Giuliet Volturi - Dark Side Of The Earth escrita por G_bookreader


Capítulo 20
Ameaça


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, a inspiração saiu e não deixou carta de despedida por um bom tempo. :S
Bem, mudei a capa da fic. Não é lá a melhor coisa do mundo, mas dá pro gasto. kkkk'
Well, é isso, boa leitura.



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-Não senhora, não é de nós que o barulho está vindo, as paredes tem isolamento acústico. – Falei pacientemente com a senhora que morava nos arredores e que reclamava do barulho. Se ela olhasse para o carro de som do outro lado da rua, entenderia. – É senhora,  tem isolamento acústico, o som não sai daqui. Não, não estou chamando a senhora de ignorante. – Quando eu nasci ela já tinha que acordar cedo para alimentar os filhos? Dona, os santos que comandam o céu devem ter perdido a ficha da senhora há séculos. – Senhora, olha para o outro lado da rua que a senhora vai ver que não somos nós. Meu Deus, eu não estou te dispensando! Tudo bem, pode chamar a polícia, não fará diferença. Boa no... – E obrigada por desligar na minha cara.

Era cada uma que me aparecia. O trabalho da discoteca se dividia em: um terço trabalho, dois terços atendendo ao telefone para coisas assim. Pior que a mulher reclamando do barulho só o cara que insistia que aquele era o número da pizzaria.

Olhei para a tela daquela coisa tosca que faz mil coisas, ou computador, como preferir. Já era mais de duas da manhã e o movimento do lado de fora não parecia querer diminuir. Infelizmente, de vez em quando, eu era obrigada a passar algumas noites ali, mas naquela eu já tinha feito trabalho o suficiente. Desliguei a máquina e saí, trancando a sala. Se o barulho lá dentro já era suficientemente irritante, do lado de fora beirava o insuportável. Eu sabia que humanos eram surdos, mas não lembrava que eram tanto. E sem falar que, gosto musical, onde estás?

Atravessei o enorme espaço desviando de todas as pessoas sem sono e doidas que não me viam. Consegui chegar na saída e cumprimentei rapidamente o segurança, que retribuiu com um sorriso. Não peguei meu carro, fui andando pelo lugar. Forks era um lugar agradável para uma caminhada durante a madrugada. Eu gostava de ir até o limite da cidade e ficar lá um pouco, vendo a noite. Quando cheguei, subi em uma árvore e sentei em um galho, apoiando as costas no tronco. Era bom estar sem quatro vampiros e meio falando no seu ouvido o tempo todo.

O céu estava claro e estrelado, era noite de Lua Cheia. Meu campo de visão estava ainda maior, o que me deu um certo acréscimo no conforto. De tempos em tempos um carro passava e jogava um resto de luz em mim, mas nunca me notariam escondida atrás das folhas.

Então ouvi passos no meio da floresta, silenciosos e cadenciados. Olhei na direção e revirei os olhos. Havia dois lobos andando na minha direção e, se eu não me enganava, eram Camily e Rafa. Eles tinham que aparecer para impregnar o ar com seu perfume, claro. Chegaram a passar por debaixo da minha árvore.

-Sabe, eu tenho o direito à um pouco de privacidade, não importando a amor que vocês sintam por mim. – Falei, debochada.

Eles viraram as grandes cabeças para cima, dando ré para terem um ângulo melhor.

-Sentiram saudade? – Eles me encararam o tempo, mas como eu não faria nada mesmo, eles continuaram a rastrear. Quando percebi que estava rastreando, comecei a ter uma ponta de curiosidade. – O que vocês estão procurando? Alguém roubou as bonecas de vocês?

Eles trocaram um olhar rápido e a líder saiu correndo. Como o outro ficou, provavelmente ela voltaria. E foi o que aconteceu, ela voltou humana e o garoto saiu.

-O que, um tem que ficar para me vigiar?

-Cala a boca. – Ela disse enquanto olhava para a floresta. Não demorou muito ele também apareceu.

-Tudo bem, agora que todos somos bípedes, o que está acontecendo?

-Tem rolado uns cheiros diferentes na parada, valeu? – O garoto falou, todo relaxado.

-Valeu, mas agora em uma língua que eu entenda. – Era tão difícil falar inglês como deveria?

