- Isso é o que você chama de câmera? – Katie perguntou incrédula, fitando a amiga.

                Dana segurava uma câmera da Nikon enorme, daquele tipo que as pessoas gostavam de classificar como “semi”-profissional, mas intimidadora demais para Katie. A coisa tinha tantos botões que ela nunca adivinharia qual apertar para bater a foto, além de parecer o ultimo modelo lançado, mesmo que Katie não entendesse sobre isso. Era visível que David, como um bom filho de Hefesto, fizera umas alterações aqui e ali, como acrescentar um apoio mais confiável de encaixe para a alça, reduzir o peso trocando uma ou outra engrenagem ou ainda escrever “Danna” em letras de bronze celestial no canto inferior esquerdo.

                A filha de Dionísio deu de ombros.

                - Do que mais iria chamar? Óvni? – ela disse irônica. As garotas haviam combinado de encontrar na Arena, mas acabaram por cruzarem os caminhos quando Tracy insistiu em deixar o livro em seu chalé, ao lado do de Dionísio. Agora, haviam acabado de sair da ala dos chalés e rumavam em direção ao local.

                - Não acredito que vou tirar uma foto assim... – Juliet murmurou inconformada, olhando tristemente para suas roupas. Ainda estava completamente de azul turquesa, mas naquela manhã optara por uma camiseta de pano fina estampada (que antes era rosa e branco, mas agora estava mais para azul-claro e azul turquesa) e um short jeans curto.

                Katie se perguntou como Travis e Connor fizeram para invadir o chalé durante a noite e trocar as roupas dela... Sim, Katie sabia que não eram as mesmas roupas. Ela conhecia Travis bem o suficiente para saber suas táticas. Apesar de ofensivas e irritantes, Travis nunca machucaria ninguém. Ou causaria danos permanentes. Quer dizer, não de propósito. E, de alguma forma, isso a fazia acreditar que ele falsificara e trocara todas as roupas de Juliet, não as tingira. As originais deviam estar em algum lugar por aí.  Ela só não sabia onde.

                Acrescentou mentalmente isso a lista do que perguntar a Travis Stoll mais tarde.

                - Ah, Ju. Bobagem. – Clarisse provocou em tom ameno, parecendo pouco ligar para o assunto e usando o apelido que Juliet odiava. – Você fica linda de azul vômito... Quer dizer, azul turquesa. E, alem do mais, nós temos que ter uma prova de que isso já aconteceu, não é?

                - Humpf. – ela bufou em resposta, mas sem dizer mais nada. Harley olhou solidaria para a melhor amiga, abrindo a boca para conforma-la e mudando de ideia no ultimo segundo.

                Elas entraram na arena, ouvindo o familiar bater de espadas.  Chris e David lutavam em um canto. Chris parecia estar se dando melhor, apesar de sem meio difícil dizer pela velocidade que se movimentavam. Do outro lado, Percy ganhava com facilidade de Scott e Connor juntos, e Polux lutava acirradamente com Travis. Jake estava parado próximo aos bancos, jogando água no rosto.

                - Connor, ESQUERDA! – Percy berrou olhando para Travis a sua esquerda e defendendo um golpe de Scott com outro ainda mais forte que passou a milímetros do ombro do Filho de Ares.

                - EU SOU O TRAVIS! – o garoto gritou em resposta, defendendo de forma desajeitada um golpe de esquerda de Polux.

                - TANTO FAZ! – Percy gritou ao mesmo tempo em que dava uma rasteira em Scott e desviava de um golpe de Connor. O primeiro caiu no chão espumando, com a espada a pelo menos um metro de distancia, e o segundo deu outro golpe, dessa vez de esquerda, que atingiu o abdômen de Percy e fez com que a espada fosse ricocheteada por sua pele.

                - HEY, DAVID! – Danna chamou o namorado sorrindo. O garoto olhou ao seu redor confuso, baixando a guarda tempo o suficiente para que Chris desferisse um golpe com as costas da espada que o fez cair no chão.

                - Isso é baixaria. – ele murmurou se levantando desengonçado e pegando a espada com a mão esquerda.

