Giuliet Volturi - Dark Side Of The Earth escrita por G_bookreader


Capítulo 19
A Humana




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Em Forks passaram-se três anos tão rápido que nem parecia. Parece que o tempo passa quando as coisas vão bem.

Michael Carter nunca mais deu sinal de vida. Talvez algum aliado houvesse tido a honra de dividi-lo em partes, ou sei lá o que. Só sei que não deu mais sinal de vida. De vez em quando alguém aparecia, mas ataques de verdade eram poucos. Nada que não conseguíssemos conter com facilidade.

Mas a melhor parte não era a paz. A melhor parte havia se tornado Beta, que agora parecia ter entre oito e nove anos. Ela crescia monstruosamente rápido, era difícil acompanhar. 

Mais ou menos um ano depois que a encontrei, quando todos já tinham se acostumado com a presença dela e, no caso de Matt, até aprendido a gostar, ela caiu junto com uma cristaleira. O barulho me pôs em movimento na hora, mas antes que eu chegasse lá ela gritou um agoniado “mãe”. Crianças fazem esse tipo de confusão o tempo todo, nada de especial até isso. Quando eu cheguei lá vi vidro para todo o lado e sangue. Muito sangue. O mais incrível era que ela não chorava, só tinha um olhar assustado de partir o coração. A tirei de lá e a botei sentada na mesa da cozinha. Delicadamente, comecei a retirar o vidro e a limpar os ferimentos, que não eram poucos. A parte humana do sangue dela fazia minha garganta arder, mas nada que eu não pudesse lidar. Minha preocupação estava em fazer o sangue parar, ela estava um pouco mais pálida do que o comum.

-Está se sentindo bem? – Perguntei, sem conseguir esconder a nota de preocupação na voz.

-Um pouco enjoada. – Deu para perceber, sua voz estava grogue.

-Já volto.

Em segundos estava de volta com uma garrafa de sangue, um copo e um pedaço de chocolate.

-Bebida. – Entreguei a ela o copo cheio do líquido. Ela bebeu tudo, eu enchi novamente, e assim foi até a garrafa acabar. A cor avermelhada havia voltado ao seu rosto. – Agora coma isso. – Entreguei o chocolate, que ela comeu também. – Melhor?

Ela acenou um sim com a cabeça e voltei a limpa-la. O sangue havia parado estancado, e as feridas já estavam menos feias. Era incrível o que um pouco de sangue podia fazer. Fiquei imaginando o resultado de sangue fresco naqueles machucados, mas tirei o pensamento da minha cabeça. Ela nunca havia caçado, conseguia permanecer bem com garrafas de sangue e comida humana, mas a sede dela crescia a cada mês. Ela seria adulta em algum momento, e sangue de garrafa não seria o suficiente. Se só abrandava a nossa sede, não deveria ter efeito muito diferente em um híbrido adulto.

Ela não chorou em nenhum momento. Gemia de dor, trincava os dentes, mas não baixava a guarda. Eu gostei disso, muita coisa. Essa nunca seria daquelas que faz um escândalo quando quebra a unha.

Demorou até que eu conseguisse tirar todos os vidrinhos e fizesse os curativos. Nesse meio tempo os outros acabaram com os resquícios de cristaleira que havia ficado no outro cômodo, e haviam sumido de novo. O cheiro de sangue ainda estava um pouco forte, e nem todos eram friamente controlados. Kronus nem sequer desceu.

-Nova em folha. – Eu disse, me afastando. Ela ficou parada enquanto eu pegava álcool e um fósforo e voltara para perto dela. Peguei as gazes que havia utilizado e botei em uma tigela de metal, cobrindo com o álcool.

-Obrigada, mãe. – O fósforo parou na metade do caminho para o atrito da caixa. – Falei algo errado? – Ela perguntou, percebendo a minha reação.

-Não, não é que... bem, você se confundiu e me chamou de mãe por um momento. – Eu dei um sorriso sem graça e acendi o fósforo.

