Giuliet Volturi - Dark Side Of The Earth escrita por G_bookreader


Capítulo 2
Londres - 1509




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Aos 15 anos de idade, humanos tem o grande impulso de desobedecer qualquer coisa. Naquela tarde de verão em 1509, era exatamente isso que eu estava fazendo.

-Corre Ben! Vai perder de novo! – Gritei para trás, aonde Benjamin, criado da minha casa e única pessoa da minha idade sociável, estava perdendo feio em uma corrida de cavalo.

-Droga Giuliet, seus pais vão nos matar! Você tinha compromisso hoje.

-Se seu cavalo não fosse tão lento, voltaríamos mais cedo! – Freei o cavalo e deixei que Ben se aproximasse.

-Sério! Hoje é um dia importante.

-Meu pai está falando isso a semana inteira, não precisa me lembrar.

-Você tem prazer em arrumar confusão, não tem não?

Olhei pra ele e ri. Benjamin não era como a maioria dos ingleses da época, pelo menos fisicamente. Ao contrário de nós, ele não era pálido, sua pele era bem mais escura. Mas não para um tom enegrecido, mas sim um avermelhado que ninguém mais tinha. Ele era adotado, obviamente, mas, segundo ele mesmo, John, seu avô adotivo, nunca disse exatamente de onde ele tinha vindo. Considerando que eu vivia na Europa do século 14, ele era a pessoa de pele mais morena que eu conhecia. Fora isso, ele era um pouco mais alto, os olhos eram muito negros e o cabelo também muito escuro, quase que perfeitamente liso, vindo até um pouco acima dos ombros. Ele crescera comigo, era apenas um ano mais velho, e agora era criado da casa, assim como seu avô, o cocheiro. Porém tinha um pouco mais de liberdade, já que não sobrava muito serviço para ele..

Incitei meu cavalo a correr e passei-o logo, ouvindo um resmungado. Só fui parar quilômetros à frente, quando encontrei um riacho e julguei que os cavalos mereciam descansar um pouco. Descemos e nos sentamos debaixo de uma árvore.

-Você tinha que estar em casa dez minutos atrás.

-Pare de resmungar como um velho. Um chá de cadeira não vai fazer mal ao homem. Nem o conheço, tanto faz.

-Sorte sua não conhecer.

-Você conhece?

-Vai e vem cruzo com ele e seu grupo. Christopher Allen é o ser mais arrogante e metido de toda a Grã-Bretanha. Ele deve achar que é filho da família real. Um dia eles quase atropelaram meu avô na rua com o cavalo, nem sequer pensaram em desviar. Se eu pego aquele...

-Benjamin, calma! – Segurei seu braço, preocupada com a repentina explosão de raiva tão incomum vindo de alguém tão calmo. Percebi que se pele estava queimando. O olhei assustada e vi que também suava exageradamente, além de uma tremedeira estranha – Você está ardendo em febre, temos que voltar.

O ajudei a se levantar, não conseguindo acompanhar muito bem seu estado físico, que de exageradamente saudável passara para “não se agüentando nas próprias pernas”. Parecia meio cansado, e o olhar estava meio agressivo, como se ele quisesse bater em alguma coisa. Ele subiu no cavalo e amarrei o dele ao meu, para que ele não precisasse controla-lo. Subi ao meu e corri o mais rápido que pude, em vinte minutos estava chegando em frente à minha casa. Nunca tinha feito aquele trajeto tão rápido.

Dirigi nossos cavalos para o estábulo, mas já tinha um comitê de recepção me aguardando lá, formado por minha mãe e Gwen, nossa criada há tanto tempo quanto eu podia lembrar. Ignorei a expressão raivosa de minha mãe e ajudei Benjamin a descer do cavalo. Ele parecia bêbado, e estava mais quente ainda.

-Ele começou a passar mal. Está ardendo em febre.

-E a senhorita deveria estar aqui meia hora atrás. Sorte Benjamin ter ficado doente, senão não teria voltado ainda. Os Allen vão estar daqui a pouco e não vão querer te ver dentro de uma calça para cavalgadas.

-A senhora não acha que eu ia cavalgar com espartilho, certo? – Eu não deveria responder, mas, por algum motivo, eu havia perdido a paciência com minha mãe ultimamente.

-Perdão, senhora. A culpa é minha. Comecei a passar mal e atrasei o progresso do passeio. – Mentiu Ben, tentando me safar. Minha mãe deu de ombros.

