Cap XII - 嫉妬

— ... Karin? – o grisalho chamou-lhe a atenção

A garota recobrou a consciência e se larga do capitão em um movimento rápido. Virou o rosto, envergonhada, seus joelhos chocavam-se entre si e sentia batidas descontroladas em seu peito.

— D-desculpe!! – reverenciou e se retirou do quarto

— Karin...! – fora interrompido pelo barulho da porta – Que droga que está acontecendo...?! – bufou com raiva

Deitou-se novamente na maca e resolveu deixar os pensamentos de lado. Focaria apenas em seu trabalho e nada mais. Afinal, esse seria o certo e também o trabalho de um capitão.

— Mesmo que eu faça isso...

— Algum problema, garoto? — ouviu uma voz conhecida, quase num sussurro

— Hyorinmaru... Não é nada. – virou seu corpo, fitando sua zampakutou, a qual se encontrava encostada na parede

— Faz um tempo desde que não me usa. E sua reiatsu está tensa esses dias... Vindo do senhor, é algo incomum.

— Já disse que não é nada, deixe-me dormir. – cobriu-se até o pescoço e fechou os olhos, encerrando o assunto; tentando, pelo menos

— É aquela garota? — o garoto abre um dos orbes esmeraldas, porém apenas até a metade, demonstrando um olhar de preocupação – Desculpe-me a intromissão, mestre.

— Tudo bem... Vou dormir. – deu as costas à sua zampakutou e adormeceu

~ x ~

— Waah, estou bem melhor!! – exclamou deitando-se no sofá, Matsumoto estava o contrário do que aparentava minutos atrás – Obrigada, Isane!

— N-não foi nada... Fico feliz que esteja mais contente. – sorriu – Tem certeza que prefere não falar, Rangiku-san?

— Sim... – sua expressão mudara para séria – Senão, acabo estragando tudo.

Isane segurou firmemente nas mãos de Rangiku. Olhava no fundo dos olhos cinza da ruiva como se quisesse mostrar que era confiável.

— Obrigada, Isane. – fechou os olhos, ainda sorrindo – Será que eu posso comer outro pedaço do bolo?

— C-claro. A capitã ficaria muito contente! – soltou suas mãos e cortou outra fatia, entregando-lhe à Matsumoto

— Falando nisso... Onde está a capitã Unohana? – garfou um pedaço, mas ainda não o pusera na boca – Aqui não é o alojamento dela?

— Sim. A capitã está inspecionando os pacientes! Geralmente eles ficam instáveis a essa hora da madrugada! – seus olhos brilhavam por admiração – Fique tranquila! O capitão Hitsugaya logo receberá alta!

— Entendo... Bem! Acho melhor eu indo. – pôs o pequeno prato na mesa

— Eh?! Já comeu?!

— Obrigada novamente, Isane! Diga à capitã Unohana que estava delicioso! Com licença! – acenou e saiu da sala

Andava pelos corredores, pensativa. Não entendia o porquê de tanto nervosismo. Sim, estava preocupada com seu capitão, mas... Se fosse para escolher, quem seria? Era muito amiga de Hinamori, praticamente irmã; Karin, por sua vez, era uma novata com quem se adaptou perfeitamente.

— Ahhh!! – gritou, já fora do esquadrão – Eu preciso beber!! Só assim pra me aliviar de toda essa confusão!! Isso mesmo! É o que farei!! – e se dirigiu ao restaurante mais próximo

~ x ~

Karin corria sem rumo pela Seireitei. Não demorou muito para perceber que estava perdida. Descansou, apoiando suas mãos nos joelhos, arfando. Olhou em volta: estava presa em uma rua sem saída. Sentou no chão, cansada, e resolveu ficar.

— Ahhh, que droga! – se jogou, deitando-se no duro e frio chão – Pai, Ichi-nii, foi uma péssima ideia vocês me transformarem em um shinigami, sinto-lhes dizer.

Lembrou-se da conversa que teve com Hitsugaya quando estavam no Mundo Real, e sentiu um peso na consciência ao falar aquilo. Desde que chegara, nada de bom lhe veio. Só chorou, brigou, gritou... Quase nem sorriu. Isto é, verdadeiramente, não.

— “Ka... Rin...” – abriu um pequeno sorriso ao se lembrar de quando Hitsugaya lhe clamou pelo nome pela primeira vez – Até que não foi tão ruim...

Talvez o pior momento que teve foi quando viu Hinamori tocar naqueles lábios tão almejados. Sentiu, pela primeira vez, o que chamavam de “ciúmes”. Um pecado horrível e incontrolável, sem falar involuntário.

— Porcaria...

Outro ótimo momento foi quando lutou, pela primeira vez, contra vários hollows, ausente de sua preciosa bola de futebol. E, no final, fora salva por seu capitão por ter sido pega com a guarda baixa.

Resumiria sua passagem de shinigami em uma palavra, com nove letras: Toushirou. Sim. A qualquer momento, seu capitão estava ao seu lado, não importa o momento. Poderia falar que estava apaixonada, ou apenas contemplada pela força que o mesmo possuía.

Por alguma razão, aquelas esmeraldas são como um vício. Como algo tão fútil poderia lhe causar tanta embriaguez em menos de segundos? O modo que encara a todos, sem demonstrar fraqueza, era sua principal qualidade.

— Ainda vou dar um soco em você, Toushirou...

— Ora, não esperava te encontrar em um lugar como esse, Karin-chan. – esta se levanta em um pulo pelo susto

— Hinamori... – quando a viu, voltou à sua posição inicial – Não estou a fim de discutir hoje, deixe-me em paz!

