Giuliet Volturi - Dark Side Of The Earth escrita por G_bookreader


Capítulo 28
Aumentar o território




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Foi o vôo mais infernal da história. Todo mundo resolveu fazer perguntas e ninguém parecia ser capaz de esperar até que eu conseguisse respondê-las. Havia tirado Benjamin do sono, e ele ficou sentado quieto sem falar nada, talvez estivesse cheio de dor. E eu esperava que estivesse. Decidi que não confiava nele. Disse aos outros que ele era nosso prisioneiro e que não fizessem muitas perguntas. Os vampiros aceitaram tranqüilamente, mas os lobos estavam curiosos demais para isso, tive que ignorá-los sucessivamente para que me deixassem em paz. E tinha também o bastardo, que Lizzie chamava de irmão, não dei muita atenção a ele. Na verdade, nem olhei para o garoto. Mas Beta, para o meu desgosto, conversou bastante com ele. Decidi dar um desconto, era o primeiro da espécie dela que ela havia encontrado até então.

E eu não conseguia, por mais força que fizesse, chegar ao fundo do avião. De vez em quando meu olhar ia para lá, mas não durava muito tempo. É como se aquela parte da aeronave fosse uma ilusão, um delírio, e meu corpo tentasse se livrar dela.

Foi um alívio chegar a Seattle, e um alívio maior ainda sair daquele avião. Josh era, como sempre, muito eficiente, então também havia carros nos esperando lá. Eu fui no primeiro, com Fátima, Giacomo e o corpo inconsciente de Andreas se apertando atrás. Josh não quis falar nada, parecia estar incomodado. Ele sabia que estávamos em confusão e alguns vampiros tremem só de pensar em entrar em uma confusão entre grandes clãs. Eu queria ter o poder de decidir entre me mandar ou participar da confusão. Em uma hora estávamos entrando na estradinha de terra que levava para nossa casa. Os lobos ficaram para trás muito antes, indo para a sua reserva. Eles não serviram de muita ajuda no final das contas, mas acabariam fazendo toda a diferença em algum momento.

Descemos e os dois conseguiram tirar Andreas tranqüilamente do carro.

-Fátima, leve-o para o segundo andar, segunda porta para a direita. Tem uma suíte. É melhor tentar limpá-lo antes de deitá-lo. – Falei e ele concordou com a cabeça. Os dois subiram o mais rapidamente o possível. Virei novamente para Josh, que os olhava sumir distraidamente. – Josh, eu não tenho palavras para agradecer. Muito obrigada, mesmo.

-É um prazer, senhora. Boa sorte.

-Boa sorte. – Respondi suavemente e fechei a porta. Todos já estavam fora de seus carros, que sumiram pela estradinha. – Matt!

-Sim?

-Antes de ir visitar Karine, eu sei que você está planejando isso, por favor, pegue este senhor e tranque no porão. – Disse, acenando para Benjamin. – Depois eu me entendo com ele.

-Tudo bem.

Benjamin não discutiu e foi com ele. O resto de nós entrou na casa, cada um para o seu devido quarto se limpar, menos eu, que havia ocupado o meu, e Lizzie, que não tinha um. Porém, segurei Kronus antes que ele sumisse.

-Tem como você me ceder uma muda de roupa sua? Você é o que mais se aproxima de Andreas.

-Tudo bem, vem comigo.

Fui com ele, ele me entregou um “kit” completo e ia saindo quando ele falou algo aleatório.

-Fátima parecer ser alguém legal, não é? – Ele falou, olhando distraidamente para algumas roupas no armário. Girei nos calcanhares e o encarei, confusa.

-Sim, ela é ótima... por que a pergunta?

-Não, nada. – Ele deu de ombros.

-Kronus...

-O que?

O encarei por um tempo. Será que estava acontecendo o que eu achava que estava? Kronus e Fátima? Bem, deixei isso pra lá.

-Esquece. Obrigada pela roupa.

