Giuliet Volturi - Dark Side Of The Earth escrita por G_bookreader


Capítulo 9
Irmãos Volturi - 1567




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/148283/chapter/9

Antes de amanhecer, ouvi Salazar sair de casa, sem falar nada. Aquela bagunça estava começando a me dar nos nervos e, mesmo sabendo que não era minha casa e que não deveria mexer nas coisas dos outros, comecei a arrumar. Demorou um pouco para imaginar uma arrumação descente, mas em algumas horas as coisas estavam mais no lugar o possível e a sujeira havia sido banida da casa. Até deu para saber que era um quarto, uma sala e um anexo que serviu muito bem para por as tralhas. Agora a casinha até parecia adorável. Voltei para a minha cadeira para espera-lo voltar, não ia sair para encontrar com Andreas sem ter a certeza de que Salazar estava quietinho dentro de casa. O Sol já havia aparecido quando ele entrou, levantou as sobrancelhas, deu de ombros e se sentou novamente em frente à lareira. Tudo bem, eu não ligo de ser ignorada pela manhã.

Sem falar nada também, saí. Eu estava acostumada com a ausência de diálogo, não havia problema nenhum se ele achava bom ficar horas a fio parado de frente para a lareira. Antes de seguir para a praça, passei por uma das casas aonde havia uma costureira. Bem, boa oportunidade de conseguir uma roupa mais civilizada. Encomendei algumas peças e em troca iria ajudar a tirar a neve da porta e a cortar alguns panos no dia seguinte. Era melhor do que passar o dia naquela casa.

Fui então para a praça, aonde me sentei em um banco de madeira e aguardei qualquer coisa acontecer. Havia um chafariz no meio da praça, mas não jorrava água, devia ter congelado no frio Russo.

Levei um susto quando dois seres que surgiram do nada pararam sentados do meu lado. É, vampiros levam susto.

-Então, você é a garota nova no lugar? – Perguntou o da direita, enquanto eu ainda me recuperava.

-Ouvimos falar de você. – Falou o da esquerda. – Prazer, Lionel King.

Ele acenou com a cabeça, uma espécie de reverência, ou sei lá o que. Era baixo e ruivo, com uma expressão falsamente séria no rosto.

-Giuliet Collins.

A outra voz surgiu do outro lado.

-Paco Salazar. – Apresentou-se. Cabelos negros e um bigode fino um pouco fora de contexto.

-Ok rapazes, quando disse “vamos lá busca-la” eu não quis dizer “vamos lá assusta-la”. – Andreas disse, aparecendo só naquela hora, meio que rindo. – Desculpe, eles são meio constrangedores de vez em quando.

-Constrangedores... – Resmungou Lionel, revirando os olhos.

-Tudo bem, são melhores do que as pessoas sem senso de humor. – Respondi, sorrindo.

-Gostei dela. – Lionel sorriu também.

-Vamos até os outros. Estão esperando.

Enquanto andávamos, já afastados da praça, me dei conta de uma coisa.

-Espera! Você disse que seu sobrenome é Salazar, você é parente ou algo do tipo do... – Eu não sabia o primeiro nome do outro Salazar. – Do vampiro do setor sete.

-Meu tio avô. Xavier Salazar. – Ele disse, tranqüilamente. – Não fala comigo desde que me rebelei contra suas idéias tradicionalistas. Por isso saí de casa. Andreas me disse que você estava na casa dele. De onde o conhece?

-Na verdade, não conheço. Kratos me mandou aqui, não sei se conhece.

-Conheço.É um cara legal, o Kratos. Lutaram juntos em algumas batalhas, mas meu tio ficou muito preso a ideais enquanto o outro não ligava para absolutamente nada. Não se falam a um tempo.

-Entendo.

-Ele sabe que você anda saindo com a “gangue de pilantras” ? É como ele nos chama.

-Se ele sabe meu nome, já vou ficar impressionada.

Ele riu. Se ele não dissesse que era parente de Salazar, eu jamais saberia.

Andamos muito até chegar a uma casa de madeira grande, que mais parecia um galpão, afastada do centro do que eu vim a descobrir ser o setor dezenove. Se você queria um lugar para se esconder, aquela era a casa. Não havia vizinhos, as casas mais próximas estavam longe, quase dois quilômetros. Eu podia ouvir vozes lá dentro. Me pareceram umas sete.

-Eu sou a única “não-filiada” disso, mesmo? – Perguntei, insegura.

-Ah, não! – Me tranqüilizou Paco. – Isso não é uma reunião profissional. É uma espécie de encontro, para se divertir, conversar. Nada demais.

Não estava convencida. Tudo que eu não queria era ser invasora em uma reunião da revolta. Por um momento a idéia me pareceu tentadora, mas não, era melhor que não fosse mesmo.

Eles entraram, comigo logo atrás. As pessoas lá dentro estavam alegres, conversavam distraidamente. Era uma cena muito nova para mim, nunca tinha visto nenhum de nós tão... humanizados. Era uma sensação muito boa saber que nem tudo era tão ruim quanto eu imaginava.

-Gente, tem uma pessoa aqui. – Disse Andreas, como se eles já não tivessem me notado. – Nova na cidade e precisando urgentemente de um ciclo social descente.

Alguns deram uma risadinha, e voltaram a conversar. Lionel e Paco entraram em uma rodinha, mas Andreas me puxou para dois que estavam um pouco à parte. Sim, me puxou. Eu o conhecia faziam dois dias, mas puxou.

-Então, você é a garota do setor sete? – Disse a loira baixinha e simpática, que não devia ter passado dos dezessete quando foi transformada.

-Eu mesma.