                - Isso é uma vitória. – o oponente devolveu sorrindo. Danna arregalou os olhos surpresa e correu até o namorado para ajuda-lo a se levantar, apesar dele já estar de pé quando ela finalmente o alcançou. O filho de Hefesto sorriu, abraçando-a pela cintura e depositando um beijo em sua boca.

                - Hey. – Percy cumprimentou Annabeth beijando-a também, segundos depois de ter desarmado Connor com um golpe certeiro. Polux fez o mesmo com Tracy e Chris com Clarisse.

                Katie analisou os garotos, pensativa. Há quanto tempo deviam estar ali? Uma, talvez duas horas. E pareciam... Completamente gatos, na falta de palavras. Nem haviam chegado a ficarem suados, apenas levemente vermelhos pelo calor. Certo, Percy, Jake e Scott estavam sem camisa, proporcionando certa visão privilegiada de seus músculos, mas ela não estava falando disso.

                 Era engraçado como os semideuses podiam ser tão diferentes dos mortais. Tão... Tão mais, se é que você entende. Só Jake sem camisa faria com que 60% das garotas mortais que Katie conhecia desmaiar. Ela se perguntava se tinha o mesmo efeito com as garotas, mas... Não, não podia ter. Katie conhecia mortais. Muitos. E, quando ia à escola, nenhum deles olhava mais do que duas vezes para ela.

                Travis, Connor e Jake também se juntaram a eles sorrindo divertidos.

                - Sorria! – Danna exclamou para David, batendo uma foto dele. O garoto piscou confuso e ela riu divertida ao olhar o visor, tendo que fazer certa ginástica para conseguir fazer isso com todo aquele sol.

                - E então? – Jake perguntou por todos, parecendo surpreso pelo fato das garotas aparecerem ali, assim sem avisar. Ele balançou a cabeça com se fosse um cachorro, de forma que as gotículas de água em seu cabelo se espalhassem e pontilhassem o chão arenoso.

                - Nós vamos “testar” a câmera/óvni de Danna. – Harley falou brincalhona, apontando com o queixo para a amiga que estava bem entretida em tentar recuperar a câmera do namorado, que a segurava cada vez mais alto e tentava apagar a foto que ela tirara..

                - Então vamos começar. – Danna disse finalmente com a câmera em mãos. Ela apontou para Percy que ainda mantinha a mão na cintura de Annabeth, abaixando o rosto para o visor pequeno e tirando uma foto sem permissão.

                - Hey! – Annabeth protestou corando indignada e escondendo o rosto no namorado, que sorriu divertido, um milésimo de segundo antes da foto ser batida. – Por que...?

                - Porque fotos espontâneas são muito melhores. – Danna a interrompeu antes que concluísse a pergunta, afastando o rosto para ver o resultado e sorrindo satisfeita ao constata-lo. – Vocês não acham falsas? Aquelas fotos que todos estão olhando para a câmera com sorrisos fixos... Agh. Eu acho.

                Katie sentiu um braço forte envolve-la pela cintura e puxa-la para a esquerda delicadamente. Ela se chocou contra outro corpo, meio cambaleante. Aquele cheiro... Sabão, menta e... Bom, algo identificável, mas que para ela tinha cheiro de casa. “Stoll” ela teve tempo de pensar e produzir uma careta, antes dos lábios dele se prensarem contra sua bochecha. “Click”. O som familiar a despertou. Ah, não. Dana não...

                - Não pense que eu me esqueci de hoje de manhã. – Kay ralhou baixinho com ele, que apenas sorriu brincalhão e a apertou um pouco mais contra si. Ela soltou outra careta, se desvencilhando dele e indo até a suposta amiga. – Você não fez isso. – ela disse irritadiça.

                - Fiz sim. – Dana respondeu desafiadora, empinando o queixo para ela. – E não adianta pedir. Eu não vou apagar e é melhor manter suas mãos longe dessa câmera, fofinha.

                Katie bufou. A sua esquerda, Juliet cruzou os braços impaciente. Atrás dela, Connor e Travis trocaram um sorriso cúmplice que Danna pareceu compreender completamente. Os dois deram um passo a frente e levantaram Juliet pelo braço, beijando seu rosto, um de cada lado, simultaneamente. A filha de Demeter arregalou os olhos surpresa. “Click”.

