Cap X - 理解

— Matsumoto, sairei um pouco. Termine os pap—

O garoto se calou vendo sua tenente dormindo no sofá da sala. Suspirou fundo. Como consegue ter tanto sono e, principalmente, durante o horário de trabalho?! Tudo bem que faltavam menos de trinta documentos e que estava quase anoitecendo, mas continuava sendo uma tenente!

— ... Escute bem. – aproximou-se da poltrona, mas Matsumoto nem se mexeu – Deixarei por hoje, para compensar o que me fez há alguns dias... Só hoje, entendeu?! Tente não hibernar... – e saiu da sala

Matsumoto abre um pequeno sorriso ao ouvir o barulho da porta batendo.

— Não consegue ficar parado, é...?

~ x ~

Ambos já haviam voltado para a Seireitei. Hitsugaya, desde que chegara, sentia-se um pouco nervoso e incomodado, fazia de tudo para que ninguém percebesse: seu ritmo de trabalho era o mesmo, tratava seus subordinados como sempre tratara e fez o que pôde para que desviasse o assunto caso chegasse à Karin.

— Capitão Hitsugaya! – um membro de seu próprio esquadrão aparece em sua frente e logo se ajoelha, demonstrando respeito

— O que foi?

— Tem uma pessoa que gostaria de falar com o senhor!

— E quem seria? – estranhou, não estava esperando ninguém

— Bem...

(...)

O capitão saiu correndo para o portão de entrada do décimo esquadrão. Chegando, assustou-se um pouco e desacelerou seus passos.

— Hinamori... Já está melhor..? – aproximou-se e ficou de frente para a garota

— Hitsugaya-kun... Sim, muito obrigada.. – seus olhos estavam com olheiras enormes, mas sorriu

Ambos estavam a sós. Hitsugaya olhou um pouco para Hinamori e viu seu corpo tremendo e que mal conseguia ficar de pé. Bufou.

— Boba. Pare de mentir. – e abriu um pequeno sorriso, aquele que poucos têm a permissão de vê-lo – Por que veio até aqui nesse estado?

— Precisava falar um pouco com você, Hitsugaya-kun... – desviou o olhar

A garota se desequilibra um pouco e o capitão rapidamente a abraça, impedindo a queda. Franziu um pouco o cenho por não acreditar que Hinamori tenha vindo até o décimo esquadrão apenas para conversar.

— Hinamori, acho que não é uma boa hora...

— Por favor! – seu tom de voz mudara e estava ofegante, prestes a chorar – Só nós dois... Sem a Karin-chan, sem a Rangiku-san...

— Com o corpo desse jeito, você não vai conseguir nem usar seu shunpo. Outro dia conversamos. – ajudou a garota a se equilibrar, mas por precaução segurava em seus ombros

— Eu não me importo! Eu lhe imploro, Hitsugaya-kun...

O capitão não aguentou ver aqueles olhos castanhos, brilhantes pelas lágrimas, e aceitou. Pegou Hinamori em seus braços e a levou até um telhado distante e alto, para que ninguém os visse ou ouvisse. Pousou-a nas telhas e a cobriu com seu haori.

— Não precis—

— Silêncio. Você sabe que eu não suporto ver as pessoas doentes. – e sentou-se ao seu lado

Hinamori soltou um pequeno riso e se sentou, abraçando seus joelhos, olhando para o horizonte. Já estava tarde, o pôr do Sol apareceria em poucos minutos.

A garota estava confusa em seus sentimentos. Será que Hitsugaya estava realmente apaixonado pela Kurosaki Karin? Ou está apenas sendo gentil, o que não é muito comum? O que sentia por sua amiga de infância? Perguntas e perguntas...

— Hinamori?! O que aconteceu?! Por que está chorando?! – antes que percebesse lágrimas não paravam de cair e acabou descontrolando-se, chorando com toda a sua força

Jogou-se no ombro do pequeno capitão por impulso. Este não fez nada e acariciou os cabelos de Hinamori – que, por sinal, estavam soltos.

Quantas perguntas apareciam em sua mente, mas sem coragem de dizê-las pessoalmente. Há quanto tempo guardava um sentimento escondido e despercebido?