-De nada. – Ele respondeu distraidamente enquanto entrava no banho.

Fui até o meu quarto e entrei. Do banheiro vinha o som do chuveiro e de Fátima e Giacomo discutindo qualquer coisa. Deixei a roupa em cima da cama, em silêncio. Peguei alguma coisa no meu armário e fui até o quarto de Beta, onde ela já tinha terminado de tomar banho e pedi para usar seu banheiro. Ela deu de ombros e fui. O cheiro do esgoto parecia preso em todos os meus poros, mas consegui me livrar dele com maestria. Demorei o máximo de tempo o possível enquanto sentia meu corpo relaxar na água quente.

Saí e me vesti. Enquanto saía, Beta ainda estava lá, no mesmo lugar.

-Você está bem? – Ela perguntou, séria.

-Estou. – Respondi um pouco confusa, sem entender a pergunta.

-Mesmo?

-Por que está perguntando isso?

-Não têm sido dias fáceis.

-Não têm sido anos fáceis, está tudo bem, que coisa. – Sorri para ela, tentando parecer sincera. Tenho minhas dúvidas de que tenha convencido.

-Tudo bem, então.

A deixei lá e larguei a roupa na lixeira. Quando cheguei na sala, Lizzie e o garoto estavam sentados no sofá, conversando. Ainda não tinha falado com ela direito, mas falar com ela significava falar com o fedelho. Ótimo.

-Vocês estão bem? – Joguei a pergunta. Eles me encararam, ele com desconfiança, ela com um sorriso.

-Sim. É bem legal aqui. Não tínhamos saído muitas vezes de Londres.

-Ele não deixava? – Perguntei. A idéia de passar cinco séculos em um lugar só era tão estranha para mim que me despertava curiosidade.

-Não. Talvez tivesse medo que eu acabasse cruzando com você em alguma esquina, não sei. Só saía de Londres acompanhada de Christopher, ou alguém do tipo.

-Eu não consigo nem imaginar como isso é. – Confessei. Ela riu. Então se lembrou do irmão e eu não podia correr mais para fugir.

-Giuliet, não deu para eu te apresentar ainda. Esse é o Jones, nosso irmão.

Prestei atenção realmente nele pela primeira vez. Era um pouco mais alto que eu, mas pouca coisa. Parecia ter dezoito anos e não seis, concluí que seu crescimento já devia ter chegado ao fim. Tinha os cabelos escuros e cacheados, deve ter puxado isso da mãe. Porém os olhos eram iguais aos de Jason e, por conseqüência, iguais aos meus. O jeito como tentava me cumprimentar, mas obviamente preferindo se esconder em qualquer cômodo da casa, o deixava meio idiota. Seu olhar transmitia um misto de desconfiança e medo que eu não gostei.

-Oi. – Ele disse, não muito genialmente.

-Oi. – Respondi do mesmo jeito, mas minha voz tinha mais falta de interesse do que hesitação. Virei-me para Lizzie novamente. – Eu vou no porão tentar entender a existência de Benjamin. Já volto. Se quiserem se limpar, peçam o quarto de alguém.

-Estamos bem. – Ela respondeu, sorrindo.

Dei de ombros e saí da casa, descendo as escadas e destrancando a entrada do porão. Quando abri o cheiro de lobisomem me invadiu e eu senti aquela raiva habitual. Lembrete: explodir o porão o mais cedo o possível.

Fechei a entrada e, acendendo a lâmpada, continuei no caminho. Eu preferia fazer as coisas com luz, mesmo ela sendo totalmente desnecessária. Ele estava sentado no fundo, recostado na parede. Estava bem melhor fisicamente do que estivera antes, talvez já tivesse se curado totalmente. Ao me ver, levantou-se com facilidade e se aproximou, mas não muito, parando há dois metros de distância.

-Até que não demorou muito, já estava doido para sair daqui. – Ele disse, sorrindo, mas eu continuei séria.

