Minha Viagem Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 78
Fazendo as malas


Notas iniciais do capítulo

Ok... Tentem ficar calmos quando lerem esse capítulo, certo?
Boa leitura.



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POV Ares

Eu parei na frente da porta do quarto de Alice, logo quando eram umas oito da manhã. Ok... Aquilo era patético, mas eu não conseguia me controlar. Queria ouvir o que aquela maluca tinha pensado na hora de descartar nós dois como se não estivesse nem aí.

Toda hora eu estendia a mão para bater na porta, mas logo a puxava de volta.

- Não... Tome coragem, idiota. Bate logo. – Murmurava.

Parte de mim estava morrendo de raiva de Alice, por não ter me escolhido, mas eu tentava controlá-la o melhor possível para não acabar fazendo uma besteira.

- Ok... Vamos nessa... – Murmurei novamente. Dessa vez eu reuni todas as minhas forças e abri a porta sem nem mesmo bater.

Não tinha ninguém na sala de estar, o que mostrava que ela podia estar provavelmente dormindo. Ma se estivesse dormindo, não era melhor eu ficar do lado de fora? Esperar que ela acordasse parecia algo mais... Agradável.

Não. Deixa de ser fresco, pensei. Você tem que ir até o quarto dela, abrir a porta, e exigir algumas respostas.

Eu fiz isso. Fui até a porta do quarto dela, demorei alguns minutos do mesmo jeito que demorei na porta da frente, mas acabei abrindo. Eu olhei em volta analisando a cena, e foi aí que a vi.

Alice estava usando uma calça jeans justa, botas marrons, e uma camisa com decote, mas coberta por um casaco um pouco grosso. Seus olhos estavam fixos em uma mala em cima da cama, usando toda a sua força na tentativa de fechá-la.

Acho que fiz algum barulho, pois seus olhos de repente se levantaram na minha direção. Ela parecia levemente surpresa. Pensou provavelmente na possibilidade de esconder a mala, mas eu já tinha visto.

- O que... O que você está fazendo? – Perguntei sem entender. Eu tinha uma idéia, é claro, mas estava torcendo para que fosse mentira.

Alice sorriu sem jeito e por fim fechou a mala.

- É engraçado, né? Se você trás as suas coisas em uma mala, nunca é fácil colocá-las de volta e conseguir fechar. Acho que só no começo da viagem mesmo. – Comentou ela com um sorriso desajeitado.

- Por que está fazendo as malas? – Perguntei. Alice parou e olhou para mim. Ela suspirou para poder me responder.

- Eu vou embora, Ares. – Disse ela bem devagar – Estou só arrumando a última mala para poder pegar o voou.

Acho que daria no mesmo se ela tivesse me dado um daqueles super tapas na cara, pois eu comecei a ver algumas estrelinhas no ar.

- Oi? – Falei piscando para captar a informação – Como assim...? Ah! Entendi. Quer voltar para casa, não é? Tá bom... Isso vai ser muito chato, mas eu arrumo as malas também, e podemos falar com o Apolo...

- Não. Você não entendeu. – Alice negou com a cabeça – Eu vou embora sozinha.

Tive que respirar fundo para controlar a minha raiva e nervosismo, mas acabei deixando um pouco disso escapar.

- Fique sabendo, Alice Kelly, que você não é a dona do céu. Se eu e Apolo quisermos pegar a porcaria de um avião, nós pegamos agora mesmo e você não nos impede, ouviu?! – Reclamei. Alice parou sem responder.

- Você quer mesmo causar uma briga? Quer tornar as coisas difíceis? – Perguntou ela cruzando os braços de modo paciente.

- As coisas já são difíceis, gracinha. Ou será que você não se tocou?! – Rebati.

- Na verdade, elas são simples. – Negou Alice – Eu já escolhi, já falei com vocês, e agora vou pegar a minha mala e ir embora para resolver os outros assuntos.

- Que outros assuntos? – Perguntei sem saber, mas então me toquei de uma coisa – Ah, espera... Não me diz que você vai sair correndo agora mesmo para o seu ex namoradinho! Foi por isso que deu um fora em nós dois?! Para ficar com o Scott?!

- O que? De onde você tirou que...? – Eu a interrompi.

