Giuliet Volturi - Dark Side Of The Earth escrita por G_bookreader


Capítulo 23
Cela Secular


Notas iniciais do capítulo

O capítulo ficou pequeno, eu sei. E também foi escrito meio rápido, eu sei também. E também está diferente dos outros. Mas eu tenho motivos para acreditar que vocês vão gostar. xD
Boa leitura.



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Estava escuro, como fora desde sempre. Amarrado naquelas correntes de titânio, enfraquecido, sujo e cansado, ele se esforçava para lembrar quem era. Usava suas últimas memórias para manter sua sanidade, se ainda houvesse alguma.

Então sua mente começava a funcionar. Suas memórias começavam no início, quando ele ainda não era vampiro. Ele sentado com a mãe no piano, depois trabalhando na lavoura com o pai e o irmão, e finalmente chegando em casa ao final da tarde para brincar com a irmã mais nova.

Eu sou Andreas Volturi. Filho de Gianna e Alonzo Volturi. Irmão de Giacomo e Fátima Volturi.

Então sua mente se projetava para frente. Giacomo brigando com o pai, sendo injustiçado pela preferência. A mãe angustiada, vendo tudo, sem poder falar nada. O pai perdendo a paciência e agredindo o filho do meio.

Eu sou Andreas Volturi. Eu sou o filho mais velho. Eu tenho boa intuição. Meu pai prefere a mim, mas eu acho que Giacomo é um bom rapaz.

Ele se esforçava para lembrar da pior noite de sua vida humana. Giacomo estava trancafiado em seu quarto, o pai não o permitia sair. Os pais dormiam, sua irmã, já uma mulher, também. Ele não conseguia pegar no sono, olhava a paisagem da Toscana, séculos atrás, pela janela de seu quarto. Foi quando os viu chegar. Os seres brancos que o transformaram em vampiro.

Eu sou Andreas Volturi. Tranformado em vampiro. Três longos dias de dor e agonia, até me tornar um monstro.

Vinha então a memória da noite em que ele e seus irmãos fugiram do clã que os havia transformado. Ele agora era um líder, sentia isso, e aos poucos o rebelde Giacomo aceitava isso também.

Eu sou Andreas Volturi. Líder do Clã Volturi. Agora devo prezar pela vida de meus irmãos além da minha própria.

Então eles chegam à Capital. Uma cidade monstruosa que o líder da época, Hugh, governava. Aprendem suas regras e ele sente um desgosto profundo por elas. Não satisfeito, começa a liderar uma rebelião que duraria anos até tomar qualquer atitude.

Eu sou Andreas Volturi. Chefe da rebelião contra Hugh. Tenho que ser forte.

Lembra-se perfeitamente da manhã em que ela aparecera no lado de fora da Capital, confusa e sem entender ao certo o que estava fazendo ali. Era a garota que ele via em suas visões, a que ele vira nascer. Lembrava-se de como fora difícil agir normalmente, e de como a deixara desconfiada. Também se lembrava de como ela havia, aos poucos, confiando neles e eles nela.

Eu sou Andreas Volturi. Líder do Clã Volturi, Chefe da Rebelião. Eu tenho que trazer Giuliet Collins para a rebelião. Eu tenho que traze-la para perto, de qualquer forma.

Hugh chegara ao topo de sua loucura. Escravizara sua população, impedira fugas, enlouquecera de vez. Era hora da rebelião agir, então ela agiu. Porém, quando ele foi se pronunciar ao povo foi Giuliet que conseguiu incita-los, foi então que ele se deu conta. Ele era líder por vontade, mas ela era por vocação. Deixou que ela continuasse, ele próprio preso ao discurso simples, quase inocente, mas implacável. Ele nem acreditou quando o povo se dispôs a lutar contra Hugh.

Eu sou Andreas Volturi. Minha liderança acabou de descer descarga abaixo, mas eu nunca senti um orgulho tão grande. Mas ainda temos que lutar.

A batalha veio, ele e Giuliet liquidaram com Hugh. O poder foi dividido entre os dois, algo inédito na história. Ele se viu dividido entre deixar Giuliet comandar, ele achava que ela seria muito melhor que ele, ou tomar toda a responsabilidade para si, poupando-a disso. Mas, no final das contas, quando eles se acertaram, ela o convenceu a comandar. Ela achava que ele seria melhor, e foi impossível convencer do contrário. Aliás, era impossível convencê-la de qualquer coisa normalmente.

Eu sou Andreas Volturi. Líder do Clã Volturi, Governante da espécie dos vampiros. Eu não faço a menor idéia do que fazer agora.

