Giuliet Volturi - Dark Side Of The Earth escrita por G_bookreader


Capítulo 27
Resgate


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, a viagem e tudo mais. Espero que o capítulo esteja bom o suficiente para valer a espera. xD



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-O... O que? – Fátima perguntou, travando onde estava.

-Não tem graça, Giuliet. – Giacomo falou, irritado.

-Você acha que eu estou brincando? – Falei para ele, quase gritando. – Eu não ia brincar com algo assim! – Virei novamente para Fátima. – Eu vi, jogaram ele na minha frente. Amarram ele com titânio e dão sangue de lobisomem para ele beber. Ele estava inconsciente. Foi... foi horrível.

-Entra, você não está bem. – Hecate disse, me levando para dentro.


Os outros me seguiram e me sentei no sofá. De alguma forma uma garrafa de sangue apareceu na minha frente, peguei sem discutir e bebi uma longa golada. Aquilo deixou minha mente mais aliviada, mas ainda seria pouco.


-Não é possível que ele esteja vivo... – Fátima murmurou.

-É verdade. – Disse Lizzie, falando pela primeira vez. Todos a olharam com desconfiança. – Ele está em uma cela no subsolo dos prédios. Lá embaixo é maior do que em cima, há várias celas, todas com grades e algemas de titânio. Ela tem sido mantido lá desde que fora capturado.

-O que você está fazendo aqui? – Matt perguntou.

-Eu sou uma desgarrada. Não concordava com o que meu pai fazia, era absurdo.

-Como podemos ter certeza de que não está aqui de espionagem? – Ele continuou o interrogatório, cada vez mais desconfiado.

-Eu não estou.

-Deixem-na em paz! Ela não vai fazer nada. – Eu disse, irritada com aquilo.

-Eu sei um modo quase seguro de chegar até as celas. Talvez possa ajudar. – Ela afirmou, encostando-se em uma parede.

-Como? – Fátima perguntou, ansiosa.

-As celas são todas no subterrâneo, logo acima de uma galeria de esgoto. Eu sei o posicionamento, podemos invadir pelo subsolo. O nosso único problema será quebrar o chão sem dar nenhuma pista. Isso eu posso resolver. Eu volto lá e arrumo uma forma de esvaziar as celas. Não vai ser fácil, mas é um plano.

-Ótimo, vamos agora. – Eu disse, levantando, mas alguém me empurrou para o sofá de novo.

-Agora não! – Lizzie exclamou, desencostando da parede. – Ele espera que você vá tentar resgatá-lo, os guardas estão rondando. Temos que esperar a poeira abaixar.

-Eu não vou ficar aqui sentada esperando. Isso está fora de cogitação, nem tentem me convencer. – Agora eu levantei, irritada, bebendo em uma grande golada o que restava da garrafa. – E nós vamos logo.

-Não é assim que vai resolver isso, se acalma um pouco, cara... – Ouvi um lobo falar e me lembrei da presença deles. – Lizzie, Jason disse que Andreas era mantido dopado por sangue de lobisomem. Quem é o lobisomem?

-São mais de um. – Nossa, esclarecedor isso, irmãzinha.

-Quem?

-Bem, a maioria é muito jovem para você ter conhecido. – Ela começou a ficar nervosa. Não, mais uma ressurreição não.

-Lizzie... Benjamin está nisso?


Ela pensou um tempo antes de responder, abriu a boca e desistiu. Tudo bem, já entendi.


-Ótimo. – Comecei calma para, logo em seguida, explodir. – Existe algum defunto que tenha feito o favor de ficar morto no passado? Por que eu não agüento mais ver gente morta aparecendo para dar oi! O que, ele está preso também?

-Na verdade ele... ele faz por que quer.

-Ele o que?

-Você não o reconheceria. Talvez ser o mais velho da espécie tenha subido à cabeça, não sei ao certo. Ele não é mais o mesmo.