-Temos rastreado dois vampiros. – Ele repetiu em tom de tédio.

-É, eles ainda não entraram em nosso território, queremos evitar que isso aconteça. – A outra disse.

-Dois cheiros diferentes? Ao redor de Forks ou dentro?

-Ao redor, mas não acho que vá demorar muito para que eles entrem. – Ela afirmou.

-Legal, e vocês estão me contando isso porque...

-Eu tive a ligeira impressão de que você perguntou. Além do mais, vocês já devem ter percebido isso também.

-Infelizmente, nós temos mais o que fazer do que andar cheirando por aí de madrugada.

Joguei-me do galho e caí de pé na frente deles, arrumando a roupa.

-Bem, vamos começar então.

-Começar o que? – Ele perguntou, não entendendo nada.

-Tem um vampiro desconhecido no nosso território, o mais sensato a fazer é rastreá-lo.

-Com a gente? – Rafael perguntou, também confuso.

-Se vocês quiserem eu deixo vocês correrem na frente e vou depois de cinco minutos. – É bom que eu seguiria o cheiro deles, bem mais recente, e não o outro de várias horas. Eu não era uma rastreadora e nunca seria.

Eles bufaram e foram para o meio da mata. Fui até onde eles não tinham passado ainda e comecei a buscar rastros, mais ou menos na linha que eles estavam buscando antes. Tentei fechar todos os meus outros sentidos e focar apenas no olfato. Andei pela área um pouco até finalmente conseguir encontra-lo. Eram dois rastros e um me parecia ligeiramente familiar. De onde eu conhecia aquele rastro?

Comecei a segui-lo, não muito rápido pois o perderia se corresse muito, e logo os outros dois estavam do meu lado, aquela cena tinha muitas coisas erradas. Eles andavam um pouco rápido demais para o meu olfato, mas já que eles estavam rastreando também, seria só segui-los. Quando parei de tentar rastrear, achei-os devagar demais, mas me contive.

Demorou horas de silêncio e corrida até termos algum progresso. O dia já começava a clarear quando o rastro ficou forte a ponto de eu não ter dificuldade de senti-lo. Estávamos em uma parte afastada da mata e havia um córrego entre pedras, o rastro subia o córrego e ficava cada vez mais próximo. Até que eu pude ouvi-los, e parei atrás de um amontoado de pedras, observando a cena. Os outros dois pararam, mas não tiveram o impulso de se esconder, só se abaixaram um pouco.

Eram dois vampiros, um casal para ser mais exata. Havia um vampiro alto e forte, aparentava no máximo trinta, com cabelos castanhos escuros e curtos e uma barbicha rala na ponta do queijo. A outra era baixa e magra, cabelos longos e negros e um olhar aristocrático de quem era de muito tempo atrás. Sua aparência era de vinte e poucos anos. Então eu entendi por que eu conhecia o rastro.

Há quase quinhentos anos antes, logo depois de eu começar a andar sozinha pelo mundo e antes de eu conhecer Kratos, nós duas cruzamos nossos caminhos. Não era uma época agradável para nômades e para a nossa espécie. Éramos todos muito violentos, qualquer encontro era motivo para lutas. Os dois últimos vampiros que eu havia cruzado haviam me gerado problemas, um deles havia terminado em luta. Acho que aquele havia sido o primeiro vampiro que eu matei.

Mas quando nos cruzamos, isso não aconteceu. Ela não era vampira há muito mais tempo do que eu, e ela teve uma educação parecida com a minha, só que nela havia dado certo. Fomos educadas uma com a outra, conversamos rapidamente e depois cada uma seguiu o seu caminho, sem violência. Eu não sabia o que havia acontecido naquele meio tempo, mas as chances dela estar lá para me matar não eram muito grandes. Ainda mais com só um vampiro acompanhando.

-Deixa que eu resolvo, fiquem aqui. – Sussurrei o mais baixo o possível, e eles iam protestar. – Não façam barulho. Eu conheço.

Eles não ficaram felizes, mas não protestaram. Eu não acreditava que fossem ficar muito tempo naquela, então eu tinha que aproveitar e ser mais rápida o possível.