                - Há-há! – Clarisse riu atrás da fotografa, vendo a foto junto com ela.  Os irmãos soltaram Juliet delicadamente, que bufou assim que seus pés tocaram o chão.

                - E Mary? – Scott perguntou para ninguém em especial.

                - Não era ela lá atrás com aqueles filhos de Afrodite? – Clarisse respondeu com outra pergunta, olhando em direção à saída da arena e parecendo pensativa. Harley abriu a boca para dizer algo, provavelmente para desmenti-la, mas antes que emitisse qualquer som, Scott apertou com força o cabo de sua espada, marchando em direção à a ala dos chalés com uma expressão perigosa.

                - Ótimo. – Connor bufou irônico, lançando um olhar de censura para Clarisse. A filha do Deus da guerra deu de ombros, com um sorriso travesso no rosto.

                - Acho melhor irmos para ter certeza que ele não faça nenhuma idiotice. – Polux disse pensativo. – Que horas são? Talvez devêssemos comer alguma coisa também.

                - É. – Percy concordou soltando Annabeth. – Divertem-se vocês. Nos encontramos...?

                - Na praia. – Danna respondeu sem consultar ninguém, ainda encarando o visor da câmera e apertando os botões de uma forma aparentemente aleatória à Kay. – Um pouco adiante dos fogos de artifício. Onde nós ficamos ontem à noite, mais ou menos.

                - Certo. – Travis concordou com um sorriso, seguindo os outros que já saiam da arena, mas só depois de se virar para olhar Katie novamente como se precisasse disso para viver. Ela corou, desviando o olhar para o chão e pensando em como seria oportuno ser uma filha de Hades para poder ser engolida por ele.

                - Nós já sabemos Kay. – Annabeth disse assim que eles saíram, pousando a mão em seu ombro.

                - O que? – Katie perguntou surpresa, franzindo o cenho e corando um pouco mais.

                - Da briga. – Tracy esclareceu revirando os olhos. – Não queria te contar nada, mas o chalé de Afrodite não tem falado em outra coisa desde sexta.

                - Ah, isso. – Katie murmurou baixinho, sentindo o rosto arder de tão furiosamente que estava corando agora.

                - Mas nós queríamos ouvir isso de você. – Danna disse soltando a câmera e voltando sua atenção para a amiga.

                - Isso mesmo, florzinha. – Clarisse confirmou passando o braço por seu ombro e balançando-a de uma forma engraçada. – Pode ir falando.

                - E então eu disse que ele tinha uma semana para me convencer que eu estou melhor com ele do que sem ele. – Katie concluiu, dando seu relato detalhado das ultimas semanas antes da briga por, finalmente, completo.

                “Nah! Eu quero detalhes! Vai ter que fazer melhor do que isso.” Tracy dissera assim que ela começou a falar. E quantos detalhes. As meninas não deixavam passar nada, sempre perguntando e exigindo mais detalhes. Katie estava começando a achar que, com mais cinco minutos, se irritaria de tanto ouvir a própria voz.

                - Espera. Isso foi antes ou depois dele falar a coisa de “mudar a cor da lua para te ver feliz”? – Mary perguntou fazendo aspas no ar com os dedos. Ela encontrara as meninas um pouco depois que Katie começara a contar seu relato detalhado, como seus longos cabelos loiros-mel e o típico sorriso divertido.

                Tinham andado para a praia, onde Danna começou a tirar fotos enquanto Kay falava. No começo foi m pouco irritante, mas ela acabou se acostumando com o familiar “Click” da câmera. Era levemente engraçado, na verdade. Quase como ter um paparazzi particular.

                Quando Kay chegara à parte que Travis trocava as roupas de Juliet, a irmã ficou vermelha como um pimentão e saiu de lá murmurando algo sobre ter que falar com Quiron sobre a festa. Harley seguiu a amiga quase que de imediato, parecendo não saber o que fazer.

                - Depois. – Katie respondeu revirando os olhos.

                - E aí? – Annabeth forçou estranhamente interessada. Kay franziu o cenho para ela, mas achou melhor não comentar nada.

                - E aí só. Eu disse que ele tinha uma semana, e desde então ele fica fazendo coisas loucas para tentar me reconquistar. – respondeu dando de ombros, rezando para que elas não perguntassem mais nada. – Ponto. Fim da história.