-Que não se repita. Gwen, leve Benjamin para dentro e veja o que pode fazer por ele. E você, vá tomar banho.

Benjamin seguiu Gwen e sumiu de vista, enquanto eu fui me arrumar. Um pouco depois de um banho rápido – o que para os tempos atuais, nem tão rápido assim – e quase frio, já estavam me enrolando em algumas dezenas de panos. Lá vinha o grande embrulho de presente de novo, que é como eu me sentia. Quando acharam que eu estava vestida o suficiente, o que não foi muito rápido, minha mãe apareceu de novo, com a aparência cansada, e as criadas saíram.

-Giuliet, por favor, não faça nada que desagrade seu pai. Não queremos vê-lo irritado. – Ela me pediu com francamente. Minha mãe muitas vezes era dura demais, mas eu não a culpava, ela era obrigada a tal. O problema é que a vida que ela teve é a vida que eu me via tendo caso meu pai arranjasse um casamento, e era exatamente o que eu não queria viver.

-Vou fazer o possível. – Tentei mudar de assunto. – Como está Ben?

-Gwen falou que não muito bem. John está com ele agora. Não deve demorar muito e estará de pé de novo. Agora vamos, os Allen já chegaram.

Descemos as escadas e chegamos até a sala de visitas, onde me pai estava na poltrona logo de frente para a escada. Tinha os cabelos castanho-claros, iguais aos meus, e os olhos igualmente azuis. Além disso, era um homem alto para a época, de corpo saudável, e, nos padrões do século XXI, muito jovem para ter uma filha de 15 anos. Eu era muito parecida com minha mãe, mas quando eu estava perto de meu pai, não havia como negar minha paternidade. Havia algo nos olhos, no modo de agir. Para ser sincera, por mais que eu odiasse isso, eu era muito parecida com ele. Felizmente, precisava me conhecer um pouco melhor para reparar nisso. A diferença básica entre nossa personalidade era que eu nunca achava que as pessoas eram inferiores a mim, independente de classe social. Provavelmente porque eu cresci vendo o que isso causava.

Meu pai se levantou, assim como a família em questão. Era um homem de meia idade, cabelos loiros começando a ficarem grisalhos, uma mulher baixa, não muito mais nova que o homem, de cabelos muito negros e também com sinais de que estão ficando brancos, e um rapaz, que não deveria ter completado 18 anos ainda, loiro demais, alto demais e magro demais. Todos ostentavam uma expressão de arrogância profunda, com ainda mais sentimento de superioridade que meu pai. Se vestiam exageradamente elegantes e me olhavam da cabeça aos pés, me fazendo querer sair correndo, montar no primeiro cavalo que aparecesse na minha frente e correr até o animal não agüentar mais.

-Sr. Allen, essa é minha filha. Tenho certeza de que ela tem um ótimo motivo para a demora. – Ele me lançou um olhar de advertência por trás dos outros três, e abaixei a cabeça.

-Perdoem-me, ocorreram imprevistos. – Ou, se preferirem, estava andando a cavalo fazendo o possível para chegar bem atrasada, e se o neto do cocheiro, que é muito mais interessante que vocês todos juntos, não tivesse passado mal, eu ainda estaria lá.

-Não há problema, estou certo de que foi necessário. – Disse o arrogante mais jovem, se aproximando e me cumprimentando educadamente. – Christopher Allen, prazer em conhece-la.

-Igualmente. – Mas se quiser se jogar na frente de uma carroça, fique à vontade.

Depois de ser formalmente apresentada aos outros dois, Robert e Christine Allen, me sentei em uma poltrona ao lado de meu pai, e, para minha felicidade, fui esquecida rápido. Pra ser mais exata, provavelmente fiquei invisível, pois a conversa tinha tomado um rumo bem mais interessante. A única exceção era Srª. Allen, que de tempos em tempos me olhava de cima em baixo, me deixando altamente desconfortável.

A conversa terminou quando o céu já escurecia, e dei graças a Deus quando educadamente me despedi. Meu pai parecia nas alturas de tão feliz, ao contrário de mim, que desfiz o sorriso falso assim que pude.

-Boas pessoas, não? – Puxou meu pai, bem humorado.

-Tem gente pior no mundo... – Respondi o mais amargamente que eu podia. Quem sabe ele não desse conta de que eu queria distância daquelas coisas que estavam na sala agora à pouco.