Comecei a me aproximar, sem ser muito rápido, talvez em uma velocidade humana. Meus passos eram silenciosos, mas eles repararam a minha presença não demorou muito. O rapaz se levantou e ficou tenso, mas ela só levantou uma sobrancelha e se pôs de pé tranquilamente.

-Eu te disse que já tinha alguém nesse território. – Ela falou para o companheiro.

-Não dava para ter certeza. – Ele respondeu.

-Relaxem vocês dois, eu só vim saber quem vocês eram. Essa coisa toda de defender território, vocês sabem...

-Então, as coisas mudaram bastante. – Ela comentou, sorrindo.

-Podemos dizer que sim. – Eu disse, retribuindo o sorriso.

Fachada, a gente só estava se testando para saber o quão diferentes as coisas estavam.

-Bem, eu tenho que perguntar. – Continuei. – O que fazem aqui?

-Estávamos procurando um lugar para montar moradia fixa. Aqui não faz muito Sol e é uma cidade pequena. Mas parece que vocês tiveram essa idéia antes.

-Três anos antes. – Hesitei um pouco. – Não é da minha conta mas... por que montar moradia depois de tantos anos vagando por aí?

-Bem... – Os dois trocaram um olhar preocupado antes dela falar. – Melhor nos sentarmos.

Concordei com a cabeça e eles começaram a andar para umas pedras que poderiam servir de banco. Senti-me mais confiante quando eles me deram as costas, nunca fariam isso se me considerassem um inimigo em potencial. Olhei para trás, para onde os lobos estavam, e não vi movimento. Mas eu sabia que eles ainda estavam lá e, discretamente, acenei com a mão para que eles fossem embora. Não sei se obedeceram, não tinha como eu conferir.

Eles sentaram lado a lado em uma pedra grande e eu sentei em uma menor, logo à frente.

-Então Liah, fale. – Disse para ela.

-Primeiro deixe-me apresentar, esse é o Luke Knight. – Ela disse enquanto o olhava um pouco intensamente demais para o meu conforto.

-Oi. – Ele falou simplesmente.

-Olha, ele fala. – Brinquei. – Prazer, Giuliet.

-É, eu sei.

Uau, que simpatia!

-Respondendo a sua pergunta – Ela continuou. – Não está dando mais para ser nômade, está ficando cada vez mais perigoso.

-Por que? – Desde quando ser nômade gerava qualquer tipo de perigo maior do que ser sedentário?

-Porque... ah, droga, você deve imaginar. Com a pressão que vocês estão botando em nós, todos acham que qualquer nômade pode ser vigia de vocês.

Epa, para tudo! Pressão? Quem está fazendo pressão, cara pálida?

-Pressão? Nós temos ficado quietos por anos, não recebo denúncias de nada há séculos, só encontramos alguém da espécie quando somos atacados, o que, ultimamente, não tem acontecido. Do que vocês estão falando?

Os dois trocaram outro olhar inseguro. Se eles pudessem parar de se olhar e responder a minha pergunta, eu ficaria agradecida.

-Do que vocês estão falando? – Repeti impaciente quando a resposta não veio.

-Você não está planejando uma repressão a todos que já descumpriram a regra e você deixou passar?

Com essa eu cheguei a me levantar, furiosa demais para ficar sentada. Essa história de novo? Eu tinha cara de Hitler por acaso?

-Eu não estou fazendo nada. – Eu falei com a voz fria e implacável. – Quem disse isso?

-Todo mundo está dizendo isso.

-Quem começou a dizer?

-Não sei, quem nos explicou isso foi um cara estranho com um sotaque inglês antigo, parecido com o seu. Na verdade, quase igual ao seu, o seu é mais misturado, mas tanto faz, é bem parecido o jeito de falar. – Ela parou um pouco, provavelmente voltando para o assunto principal. – Ele disse que havia visto pessoalmente você treinando recém-criados. Que em cada território em que vocês passavam treinavam um determinado número de vampiros até que fossem experientes, e então mudavam de território e faziam um mesmo, e seria assim até que tivesse um exército para espalhar e começar a chacina.

-E todo mundo está acreditando nisso? – Perguntei, incrédula, enquanto cruzava os braços.

-Acredite, ele é bem convincente.

