Bom, eu segui Justin. Isso mesmo. Eu estava disposta a tentar acabar com ele. Mas, isso era uma droga. Eu mal conseguia pensar em como fazer isso. Era diferente do que “aconteceu” com Ashley, eu fiquei determinada a acabar com ela. Era o meu lado frio. Eu segurava uma faca na minha mão, era pequena, mas, dava pra eu me virar. Respirei fundo, fechei os pulsos e apertei meu passo. A rua estava um pouco deserta. Cobri meu rosto com o capus.

Justin estava sossegado, ele andava sossegado e estava com seus fones de ouvido. Provavelmente no Maximo. Andei rapidamente, e então o encostei na parede, fazendo com que ele ficasse de costas pra mim. Ele não podia me ver.

– Qual é, cara... Quer dinheiro? Só falar. – ele repetia. Ele não parecia nervoso. Mais calmo do que o normal, mais calmo do que as outras pessoas ficam.

Fechei os olhos por um minuto. Eu tinha a minha faca apontada em seu pescoço. Droga, Susan.

[Acho que você tem um coração por trás dessa garota sombria, Susan.] E isso é horrível.

Eu me sentia inútil por não ter conseguido. Resolvi sair correndo dali. Susan, tantos anos de pratica... Você matou tantas pessoas por tantos anos e assim, um garoto chega e acaba com você? Tipo, você não conseguiu matá-lo? Você nem tentou Susan. Você é tão inútil.

Assim que cheguei em minha casa, me joguei no sofá. Eu me sentia cansada e tão inútil ao mesmo tempo. Já martelei pessoas, queimei pessoas, porque agora seria diferente? Será que estou me tornando uma garotinha boazinha? Não... Lógico que não.

– É, Susan... Você está se transformando em algo que disse que nunca seria. – olhei em minha frente, e uma garota estava ali. Na verdade, era eu... Eu estava ali.

– O que? Quem é você?

– Sim. Você esta tendo alucinações, Su. – ela riu. – Eu sou você. Sou alguém da sua cabeça.

– O que esta acontecendo? – suspirei. – Vá embora.

Bom, logo aquela alucinação sumiu. Eu era tão louca, né? Eu sei bem disso.

[...]

Era mais um dia de aula. Um dia chato e nojento. Escola. Eu odeio tanto isso.

– Bom dia, Susan. – disse a diretora. – Não vá perder seu horário desta vez.

– Ok. Obrigado.

Eu tinha pedido a diretora outro horário, para poder entrar na sala.

Assim que entrei na minha sala, vi algo que me fez querer morrer. [e isso não é coisa que eu digo todo dia] Eu nunca havia sentido algo tão estúpido como aquilo. E agora acho que a garota fria possa descobrir o que é o amor. [não acredito que eu realmente “disse” isso].

Bom, Mandy e Justin estavam sentados em uma carteira, se beijando... Se agarrando. E isso estava ficando desconfortável. Mesmo.

– Bom dia, classe. – disse a professora.

A aula inteira foi uma tortura. E olha que de tortura, eu entendo bem. Justin e Mandy ficavam rindo, trocando bilhetes e olhares a aula inteira. Susan, porque você não o matou? Seria todo bem mais fácil.

Assim que aquela aula acabou, eu fui correndo ao banheiro.

[Susan, você forte a vida inteira, porque fraca agora?]

Apoiei minhas mãos na pia e me olhei no espelho. Eu não acreditei no que via. Pela primeira vez em tantos anos, eu estava chorando, e ainda mais, por um garoto idiota. Como a garota que matou os pais sem dó alguma seria capaz de gostar de alguém que ela conhece em poucos dias? Deve ser porque ele me viu quando eu estava invisível.

Que droga, Susan! Você não sente, não chora e nem ama. Você só mata quem cruzar o seu caminho. Como pode existir “amor” ou algo assim por baixo da garota sombria? Nunca teve, porque agora?

– Droga! – eu gritei dando um soco no espelho.

O espelho se rachou, e dele caiu alguns cacos. Olhei minha mão, que estava ardendo. Ela estava vermelha e também tinha alguns pequenos cortes que saiam pouco sangue.

– Temos que ignorar a dor, Susan. - sussurrei a mim mesma.