-Eu não me confundi. – Ela disse, dando uma risadinha. Eu larguei o fósforo no álcool mecanicamente, mas eu a encarava, a sobrancelha erguida. – Eu te vejo assim. Isso é ruim?

-Não, de forma alguma. – Eu não consegui reprimir um sorriso, que talvez tenha saído grande demais. Encarei o pequeno fogo. – Você pode me chamar do que quiser.

E foi assim que eu ganhei uma filha. Com o tempo isso se tornou natural para mim, por vezes eu me pegava pensando nela antes do resto quando tinha que fazer alguma coisa. Era estranho, mas depois de dois anos ficou mais fácil.

O que disfarçava a nossa fortuna era a discoteca. E disfarçava bem, porque assim que ficou pronta foi sucesso na cidade. Aqueles jovens não tinham nada para fazer, era a única explicação para os rostos repetidos quase todas as noites lá. A música era de péssimo gosto, eu raramente ficava muito tempo lá. Deixava na mão dos funcionários e ia de dia conferir tudo. O gosto musical da humanidade ia cada vez mais baixo. Desde os anos 80, não fizeram quase nada de bom.

Seria muito simples ignorar a lanchonete do outro lado e seus donos... digamos... adeptos da Sociedade Protetora dos Animais, se não fosse, de novo, por Beta. Desde aquele dia em que nós duas quase fomos mortas, ela ficou... amiga? Bem, ela começou a freqüentar o lugar por causa de Camily. Logo a Alfa, muito bom mesmo. Quando eu me distraía, ela ia parar lá dentro. Eles a tratavam bem, davam hambúrgueres e outras coisas engordativas para a menina. Mas eu não me sentia confortável com isso, eu sempre imaginava eles virando aquele bicho gigantesco e avançando nela. Ela era meio vampira, não era? Mas nunca deram nem sinal de que iriam ao menos se irritar com ela, para o meu alívio. Porém, eu sempre ia até lá e ficava encostada na porta, nem fora nem dentro, vigiando. Eles raramente me dirigiam a palavra, não que eu tivesse alguma vontade de que o fizessem, e ignoravam a minha presença. Nesse tempo eu os analisei e aprendi um pouco sobre os outros.

A segunda no comando era Bruna, a que quando virou loba não tinha mais do que quinze anos. Agora ela tinha dezoito, mas eles mantinham a aparência original. Na minha opinião ela pensava devagar demais para estar em segundo lugar no comando. Até demorava para entender qualquer piada que os outros faziam, era estranho. Havia também Rafael, o bobo da corte. Fazia piada de tudo, vivia fazendo palhaçadas, arrancava risadas de todo mundo. Mas também era desajeitado em comparação aos outros, esbarrava nas coisas com facilidade. De todos era o que mais me lembrava um humano normal. E havia também Philip, o último a ser transformado. É o único deles que eu via o tempo todo como um lobisomem e não um garoto que vira cachorro. Ele tinha o ar sobrenatural nos olhos, ainda tremia na minha presença e me lançava olhares de advertência e ódio. Eu esquecia o seu nome por vezes, então sempre me referia a ele como “revoltadinho”. Não na frente dele, é claro. Na frente deles eu era uma estátua muda.

O máximo de papo que eu tinha com eles era quando Camily resolvia que eu merecia ser cumprimentada. Isso só aconteceu depois de algumas vezes. Tanto fazia, Beta conversava por mim. Eu nunca entendi porque ela se dava bem com eles, mesmo. Acho que o olfato dela não era igual ao nosso, porque ela até conseguia comer ali. O lugar fedia a canil abandonado.

-Beta, está ficando tarde. – Eu olhei para o relógio antes de falar, eram quase cinco da tarde. Havíamos chegado fazia duas horas.

-Já? – Beta perguntou, olhando para o relógio que havia na parede. – Nem está tão tarde assim.

-Está tarde. – Afirmei enquanto acenava para ela vir, sendo obedecida. – Custou quanto?

-Nada, por conta da casa. – A loba disse, enquanto limpava o balcão.