-Você não vai sair daqui, Benjamin. – Minha voz era monocórdia, sem emoção nenhuma, e vi sua expressão mudar.

-Como assim?

-Você me disse para te trazer como prisioneiro e assim foi feito. E nada vai mudar isso a não ser que você me dê uma boa razão para confiar em você.

-Como assim uma razão para confiar em mim? Giuliet, sou eu, Ben.

-Isso não me diz nada.

Ele me encarou quieto um tempo, eu não conseguia identificar a expressão dos olhos negros. O fogo que ardia por trás deles, em outros tempo, teria me assustado. Porém, naquela fase, eu tinha encarado incêndios maiores.

-Você não pode estar falando sério. – Ele disse ao cruzar os braços, o rosto endurecendo.

-Eu não acredito que pareça estar brincando. Você é um total estranho para mim.

-Eu ainda sou eu, aquele mesmo rapaz.

-Qual rapaz? Benjamin, neto de John, o cocheiro? Ou Kendawe, o filho do cacique cuja mãe fugiu? Ou então Benjamin, o servo fiel de Jason? Porque, lá no subsolo de Londres, você me pareceu muito com a terceira opção.

-Mas não é possível. – Ele se irritou, a pele já avermelhada ficando mais vermelha ainda. – Você não percebeu por um segundo que eu podia ser encenação. Podia ter alguém nos vigiando, se aproximando. Eu te pedi para ser levado porque eu queria sair de lá.

-Lizzie me contou como os lobos funcionam lá. É tudo por vontade própria, vocês são livres para fazer o que bem entendem. Portanto se você não fugiu antes, é porque queria.

-Não é bem assim, Giuliet. Eu tinha liberdade sim, mas Jason era muito influente e...

-Eu só quero saber – O cortei. – se você sabia que eu era eu o tempo todo. – Ele me olhou, me medindo, antes de responder.

-Sabia.

Concordei e me virei para ir embora.

-Onde você está indo?

-Como onde? Eu, ao contrário de você, não tenho que ficar presa nesse porão.

-Eu posso arrombar aquela porta o momento que eu quiser.

-E ser perseguido logo em seguida por vampiros que acabam com você com uma simples mordida. Eu não seria tão estúpido se fosse você.

-Por favor, se não acredita em mim, me perdoe então!

-Perdoar? Como eu posso te perdoar? Você mudou, Benjamin! Para algo que eu sinceramente não gosto.

-Não faça esse papel de Senhora da Moral. Você também não é a pessoa mais certa desse mundo. – Ele começava a tremer, a raiva dominando.

-Exatamente. Agora eu sou totalmente diferente, não a garota que você acha que conhece. Isso me dá plena liberdade de fazer você apodrecer aqui. Mas não se preocupe, irá receber comida e água com certa freqüência.

-Mas...

-Não quero ouvir mais nenhuma palavra. Cale-se.

Continuei no caminho para a saída. Antes de sair, ele ainda tentou terminar por cima.

-Você virou mais vampira do que eu imaginei que viraria.

-Parabéns, Sherlock.

O tranquei lá dentro, com as luzes apagadas, e voltei para dentro. Agora Jones não estava mais na sala, apenas Lizzie, Fátima e Giacomo. Ambos estavam com roupas novas e, pelo visto, Giacomo não tinha tido muito sucesso com uma camisa de Matt. Ela estava toda apertada e não devia estar a coisa mais confortável do mundo. Sentei ao lado de Lizzie.

-Como ele está?

-Bem. – Fátima respondeu. – Pelo menos limpo.

-Pelo que eles estavam me contando, o sangue de lobisomem está começando a perder o efeito. – Explicou Lizzie. – Ele murmurou algumas coisas, sinal que, inconscientemente, já está recuperado um pouco do controle sobre o próprio corpo. Talvez seja bom começar a dar algumas quantidades de sangue, pode ser que acelere as coisas.