                - No way! – Tracy exclamou irritadiça, cruzando os braços. – Você vai nos contar, em detalhes, o que ele fez. Nem adianta esconder, eu já ouvi boatos suficiente no chalé número dez para saber que não foi só isso.

                - Certo, certo. – Katie murmurou se dando por vencida. – No dia seguinte, era o meu dia de fazer a inspeção dos chalés masculinos, mas eu acordei atrasada e...

                Ela continuou a contar. Contou sobre o encontro com Percy, o com Clarisse no chalé de Ares, a passagem no chalé Hefesto (que fez Danna murmurara algo parecido com “Eu sabia!” e semicerrar os olhos quando ela falou sobre as camas estranhamente arrumadas) a inspeção do chalé de Apolo (que fez Mary revirar os olhos quando ela explicou as cantadas que Jake lhe dera na esperança de aumentar a nota do chalé) e por fim o que encontrou no chalé de Hermes (Tracy soltou um gritinho hesitado nessa hora, animada demais para se conter).

                - Você brigou com ele de novo?!?! – Mary exclamou quando ela contou sobre o que disse a respeito do que encontrara. Kay encolheu os ombros um pouco surpresa, sentindo como se Mary estivesse brigando com ela.

                - Bom... É. – respondeu quase que sem graça.

                - Você é uma causa perdida. – Annabeth murmurou balançando a cabeça negativamente para ela. A garota se encolheu um pouquinho mais.

                - O que você esperava que eu fizesse? – devolveu.

                - Não fosse uma completa idiota, talvez? – Clarisse sugeriu ironicamente.

                Katie deu de ombros e voltou a contar o que aconteceu depois. Explicou sobre o ataque louco de Juliet e seu primeiro encontro com Jessie. Sobre quando mostrara o acampamento para a nova irmã e encontrará Connor na arena logo após dele ter sido derrotado por Juliet (fato que Danna pareceu achar incrivelmente irônico). E, enfim, sobre a conversa que tivera com Juliet a noite na fogueira. Continuou falando, até chegar no sábado. Mary pareceu achar engraçada a forma com que Juliet a acordara, mas não falou nada. Mal começou a falar sobre a festa que Tracy a interrompera.

                - Ah! Uma festa! – ela exclamou em um tom de voz agudo e estranho.

                - É. Sabe... – Katie disse. – Eu estava pensando se você não podia, sabe.... Desenhar nossos vestidos. Se não for muito trabalho, claro. Podemos dar um jeitinho para costurá-los e tudo. Mas se não der, tudo bem. Eu só estava imaginando o que Hades íamos usar e-

                - Claro! – Tracy exclamou animada, com a voz ainda mais aguda. – Porque você não pediu antes? Quer dizer, é obvio que eu já estava pensando nisso, mas eu achei que você ia me matar!

                Kay voltou a falar sobre o que acontecera. Sobre quando Travis a levantara daquele jeito vergonhoso para leva-la até ali (“Sabia que tinha visto alguém fazer isso!”) e sobre as músicas (“O que ele estava ouvindo?” “Paradise city, do Guns and Roses” “Take me dow to the paradise city...” “E depois?” “Dani California, Red Hot” “ Isso é tãão irônico” “O que?” “Ah, você sabe. A camiseta do Jonatah não tinha um verso dessa música? ‘California Rest in Peace’?” “É mesmo... Não tinha pensado sobre isso.”) finalmente chegando naquela manhã.

                Sentiu seu rosto arder furiosamente quando contou sobre o.... “Episódio” dos campos de morango (outro grito agudo de Tracy). Sem falar do estranho formigamento que sentiu em seus dedos quando falou sobre o tapa que dera nele (“Ah, não. Você não pode ter feito certo. Se tivesse, ele ainda estaria com as marcas agora pouco”).

                - E só. – Katie concluiu em um suspiro, feliz por finalmente ter acabado.

                - Você vai não vai? – Dana perguntou sem tirar os olhos do visor da câmera.

                - Vou... O quê? – a filha de Demeter repetiu distraída.

                - Perdoa-lo – Mary esclareceu revirando os olhos. – Se quer saber, eu acho que devia.