Olhei para a tabela de preços e achei o preço do hambúrguer que ela havia consumido e do refrigerante. Peguei a carteira, o dinheiro e, me aproximando do balcão, depositei sobre ele.

-Por conta da casa quer dizer que é de graça. – Ela tentou me devolver o dinheiro, mas a deixei de braço esticado.

-Eu sei o que significa. – Revirei os olhos. – Eu não quero ficar em dívida com vocês.

Virei para sair, Beta me aguardava na porta.

-Você não gosta nada disso, né? – Ouvi Camily falar atrás de mim.

-Não é uma cena muito confortável, você sabe.

-Tá achando que a gente vai aprontar alguma?

-Eu não sei, esse é o problema.

-Se eu quisesse ela morta, eu teria deixado vocês duas apanharem até a morte aquele dia. – Ela sorriu vitoriosamente. Não dava para esquecer que aquilo existiu?

-Vamos, Beta.

Saímos e entramos no carro, enquanto ela falava sobre como fora divertido. O bom de ser criança deve ser não se tocar das coisas, porque ela absolutamente não tinha percebido o que rolou lá dentro. Deixei que ela falasse, mas não respondi muito. Depois de um tempo ela reparou que eu não estava dando muito apoio ao assunto dela.

-Eles são legais. – Ela olhava a janela distraidamente. Só respondi uma concordância. – É sério, não sei por que você implica com eles.

-Eu não implico com eles.

-Implica sim. Não sei porque não gosta deles.

-Talvez porque eles são feitos geneticamente para me matar?

-Isso é besteira, eles não vão fazer nada com você.

-Não é comigo que eu me preocupo. Você ainda é metade vampira, lembra?

-Mas eu sou metade humana também. E que tipo de monstro mataria uma criança? – Ela falou inocentemente, mas aquela foi lá dentro.

-Não sei.

O silêncio se prolongou até chegarmos em casa, preenchido pela música do rádio. Quando chegamos, estavam todos assistindo baseball na televisão, e torcendo. Menos Matt. Ultimamente ele tinha sumido demais para o meu gosto.

-Isso que eu chamo de incorporar o espírito americano. – Me sentei ao lado deles, no tapete. – Então, quem está ganhando.

-Red Socks estão vencendo os Mariners. Mas a gente já vai virar. – Kronus havia virado fanático pelos Mariners de Seattle. Ele viciava em qualquer coisa de qualquer região que a gente mudasse, e virava torcedor assíduo.

-E cadê o Matt?

Eles se entreolharam e não falaram nada.

-O que? – Pressionei.

-Ele saiu sem avisar aonde ia. – Hecate respondeu desconfortável.

-E o que mais?

-Bem... – Gabi estava insegura. – Eu tenho visto na mente dele umas coisas meio estranhas.

-Estranhas como? – Comecei a ficar preocupada de verdade.

-Eu tenho visto uma humana na mente dele. E o Kronus outro dia o viu dentro de uma floricultura.

Eu sabia que havia levantado uma sobrancelha. Eu não sabia se eu ria ou se eu saía atrás dele para arrancar a cabeça dele.

-Matt apaixonado por uma humana? Sério mesmo? – Eu meio que ria, a cena era estranha demais na minha mente.

-Ele esconde os pensamentos, mas quando ele deixa escapar algo, ele parece estar gostando de verdade dela.

Revirei os olhos e decidi deixar para lá. Mas quando ele chegasse, teríamos uma conversinha a respeito de algumas responsabilidades.

-É tão difícil rebater uma bola assim? Não sei o que é pior, o do Red Socks jogando ou o do Mariners rebatendo.

-Deixa os caras, Giuliet, eles são humanos. – Kronus estava de olhos fixos na tela. Era engraçado, ele era estranho.

-Mariners vai perder, hein?

-Ainda dá para virar isso.

-Acho que não dá não, Kronus.

Ele me ignorou e eu dei uma risada baixa. Eu gostava de irritá-lo assim, ele já estava habituado.

Matt só foi aparecer quando escurecia. Entrou como se nada tivesse acontecido e ligou a televisão. Eu estava encolhida no canto do sofá lendo.