-Gente, um pequeno pause, valeu? – Camily disse, entrando na discussão. – Quem é Benjamin?

-Isso é uma longa história que eu vou ficar devendo. Estamos perdendo tempo, daqui a pouco vai amanhecer.

-Mais um motivo para ficarmos. – Hecate concordou com os outros.


Bufei irritada. Eu não queria ser obrigada a mandar eles irem. Até que Fátima intercedeu em meu favor.


-Eu vou com você. – Ela disse, quase que em um murmúrio. – Eu preciso vê-lo.

-Não vai não, Fátima! – Giacomo se aproximou dela como se isso fosse impedi-la.

-Vou, sim senhor. Se você não liga para o seu irmão preso, problema.

-Você não vai. – Ele repetiu, meio sombriamente. Ele tentou dar uma ordem a ela, mas eu duvidava que fosse funcionar.

-Não adianta mandar em mim, você não tem esse poder e sabe disso. – Ela rebateu, teimosamente.

-Esperem! – Lizzie aumentou o tom de voz e, com isso, ganhou a atenção de todos. – Giuliet, por favor, existe algum lugar nessa casa em que eu possa conversar com você antes de você partir em uma missão suicida?

-Acho que isso pode esperar, seja lá o que for. – Fui indiferente, não tendo paciência para enrolar.

-Não, não pode. Porque o pap... – Ela balançou a cabeça, se corrigindo. – Porque Jason é capaz de escrever uma biografia detalhada sua, muito provavelmente, e você ainda está pensando em como ele está vivo!


Suspirei, ela estava certa. Mas, de qualquer forma, aquilo não poderia durar muito.


-Venha comigo. E, de preferência, seja breve. – Falei, sisuda, indo para a porta. Eu tive que fazer uma força enorme para me manter para no alto de um telhado, algumas casas para a frente. – Vamos, fale. Não demore.

-Eu vou ter que demorar, é grande.

-Então esse assunto não deveria estar acontecendo. – Respondi, seca, quase indo embora.

-Você não é a única que tem que buscar alguém lá. – Ela pareceu ansiosa, de repente. Se sentou no telhado e olhou além. – Nós temos três irmãos. Amy é a mais velha e tem cerca de cinqüenta anos. Tanto faz, ela continua sendo impulsiva como uma garota de dezenove. É a mais parecida com o papai dos três. Tem o do meio, Allan. Ele tem uns vinte anos e é menos idiota que ela, só que menos perverso também. Leve semelhança com ele. Mas o mais novo, Jones, é totalmente diferente do papai. Ele é doce a bondoso. Ah, e tem só seis anos. É a única pessoa que eu realmente amava lá.

-É ele que você quer buscar? – Perguntei o óbvio, e ela confirmou que sim. Acabei me sentando ao lado dela, talvez um pouco mais interessada. Não que estivesse, de alguma maneira, me aquietado, mas eu achei que deveria ouvi-la. Eu havia passado tempo demais sem fazer isso.

-Depois que você sumiu, as coisas ficaram horríveis em casa. O pai ficou ainda mais frio e a nossa mãe... Bem, ela surtou. Se antes ela nunca foi muito gentil comigo, piorou mais ainda. Quase todo dia deixava bem claro como preferia que eu houvesse sumido. Enquanto isso Jason continuava com seus planos. Os Allen ficaram bem decepcionados com o casamento não acontecido, mas o problema foi resolvido cedo. Já que não tinha mais como casar a mais velha, casasse a mais nova.

-Um momento! Você se casou com Christopher? – Perguntei, chocada.

-Aos quatorze anos de idade. Mas foi bem diferente do que meu pai esperava, dessa vez Christopher não estava com muita vontade também. Não havia nada que nós dois pudéssemos fazer, afinal de contas. Eu não tinha coragem de pegar um cavalo e sair, ele tinha desejo de poder. Bem, acabamos nos casando, foi uma festa enorme, cheio de gente que eu não fazia a menor idéia de quem poderia ser. Papai sempre lá, alegre, conversando, quase dava para acreditar que se importava.

