Estávamos indo em direção ao ônibus que iria nos levar á Riverton.  Nenhum de nós dois puxava assunto.

 Como um bom cavaleiro, Balthazar parou e fez com que eu entrasse primeiro. O transporte já estava lotado. Vi Lucas sentando em um banco sozinho e em um banco atrás estava Raquel, sozinha também. Avisei Balthazar que iria sentar com ela, ele sentou logo na frente com Ross.

 - Olá. Já tem planos do que vamos fazer?

Respondi sem estar prestando atenção no que ela falava:

- Nem conheço o lugar.

- Que tal irmos ver um filme e depois lanchar?

- Claro. – Continue como se nada estivesse acontecido.

Os dois na nossa frente conversavam sem parar. Apenas fiquei olhando para a janela, vendo o brilho do sol iluminando a estrada. Estava escutando música assim como Raquel. 

(...) 

Quase peguei em um cochilo, mais Lucas o interrompeu virando para trás e avisando a chegada.

A cidade era pequena, não tinha muito movimento, mais eu precisava me divertir, e era isso que eu iria fazer.

 Saímos do ônibus e fomos ver o que se passava no cinema. Todos escolherem filme de terror, principalmente eu que era apaixonada por filmes assim. Decidimos ver ‘O Mistério das Duas Irmãs’. Esse filme já tinha estreado no cinema em 2009, mais Lucas disse que em Riverton só existia cinemas com filmes antigos. Dava para perceber pelo visual da cidade.

   Fizemos uma vaquinha e compramos os ingressos, a pipoca, o refrigerante e mais algumas guloseimas.

Já estávamos sentados nas poltronas, a fila do cinema era pequena, então foi rápido. Os lugares eram assim: Vick, Lucas, Balthazar, Eu e Raquel.

Eles eram amigos bem divertidos, me faziam esquecer completamente das coisas estranhas que haviam acontecido. Rimos bastante até que as luzes se apagaram e a escuridão e o silêncio tomaram conta da sala.

O Mistério das Duas Irmãs!

 O filme começou...

- AAAAAH! – Pulei com tudo da poltrona. Um grito muito alto tinha acabado de sair da boca de Vick.

- Seu boi. – Lucas levou um susto, pois estava bem do lado de Lawrence.

- Srt. Ross você é muito querido, sabia?  - Raquel tirava sarro de sua cara.

Caímos na gargalhada. O resto do cinema apenas ficava nós olhando, como se fossemos retardados.

Passaram-se 1 hora e 27 minutos.

 - O que? – Perguntei horrorizada quando o filme acabou.

 - Quem foi o ser brilhante que fez esse filme? – Raquel falou impressionada.

Saímos do cinema e fomos indo para uma lanchonete ali por perto comentando sobre o filme. Olhei para o lado vendo o ‘invasor do banheiro’. Ele olhou sério para mim e o encarei. Todos viram e logo perguntaram o que tinha acontecido, apenas falei que tudo estava as mil maravilhas, o que era uma grande mentira, pois eu estava morrendo de medo daquele guri com cara de estripador. Agora nem me divertir eu podia.

Entrando na lanchonete vi Lucas cochichando no ouvido de Balthazar. O que aqueles dois estavam escondendo? Será que Grindelwald estava contando tudo o que acontecera para Ross?

Sentamo-nos à mesa e o garçom entregou o cardápio, eu estava com a barriga roncando e resolvi pedir logo um suco e um lanche.

- E vocês o que vão comer? – Perguntou o garçom.

 - Eu e Lucas vamos querer uma cerveja.

- Não vou querer nada, obrigado. – Falou Vick e Raquel ao mesmo tempo.

Nossa, eu era a única que iria comer. Fiquei até com vergonha, mais comer é uma coisa normal da vida, ué.

 A comida e as bebidas já haviam chegado. Comemos, bebemos, conversamos e rimos.

Já tinha terminado de comer quando Lucas, com aqueles olhos azuis, lindos e maravilhosos, olhou para mim. Ele fez um sinal com a cabeça para o lado, para que fossemos só nós dois para a rua.  Eu correspondi e fui atrás dele.