-Então Matt, como foi seu dia? – Não tirei os olhos do livro.

-Legal.

-Se divertiu?

-Só fiquei girando por aí. Cheguei perto de Seattle, tem umas paisagens bonitas no alto das árvores. – Ele olhou para o livro que eu lia. – Sobre?

-Fruto da minha curiosidade mórbida. É sobre um ser que eles chamam de vampiro que se apaixona por uma humana que está no colegial. Ele é muito misterioso no início, mas começa a falar coisas melosas e a fazer umas coisas estranhas. Até que um dia ela acha ele bebendo uma pomba no telhado e fica assustada cinco minutos até cair nos braços dele.

-Bem, pelo menos essa ficou cinco minutos assustada. – Ele deu de ombros. – Qual a desculpa para andarem no Sol dessa vez?

-Parceria com bruxas. Que chato, nós não temos bruxas. – Fiz um tom de desapontamento. – Mas o pior é ele ir contra as regras por ela, ela é sem sal.

-Nunca se sabe o que ele pode ter visto nela. – Ele ficou inseguro, mas tentou disfarçar bem.

Fechei o livro e apoiei na perna, para poder encara-lo.

-O que ele pode ter visto nela? Ela é a comida, mesmo que, no caso dele, ele negue as necessidades por sangue. Se ele a ama deveria se afastar dela.

-Pode ser que para ele seja mais difícil se afastar do que parece. Ele provavelmente lutou para se afastar dela, mas não foi forte o suficiente para tanto.

-Mas será que ele deveria ter contado a ela?

-Ele deveria ter contado, sim, mas isso poderia leva-lo a problemas com a sua espécie. Nunca se sabe a circunstância.

-E digamos que ele tivesse uma família, a família deveria saber? – Ele suspirou quando falei, fechando os olhos.

-Você sabe.

-É claro que eu sei, Matt. Achou que ia esconder isso até aparecer com ela recém-criada na minha porta?

Ele ficou em silêncio por um longo tempo, sem me responder. Não devia nem sequer ter pensado nisso.

-Como se conheceram? – Eu estava curiosa, mais do que preocupada.

-Eu a vi pela primeira vez no parque das crianças com o irmão mais novo. Ela ia lá quase todo dia, e eu passei a ir também. Até que nós começamos a conversar um dia e... aconteceu.

-Deus, ela tem família...

-Claro que ela tem família. – Como se isso fosse óbvio.

-Quantos anos ela tem?

-Dezessete, faz dezoito em quatro meses.

-E ela sabe? – Perguntei um pouco mais séria.

-Não, mas ela sabe que algo não está certo comigo. Não é muito difícil perceber isso. Não se preocupe, eu não contei nada.

-Você pode contar, mas você sabe as implicações disso.

Ele concordou com a cabeça e ficou mais um tempo em silêncio, olhando distraído para a televisão. 

-Só não se esqueça da história de Hecate.

Hecate tinha conhecido quem a transformou enquanto humana. Era um vampiro que entrou em sua casa e a fez se apaixonar, tanto que se casaram. Depois do casamento ele a transformou e os dois viveram os melhores primeiros anos de casamento de todos. Até que ele começou a mudar, ficar agressivo, distante. A situação foi ficando cada vez mais insustentável até que, depois de agredi-la em um momento de fúria, ela se deu conta de que não o amava. Tentou fugir, mas ele a perseguiu e a obrigou a voltar. Vendo sua liberdade por um fio, ela o atacou e o matou. Eu nunca confiei muito em relacionamentos em que um é um humano por isso. Humanos se apaixonam fácil demais.

-Giuliet, eu juro que eu não queria. Foi mais forte do que eu, quando eu dei por mim já havia acontecido. Não é culpa dela, é minha. – O que ele achou que eu ia fazer, sair e caçar a garota? Isso é o que eu, teoricamente, deveria fazer, e não o que eu fazia realmente.