-Eu sinto muito. – Falei, sem ter muito mais o que falar. Eu não havia pensado muito no que estava deixando para trás, mas não havia nada que eu pudesse fazer agora.

-Não foi sua culpa. Bem, dois anos se passaram. Eu cheguei a engravidar uma vez, mas perdi a criança. – Seu tom foi ficando mais sombrio, e eu não tinha nada o que falar. – Até que o papai sumiu. Um belo dia desapareceu. Já haviam acontecido casos assim na cidade, mas nunca com ninguém de classe alta. Aí que a mamãe perdeu a cabeça de vez, a cabeça variava, por vezes não falava coisa com coisa. Eu não tive tempo de saber qual seria o fim dela, de qualquer forma. Seis meses depois foi a vez de Christopher, e dois a frente foi a minha vez. Foi Oliver que te transformou?

-Sim.

-Foi ele que nos transformou também. Jason o convenceu a nos transformar, até hoje eu não entendo os motivos. O lado bom disso é que, depois de transformados, eu e Christopher não tínhamos que nos engolir mais como marido e mulher. Jason aos poucos ia ganhando influência, até que conseguiu uma oportunidade a aniquilou com Oliver, conseguindo assim o poder sobre o clã. A parceira dele lutou junto e morreu também, os outros dois acabaram seguindo outros caminhos, mas eu e Christopher não tínhamos muita escolha. Nunca tivemos muita habilidade para trabalhar sozinhos, então o seguimos. Dominando Londres ele começou a se tornar mais forte e mais forte, até decidir que o poder que ele tinha sobre uma cidade era muito pouco comparado com o poder que o mundo inteiro lhe daria. Vocês já tinham matado Hugh e ele sabia que não estavam tão bem protegidos como o antigo líder. Mandou vampiros buscarem onde vocês estariam e os achou na França. Foi quando armou a emboscada. Seu plano era matar o líder e fazê-los se renderem, mas não sei ao certo o que deu errado e ele voltou com esse Andreas para casa. Ele usava o sangue de alguns lobisomens para...

-Esse é o ponto que eu queria que você chegasse. Como ele conseguiu lobisomens?

-Existem alguns desgarrados do bando que vivem em outros países. Eles os buscou e prometeu conforto e segurança, desde que eles doassem certa quantidade de sangue uma vez por mês. São, no total, três lobisomens. – Ela pareceu nervosa, como se estivesse omitindo alguma coisa.

-Quem são os três lobisomens?

-Não creio que conheça. Deixe-me terminar aqui. – Ela cortou e eu assenti, quanto mais cedo aquilo acabasse, mais rápido eu poderia agir. – Ele tentou várias vezes mandar ataques para os Volturi, muitas vezes mesmo, porém todas falharam. Acontece que vocês superaram a expectativa dele. Eu não sei muita coisa quanto a essa parte porque ele não me deixava saber as coisas, agora eu entendo o porquê. Ele tem se preparado para você desde aquele dia. Uma imprudência pode levar seu clã a morte mais facilmente do que você imagina. Entende o que quero dizer?


Concordei com a cabeça e me mexi, inquieta.


-Por que você se veio comigo? – Perguntei, olhando para o céu. Em breve amanheceria.

-Eu vivi quinhentos anos com o papai e não confia uma gota nele. Eu sei do que ele é capaz. Trapaceia, mata, se vinga, usa influência para intimidar. Não gostava de nenhuma das mães dos nossos irmãos, se deitou com elas para ter mais na sua linha de sucessão. Achava que só aqueles com o seu sangue seriam capazes de ajudá-lo. Eu nunca quis ajudá-lo. Quanto a você, bem, eu convivi doze anos. O que eu sei é que, por mais força que eu faça, eu não consigo me lembrar do rosto da minha mãe. Lembro perfeitamente da voz dela, das coisas que ela fazia comigo. Mas, quando tento lembrar o rosto dela, é o seu que me vem à cabeça. – Ela agora falava quase em um sussurro. Por um momento eu quase podia acreditar que era a garota que eu tinha deixado para trás. – E eu não acredito que aquela que me defendia da minha mãe possa ter mudado tão drasticamente. Porque o papai não mudou nada.

