando a garota, que respondeu com a voz trêmula:

–Sim?

Do outro lado, uma voz abafada respondeu:

–Você esqueceu a toalha...

Botan soltou um suspiro nervoso. Realmente, ela não estava nenhum pouco controlada naquele dia e ainda tinha que abrir a porta para quem menos queria ver naquele momento.

Destrancou a fechadura, abriu uma fresta, deixando só o rosto e a mão estendida pra fora:

–Obrigada mais uma vez! – disse rápida, fechando a porta logo em seguida. Sua respiração estava praticamente sufocando-a, de tão nervosa que estava.

O rapaz ruivo voltou para cozinha pra terminar o chocolate quente, e o trecho de uma música que ele tinha ouvido uma vez lhe veio na memória:

“Quem é essa menina do céu cor de rosa? Não sabe se ri, não sabe se chora. Se ama ou se gosta.Sabe só que quer viver com alguém. Será que sou eu? Mas, eu não sei também.”**

Enquanto misturava o leite e o chocolate na panela, lembrava-se daquela mãozinha pequena e alva que ele segurou minutos atrás. E de como aquela mão se encaixara perfeitamente na sua.

–O que está acontecendo aqui? – perguntou em voz baixa pra si mesmo. A resposta foi o eco da sua própria mente confusa:

–“Mas, eu não sei também...”.

Continua...





 




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Notas finais do capítulo

**trecho da música "Sonhando" do cantor D'Black