- Quer me falar alguma coisa? – Perguntei curiosa.

- Balthazar me contou o que aconteceu no seu banheiro. – Olhou para baixo com as mãos no bolso da calça e entortou a boca.

- Ah, um idiota, tarado entrou no meu banheiro. Você o conhece? - Íamos andando pelas calçadas de Riverton.

- Sim. Ele é o capacho da Courtney, e também é um retardado e que se acha um gostosão. O melhor que você tem que fazer é ficar o máximo possível longe dele.

- O Erich (?) – falei com dúvidas o nome do ser –, me assustou um pouco, mais estou tentando esquecê-lo.

- É bom você que você esqueça-o mesmo.

- Por quê? – Botei a mão em sua frente fazendo com que ele parasse e me explicasse tudo.

- Como você mesmo disse, ele é um tarado e idiota. Só por isso mesmo. – Continuamos a andar.

- Tem certeza? – Eu sabia que não era só aquilo, tinha certeza que estavam escondendo algo de mim.

- Você não acredita em mim?

- Eu tento acreditar em você, mais parece que nada está claro.

- Como assim?

- O que eram aqueles vultos? – Fui direto ao ponto. Estava cheia de papo furado.

- H-hãm? – Enrolou-se.

- Lucas você sabe muito bem, agora me conte. – O nervosismo tomou conta de mim.

- Você estava bêbada, deve ser alucinações.

- Lembro muito bem do que vi. Lembro que ainda não estava bêbada. Balthazar ainda disse para você que alguém não sabia se controlar...

- Acalme-se. Eu não sei por que você viu esses vultos, você deve ter pirado. – Riu. – E... – Não deixe terminar de falar.

- PARE DE RIR, EU NÃO ESTOU BRINCANDO! – Odiava quando as pessoas ficavam contrariando-me. – Desculpe Lucas. – Pedi perdões depois de ter percebido o meio jeito grosseiro.

Ele levantou uma sobrancelha, deveria estar me achando bipolar, um grande defeito meu.

- Quando vamos voltar? – Precisava sair dali, deitar na minha cama e me acalmar.

- Vamos chamar o pessoal e depois chamamos o motorista e vamos embora. – Me abraçou aliviando-me.

- Ok.

Fomos andando, ele com seu braço ao redor de meu pescoço confortando-me.

Lucas avisou nossos amigos que estávamos indo na frente e piscou para Balthazar. Parecia que todos já sabiam o que havia acontecido, mais nem liguei.

O ônibus estava a nossa espera. Entrei e Ross veio logo atrás sentando ao meu lado. Abracei-lhe e logo fui correspondida:

- Estou confusa com as coisas que andam acontecendo. Parece que vocês escondem algo de mim. É um sentimento estranho.

- Tente esquecer aquele canalha. Quando precisar de alguma coisa me chame, estou aqui para ser seu amigo, te ajudar e te apoiar.

- Valeu. – Deitei minha cabeça em seu ombro.

Uma lágrima escorreu sobre meu rosto. Eu estava com saudade de minha cidade natal, Arrowwood, estava com saudades dos meus amigos, da minha antiga escola, dos meus pais, também estava com saudade do meu confortável quarto.

Lucas enxugou minha lágrima com seus dedos e me abraçou ainda mais forte.

- Vou estar sempre ao seu lado. Confie em mim. Eu irei lhe proteger. – Saíram de sua boca simples palavras que já fizeram com que eu me acalmasse, e sentisse que ele sim era o amigo do que eu tanto precisava, em quem eu poderia confiar.  

Pensei em chegar à escola, dormir e amanhã ler o diário de Patrícia, claro, se ela não estivesse no quarto.  Assim, eu poderia descobrir tudo o que estava enrolado em minha cabeça.

Será que os vultos tinham alguma coisa haver com o que Duerre escondia? E será que Erich também estava metido nisso tudo? Deu consciência, amanhã eu irei descobrir!