Um século se passou. Giacomo continuava rebelde, mas ele não via isso como uma ameaça. E, no final das contas, ele nunca seria um problema real. Foram anos felizes, provavelmente o mais perto de feliz que ele teve. Até que ele teve aquela visão, onde ele sabia que morreria. Havia duas opções, uma em que todos saberiam a versão completa da visão e Giuliet o impediria de lutar sozinho, então ela também morreria. Nesse caso, Giacomo assumiria, e seria destruído anos depois. No outro caso, só ele morreria, e Giuliet, depois de se estabelecer, ficaria bem. Ele não via ela se sendo morta ou algo do tipo.

Mas, na hora em que estava lutando e perdeu, algo mudou, e ele foi parar naquela cela. E lá estava, havia séculos.

Eu sou Andreas Volturi. Jogado como um saco de batatas em uma cela imunda. Estou aqui faz tanto tempo que nem sei se minhas lembranças existiram ou são frutos da minha imaginação.

Ele poderia estar ali desde sempre, não faria diferença. Descobrira da pior maneira que vampiros são frágeis a certas coisas que a natureza produz.

Ele era acorrentado, com as mãos nas costas, por correntes de titânio. Vampiros conseguem quebrar qualquer material com extrema facilidade, exceto titânio. Porém, em pleno estado de saúde, aos poucos, ele teria partido aquilo facilmente.

Havia também o que faziam ele beber. No início ele achou que era algo misturado com sangue, talvez veneno, ele não sabia. Era um líquido avermelhado, que em tudo se assemelhava com sangue, exceto pelo cheiro e o sabor. O cheiro lembrava um cão de rua que ficava na chuva, e o sabor era inexplicável. Bem, era sangue sim, mas ele não sabia do que.

As primeiras doses foram arrebatadoras, os vampiros que o aprisionaram tinham que segurar sua boca fechada para que ele não regurgitasse. Ele se sentia enjoado e, quando as quantidades eram grandes demais, ele chegava a praticamente desmaiar. Ele desejava desmaiar, para fugir do sentimento que aquilo causava. Ficava fraco, mal conseguia falar.

Depois de séculos sendo tratado dessa forma, também mal se lembrava como era sentir-se forte. Sua vida era ficar parado na mesma posição, só se movendo toda vez que o sangue misterioso começava a perder o efeito em seu corpo. Mas esses momentos nunca duravam muito tempo. Seus sentidos eram os que mais sofriam. Não sentia cheiros, quase não tinha forças para respirar. Ouvia apenas os sons que estavam próximos, pior do que um humano. Sua visão era turva, algumas cores escapavam da sua percepção. O melhor era o tato, mas depois das sessões de sangue nem mesmo isso era possível manter.

E tinha a sede. Eles não o alimentavam com sangue de verdade, ele não poderia morrer de inanição nunca. Sua garganta ardia tanto que o que sobrava de sua mente se turvava, ele só pensava em como seria prazeroso poder se alimentar novamente. Mas nem esse pensamento fazia sua boca voltar a se encher de veneno. A impressão que ele tinha era de que seu corpo era incapaz de produzir novamente a substância. Sua boca estava seca havia séculos.

Séculos. Séculos. Séculos.

No início foi mais difícil. Eles também o torturavam, de formas variadas. Quando ele estava fraco, o agrediam, sem arrancar partes do corpo, só batiam muito. Doía, mas não era nada que ele não pudesse suportar. Pediam para que ele desse informações sobre o clã, sobre onde poderiam estar. Ele sorria com isso, sinal de que não haviam pego ninguém. Depois eles o afundaram em um posso, amarrado com as mesmas correntes de titânio. Ele não sabia dizer quanto tempo ficou lá, mas enfraquecido com o sangue ele chegava a tremer de tanto frio que sentia. Quando o tiraram de lá, novamente nada ele falou.

Então começaram a atacar a sua mente. Ele tinha visões variadas, desde sua época humana até pouco antes de ser capturado. Ele via a casa que crescera pegando fogo, Giacomo e Fátima brigando até a morte, ou então Giuliet matando os dois no final. Havia também a visão em primeira pessoa, onde ele próprio matava Giuliet, lenta e sadicamente. Ele quase não suportou a seqüência, mas nada falou. Também, o que falaria? Não sabia de nada.

Depois, muito tempo depois, deixaram-no em paz, só para voltar depois com uma proposta. Parariam de importuna-lo se ele aceitasse se unir a eles. Se os ajudasse a armar uma guerra contra o clã de onde ele havia sido roubado. Ele não aceitou, não poderia, nunca. Podiam abalar o seu corpo, mas nunca sua convicção.

Voltaram a fazer as torturas mentais, então ele criou o costume de, todo dia, se lembrar de quem ele era. Depois de anos eles pararam, desistiram, mas ele nunca perdera esse costume.