-Eu não estou fazendo isso. – Voltei ao tom frio, mas eu ardia de raiva por dentro.

Então Michael Carter estava em ação ainda. Ou um covarde que não enfrentava seus objetivos, ou um gênio com um plano armado. Um plano que, no início, era bem óbvio. Ele queria me desmoralizar, fazer as pessoas terem medo de nós e provavelmente torcer para que alguém com o mesmo espírito revolucionário da última rebelião, que matou Hugh, entrasse em ação. A idéia de uma revolta contra nós me preocupava seriamente.

-Vocês vão fazer o que, então? – Voltei ao tópico “território”.

-Bem, íamos tentar nos estabelecer aqui, mas já que já está ocupado, podemos achar outro lugar. – Ela disse.

Ou eles poderiam ficar lá e, em caso de ataque, teríamos dois a mais.

-Se quiserem, podem ficar aqui. Nós não nos importamos, de qualquer forma. Não somos selvagens que disputam territórios. – Mentira, era horrível ter outro clã em nosso território, mas eles poderiam ser aliados.

-O que você acha? – Liah perguntou para Luke, que tinha os olhos em mim. Aquele garoto era estranho, e demorou a responder.

-Por mim tudo bem. – Ele disse em tom monocórdio.

-Ótimo, então tem algumas coisas que vocês preci... – Eles se levantaram rápido e ficaram encarando algo atrás de mim. Só fechei os olhos e esperei o problema se aproximar.

Rafael e Camily não estavam mais abaixados, mas sim andando na nossa direção, humanos e vestidos. Droga, havia me esquecido da existência deles. Por que eles tinham aparecido justo quando as coisas estavam começando a ir como eu queria?

-Quem são eles? – Liah me perguntou, a voz tensa.

-Ou melhor, o que diabos são eles? – Emendou o outro.

-Eu ia explicar agora. – Falei, quando eles se aproximaram. – O que vocês estão fazendo aqui?

-A gente ouviu algo a respeito de mais alguns de vocês no território. Só queríamos confirmar se havíamos ouvido isso mesmo. – Camily disse, como se eles fizessem grande diferença no universo.

-É, foi isso, agora que vocês já confirmaram, podem ir para casa dormir, a mãe de vocês deve estar preocupada. – Respondi, irritada.

-Considerando que o território é nosso, acho que ainda não podemos ir dormir. – E se virou para os outros dois. – Oi, o território é originalmente nosso, então para ficar aqui só com nossa permissão.

Revirei os olhos. Eu sentia o olhar dos outros dois em mim, sabia que o resultado daquilo poderia me causar problemas, mas eu não podia fingir que não estava com raiva. O território não era deles, ou pelo menos era antes de chegarmos. E não era meia dúzia de cachorros irritantes que nem haviam saído das fraudas ainda que iam atrapalhar a minha vida.

-O território de vocês é na oca que vocês vivem. Lá vocês podem mandar e desmandar. No que diz respeito ao território neutro e ao meu território, vocês não tem nada que se meter. Vocês queriam descobrir de onde vinha o rastro, já descobriram, podem dar meia volta e sair daqui antes que eu faça vocês saírem apagados. – Eu disse, tentando usar o máximo da voz de líder que eu havia adquirido e aprendido. Claro que neles o resultado seria bem inferior, mas eu esperava que fosse o suficiente.

Eu vi o fogo nos olhos dos dois e eu sabia que não custava nada eles nos atacarem. Porém, não ia ser muito lucro para eles. Éramos três, eles eram dois. Além do mais, eu não havia quebrado o tratado, só havia falado algumas verdades para eles.

-Depois a gente conversa. – Ela disse para mim, depois olhou para os outros dois. – A estadia de vocês aqui ainda não está decidida.

Virou-se, transformou-se em lobo e saiu correndo. O outro fez o mesmo, mas não sem antes lançar um olhar de desprezo na nossa direção. Vindo do bem humorado Rafael, era perturbador, mas eu tinha coisas de real importância para me preocupar.

Voltei-me para os outros dois.

-Me perdoem, infelizmente o território tem algumas sarnas. – Falei alto o suficiente para que ainda estivesse no campo de audição dos cachorros. – São apenas crianças, achamos melhor não mata-los, entende. É só não entrarmos na área da reserva indígena e fica tudo certo.