                - Mas-

                - Mas nada! – Tracy a interrompeu, irritadiça. – Você sabe quantos caras fariam isso?

                - A maioria teria desistido na primeira briga. – Clarisse concordou espanando um pouco da areia que grudara em sua perna e mudando de posição levemente desconfortável.

                - Ele realmente te ama. – Annabeth disse afastando o cabelo loiro dos olhos. – Não dá para simplesmente ignorar isso como se não fosse nada.

                - Você é o problema, Kay! – Tracy voltou a dizer no mesmo tom de voz que Mary usara antes. – Engula a sua droga de orgulho, deixe de ser teimosa e não desperdice sua chance de ser feliz! Pense sobre o que acabou de nos contar! Vale a pena ficar brava?

                - Não. Não vale. – Katie murmurou tristemente, tentando escolher as palavras com se elas pudessem machucar. – É só que-

                Ela parou de falar, fitando as sete figuras altas e musculosas que se aproximavam dela pela a esquerda, andando em ritmo reduzido pelos declines da areia da praia. David foi o primeiro a se sentar, sem perder tempo para tirar a câmera das namoradas e começar a ver as fotos que ela tirara. Depois foram Scott, Jake, Polux, e Chris, que se jogaram na areia sem pararem de discutir um assunto do qual Katie nem perdera tempo tentando entender, lhe parecendo confuso demais.  Percy foi o próximo, mas quando foi se sentar ao lado de Annabeth, acabou dando um passo em falso e caído na areia de uma forma que espalhou um bocado de areia para cima da loira. Ela bufou levemente irritada, mas sorrindo, ao mesmo tempo balançava seu short na esperança de pelo menos parte da areia saísse.

                - Quer? – Travis perguntou estendendo uma lata de Diet Coke para ela. Ele e Connor haviam parado na frente da semi-circulo mal organizado virado para o mar que ele formava na areia e, deixando um pesado container na areia entre os dois, começaram a distribuir as bebidas.

                O de sempre, pensou Katie. Apenas mais uma típica tarde de domingo no acampamento. Ela aceitou a lata com um sorriso, abrindo-a e saboreando a bebida. Seu extinto a mandava perguntar de onde aquilo havia vindo, mas já sabia que Travis responderia com um “Tenho meus contatos” e seu típico sorriso  eu-sei-mais-do-que-você, então nem se incomodou. As meninas estavam certas. Não valia a pena.

                - Chers! – Tracy exclamou erguendo a lata em um gesto puramente simbólico.

                - Uhuhuuuuuu! – os outros gritaram em resposta em um coro desigual, batendo as latinhas uma nas outras e rindo descontraídos. Travis se jogou na areia ao lado de Katie, ainda sorrindo.

                Em algum ponto, Katie se deixou levar e reencostou a cabeça no ombro dele, que passou a mão por sua cintura. Ela sorriu. Gostava de ficar assim. E com assim ela queria dizer com ele. Por piores fossem as brigas e desentendimentos, ela ainda amava Travis Stoll.

                Não que fosse admitir isso. Certo, ela o amava. Mas as coisas não acabavam por ali. Quando estava juntos era como um turbilhão de emoções, e ela nunca sabia qual devia escutar. Agora, parecia que estava escutando a errada. Afastou esse pensamento. Preferia ficar ali, sentindo a brisa marítima bater em seu rosto e sentindo o cheiro dele, enquanto conversava e ria. Era mais fácil. Era mais simples. Bom, na verdade, as coisas sempre pareciam mais simples quando ela estava com ele. Travis tinha um jeito de fazer com que tudo parecesse uma possibilidade, por mais absurda que fosse. Um jeito de fazer parecer que nada fosse impossível.

                Depois de algum tempo, o sol começou a cair vagarosamente. Dana e Tracy foram as primeira a sair, falando que tinha de trocar de roupa. Depois foram Mary e Jake, quando uma irmã deles os chamou. Percy também se levantara em algum momento, andando em direção à casa grande e justificando que tinha de falar com Quiron. Assim, ficaram apenas Polux, Tracy, David, Annabeth, Connor, Travis e ela.