- Típico! Vocês dois lesados vão formar um ótimo casal. E só para constar... Eu ainda tenho pena do seu noivo ou de qualquer outro cara que tenha que ficar perto de você! – Exclamei com raiva. Estava pronto para ir embora, mas resolvi falar mais poucas e boas para aquela pirralha – E quer saber? Acho que você saiu na hora certa, não é? Digo... Até porque você já conseguiu o que queria com nós dois. Teve duas ótimas conversas e agora vai embora, não é?!

Alice revirou os olhos. Esperava que ela se irritasse, mas eu estava enganado. Ela respirou fundo, olhou para mim, e andou na minha direção. A Filhinha de Hermes segurou a gola da minha camisa, me puxou para perto, e me deu alguns tapas na cara.

Pisquei os olhos, incrédulo e pronto para revidar, mas Alice segurou o meu rosto.

- Escuta. Cala essa boca e presta bem atenção. – Disse ignorando tudo que eu tinha dito antes – Zeus veio falar comigo, Ares. Ele disse que para não ser completamente rígido comigo, ele vai suspender os dois outros castigos. Sabe o que isso significa?

Alice falava firmemente, mas com um leve tom de tristeza.

- O que? – Foi tudo que consegui falar.

- Significa... Que eu não tenho mais que ficar presa com você e com o Apolo. E também... – Alice fez uma curta pausa, e eu soube o que ela iria dizer – Que eu não vou ter que morar na sua casa.

Parecia que ela tinha me dado um outro tapa forte, mas suas mãos ainda seguravam o meu rosto. Só que a força de Alice sumiu aos poucos, e elas escorregaram até me largarem por completo.

Não sei por quanto tempo eu fiquei parado. Realmente não sei dizer. Acho que por alguns minutos eu congelei, e na minha mente passou um flashback que somente eu lembrava.

Eu tinha acabado de me mudar para aquela casa em New Jersey para poder relaxar durante as minhas lindas e perfeitas férias. Não precisei de mudanças, é claro. Só um estalar de dedos já garantia um lugar cheio de móveis e comida.

Eu resolvi que seria melhor dar uma volta por aí, já que não tinha nada melhor para fazer. Tinha escolhido aquela casa exatamente porque a do lado estava vazia, o que me daria mais tranqüilidade ainda.

Assim que cheguei á calçada, notei algo que não me agradou nada. Um caminhão pequeno de mudanças levava alguns móveis para dentro da casa. Aquilo me irritou. Então eu teria vizinhos? Que ódio. Ninguém merece isso...

- Não, mãe. Tudo bem. Eu estou levando agora mesmo a última caixa... – Disse uma garota perto do caminhão. Cabelos castanhos bagunçados um pouco abaixo das costas, suéter amarelo, tênis de corrida, e olhos castanhos. Era Alice, embora eu não soubesse na hora. Ela falava no telefone com a mãe/militar, enquanto eu a observava com raiva. Por que ela tinha que se mudar para lá e tirar o meu sossego?!, pensava eu.

Alice desligou o celular, colocou no bolso com certa dificuldade, e andou na minha direção sem me notar. Ela esbarrou em mim e deixou tudo cair no chão.

- Olha por onde anda, lesada! – Rosnei para ela com raiva. Alice olhou para mim, e arregalou os olhos com medo.

- Ahm... Sinto muito. Mesmo. – Ela se levantou deixando as caixas no chão para pegar depois – É... Eu... Sou sua nova vizinha, eu acho. Você mora ali do lado?

- Moro, e você com isso, benzinho? – Perguntei cruzando os braços. Alice engoliu em seco, e não respondeu. Eu ri maldoso e passei por ela, mas antes fiz questão de bater nela com meu braço, fazendo-a cair novamente.

- Ei! – Exclamou ela incrédula. Eu olhei para trás sorriso torto.

- Só para constar... Isso foi de propósito. – Sorri – Tenha um bom dia, benzinho. A gente se vê, infelizmente.”

Notei como era estranho esbarrar com Alice e nem mesmo ter ideia de quem ela era. Parte de mim me achava um cara sortudo por não a conhecer naquela época, mas outra parte achava que as coisas eram mais divertidas agora.