— Eu não vim até aqui para isso. – aproximou-se de Karin e sentou ao lado desta – Soube que alguém estava vadiando por esta região e vim verificar... Por que está deitada?

— Eu faço a mesma pergunta em relação às olheiras. Andou chorando?

Aquilo, de certa forma, incomodou um pouco Hinamori. Lembrou-se do motivo que fez Hitsugaya evitar o quinto esquadrão.

“- Kurosaki Karin.”

Ouviu esse nome alto e claro, gesticulado pelos lábios de seu melhor amigo. No começo, não acreditou, pensou ter se confundido. Concluiu, entretanto, que não fora um engano.

— ... Não, apenas não dormi bem. Soube que o Shiro-chan estava mal, e, de tão preocupada que fiquei, mal preguei o olho. – sorriu

— E por que não foi visitá-lo? Você tem esse privilégio, se assim posso chamar... – inclinou seu corpo para frente, sentando-se

— Acho que ele ficaria bravo se eu pusesse em risco a minha própria saúde. – riu envergonhada – Agora, responda à minha pergunta, Karin-chan.

— Estava pensando na vida, apenas. – fechou os olhos – Vendo o quanto mudei desde a minha chegada... Tal qual você, não é, tenente Hinamori?

— O que quer insinuar?

— Naaada. – ironizou

Por mais que o clima estivesse pesado, conversavam normalmente. Ambas queriam saber o sentimento uma da outra, mas não sabiam como e nem o porquê. Hinamori tinha consciência de seus próprios sentimentos, ao contrário de Karin.

— Karin-chan... Pode parecer humilhante, mas gostaria de me desculpar. – suspirou em seguida

Karin paralisou no mesmo instante. O que? Hinamori Momo, a garota que estragou praticamente toda a sua vida shinigami, pedindo perdão?

— Espera aí... Poderia repetir?

— Você parece já ter percebido o quanto eu fui grossa esse tempo, certo? – ignorara completamente o pedido de Karin – O motivo é que... Na verdade, estava com um pouco de ciúmes.

— “Ciúmes”?

— Sim. Mas não preciso te dar satisfações. Minhas sinceras desculpas. – levantou-se e ficou de costas para Karin – Acho melhor se retirar antes que pensem que você é uma ryoka (intrusa).

— Hinamori, esper—

— Com licença. – e tomou seu rumo, saindo do local

— Caramba... Eu realmente não entendo esse pessoal daqui... – suspirou fundo – Então quer dizer que ela estava com ciúmes...? E por que ela continua a me chamar com “-chan”?!

Levantou-se do duro chão e se espreguiçou. Exercitou um pouco seus membros e voltou sua caminhada ao quarto esquadrão.

— O que o Toushirou deve ter pensado quando eu saí daquele jeito...? – sussurrou para si mesma

Já estava amanhecendo. E continuava sem um pingo de sono, por que será? Não tirava da cabeça o fato que Hinamori sentia “ciúmes”, assim como...

... Ela?

— Eh...? – parou no mesmo instante – Então a Hinamori deve saber o que é esse sentimento!! – começou a dar rápidos passos, então freou – Mas... E se ela ficar brava comigo? Ahhh!!! O que eu faço?!

~ x ~

— Ahh, o lindo amanhecer! – comemorou a tenente – Capitão, capitão!! Acorde! – remexeu-o

— O que foi?! – gritou impaciente – Quando eu finalmente pego no sono... – pousou a mão na cabeça

— Não seja preguiçoso, capitão! – sorria alegremente

Hitsugaya abriu um pequeno sorriso de canto ao ver sua tenente tão contente. Há quanto tempo não a via daquele modo? Percebeu que estava sendo sincera com suas emoções. Como poderia afirmar que estava sendo verdadeira naquele momento? Não conseguia explicar; apenas sabia.

— Ah! – voltou o corpo para seu capitão – Onde está a Karin-chan?

O rosto do pequeno capitão ruborizou-se um pouco.

— N... Não sei! Ela saiu correndo... Que tal procurá-la e me deixar em paz? – virou o rosto, envergonhado

Assentiu. Saiu do quarto cantarolando, talvez aquela noite realmente a fez bem. Apesar de ter prometido que beberia, tomou apenas dois goles de um saquê, pois acabou encontrando seus amigos Kira, Renji e Hisagi juntos. Animou um pouco o ânimo.

O grisalho suspirou aliviado. Que droga ficar deitado o dia inteira, sem nada para se distrair além de dormir. Afinal, sua tenente mal se interessava pelas montanhas de papéis que teriam que fazer. Sentou-se na cama e olhou para sua zampakutou com remorso.

— Desculpe por ontem, Hyorinmaru... – sussurrou

O garoto escuta a porta se abrindo e olha em direção à mesma.

— ... Karin?

— Ah, pelo jeito já acordou!! – desliza a porta até fechá-la com cuidado, abrindo um sorriso ao seu capitão – Bom dia!

— B-Bom dia...

— O que foi? Não parece muito bem... – aproximou-se do mesmo e pousou sua mão em sua testa – Febre, não é!

Novamente, seu rosto corou.

— Por que você correu daquele jeito, ontem? – mudou sua expressão, retirando a mão de Karin

— Ah... Acho que fiquei um pouco nervosa, só isso! – e riu

— “O que aconteceu com todo mundo...? Mudaram de personalidade enquanto eu dormia?!” — bufou – Certo...

— Nee, Toushirou... – a garota continuava sorrindo, o que deixava Hitsugaya mais amigável e vergonhoso

— O que foi agora?

— Não fique bravo comigo, okay? – apoiou seus dois braços em cima da maca

— Com—

E então sentiu seus lábios se fecharem contra os de Karin, selando um leve beijo.