-Tem garrafas e sacos no freezer da cozinha. Melhor dar a ele o do saco, é mais puro.

-Certo. – Ela disse, levantando e indo em direção a cozinha.

-Cadê o garoto? – Perguntei a Lizzie.

-Subiu e foi ver se conseguia tomar um banho. Ele vai precisar dormir em algum momento.

-Meu quarto está ocupado. – Respondi prontamente e ela revirou os olhos.

-Não é culpa dele.

-Eu sei que não é.

-Então pare de tratá-lo como se fosse.

-Eu não estou tratando ele mal. – Disse, cruzando os braços.

-Giuliet... – Ela suspirou e eu senti uma estranha vontade de rir. – É sério. Ele é só um garoto, não tem culpa do nosso pai ser quem é.

-Tudo bem, vou tentar pegar leve com ele.

-Obrigada. Agora vou atrás de Jones, ele está demorando muito.

-Se precisar de uma roupa emprestada. A minha deve dar mais ou menos.

-Acho que vou até a cidade comprar qualquer coisa. Seu guarda roupa não parece muito sortido de cores.

Giacomo não gostava muito dela, eu percebia, mas ele não conseguiu não rir. Apenas revirei os olhos enquanto ela subia. E ele continuou rindo.

-Cala a boca. – Eu disse, mas meio que ria também.

-Sério Giuliet, só falta o Papa debochar do seu uniforme de Pânico.

-Uniforme de Pânico? Pegou pesado agora, é roupa normal, só que preta.

-Continua parecendo o Pânico.

Dei língua para ele, o que o fez rir mais ainda. Por um momento parecia que tínhamos voltado séculos no passado, quando Andreas ainda estava na ativa e tínhamos abatido a Capital fazia pouco tempo. Naquela sala, naquele momento, éramos o antigo Giacomo e a antiga Giuliet por mais uma vez. Não pude deixar de sorrir com a cena. Aquilo deixou o clima um pouco mais leve, mas eu sabia que não poderia durar muito tempo. Pelo menos o fantasma da nossa briga havia se ausentado um pouco.

-Acha que ele vai ficar bem? – Perguntei aleatoriamente.

-Quem?

-Seu irmão.

-Andreas? – Ele deu uma bufada impaciente. – Você pode achar ele maravilhoso e perfeito – revirei os olhos – mas ele é um cara bem chato. Caras chatos sobrevivem a qualquer coisa, cunhadinha.

-Ai, esse apelido voltou? – Fingi um tom impaciente.

-Por que não voltaria?

-Porque eu achava que você ainda estava com raiva de mim. – Murmurei.

-Cheguei a conclusão que não adianta ficar, Fátima não vai deixar eu me ver livre de você de novo. – Dessa vez fui eu quem riu, da cara de insatisfação que ele fez.

-E Hecate? – Perguntei, agora que eu podia irritá-lo novamente. Ele fechou a cara na hora.

-Estava lá em cima a última vez que eu vi. – Se fez de desentendido.

-Você entendeu o que eu quis dizer.

-Não, não entendi. – Ele falou, sério. Tudo bem então. – E o Pitbull lá em baixo?

-Espero que aja como Puddle, não estou com a menor paciência de lidar com ele. Deixa ele ficar preso um pouquinho.

-Meu irmão ficou séculos, ele suporta uns dias.

-Exatamente.

Ficamos em silêncio e comecei a viajar, pensando em várias coisas ao mesmo tempo. Então lembrei de uma coisa que não deveria ter me esquecido.

-Gente, meu carro! – Eu disse, levantando bruscamente.

-O que tem o seu carro? – Giacomo perguntou, não entendendo nada.

-Tenho que ir buscar no mecânico. Já volto.