-Não é sua culpa, aconteceu, paciência. Eu sei que é impossível se afastar, não precisa explicar isso para mim. Só acho que você não pode enganar a garota mais, ou você some ou você conta. E se contar, você tem que tomar outra decisão logo depois. Eu te dou o tempo necessário.

-Obrigado. – Eu nunca havia ouvido aquela palavra sair da boca dele, pelo menos não tão sinceramente. Me limitei a dá-lo um sorriso.

-E se for contar a ela, nós vamos querer conhece-la. – Eu disse, menos séria.

-Meus Deus, Giuliet, que coisa velha. – Ele disse, rindo.

-Há quinhentos anos eu estava sendo transformada, eu tenho o direito de fazer coisas velhas.

Ele levantou rindo e sumiu de novo. Matt Volturi, aquele moleque irritante que um dia eu me arrependi de ter transformado, apaixonado por uma humana. Minha mente imaginou ele em uma sala de estar conversando com um cara de bigodes e cabelos cinzas que o olhava de cara feia, enquanto um garoto pequeno o perturbava. Essa risada eu não consegui segurar.

Demorou uma semana até ele vir falar de novo dela. Ele havia aberto o jogo e ela havia aceitado tudo muito bem. Ficou um pouco assustada quando ele tirou as lentes de contato, mas não o suficiente para abalar sua convicção. Ele explicou para ela como nossa sociedade funcionava, quem éramos nós, e o porquê de ela nunca poder citar isso com ninguém, e que agora ela estava sob responsabilidade dele. E, para a infelicidade eterna dele e minha alegria, ela demonstrou um certo desejo na transformação. Ele ter explicado detalhadamente como dói infernalmente não mudou isso. Ele não entende que dor para ela deve ser um ralado no joelho, um osso quebrado.

Eu o convenci de traze-la até nós, o que, segundo ele, ela aceitou na hora. Eu fiquei me perguntando se ela teria noção de que estava sendo levada até uma casa com cinco vampiros e meio.

Arrumamos tudo no dia, não que houvesse muita coisa para arrumar. Ele quase me matou quando eu sugeri botar uns caixões espalhados pela casa e umas correntes nas paredes, não entendo o porque. Tudo bem, ele não me convenceu a não vestir só preto, então estávamos empatados. Beta estava especialmente curiosa.

-Mãe, como ela é? – Ela andava ao meu redor fazendo perguntas o tempo todo, como se eu soubesse.

-Eu não conheço, você sabe tanto quanto eu.

-Será que ela vai gostar da gente?

-Se ela gostou do Matt, é bem mais fácil gostar da gente. – Anne disse, rindo.

-Fato! – Kronus se uniu as risadas, e logo o resto de nós também.

-Dizem que o amor é cego, mas no caso dessa menina é surdo e maneta também. – Hecate disse enquanto Matt descia as escadas arrumado.

-Muito divertido. – Matt bufou, se dirigindo até a porta. – Vou busca-la, tentem parecer civilizados, tudo bem?

-A gente não morde. – Eu assegurei, ainda meio que rindo.

-Bem, morder morde, mas a gente se controla dessa vez. – Gabi botou mais um pouco de pilha, e ele saiu revirando os olhos. – Arrasa, Don Juan!

Nós rimos enquanto ele xingava alguma coisa da garagem e sumia com o carro. Até que poderíamos tirar um proveito disso.

Demorou mais ou menos meia hora até que ele estacionasse o carro na garagem. Enquanto andava conversando de volta, já podíamos ouvir os passos desajeitados da menina. Era estranho ter um humano por perto, eles têm a tendência de ser barulhentos. Ele chegou primeiro e abriu a porta para que ela passasse, e então ela entrou.

Não era muito impressionante. Baixinha, magra, tinha cabelos muito negros que combinavam com a pele clara, porém um pouco bronzeada do Sol que havia tido dois dias atrás. Os olhos castanhos muito escuros estavam escondidos atrás de óculos quadrados, com armação prateada. Matt se pôs ao lado dela e ela pareceu se encolher menos, mas quando ele começou a nos apresentar ela ficou vermelha.