Agora, o efeito da dopagem começava a ficar mais fraco. Ele ouvia melhor um pouco, a visão estava quase focada e seu corpo, apesar de fraco e mole, já tinha quase todas as sensações táteis. A única coisa que isso significava era que mais uma dose estava chegando.

E não demorou. Ele ouviu as grades da cela rangerem para se abrirem e se fecharem logo em seguida. Mal percebeu quando a chegaram perto. Eram um vampiro e uma... ele não sabia o que ela era. Por vezes ela ia aplicar as dosagens, não era muito comum. Não era humana, nunca poderia ser, mas também não era uma vampira. Sua mente não funcionava o suficiente para ele chegar a uma conclusão sensata.

Ele esperou o procedimento padrão, onde levantavam a cabeça dele um pouco e botavam o líquido dentro, sem que ele protestasse. Mas, ao invés disso, ela puxou a cabeça dele para trás abruptamente, pelo cabelo, o obrigando a olhar para ela. Olhar para ela sempre era perturbador.

Era uma mulher de altura mediana, magra, de pele muito pálida, mas corada por ter sangue correndo nas veias. Sua aparência era de, aproximadamente, vinte anos. Os cabelos castanhos estavam amarrados em um rabo de cavalo, meio fora de ordem. Vestia uma calça jeans, tênis pretos, camisa branca e uma jaqueta do mesmo modelo da calça. Roupas que ele nem sequer sabia o nome, e não diziam nada sobre a época que se passava no mundo lá fora. O máximo que as vestimentas diziam era que ele já estava lá fazia muito tempo.

Mas o que o mais o perturbava eram os olhos. De um azul intenso, o lembravam olhos que ele já havia visto em algum lugar. Na cabeça dele parecia óbvio, mas ele não conseguia se lembrar, sua mente estava turva demais.

-Bom dia. Passou bem os últimos dias? – Ela perguntou, a voz carregada de deboche. Ele não respondeu, nunca respondia. – Imagino que bem. – Largou a cabeça dele abruptamente, quase que a empurrando para baixo.

Andreas permaneceu de cabeça baixa, era a melhor opção. Ela ficou andando de um lado para o outro, o analisando. O outro vampiro só ficava parado no canto da cela, nem sequer se movia. Aquele era um rosto conhecido, havia sido torturado por ele. Tinha altura mediana e um corpo magro, com cabelos loiros perfeitamente alinhados e um olhar arrogante para qualquer coisa.

-Vamos logo com isso, Amy, seu pai pediu para que não demorássemos. – O vampiro apressou, o tom impaciente.

-Cala a boca, Christopher. Essas coisas não são rápidas.

Christopher bufou e ficou quieto, nunca saindo de sua posição parada.

-Então... é Andreas o seu nome, né? Eu nunca consigo me lembrar. – Andreas continuou sem responder nada, então ela continuou. – Você já está a bastante tempo aqui. Tenho certeza que você tem curiosidade de saber quanto. São, mais ou menos, trezentos e cinqüenta anos. Cara, isso deve ser chato que é um inferno. – Ela riu ao fim da frase, mas ninguém esboçou qualquer reação.

Ele esperava no mínimo uns quinhentos anos. Percepção de tempo é uma coisa que pode variar monstruosamente dependendo da situação em que você está.

-Nós temos uns planos bem interessantes que estão prestes a se realizar. Mas, nós temos no caminho uma pequena... pedra. A sua... como posso dizer... herdeira ao trono tem nos causado problemas. – De cabeça abaixada, com o rosto escondido, ele esboçou um sorriso. – E, imagino que talvez você queira nos ajudar a resolver esse problema. – Ela esperou uma resposta, que nunca ganhou. – Sabe o mais curioso de tudo? Você é leal aquele clã, e até hoje, depois de séculos, ela não veio te buscar ainda. Você pode sair disso, dessa miséria.

Ele simplesmente fez força para olhar para cima e fez o melhor que pode de um sorriso sarcástico, e disse, com a voz mal saindo:

-Eu tenho pena de vocês.

Amy ficou vermelha de raiva e o esbofeteou no rosto. Em uma situação normal não teria tido qualquer efeito, era um golpe fraco, mas naquela situação doera. Ele só forçou para olhar para frente de novo, ainda com resquícios do sorriso no rosto.

-Você teve sua chance, idiota. Chris, não deu, pode ir.

O vampiro se aproximou, empurrou sua cabeça para traz e o obrigou a beber uma quantidade considerável do líquido nojento. Largou sua cabeça, que caiu solta, enquanto o mundo de Andreas se tornava escuro novamente.


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