                -Não! Esse filme é uma droga! – Katie exclamou contrariando Polux. Os dois estavam em uma discussão acirrada sobre cinema. Katie sempre fora uma fã de cinema e, bom, Polux era filho do Deus do teatro. Talvez estivesse dentro do pacote amar cinema. Ela gostava de discutir com ele, sempre acabavam chegando a conclusões inusitadas.

                - Como assim? É um filme incrível! – ele se defendeu. Ao seu lado, Tracy e Annabeth conversavam sobre algo que Kay não conseguia ouvir, mas ela chutaria que era o ultimo bom livro que leram. Já Connor, David e Travis, falavam sobre a próxima captura a bandeira que teria.

                -Claro! É sempre incrível quando todos morrem no final. – Katie disse ironicamente revirando os olhos. Ela sentiu Travis parar de falar e se acomodar novamente para olhar para ela.

                - Sobre qual filme vocês estão falando? – ele perguntou com um sussurrou, de uma forma que só ela entre as outras 6 pessoas, conseguisse ouvir.

                - Não sei. Ainda não assisti. – ela respondeu no mesmo tom de voz, com um sorriso travesso. – Mas pelo que Danna falou, é uma droga.

                - É apenas uma mera impressão minha, ou Katie Gardner gosta de contradizer as pessoas? – ele sussurrou rindo baixinho. Katie revirou os olhos para ele, minimamente corada.

                - É apenas uma mera impressão minha, ou Travis Stoll gosta de irritar Katie Garner? – ela sussurrou de volta. Ele riu baixinho de novo. – Polux me deve 10 dracmas desde o mês passado. – ela justificou dando de ombros.

                Quando olhou para o outro lado da roda de novo, viu que Polux acabara de se levantar. Ele deu de ombros, dizendo que Danna havia mandado uma mensagem falando para que voltasse para o chalé imediatamente. Depois que ele se fora, Katie olhou para duas conversas pensando sobre em qual devia participar. David, Connor e Travis estavam conversando sobre qual era o melhor time de basquete. Katie não sabia nada sobre basquete, então se voltou para Tracy e Annabeth. Elas ainda falavam sobre livros, mas agora haviam mudado para um que Katie sequer sabia o nome. Elas pareciam concordar em tudo, então era provável que fosse realmente bom. Talvez Katie o pegasse emprestado com Tracy mais tarde.

                Dando de ombros, ela se aconchegou em Travis, decidindo por não participar  de nenhuma conversa. O sol já havia sumido há muito tempo, deixando o acampamento todo com as estranhas luzes de uma quase-noite. A brisa marítima balançava as folhas da arvores no bosque, parecendo cada vez mais e mais fria. Katie se encolheu levemente, com frio, mas com a enorme vontade de nunca sair dali.

                - Acho melhor eu começar a andar. – ela disse depois de um tempo, se desvencilhando de Travis para se levantar. De repente, a brisa marítima passou de fria a cortante, fazendo com que ela desejasse voltar para o lado dele. Katie deixou um calafrio involuntário percorrê-la, mesmo com casco de malha que usava em cima do vestido, que agora lhe parecia curto de mais.

                Travis segurou sua mão em um pedido silencioso.

                - Não, eu realmente tenho que ir. Vou acabar congelando se continuar aqui. – ela se justificou sorrindo. Travis deu de ombros, se levantando e ficando ao lado dela. – Aonde você vai?

                - Te levar até o chalé. – ele respondeu dando de ombros novamente.

                - Travis, não precisa. – ela disse levemente irritada, cruzando os braços para ele. – Eu sou bem crescidinha. Sei me virar.

                - Não disse que não sabia. – Travis respondeu, caminhando ao seu lado. Katie bufou, mas não falou nada. Eles continuaram em um silêncio confortável e, quando Katie deu por si, já estava na varando do chalé número 4.

                - Te vejo mais tarde então. – Kay disse levando a mão até a maçaneta.

                - Você não está brava... Está? – Travis a impediu segurando sua mão. Katie deu de ombros, rindo baixinho.

                - Talvez você devesse começar a me dar mais motivos para não ficar brava com você do que o contrário. – ela respondeu com um sorriso misterioso, virando a maçaneta e entrando no chalé sem esperar uma resposta.