Ele revirou os olhos e eu saí, correndo, em direção ao mecânico. Correr foi agradável, mas começou a chover, então cheguei toma molhada lá. Tentei resolver rápido com o mecânico e saí de lá com o carro perfeito e intacto. Senti falta de dirigir, de estar no comando da máquina. Dei uma volta na cidade, ouvindo música, tentando distrair um pouco a cabeça. Minha vida tinha se tornado um caos e, em um primeiro momento, eu tinha me abalado com toda essa confusão. Mas agora? Sim, eu estava preocupada, nervosa, óbvio, mas não como eu estaria se houvesse acontecido dois anos antes. De uma forma ou de outra eu estava bem, controlada. Eleazar pode ter escondido a verdade de mim, mas em uma coisa ele estava certo. Eu iria ser testada e precisava estar pronta antes de saber de tudo.

Passei em uma parte próxima a boate. Era uma região central da cidade, com certo movimento noturno. Forks não era a cidade mais movimentada de Washington, mal entrava no status “cidade” direito, mas alguns jovens vagavam naquela região durante a noite. Não demorou muito para eu encontrar os únicos jovens que eu conhecia encostados em uma parede escura conversando. Quem olhava assim até achava que eles eram algum grupo barra pesada de adolescentes malvados que gostavam de quebrar regras. Ri só do pensamento, enquanto encostava o carro e abaixava o vidro.

-Olá. – Disse.

-Fala aí. – Responderam indiferentemente.

-O que tem de divertido para fazer na cidade essa noite?

-Er... sei lá, o que você gosta de fazer? – Perguntou Philip.

-Que tal discutir uns certos ajustes em tratados entre espécies?

-Já entendi... – Camily bufou, se aproximando. – Qual a boa?

-Primeiro, obrigada pelo apoio em Londres, foi legal da parte de vocês. E segundo, estamos prestes a entrar em guerra. Talvez fosse melhor reajustar nossos limites.

-Reajustar como?

-Não dá para enfrentar uma batalha com recurso de espaço limitado. Pelo menos não quando o inimigo não é limitado, porque ele não está nem aí para os nossos acordos pessoais. O que eu quero dizer é que vocês agora tem total liberdade para entrar no nosso território.

Ela olhou para trás e os mais influentes no bando deram de ombros, dando a ela a escolha. Ela voltou-se para mim novamente, também dando de ombros.

-Podem entrar na reserva quando quiserem. Só não abusem, alguns anciões da aldeia não curtem muito vocês.

-Não vamos entrar lá desnecessariamente. E, além do mais, eu sei lidar com gente velha. – Eu disse, rindo. Ela revirou os olhos sorrindo e voltou para onde não chovia.

-Você ainda tem que nos explicar o lance daquele outro lobo. – Rafael disse, encostado contra a parede.

-Não se aproximem dele, ele pode ser perigoso. – Eu falei, séria. – É sério. Eu não sei as intenções dele, mas ele é mais velho do que vocês imaginam e pode enganá-los se fazendo de bonzinho. Eu prometo que explico tudo quando der.

-Se ele pode ser perigoso, por que não o matou? – Camily perguntou. Eles perguntavam demais para o meu gosto.

-Pelo mesmo motivo que eu não matei vocês.

-Porque não consegue? – Algum deles respondeu tentando ser engraçadinho.

-Não. Porque eu tenho coisas mais úteis a fazer. – Resmunguei enquanto dava a partida no carro.

Não estava com a menor pressa de voltar para casa. Mas, ao mesmo tempo, eu queria estar lá, cuidando de tudo, deixando todos prontos para uma reviravolta. Uma coisa me deixava satisfeita: Jason deveria estar irado naquele momento. Nada me deixava mais feliz do que imaginá-lo gritando com Christopher, chamando-o de incompetente. Sorri só com a idéia.

Estava chovendo e isso me vez demorar um pouco mais. Mentira, isso não me atrasava, mas vamos fingir que me fez demorar um pouco mais e fica todo mundo feliz. Mas infelizmente cheguei e estacionei na garagem, finalmente em um lugar onde eu tinha absoluta certeza de que ele estava seguro.