-Eu nem sabia que eles ainda existiam. – Luke olhava para a direção que eles haviam partido, desconfiado. – Eles não atacam vocês?

-Eles não podem entrar na área da nossa casa, nem em uma área da floresta próxima. – Me lembrei de uma última coisa. – Não matem ninguém e Forks. E podem achar uma casa por lá, não serão atacados, eu garanto.

-Obrigada. – Liah respondeu, insegura.

Despedi deles sem ter certeza se continuariam lá. Eu não havia decidido qual era a melhor hipótese, mas ainda acreditava na idéia de que precisávamos de aliados. Eles haviam contado o que havia acontecido para mim, talvez não me odiassem como o resto do mundo parecia estar aprendendo a fazer.

Voltei andando para a discoteca para buscar o carro. Dentro de pouco tempo o dia amanheceria e, pelo andar da carruagem, faria um pouco de Sol, eu tinha que ser rápida. Algumas nuvens haviam aparecido e estava mais escuro para os humanos, eu não precisava me esconder tanto para andar por enquanto.

Entrei na cidade e já estava próxima do lugar quando passei por um pequeno beco entre duas lojas. Aconteceu rápido. Em um momento eu estava sozinha, no outro estava desviando por um triz de braços que tentavam me empurrar para dentro do beco. Por um triz não fui pega. Olhei para o infeliz e vi que era a maldita da Alfa acompanhada por um dos seus cachorros qualquer, não prestei atenção em qual deles era. Eram todos iguais mesmo. Mas como eles conseguiram chegar perto sem que eu notasse?

Eu havia escapado, mas ainda sim parei encurralada no beco. Péssima posição.

-Vocês andam em par agora? – Meu tom era distraído, eu não estava realmente preocupada.

-Nós temos algumas coisas para discutir. – Camily disse com a voz não muito amigável.

-Agora não, está amanhecendo e o dia vai ser um pouco ensolarado demais para o costume de Forks. Além do mais, já passou da hora das crianças estarem dormindo.

Tentei passar por eles, mas o grandão, que agora eu via que era Philip, o único que eu tinha certeza que me mataria sem dó nem piedade. Por reflexo, segurei sua mão e torci para trás, liberando o meu ombro. Péssima idéia. Eu ouvi um “crack” baixo vindo da mão dele, mas ele não chegou nem a gemer, mas me atacou. Humano. Ele era rápido, mas foi fácil defender dos socos. Depois de muito desviar, sendo rápida e me esticando, consegui dar um tapa, que tinha uma certa semelhança com um soco, no rosto dele, próximo à boca. Ele cambaleou para trás e, quando se equilibrou novamente, me olhou com o triplo de raiva. Havia sangue saindo de sua boca. Tinha que ter perdido todos os dentes para aprender.

-Enquanto você brinca de cachorro, garoto, eu mato vampiros. Não ouse fazer isso de novo, se quiser chegar em casa com todos os órgãos funcionando. – Tentei continuar o meu trajeto.

-Nós não queremos mais vampiros aqui. – Camily falou e me virei para encara-la. – E não toque mais em nenhum deles. – Ela deveria se referir aos amigos dela, porque começou a olhar o machucado da boca.

-Eu só encosto em quem me encosta. E, além do mais, nós não queremos mais lobisomens em qualquer lugar da face da Terra, o que nos deixa empatados.

-Eu pensei que vocês não gostassem de vampiros de outros clãs no território de vocês.

-Não é problema de vocês.

-Eu só quero proteger a minha família. – Ela estava com menos raiva agora, quase civilizada.

-Existe alguém querendo minha cabeça lá fora. – Confessei. – Mais vampiros significa mais proteção. Do mesmo jeito que você quer proteger a sua família, eu quero proteger a minha. Talvez não sejamos tão diferentes assim. – Falei, começando a andar para longe.

-Nós não matamos ninguém. – Ela usou como trunfo.

-Como se eu tivesse algum tipo de escolha. – Me afastei quando o primeiro raio de Sol me atingiu.