-Se não gostou deles, passe a gostar. Em pouco tempo conviverá bastante com todos. – O humor havia passado, e parecia que uma sombra tomara conta de sua expressão.

Não respondi, de cabeça baixa saí de perto, tentando ignorar o significado daquilo. Pensei em ir para o meu quarto, mas então me lembrei de Benjamin, e fui para o dormitório dos empregados. O lugar era composto por 5 quartos não muito grandes, com dois empregados cada. Quando cheguei ao corredor, encontrei Gwen se retirando.

-Gwen!

-Senhorita?

-Como está Ben?

-John saiu com ele, aquele louco, e não voltou até agora. Da última vez que o vi, a febre havia aumentado, mas não queria ninguém bajulando ele. Ele estava muito nervoso. Não sei o que John quer fazer com ele, seria muito mais seguro aqui. Parece que quer mata-lo, isso sim!

-Estranho... Obrigada Gwen, quando tiver mais notícias dele, por favor, me procure.

-Sim, senhora.

Ela saiu, e eu fui logo atrás, indo em direção ao meu quarto. Antes, ouvi uma discussão baixa no quarto ao lado do meu. Era a voz de minha mãe, provavelmente brigando por alguma coisa sem grande importância. Parei à porta, que não havia sido fechada, e vi o final da discussão. Minha irmã mais nova, na época com 8 anos, estava sentada na cama de cabeça baixa. Nós duas éramos muito parecidas, apesar dela ter os traços infantis que eu já havia começado a perder fazia certo tempo. Só que, para a sorte dela, ela tinha muito pouco do meu pai. Muito mais sensível e muito menos impulsiva do que eu era, ela seria exatamente o que uma família esperava de uma filha. Mas claro que nada era bom o suficiente para minha mãe, que parecia querer descontar um casamento infeliz em cima de nós. Durante toda a minha vida, desde que minha irmã nascera, fiz o possível para que ela não fosse vítima dos castigos que eu fui, mas nem sempre era possível. A única pessoa que eu realmente gostava naquela família era ela, provavelmente porque muito cedo fui obrigada a assumir certas responsabilidades, entre elas, tomar conta de Lizzie.

-Talvez, Elizabeth, da próxima vez, se você não fizer mais nenhuma coisa desagradável, possa participar do nosso jantar. Obrigado por me impedir de participar da reunião de sua irmã. Agora, se você me dá licença...

Ela saiu pela porta, praticamente me ignorando. Séculos à frente, ela poderia facilmente ser chamada de bipolar.

Entrei em silêncio no quarto, fechando a porta atrás de mim. Lizzie ainda estava na mesma posição, provavelmente se sentindo a pior criança do universo, porque era assim que eu me sentia na idade dela. Me sentei ao lado dela e a abracei, enquanto ela chorava. Beijei o alto de sua cabeça tentando conforta-la, mas sabia que ia demorar para ela voltar ao normal.

-Ei, calma, está tudo bem, eu to aqui. – Ela se aconchegou mais a mim e começou a controlar a respiração. – Me conta o que aconteceu.

-Eu... estava brincando distraída... acho que perdi a hora, não tenho certeza... aí a mamãe entrou gritando mandando eu me arrumar... quando eu estava terminando, ela começou a mandar eu parar e brigar...

-Tudo bem, passou, não é culpa sua. Você não perdeu nada. Fica calma.

Eu fiquei lá com ela, até que ela se acalmou e acabou cochilando. Cuidadosamente, a ajeitei na cama e a cobri, por fim apagando as velas e andando lentamente para a saída. Me dirigi ao meu quarto, preocupada com tudo que acontecia naquela casa. Benjamin doente, meu pai me arrumando um probleminha extra, e a perspectiva de deixar Lizzie sozinha naquela casa. Mal dormi durante a noite.

Na manhã seguinte, fui atrás de informações sobre meu amigo, mas só encontrei John, com os olhos fundos e uma aparência cansada. Ele me disse que Benjamin havia arrumado um emprego em um casarão em North Wales, que haviam passado cedo e ele já havia partido. Não acreditei a princípio, mas conforme ele não aparecia, cheguei a conclusão de que talvez tivesse partido mesmo. A única certeza que eu tinha é que um emprego em North Wales é que não era. Mas como John passou a arrumar um modo de escapar das minhas investidas, desisti de descobrir a verdade. Eu não tornaria a ver meu melhor amigo por um tempo.


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