-Eu não me pareço muito mais com aquela garota que fugiu a cavalo.


Ela deu uma risada baixa e me olhou com divertimento.


-Curioso, quando eu te vi lá em baixo, cheia de poder em meio ao seu clã, brigando para conseguir o que queria, você me parecia exatamente aquela garota.


Ela se levantou e voltamos, em silêncio para a casa. Tudo bem, eu tinha que ser cautelosa, ótimo, mas eu só tinha ficado com mais raiva de Jason ainda. Agora era questão de guerra, ele tinha uma vantagem sobre mim e eu tinha que acabar com essa vantagem.


-Bem, voltamos ao assunto de antes. Quem vem comigo?

-Eu já disse que vou. – Fátima afirmou, aproximando-se da porta.

-Acho que eu não tenho opção. – Lizzie falou, dando de ombros.

-Pelo visto, eu também não. – Giacomo, altamente mal humorado, se aproximou. Dei a ele um sorriso de agradecimento, que ele ignorou.

-Estou dentro! – Hecate, animada, apareceu no meio do pessoal. – Isso é tão século dezessete! – Ela disse, dando pulinhos, e eu revirei os olhos.

-Ainda falta um de nós para parecer esse século.

-Acho que já está bom de gente. – Lizzie falou, e Giacomo a olhou de cima em baixo.

-Como assim bom de gente? Como vamos arrebentar aquele prédio com cinco pessoas? – Ele perguntou, confuso.

-Não vamos arrebentar prédio nenhum, troglodita. – Ela falou, bufando. – O canal do esgoto passa por debaixo das celas em certo ponto. Vamos até debaixo da cela dele, cavar até alcança-lo e, em silêncio, tirá-lo de lá.

-E o garoto? – Perguntei, me lembrando do tal Jones.

-Enquanto vocês partem o titânio, eu dou um jeito de encontrá-lo. Temos que ser rápidos.

-Ótimo. O resto de vocês, tentem entrar em contato com Josh. Precisamos de um avião para Seattle agora.

-Agora. Tá... – Anne murmurou enquanto buscava o celular.


Saímos correndo para a rua. Bem, eu estava correndo, então o resto tinha que acompanhar. Fátima, pelo menos, parecia compartilhar da minha disposição. Não demorou muito para chegarmos perto de onde queríamos, um bueiro que, segundo Lizzie, nos levaria para debaixo das celas. Giacomo a questionou sobre como ela sabia, e ela disse que, de vez em quando, era difícil sair para ter alguns minutos de paz, por isso ela aprendeu todas as passagens subterrâneas que poderiam existir.


-E como vamos cavar? – Ele questionou novamente, enquanto eu e Hecate abríamos a tampa da entrada.

-Você tinha duas mãos a última vez que eu conferi.


Era ótimo que eles estivessem se dando tão bem. Revirei os olhos com o pensamento.


-Quem vai primeiro? – Perguntei, acabando com a discussão.


Giacomo olhou lá para dentro e soltou um ruído que, acredito eu, tenha sido de nojo.


-Humanos são nojentos. – Falou, a voz enojada.

-Tudo bem, eu vou primeiro. – Falei, suspirando. E me arrependendo logo em seguida.


O esgoto estava concentrado no centro e, ao lado, existiam espécies de calçada que permitia caminhar acima do líquido. Seguimos por lá, Lizzie nos guiando. Droga, ela poderia estar nos levando para qualquer lugar, mas eu era incapaz de desconfiar dela. De qualquer forma, não dava para voltar atrás. E eu não tinha essa pretensão.