- Então... Para onde você pensa que vai? – Perguntei, mas acho que falei em um tom baixo demais, pois Alice não ouviu. Ela foi até a última mala que estava na sua cama, a pegou e arrastou pelo chão – Não ia me falar nada? Ia embora sem nem mesmo me avisar?!

- Eu ia falar com você, mas já que veio para cá... – Respondeu ela.

A Filhinha de Hermes parou na minha frente, e suspirou novamente.

- Ares... Eu estou indo embora. Mesmo. Eu não vou voltar á morar com você. – Disse ela olhando para mim para ter certeza de que eu estava entendendo a gravidade da situação – Você...

- Eu o que? – Perguntei querendo saber.

- Tem alguma coisa... Qualquer coisa que queira falar para mim? – Perguntou ela. Os olhos de Alice me analisavam, tentando buscar qualquer traço de tristeza ou mágoa no meu rosto, mas eu não demonstrei muito, embora estivesse assim por dentro.

Era para eu dizer “Por favor, fique”, mas ao invés disso...

- Não. – Respondi simplesmente.

Alice revirou os olhos e pude notar que ela estava se sentindo desapontada.

- Adeus, Ares. – Disse ela passando por mim com as malas.

E a segui até a sala, pensando em milhares de coisas para dizer ou perguntar. Para onde ela ia? Com quem iria? Quando voltaria? Voltaria? O que ia fazer? Estava se sentindo bem?

Tinham também as frases simples e talvez até um pouco clichês que eu queria desesperadamente falar como “por favor, fica”, “não vai embora, Alice”, “eu gosto de você” (sem chances de eu dizer isso!) e até mesmo “deixa eu ir junto”.

Mas eram perguntas e frases demais para que eu pudesse escolher ao menos uma para dizer. Não sabia qual falar primeiro, e acabei sem dizer nada.

Quando chegamos á sala, Alice parou para ajeitar uma de suas botas. Olhei para ela, enquanto se abaixava. Alice podia não ser uma miss universo, mas era bonita. Bem bonita, no jeito simples e discreto dela.

Na verdade, ela era mais do que isso. Além de ser bonita, ela estava sempre do meu lado. E agora que ela ia embora, eu tinha que enfrentar o que sempre duvidava que iria acontecer: ficar sozinho.

Quem mais ia ficar do meu lado? Nem digam “Afrodite”, ok?! Senão eu meto um soco na sua cara, leitor retardado!

- Alice? – Perguntou Apolo abrindo a porta do quarto.

Ela se levantou e olhou para ele. Apolo sorriu de leve para Alice, mas logo franziu o cenho quando notou a mala em suas mãos.

- Apolo, eu ia falar com você agora. – Disse ela olhando para ele com certa tristeza.

- O que aconteceu? – Perguntou ele sem entender.

- Eu... Vou embora. – Disse ela com certa dificuldade. Aaah, para ele era difícil falar, né?! Lesada! – Eu tenho que resolver outras coisas também.

- Mas... Alice, você pode ver isso depois. Nós te ajudamos. Eu te ajudo. – Disse ele com um leve sorriso, tentando convencê-la – Fica comigo. Por favor.

Apolo disse o que eu queria tanto dizer, e cruzei os dedos para ela falar que “sim” e largar as malas ali mesmo.

Mas não foi isso que aconteceu.

- Não. Eu tenho que ir mesmo. – Disse em um tom firme – Foi muito divertido, Apolo. Adorei a viagem e tudo mais, mas tenho que ir agora. Acho... Que é um “até mais” para vocês dois, não é?

Apolo deixou seu queixo cair ao ver Alice passar por ele e sair de seu quarto. Ele olhou para mim incrédulo.

- Você... Você não vai fazer nada?! Não vai carregar ela no ombro, amarrá-la á uma cadeira ou coisa do tipo?! Eu apoio dessa vez. – Disse ele.

- Tsc. Se ela quer ir... Então que vá. Não vou morrer sem ela, e você também não. – Era o que eu queria acreditar, mas Apolo negou com a cabeça.

- Alice... Alice! Espera! – Exclamou ele e saiu correndo, mas só até metade do corredor. Logo ele voltou praticamente se arrastando para sair do lugar, e deixou seu corpo afundar no sofá – Ela... Ela foi embora, Ares. Ela me deixou.