Cheguei na sala balançando a cabeça tentando ficar menos molhada da chuva que havia me atingido na ida. Não tive muito tempo para me concentrar nisso, alguém chegou no alto da escada afobadamente.

-Giuliet! – Era Fátima, totalmente nervosa. – Ele acordou, Giuliet! Ele acordou!

Fiquei olhando para ela um tempo que nem uma retardada mental enquanto isso entrava na minha cabeça.

-Mas já? – Perguntei, acordando.

-Acho que o sangue humano acelerou o processo, não sei o que aconteceu, ele acordou, mas está fraco, só consegue falar baixinho. – Ela estava falando tão rápido que eu estava tendo dificuldade de acompanhar. – Ele falou comigo, com Giacomo, comigo de novo... – Ela focou em mim de novo, como se lembrasse que eu estava ouvindo. – Ele perguntou por você. Na verdade, foi a primeira coisa que ele fez, mas você tinha saído. Ele quer falar com você.

-Eu... eu já estou subindo. – Eu disse, andando em direção à escada.

-Giacomo, some daí! – Ela gritou para Giacomo, que logo apareceu do lado dela.

-Boa sorte, cunhadinha. – Ele disse quando passei por ele. Ignorei.

Quando cheguei no meu quarto, a porta estava entreaberta, mas não dava para ver nada lá dentro direito. Respirei fundo do lado de fora antes de entrar. Lá dentro a única iluminação era a que vinha do abajur ao lado da cama. Andreas estava deitado, só com a cabeça de fora, o cobertor até o pescoço. Quando fechei a porta ele virou fracamente a cabeça na minha direção e nossos olhos se encontraram. Eu havia criado barreiras durante três séculos e meio para resistir a ausência dele e, naquele segundo, enquanto eu o via deitado, fraco e vivo, senti que elas vieram todas abaixo, desmoronando bruscamente e ameaçando me deixar totalmente exposta. Fátima tinha posto uma cadeira do lado da cama, provavelmente para poder ficar confortável enquanto o vigiava, e foi lá que eu sentei, em silêncio. Havia um milhão de coisas a serem ditas, mas eu não tinha a menor idéia do que dizer.

-Oi. – Ele sussurrou, muito fraco, dando um sorriso torto, igualmente fraco.

-Oi. – Eu respondi, sentindo a minha voz falhar.

-Genial... – Ele tentou rir da própria piada, mas não conseguiu.

-Já fomos mais articulados. – Tentei parecer bem humorada também e o sorriso dele se abriu mais um pouco. – Como você está se sentindo?

-Péssimo. – Ele respondeu, meio rindo ainda. – Mas muito melhor do que estava.

-Andreas... – Hesitei um pouco. – Se eu soubesse que você estava vivo, eu juro, por tudo que é mais sagrado, eu teria... teria...

-Eu sei. – Ele me cortou, o olhar calmo. – Não peça desculpas, você fez tudo certo. Não fala disso.

-Eu não sei o que te dizer.

-Não precisa dizer.

Ele torceu a cara, como se sentisse dor. Meu desespero foi lá em cima rápido demais.

-O que foi? Está sentindo dor? Passando mal?

-Giuliet... fica calma... – Ele respirou fundo e voltou ao normal. – De vez em quando o enjôo aperta um pouco. Vai melhorar.

-Posso fazer alguma coisa? – Perguntei meio perdida.

-Um pouco de sangue não faria mal.

-Ah, claro.

Havia um saco meio cheio de sangue no criado mudo. Peguei e, com o outro braço, levantei a cabeça de Andreas o suficiente para que ele pudesse beber. Toca-lo acordado novamente fez uma corrente elétrica subir pelo meu braço e tive que fazer muita força para manter a minha expressão neutra. Fiz com que ele bebesse tudo, mesmo que isso demorasse e a situação ficasse mais desconfortável. Ele estava limpo, portanto seu perfume estava preenchendo o lugar, me deixando nervosa. Quando terminou, botei o saco no lugar de antes e o acomodei novamente no lugar. Sentei novamente na cadeira. Ele se remexeu um pouco e tirou os braços de baixo do cobertor.