Andamos pelo que pareceu uma eternidade.Virávamos esquinas, atravessávamos pulando de uma calçada para outra, andávamos em frente, e não chegávamos nunca. Comecei a ficar impaciente e bufava a todo momento, mas ninguém pareceu notar.


-Não podemos, pelo menos, correr?

-Não, Giuliet. Temos que ser cautelosos.


Continuei andando, inquieta. Até que ela parou, tão repentinamente que quase esbarrei nela. Ela olhou para o teto, que era baixo ali, e virou-se para mim, sorrindo.


-É aqui.


Senti meu estômago revirar, não sabia se era por causa do cheiro dos dejetos humanos ou por saber a cena que eu iria ver ali acima. Mas, por fora, mantive a linha.

Lizzie indicou o lugar exato onde iríamos começar, e logo começamos. Era mais fácil do que eu havia previsto, não deveria demorar muito.


-Giuliet, eu vou buscar nosso irmão. Encontro vocês na saída do esgoto.

-Tudo bem. Tome cuidado lá. – Disse, concentrada em perfurar o teto.

-Vocês também. – Ela disse enquanto subia.


Continuamos o serviço em silêncio, conseguindo ficar cada vez mais alto. Em breve teríamos que subir em alguém para chegar ao fim. Não devia demorar muito mais para chegar.


-Giuliet, não acha que, talvez, ela esteja te enganando? – Giacomo perguntou, enquanto cavava.

-Acho, mas eu não tenho outra alternativa. Ela é a única ligação que eu tenho com Jason.

-Ou você deixou o coração ficar mole.

-Não, isso não aconteceu.

-Não é o que parece.

-Para quem está acompanhando a história há três horas, você parece bastante certo.

-Isso é tempo o suficiente para observar.


Eu já ia discutir quando Giacomo conseguiu passar a mão pelo buraco, chegando do outro lado. Era mais baixo do que eu imaginava. Paramos de conversar instantaneamente e alargamos o buraco, fazendo o máximo de silêncio o possível.


-Acho que eu já consigo passar. – Sussurrei, quase não saindo som nenhum. Giacomo analisou e concordou, abrindo espaço para mim.


Posicionei-me debaixo da abertura e saltei, passando reta pelo buraco estreito e usando os braços para me ajudar a me içar. Consegui pousar em silêncio na parte de cima.

O lugar fedia a bolor e a fechado, o ar era sufocante. Era um quadrado fechado e escuro, imundo, com o chão de terra. A porta, toda de titânio com uma pequena abertura em cima, não demonstrava nenhum sinal de que havia luz do outro lado. Porém, nada disso teve a minha atenção por muito tempo.

Andreas estava no fundo, de joelhos e os braços cruzados em frente ao corpo, preso por correntes que estavam ligadas na parede. A única coisa que o mantinha naquela posição eram as correntes, porque seu peso estava todo jogado para a frente. Sua cabeça pendia, mole, para a frente, escondendo o seu rosto. Ouvi os outros dois aumentando a cratera para que Giacomo pudesse passar. Deixei-os para trás e me aproximei, devagar, do prisioneiro. Era como se, mesmo que eu quisesse tirá-lo de lá, algo me forçasse para trás, impedisse meu avanço.

Quando finalmente cheguei na frente dele, me ajoelhei, sem saber o que fazer. Apoiei seus ombros para trás, tirando-o daquele estado de quase-queda. Sua cabeça mal se moveu, continuando abaixada. Era como se ele dormisse. Segurei uma das correntes e tentei puxar, mas ela resistiu bravamente. Maldito titânio. O cheiro de sangue de lobisomem estava impregnado em cada poro da sua pele e isso aumentou o embrulho no meu estômago. O balancei para ver se ele esboçava qualquer tipo de reação, mas não houve resposta.