Havia algumas pessoas na rua, mas eu passei de cara enfiada e ninguém reparou em mim. Pelo menos é o que eu esperava. Entrei no estacionamento da discoteca e abri o meu carro, sentando nele e me trancando lá dentro logo em seguida. Liguei o rádio em um CD de música clássica e me recostei no banco do carro, o couro frio ficando mais frio ao meu toque.

Maldito Carter. Malditos vampiros. Malditos lobisomens. Maldito universo.

Saí com o carro, indo para casa, onde eles deviam estar tendo uma conversa descontraída, irritando Matt, e Beta deveria estar dormindo no quarto que havíamos feito para ela. Todos sem preocupação.

Estacionei na garagem e fiquei mais um tempo lá dentro, ouvindo os sons da casa. Estavam todos na sala e Matt tocava violão na sala enquanto os outros cantavam. Senti o cheiro de leite quente com chocolate e torradas, sinal de que Beta já deveria ter acordado.

Saí do carro e subi as escadas devagar, parando na porta e olhando para eles. Continuaram cantando uma música animada, que falava de um cara que perdeu a namorada em um acidente de carro. É, a música conseguia ser animada com esse tema.

Esperei que eles terminassem, e foi quando notaram que eu ainda estava parada lá no lugar. O olhar de Hecate cruzou com o meu e ela soube, no mesmo instante, que havia algo errado.

-O que aconteceu? – Ela perguntou.

Expliquei tudo, sobre Michael Carter, sobre Liah e Luke, sobre os lobos. Emitindo a parte de que eles tentaram me segurar em um beco escuro de madrugada. A tensão cresceu na sala enquanto os olhares tranqüilos eram trocados por olhares preocupados.

-Então, com isso, temos que tomar mais cuidado com o que pode acontecer. Vamos passar por essa. – Eu falei caminhando para a cozinha, deixando o clima tenso para trás.

Beta estava sentada na mesa da cozinha, comento o que restava da sua torrada com manteiga, distraída. Sentei na cadeira ao seu lado, em silêncio, a observando. A comida humana já havia parado de me dar nojo, como acontecia no início. O cheiro é bem enjoativo.

-Bom dia. – Ela disse distraidamente.

-Bom dia. – Respondi com um sorriso. – Dormiu bem?

-Aham. Tive uns sonhos meio estranhos, mas até que foram maneiros.

-E o que foi o sonho?

-Você não vai gostar, mãe, acredite em mim. – Pronto, agora eu tinha ficado curiosa.

-Me surpreenda. – Desafiei.

-Bem... eu sonhei que a gente estava fazendo um churrasco, junto com os lobisomens, aqui em frente de casa.

-É, você venceu, eu não gostei mesmo. – Eu disse, brincando. Ela deu uma risada e voltou a se concentrar na torrada. – Aconteceu alguma coisa hoje, não aconteceu? – Ela perguntou antes de morder.

-Por que você acha isso? – Perguntei, surpresa.

-Ficou um tempo dentro do carro antes de entrar. – Os olhos azuis me encararam, penetrantes. Quantos anos ela tinha mesmo? Não eram cinco? Nove para o resto do mundo? – Quando você faz isso é porque está preocupada com alguma coisa.

Fiquei um tempo em silêncio. Nunca havia dado conta disso, mas agora pensando melhor eu realmente fazia isso de vez em quando. E ultimamente eu nem tinha tido tantas preocupações assim, mas mesmo assim ela havia reparado. Quando eu achava que não dava pra eu me surpreender mais...

-Sim, Beta, aconteceu. Tem um vampiro lá fora armando contra o nosso clã. – Falei pacientemente.

-Por que?

-Porque nós somos importantes no mundo dos vampiros, eu já te expliquei. Algumas pessoas querem ser o que somos.

-Mas vai ficar tudo bem? – Ela havia ficado preocupada mesmo.

-Claro que vai. – Tentei lhe dar um sorriso reconfortante. – Eu prometo que não vou deixar te acontecer nada, pode ficar tranqüila. Sua maior preocupação agora deve ser essa torrada, que a senhorita não termina nunca.

Ela sorriu e voltou a comer a torrada. E, na minha mente, eu firmava aquela promessa. Nada ia acontecer a ninguém, ou eu não me chamava Giuliet Volturi.


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