Justo por seu amigo de infância...

Aquele que, durante muito tempo, demonstrava uma preocupação que ninguém sentira antes. Que aceitava qualquer desculpa, por mais imperdoável que seja...

Que, poderia até mesmo desconfiar que sentia algo por você...

(...)

— Já se acalmou?

— Sim, desculpe-me...

— Deixe para lá. E então? Sobre o que gostaria de falar?

Já estava de noite. Ambos estavam um pouco constrangidos, mas, o que havia de errado em dois amigos conversarem pacificamente? Isto é, deixando os sentimentos de lado...

— Gostaria de me desculpar pelas minhas atitudes... Mas... Nem tudo fora para alimentar esse ciúme... – aproximava sua mão com a de Hitsugaya aos poucos até finalmente tocá-la

O garoto sentiu um choque percorrer pelo seu corpo... De novo essa sensação...? Agora, com Hinamori...?

— O que eu lhe disse no quarto esquadrão... Talvez tenha falado por desespero, mas...!

“- Hina—

— Não vá... Fique comigo. Por favor. Shiro-chan... Eu... Eu te amo...”

(cap III)

— Hinamori... Ainda está preocupada com aquilo...?

— ... Eu sinto que há possibilidade de ser verdade!! – gritou segurando forte sua mão e, logo em seguida, escondendo seu rosto entre seus joelhos

Hitsugaya não conseguiu se mover. Seus olhos se esbugalharam e não conseguiam parar de mirar Hinamori.

— Naquele dia que eu te beijei... Não foi apenas por ciúmes! Toda vez que penso, minha mente fala que era o que eu realmente desejava...! Shiro-chan... Eu sei que somos amigos de infância e praticamente irmãos, no entanto... – levantou seu rosto e chegava mais perto de Hitsugaya

— Hinamori... – inconscientemente, curvou seu corpo para frente

Ambos selam os lábios. O beijo era diferente do que a última vez, parecia mais fiel e apaixonado... E, talvez, até mútuo. Separam-se por um momento pela falta de ar, mas, involuntariamente, voltam o selamento.

Hitsugaya recobrou a consciência e se afastou. Estava vermelho e colocaram o braço em frente à sua boca, não acreditando no que acabara de fazer. Hinamori também se sentia envergonhada e desviou o olhar.

— S-Shiro-chan, desculpe-me, eu...!!

— Fui eu quem começou. Peço desculpas. – suspirou e tentou se acalmar

— I-imagine... Foi minha culpa... – tocou em seus lábios

— Isso não aconteceu. Vamos pensar assim. – levantou-se

— Eh...?

— Se for só isso que queira me dizer, sinto lhe falar, mas o certo seria dizer à Karin. – virou-se de frente para a tenente do quinto esquadrão – Vamos. Eu te levo de volta.

— Shiro-chan... – abriu um enorme sorriso e se levantou – Entendido! Falarei com a Karin-chan assim que voltar!

~ x ~

— “O que estou fazendo...?!” — pensava consigo mesmo pelos corredores do próprio esquadrão

Sua cabeça não parava de girar. Como pôde deixar que algo como aquilo pudesse acontecer?! E se alguém tivesse visto, o que pensaria...?!

E se fosse a Karin...?!

— “Por que estou pensando nela agora...?!” — abriu a porta de sua sala com força – Que droga!! Não estou entendendo mais nada!!

...

— C-Capitão...? – Matsumoto se levanta assustada do sofá – Aconteceu alguma coisa? Por que demorou tanto?

— Matsumoto... – aproximou-se de sua tenente e se sentou em uma pequena poltrona próxima ao sofá – Já acabou o expediente, dormiu tanto assim?

— Não, estava esperando o senhor... Mas vejo que não é uma boa hora... Não quer descansar?

— Estou bem... Só um pouco confuso...

— ... Desculpe por me intrometer na sua vida pessoal, Capitão, mas... Por um acaso, o senhor foi ver a Hinamori?

— Sim... – desviou o rosto e tentou não mostrar nervosismo – Ela só queria se desculpar pelos seus atos.

— “Só”...? Tem certeza, Capitão? Sua reiatsu... Está embaralhada e instável.