-Gente, andem com isso, preciso de ajuda aqui. – Sussurrei para trás, quase no mesmo momento em que Fátima passou. Giacomo veio logo atrás.


Os dois tiveram a mesma reação que eu acho que tive quando o vi. Giacomo ficou parado, o olhar morto. Fátima estava entre choque e sei lá o que. Acho que a ficha deles não tinha caído completamente.


-Vocês podem entrar em choque mais tarde? – Reclamei, e eles acordaram.


Em milésimos de segundo Giacomo estava do meu lado, segurando as correntes. Fátima também veio, mas ela parecia estar em outro planeta. Tudo bem, eu e Giacomo resolveríamos sozinhos.

Apoiei Andreas no meu ombro para libertar as minhas mãos e, juntos, eu e Giacomo forçamos a algema de metal que havia em uma das mãos. Demorou um pouco até que ela cedesse, mas conseguimos. O problema é que fez um estrondo. Fátima foi vigiar a entrada, era o máximo que ela conseguia fazer naquele momento.

Mudei-o para o outro ombro para que pudesse forçar a outra mão. Foi mais ou menos o mesmo resultado. Quando estava totalmente solto, Andreas caiu mole para a frente, mas eu o estava apoiando e deu para segurar. Giacomo e ajudou a levantá-lo. Tentamos nós dois carregarmos, mas Giacomo era muito mais alto do que eu e Andreas ficava torto. Por fim o mais alto o jogou por cima do ombro, facilitando.


-Vamos logo, antes que percebam alguma coisa. – Murmurei e nos aproximamos do buraco.


Giacomo foi o primeiro a saltar, seguido de Fátima. Eu fui por último, já correndo quando desci. Agora teríamos que ser mais rápidos o possível. E estávamos sendo.

Ouvi um passo em uma poça, muito atrás de nós. Pelo visto, seja lá quem fosse, seria um só. E, se estava nos seguindo, não poderia ser boa coisa.


-Tem alguém atrás de nós. Vão em frente, eu distraio. – Falei, parando.

-Mas Giuliet... – Fátima tentou discutir, mas não deixei que terminasse.

-Vão logo, tirem o irmão de vocês daqui. Eu cuido disso. Só vou atrasá-lo. Andem, sumam.


Eles obedeceram, meio relutantes. Quando sumiram de vista, me escondi em uma das galerias próximas enquanto esperava quem quer que fosse passar. Ouvi os passos silenciosos, de vez em quando falhavam em uma poça, mas o som era realmente muito baixo. Até que ele cruzou a abertura da galeria e saltei, sem pensar duas vezes. Meu corpo se chocou com o dele e nem reparei que não havia feito o estrondo necessário.

Eu e seja lá quem fosse caímos rolando do outro lado do esgoto, eu parando alguns centímetros à frente dele. Já havia me posicionado para levantar quando ouço o outro gargalhar inesperadamente.


-Eu não esperava menos do que uma entrada triunfal. – Ele disse, entre os risos, a voz rouca preenchendo meus ouvidos.


Ele se sentou e depois se levantou, limpando a roupa o máximo que podia. Eu estava parada enquanto meu cérebro começava a funcionar e a ligar as coisas. Ele era muito mais alto do que eu, a pele morena meio avermelhada e o corpo forte. Só que, agora, seu cabelo estava curto, conforme a moda da era.


-Benjamin? – Perguntei, ainda achando que era delírio ou qualquer coisa assim.

-É, já faz uns anos que me chamam assim. – Ele brincou, mas meu humor estava negativo e eu só o encarei com o rosto sem emoção. – Pode rir, Giuliet, eu sei que você achou graça.

-Você é o lobisomem que estava alimentando Andreas?

-Andreas é aquele cara da cela, né? Bem, é muito provável que meu sangue tenha alimentado ele alguma vezes, mas eu não sei dizer a freqüência. Têm outros.

-De todas as pessoas, você seria a última que eu esperaria se subordinar ao Jason.