-Prazer, Fátima Volturi. Meu irmão falou que você está na casa do Salazar. Boa sorte.

-Prazer. Então, vocês dois são irmãos?

-Nós três. – Disse o rapaz do lado, que aparentava ter vinte anos, cabelos loiro escuros, e exageradamente grande. Só perdia para o Kratos, até porque vencer um ex-guerreiro espartano é um pouco difícil. – Eu sou o do meio. Giacomo.

-Prazer.

-Então, você tem alguma família?

Uma pergunta normal para a época. Antigamente, o modo mais comum de transformação era mais de um indivíduo por família. Tudo porque passou uma fase que se achava que a espécie deveria crescer, logo, quanto mais melhor. Aí o resultado, três irmãos.

-Não, da minha família fui só eu, felizmente. Vocês são italianos, se não me engano?

-Sim, da região da Toscana. Nossa família tinha uma fazenda por lá, não muito grande. Bom lugar para se viver.

A conversa fluiu tranqüilamente, sem preocupações ou momentos constrangedores. Senti um conforto pouco comum perto de outros da minha espécie, o que era ótimo. Giacomo era muito engraçado, tirava gargalhadas a todo momento. Além dos irmãos, conheci também os outros do lugar. Os únicos dois casais que haviam eu reconheci como sendo os da confusão no dia anterior. Estavam meio afastados, andando sempre em grupinhos diferentes, ignorando uns aos outros. Eram as únicas pessoas que pareciam estar fora do clima de alegria predominante no lugar. Foi assim até de noite, estava tão distraída com o grupo que quase me esqueci que tinha que voltar para a casa de Salazar. Paco mandou um abraço para ele, rindo, obviamente eu não daria o recado. Foi com desânimo que me despedi e fui para casa. Quando entrei, Salazar estava lendo um livro no que agora, conforme eu deixara de manhã, era uma mesa, perto da entrada.

-Boa noite. – Eu disse, educadamente.

-Onde esteve o dia todo? – Ele perguntou, rispidamente.

-Por aí descobrindo a cidade.

-Por dez horas? – Salazar levantou o olhar para mim, desconfiado.

-O lugar é grande. E não há muito o que se fazer aqui dentro, sabe...

-Hum...

Ele voltou para o livro, e agora quem se sentou perto da lareira fui eu, me perguntando se não teria invadido demais sua privacidade. Como não falou nada, permaneci lá, vendo as chamas crepitarem. Não pude evitar sorrir, eu estava quebrando a regra mais básica com Salazar e a sensação era estranhamente agradável. Eu sempre tive um certo desrespeito pelas regras, mas por alguma razão fora do meu conhecimento, sair escondida dava uma certa emoção, como se houvesse adrenalina fluindo novamente. Sem falar que me parecia uma boa causa. O dia todo esperei alguém querer, mesmo que indiretamente, me convencer de que a revolução era algo que eu deveria realmente participar, já que minha parte instintiva via nisso a única razão para ter sido tão bem aceita. Mas não aconteceu, nem sequer foi citado, o que houve foi uma grande demonstração de civilização. Não tinha outra definição, por vários momentos eu preferi ficar parada com receio de parecer um animal feroz ou algo do tipo. Vinha agindo assim durante todos aqueles anos, como todo nômade.

-Encontrou alguém? – Salazar me trouxe de volta à realidade. Me encarava agora, a sobrancelha levemente levantada.

-Ninguém importante. Só a Myrtis, costureira. Amanhã vou ajuda-la a cortar alguns panos, encomendei roupas.

-Como você sabe como encomendar?

-Eu ando por aí aprendendo, não olhando para o céu.

-Certo... só? Não cruzou em momento nenhum com um grupo meio grande de vampiros jovens?

Por um momento, eu gelei. Ele insistira demais no tópico, me pareceu que ele sabia. Quando voltei a encara-lo, ele aplicava um olhar penetrante que, apesar de ter tido um pouco de dificuldade nisso, consegui sustentar.

-Vi andando, longe de mim. Passei bem longe deles, eu prestei atenção no que o senhor disse.

Ele me avaliou por mais um tempo, enquanto eu bravamente sustentava o olhar. Até que ele deu de ombros, se virando.

-Tudo bem então. Fico mais tranqüilo.

-Por que os odeia tanto? – Não resisti à tentação de perguntar.

Ele se voltou impaciente, mas sem me encarar dessa vez.

-Eles brigam com quem não devem. Leis são feitas para serem cumpridas, não importando a natureza, e não são inconseqüentes que têm o direito de acabar com a paz por isso. – Percebi que ele estava falando mais para si mesmo do que para mim. – Aquele que as cria tem experiência o suficiente para saber o que é certo e o que é errado para nós. Vampiros novatos não têm a menor chance perto das dificuldades que o cargo de governante apresenta. Crianças...

Ele saiu do cômodo, e o ouvi se deitar na cama. Olhei incomodada para a janela. Salazar parecia muito convicto de suas idéias, mas não conseguia fazer elas penetrarem corretamente na minha cabeça. Eu não consegui achar aquelas pessoas ruins, desavisadas ou mesmo inexperientes. Porque todos traziam um olhar antigo que não parecia pertencer ao tempo em que viviam. Claro que eu poderia achar isso por ser mais nova que todos ali, mesmo que não muitos anos, mas o fato era que eu não conseguir concordar com Salazar, apesar de parecer o mais sensato.

-Antes que eu me esqueça... – ele disse baixinho do quarto, como se doesse o que ele iria dizer depois. – Obrigado pela arrumação.

Não pude deixar de sorrir.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Desculpe a demora, estava viajando.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Giuliet Volturi - Dark Side Of The Earth" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.