-Ficou menos frio. – Ele explicou.

-Em breve você vai estar de pé.

-Tomara. – Ele me olhou e sorriu de novo. – Então você vai ter dificuldade para se livrar de mim outra vez.

-Não creio que eu vá me esforçar muito.

-Vai mudar de idéia quando tiver que me explicar as coisas. Eu ainda não gravei o nome disso. – Ele gesticulou para o abajur.

-Lâmpada?

-Isso. Lâmpada.

Dei uma risada baixa. Lâmpada era fácil perto da história completa do que a gente estava enfrentando. Devia estar sendo tão difícil para ele.

-Giuliet...

-Sim?

-Aquele dia... aquele que eu fui pego. – Ele me olhou nos olhos novamente e o efeito não foi diferente da primeira vez. – Eu vi que eu ia morrer. Eu não sabia que as coisas iriam mudar.

-Eu sei, eu achei o seu diário. Eu entendi os motivos.

-Entendeu?

-Sim, entendi.

-Então porque fez isso a você mesma?

Olhei para ele sem compreender.

-Como assim?

-Quando você entrou por aquela porta eu vi. Você estava totalmente destruída, de certa forma... vazia.

-Andreas, as coisas não têm estado fáceis.

-Não me parece ser algo recente. Giuliet, era para ter seguido em frente de modo saudável.

-Eu teria feito isso se as coisas não tivessem virado de um jeito tão ruim. Quando você estiver descansado eu explico tudo.

Ele esticou a mão e segurou a minha, que estava apoiada no meu colo, mas eu pude sentir a fraqueza de seu corpo naquele aperto esforçado. Aquela sensação de eletricidade e nervosismo voltou com toda a força e mais uma vez me peguei resistindo a isso.

-Se eu pudesse ter feito as coisas serem diferentes, eu teria feito. – Ele disse, sincero, com a emoção transbordando pela voz. E eu, cada vez mais, era desmontada.

-Eu sei. Fizemos tudo que era possível para nós. – Segurei a mão dele entre as minhas. Estavam tremendo e mais frias do que o normal. – Você vai ficar bem, não se preocupe.

-Eu tenho preocupações maiores do que se estou bem ou se estou mal. Não se preocupe com isso.

-Está me pedindo algo impossível, você sabe disso. – Ele riu com a minha resposta.

-A teimosia continua firme e forte.

-Sempre. – Eu respondi, sorrindo. Eu tinha que sair dali, antes que eu não conseguisse mais fazer isso. – Andreas, eu tenho que ir. Tem um monte de coisa acontecendo e eu tenhoq eu botar a cabeça no lugar.

-Tudo bem, fique a vontade. Você está na sua casa. – Ele disse, brincando. – Pelo jeito, no seu quarto também.

Eu ri enquanto me levantava da cadeira.

-Se precisar de qualquer coisa é só chamar qualquer um, ok? – Ele acenou com a cabeça. – Tudo bem então, er... eu venho aqui depois.

Saí pela porta, a fechando atrás de mim e parando um pouco do lado de fora, pondo a cabeça no lugar. Suspirei e voltei para a sala, onde presenciei uma cena um tanto curiosa. Fátima e Kronus estavam sentados no sofá, lado a lado, conversando animadamente. Em quanto isso, próximo dali, Hecate e Giacomo permaneciam tensos, próximos um ao outro. Me joguei em uma poltrona vazia próxima dali e eles me encararam, curiosos.

-Sabe aquele cara que disse que o tempo faz você esquecer e superar tudo? – Perguntei aleatoriamente.

-Aham. – Responderam.

-Esse cara deveria ser açoitado.


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