-Subordinar é uma palavra pesada. Eu diria que nós entramos em um acordo.


Olhei para ele com toda a raiva dos últimos dias, tudo aflorando naquele momento. Ele percebeu.


-A vida para a minha espécie é difícil, Giuliet. De vez em quando temos que fazer associações estranhas para sobreviver.

-Você poderia ter vindo a mim, eu te receberia.

-Jason também me recebeu.

-Mas ele é um monstro. Não é possível que você não veja.

-Eu vejo. Mas se você é capaz de matar as crianças da sua própria espécie, não deve ser tão diferente assim dele. E, afinal de contas, vocês são todos vampiros, não há grande diferença entre um e outro.

-Eu não sou obrigada a ouvir você falar besteira. Se você se corrompeu não há nada que eu possa fazer por você mais. Agora me dê licença, eu preciso estar em outro lugar.


Tentei passar por ele, mas ele se pôs na minha frente, impedindo minha passagem.


-Desculpe-me, Giuliet, mas eu não posso permitir isso.

-E você vai fazer o que, cachorro? – A raiva saía pela minha voz, incontrolável.

-Agora você está exatamente como eu imaginei que seria a Giuliet vampira. – Ele disse com um sorriso distraído no rosto. – E eu acho muito descaramento entrar pelo chão e sair com um prisioneiro importante. Elisabeth vai ficar encrencada quando Jason souber que ela os traiu.

-E o que você tem a ver com isso?

-Eu sou a única pessoa que você confiaria para cuidar dela, lembra disso?

-É, eu já sei como você cuidou maravilhosamente bem. – Debochei e o empurrei para o lado, mas ele me segurou e me impediu de avançar. Ele era mais forte do que os lobos normais e isso não era bom sinal.

A pele tão mais quente que a minha foi incômoda ao toque e tentei me libertar, mas ele apertou com força. Ele chegou o rosto perto do meu e sussurrou no meu ouvido.


-Agora é uma excelente hora para extravasar e me bater. – Eu quase não ouvia a sua voz.

-Que?

-Bate em mim. Muito. E me leve como prisioneiro.

-Que? – Repeti, não entendendo.

-Ai Giuliet, você continua devagar. Bate e me tira daqui. Eu posso ser de alguma ajuda.

-Você é bipolar ou algo do tipo?

-Só obedece.


Comecei torcendo seu braço para me soltar. Depois bati em sua barriga com mais força do que deveria e vi que ele quase botou para fora o que quer que tenha comido. E assim continuei, enquanto ele fingia que tentava revidar. Aquilo estava me deixando desconfortável, e eu não estava entendendo nada. Quando ouvi um estalo e ele abafou um berro, caiu no chão, fraco.


-Agora me apaga e me tira daqui. – Ele continuou a murmurar o mais baixo que podia.

-Por que isso?

-Quando estivermos seguros.


O apaguei e fiz o possível para arrumar uma posição para carregá-lo e correr ao mesmo tempo. Ele estava arrastando o pé no chão, mas iria sobreviver a isso.

Quando cheguei no local, o motor já estava ligado e eles estavam me esperando. Joguei Benjamin para Kronus, que estava na porta e ele segurou, não entendendo nada.


-Só joga ele por aí e não discute. – Falei lá de baixo.


Ele deu de ombros e obedeceu. O bom dele é que, não importava o quão bizarra fosse a situação, ele acabava se acostumando. Era fácil conviver com ele.

Saltei para o avião e fecharam a porta e seguida. Estavam todos lá, apertados. Meus olhos se prenderam por alguns instantes em Andreas deitado no colo de Fátima. Havíamos conseguido, ele estava salvo. Meu olhar se encontrou com o de Lizzie e eu sabia que eu passava agradecimento. Ela apenas sorriu de volta e deu de ombros.

Seria uma interessante viagem de volta tentando explicar o que Benjamin fazia todo quebrado ali. Até porque eu mesma não sabia.


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