Olhei para a janela e logo pensei em algo. Acho que Apolo pensou na mesma coisa, porque nós dois corremos em direção dela, e olhamos para fora. Dava para ver a porta da casa de Scott, mas não tinha ninguém lá.

- Você acha que ela não escolheu nenhum de nós dois porque ela quer ficar com ele?! – Perguntou Apolo incomodado.

- Sei lá. Vamos... Observar. – Comentei em um murmuro.

Não demorou muito até que Alice aparecesse lá. Ela bateu na porta dele, e Scott a abriu. Eles se abraçaram e conversaram um pouco, mas era impossível ouvir de tão longe. Scott assentiu, Alice também, os dois se abraçaram de novo, e ela acenou dando tchau.

Alice foi embora de lá, e Scott fechou a porta.

- Isso foi porque ela queria que ele dissesse que sentiria a saudades, né? – Perguntou Apolo franzindo o cenho – Ou... Só para se despedir mesmo.

- Deve ser. Mas... – Não completei a frase.

- Quer dizer que ela não escolheu ele também. – Comentou Apolo.

Eu confirmei em silêncio e nós nos sentamos no sofá sentindo os corpos pesados. Paris já não tinha mais graça.

- Ares... – Disse Apolo.

- O que? – Perguntei.

- Se ela ficar com aquele cara com nome de remédio, eu juro que pulo de um prédio. – Disse ele – E de um prédio bem alto.

Olhei para ele e lhe dei um tapa na nuca.

- Acho que vou ter que bater em várias pessoas para me animar. – Comentei.

- Em mim não, droga! – Reclamou ele. Apolo franziu o cenho para seus pés e soltou um suspiro – Eu quero a Alice de volta. Eu quero ela de volta agora mesmo!

- Tsc. Eu quero a Alice de volta. – Imitei – Quer porcaria nenhuma! Se toca! Aquela garota só nos deu uma linda rasteira! Se ela pode viver sem nós, por que nós não podemos viver sem ela?! Hein? Me diz.

- Ahm... Por que ela é única, linda, especial, interessante, engraçada, super gente boa e tudo de bom? – Respondeu Apolo.

Dei um tapa na minha própria testa, mas resolvi respirar fundo.

- Apolo... O que você fez quando a June te deu um chute na bunda? – Perguntei.

- Eu particularmente acho a expressão “chute na bunda” muito indelicada. – Comentou ele – Mas... Ahm... Eu procurei outra garota.

- Exatamente. Dá na mesma. Você não vivia sem a June antes, e agora você nem liga mais para ela. É só procurar outra garota e tudo se resolve. – Disse calmamente, embora sentisse que aquilo não seria nada fácil.

Eu me levantei sentindo o meu coração apertado, e soltei um suspiro pesado. Apolo olhou para mim se sentindo péssimo.

- Mas e você? – Perguntou ele.

- Eu o que?

- Vai tentar achar outra garota? – Perguntou ele se levantando também.

- Não. Chega de garotas por um tempo. São problemáticas demais, e eu estou casando de viver com dor de cabeça. – Respondi – Eu vou voltar para a minha casa e ouvir música no último volume. E quer saber? Se alguém aparecer na minha porta para reclamar do barulho eu quebro o pescoço do infeliz com uma mão só.

Acho que não tinha muito mais o que fazer. Eu e Apolo resolvemos voltar logo para casa, ao invés de ficar em Paris sem fazer nada de útil.

Naquele momento eu ainda não sabia, mas por mais que eu tentasse me virar sem ela, eu a via em todos os cantos existentes. Em todos os anúncios de leite na TV, em todos os trailers de filmes de terror que Alice tanto sentia medo, em todas as músicas que ela gostava...

Não era nada fácil para mim, mas eu tinha um leve consolo. Ao menos também não era fácil para Apolo.


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Notas finais do capítulo

O que vocês acharam?
Ok... Aposto que alguns devem estar chorando. Ou não.
Anyway... O próximo é muito provavelmente o último capítulo da fic. Eu realmente espero que todos vocês tenham gostado de tudo até aqui, pois tento sempre escrever do melhor jeito.
Também espero que, se o próximo for o último, tenham um coração bem saudável, pois o capítulo vai fazer vocês terem um ataque.
Beijos e até lá!