— Realmente não consigo esconder muita coisa de você, Matsumoto. Porém não precisa se preocupar. Logo voltarei ao normal.

— Capitão... “O senhor realmente não confia em mim, não é...?” — ficou cabisbaixa – Entendido.

Um silêncio pairou por um momento.

— E... Se não estiver ocupada ou com sono, será que poderíamos conversar um pouco? – quebrou o clima pesado – Eu sei que é incomum eu dizer algo do tipo, mas... Percebo que minha vida mudou desde que Karin veio para cá.

— Capitão...!! – a ruiva abriu um sorriso radiante e sentiu lágrimas em seus olhos – Claro! Estou livre agora, se o senhor quiser!! – jogou-se em cima de seu capitão, apertando-o contra seus enormes seios, sufocando-o

— O-OE!!

(...)

— Resumindo... Seu coração está confuso entre duas garotas, e você, um inexperiente em amor, tenta escolher com qual deseja estar sempre ao lado para o resto de sua vida!

— Oe, oe... – suportou sua raiva por um momento, mas logo a descarrega – É TOTALMENTE DIFERENTE!!! E eu não disse nada sobre “escolher”!!

— Certo, certo... Mas já entendi a situação. – suspirou – Capitão, desculpe falar, mas você é mesmo novo... Só está um pouco perturbado por estar entre a Hinamori, que é sua amiga de infância, e a Karin-chan, uma garota que conheceu no Mundo Real. E o que fizera à noite, bem... Nem mesmo o senhor sabe se aquilo foi o certo a se fazer...

— ...

— Diria que sua vida está um dorama(novela)!! – e riu um pouco, mas logo ficou séria e abriu um sorriso calmo – Deve estar sofrendo muito, não...?

— O que está dizendo? – cruzou os braços e virou o rosto – Sofrer com baboseiras?

— Sim. – segurou em seu queixo e fez Hitsugaya olhar para esta – Baboseiras que estão tomando conta da sua mente... Capitão, não minta para si mesmo.

— Mesmo eu ter começado a ficar assim, depois que a Karin veio para a Soul Society, não me arrependo de nada... – levantou-se e ficou de costas para Matsumoto – De tê-la deixado em nosso esquadrão, de ela ser supervisada por mim...

— Capitão... A resposta vai vir com o tempo, tenho certeza!

— Matsumoto...

— Capitão Hitsugaya e Tenente Matsumoto estão presentes?! – um mensageiro eleva a voz pelo outro lado da porta

— “Agora? De madrugada?!” O que houve? Abra a porta!

— Hai! – o mensageiro obedece – A shinigami Kurosaki Karin acaba de retornar, está sozinha e demonstra cansaço!

— Já voltou?! E onde ela está?

— Ela continua próxima ao portão Senkaimon! Disse que estava cansada demais para andar!

— Aquela preguiçosa... – sussurrou para si mesmo

— Certo, estamos indo buscá-la! – Matsumoto deu a ordem e o mensageiro se retira – Que coincidência, não?

— Sim... Vamos.

(...)

Aproximando-se do portão, nas escadas, Hitsugaya hesitava um pouco... Como reagiria frente à Karin depois do que acabara de ter feito? Será que esta teria mudado um pouco depois de pequeno período perto de sua família?

— Toushirou!! – do alto da escada a garota acena alegremente e desce rapidamente os degraus

— Oe, idiota!! Vai cair dess—

Dito e feito. Karin tropeça e seu capitão a segura no colo usando o shunpo. Deu-lhe um sermão até pousar no chão e a garota apenas sorria, animada. Pediu desculpas rindo. Ambos começam uma nova discussão, como sempre.

Matsumoto observava de longe a cena, mas, desta vez, não estava sorrindo. Apenas preocupada. Os três irão se machucar mais do que devem e do que já sofreram nesse mês. Resolveu deixar esse pensamento de lado e foi junto de Karin, dando-lhe um enorme abraço.

~ x ~

Hinamori olhava pela janela a enorme Lua. Ainda não conseguia dormir. De pouco em pouco tempo tocava em seus lábios e sorria um pouco.

— Shiro-chan...