-Gente, essa é a Karine. – Ele estava inseguro também, mas era uma nota muito bem escondida em sua voz. Ele se virou para ela e começou a nos apontar. – Essa é Hecate. – Hecate se aproximou a cumprimentou.

-Bem vinda. – Ela disse, simpática. Recebeu um sussurrado “obrigada” em retorno.

-Essa é Anne. – Anne fez a mesma coisa, assim como os outros. – Esse é Kronus. Gabi. Giuliet.

Fui cumprimenta-la, a garota parecia estar mais pálida do que quando entrou. Ser cumprimentada por um monte de vampiros não seria uma coisa fácil, realmente. Ela estava com um perfume um pouco forte, mas nada que conseguisse tapar o cheiro de sangue. Era estranho se aproximar tanto e ter que se afastar logo depois.

-Matt falou muito de você, ficamos curiosos. – Eu disse, simpática, e ela respondeu com um sorriso envergonhado.

Afastei-me e ele apresentou Beta. Ela ficou encantada com ela, claro, quem não ficava? Ela disse, a primeira frase que ela dizia completa, que tinha uma irmã mais ou menos na idade dela, que se chamava Jeannie. Kronus perguntou quantos irmãos ela tinha, e ela disse dois. Jeannie e Robert, o mais novo. Pelo modo como falava, parecia ter uma família feliz e unida, logo vi isso como um problema. Mas aí lembrei da cena de Matt na sala de estar e a minha vontade de rir superou a preocupação.

Deixamos os dois à vontade e ele subiu para mostrar a casa para ela. Eu ouvia o que a garota falava o tempo todo, era impossível não ouvir. Hecate sentou ao meu lado no sofá.

-Sabe que isso tem mais chances de dar errado do que certo, não sabe?

-Eu sei, mas o que você quer que eu faça? Ele está gostando dela, ela não tem jeito de ser má pessoa.

-Vindo do Matt isso é tão estranho. Ele costuma ser tão revoltado e infeliz, é o último de nós que eu esperaria ver com alguém. – Ela me olhou pelo canto do olho. – Ou pelo menos o penúltimo. – Ignorei essa última parte.

-Se ela conseguir muda-lo como parece que está fazendo, a transformo eu mesma. – Eu disse, brincando, claro.

-Você podia aproveitar o clima de romance e embarcar nessa. – Ela disse, sorrindo sarcasticamente.

-Embarcar nessa? É, talvez eu pinte o seu quarto de vermelho e desenhe uns corações cor-de-rosa. Vai ficar bacana. – Ela riu e eu revirei os olhos.

-Estou falando sério.

-Olha quem fala, você está nessa a mais tempo do que eu.

-Não sou eu que estou vestida de preto.

-Preto realça a cor da minha pele. – Eu me levantei e saí daquela conversa sem sentido.

A garota acabou conversando com algum de nós durante o dia, não muita coisa. Matt e levou para ver as redondezas no meio da tarde e voltou quando escurecia. Ela se despediu de nós e ele a levou embora. Enquanto eles desciam, deram as mãos. Foi então que eu tive certeza.

Dizem que quando você encontra “a pessoa”, tudo na sua vida se encaixa na outra pessoa. Desde seus pensamentos até as mãos. Chamei Hecate rapidamente.

-Sim?

-Desculpa eu te lembrar disso, mas... quando você estava com Giuseppe... – Quem a transformou. – ...você sentia que sua vida se encaixava na dele?

-Bem, nós éramos casados.

-Não foi isso que eu perguntei. Eu quis dizer que... você não sentia que você havia sido moldada para ele?

-Bem, não. Na verdade, até dar a mão para ele era estranho, mas eu não ligava para isso no início. – Ela deu de ombros. – Por que?

-Você viu quando eles deram as mãos?

-Percebi. – Ela disse, suspirando. – Eu já vi isso antes. – Ela disse, olhando sugestivamente para mim, ignorei novamente.

-Acho que não vai demorar muito e teremos um novo integrante no clã. – Disse, entrando e subindo para a biblioteca.


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