Joguei um pouco de água no meu rosto. Eu me odiava por sentir aquilo. Viver sozinha não é tão fácil como parece. Você tem que achar alguma coisa para se distrair as vezes, por isso eu “caço”. Ou algo assim. Eu poderia até ir viver com a minha irmã, mas, acho que ela me odeia.

– Olha só se não é a querida, Susan. – ouvi uma voz fina, mas totalmente irritante seguida de uma risadinha.

– O que você quer? – me virei para ver quem era. Era Mandy, mas, sem seu clone dessa vez. Ela tava sozinha.

– Fofa, achou mesmo que ele iria querer algo com você?

– O que esta falando? Sobre o que? – respirei fundo, tentando manter a calma. – Hoje eu não to com paciência.

– Você sabe... E foda-se a sua paciência, queridinha.

– Eu... Eu... – ela me interrompeu.

– Você é órfã, magra demais, baixinha demais, feia demais e não é boa o suficiente pra ninguém. – ela ergueu a sobrancelha. – E você sabe disso.

– Como se eu quisesse alguém.

– No fundo, você tem medo, você morre de medo das pessoas e é fraca.

Tudo bem. Talvez fosse isso, mas, eu não ia ficar ouvindo ela dizer tudo isso. Não mesmo. Qual é, eu sou Susan Taylor, e não preciso que as pessoas apontem meus defeitos, e sei muito bem quais são.

Enfim, eu a empurrei na parede, logo pegando minha pequena faca do bolso e apontando para o pescoço dela. Ela ficou me fitando, mas ria um pouco.

– Cala boca, ou você morre. – falei baixo, mas com uma voz tremula.

– Sério? Morro? Você vai me matar? – ela disse gargalhando.

– Eu matei a Ashley, e posso muito bem matar você.

– Eu não tenho medo de você, Susan. – ela sorria sarcástica. Essa garota realmente me dava nojo.

– É melhor ter medo, ou corto sua garganta.

– Você é fraca, não pode fazer nada.

Sorri fraco. Levei a faca até o seu braço, Mandy me olhava ainda sorrindo um pouco, ela era um idiota, uma vadia. Fiz um corte, não tão pequeno, grande na verdade, em seu braço. Ela deu um grito e me empurrou logo após colocando a mão sobre seu braço. Eu diria que aquilo foi tão pouco, no que eu planejava fazer a ela.

– Se você contar isso a alguém, eu vou te torturar até a morte, entendeu?

– Vadia. – ela correu até o papel, que estava sobre a pia, pegando e colocando sobre o corte em seu braço. – Eu sei que você não é capaz disso, querida.

– Tudo bem, se você acha.

A garota me olhou com nojo e correu dali. Eu sei, aquilo não foi nem um pouco de ameaça a ela, eu devia ter feito muito mais, devia ter afogado ela na privada e batido sua cabeça varias vezes no espelho até sair muito sangue, mas, talvez fosse pior. Eu poderia ser presa, na escola tem câmeras, certo? Enfim, me olhei no espelho, talvez ela tenha razão. Eu me faço de monstro, mas no fundo, eu tenho medo, muito medo.

Minha franja estava cobrindo meus olhos negros, enquanto eu me olhava no espelho ‘rachado’. Talvez esteja na hora de crescer Susan. Aliás, até agora, eu não fiz nada além de me esconder e matar pessoas. Eu sou tão inútil. Mas, eu escolhi ser assim.

Eu sou um total fracasso, sempre fui, sempre vou ser. Todos têm razão. Agora entendo bem porque minha mãe tinha vergonha de mim, ela nunca me abraçava ou comprava algo pra mim, ela nunca me chamava de filha ou de palavrinhas carinhosas, não que eu quisesse isso. Ela só me mandava fazer as coisas, mandava fazer direito e me levava em psicólogos. Ela só sabia mandar e nunca me dava amor ou carinho. Ela sempre colocava a minha irmã em primeiro lugar, porque minha irmã era maravilhosa e pra ela minha irmã era uma deusa, enquanto eu? Eu era o patinho feio da família que nunca virou cisne.

– AAAAAAARGH, DROGA! EU ODEIO TUDO ISSO! – eu gritei, e dessa vez joguei minha faca no espelho.

O mesmo ficou em pedacinhos e fez um grande barulho. Como eu sabia que teria conseqüências, tratei de pegar minha faca novamente, guardá-la e sair dali correndo. Eu odiava aquilo e odiava ter que suportar tudo isso. Eu sou mesmo uma revoltada, uma louca.