- Aqui? – Perguntou Poseidon colocando Ares deitado na minha cama. Eu assenti confirmando, e o Deus do mar passou a mão pela testa – Ufa... Ele é bem pesado.

- Demais. – Comentei olhando para Ares. Puxei uma poltrona do meu quarto mais para perto e pude notar que Atena me olhava um tanto tensa – O que foi?

- Ele viu tudo. Quer dizer... Ele sabe disso. – Falou ela desviando o olhar preocupada. Sentir pena de Atena. Ares sabia mesmo ser um grande desgraçado quando queria, principalmente comigo. Eu estava acostumada com isso, mas vê-lo agindo desse jeito com uma Deusa legal como Atena, me fez sentir mal.

- Viu o que? – Perguntei olhando para ele inocente – Pelo que eu me lembro, eu o empurrei, ele caiu da escada e bateu com a cabeça. Quando apagou, eu chamei vocês para me ajudarem. Só isso.

Atena e Poseidon olharam para mim impressionados. A Deusa da sabedoria sorriu de leve e olhou para o irmão.

- Acha que ele vai acreditar que foi tudo um sonho? – Perguntou.

- Vou cuidar disso. – Disse calmamente. Atena franziu o cenho para mim.

- Por que está fazendo isso? Eu lembro muito bem que disse que não gostava de você quando nos conhecemos, Alice Kelly. – Disse ela.

- Ah, eu gosto muito dela. – Comentou Poseidon sorrindo para mim, mas Atena lançou um olhar de raiva para ele – Como uma sobrinha! Como uma sobrinha, é claro.

- Eu sei como ele é chato. Só porque eu estou de castigo tendo que agüentar ele para toda a eternidade, não quer dizer que você tem que sofrer também. – Respondi, e a Deusa sorriu de leve para mim novamente.

- Obrigada, Alice. Mesmo. – Disse ela segurando o braço de Poseidon. Ele sorriu para ela, ela retribuiu, e os dois saíram do quarto. Eu me sentei na poltrona, perto da beira da cama, e observei Ares dormindo.

POV Ares

- Me solta! Ares! Me põem no chão! Não! – Exclamava Alice. Por incrível que pareça, eu estava vendo um tipo de filme na TV. Lá estava eu, vestido com um terno risca de giz, com um bigode maligno, carregando Alice nas costas.

- Não ainda gritar, Kelly. – Disse sorrindo maligno. Ela tentou me dar socos nas costas pensando que ia me machucar (como ela sempre faz), mas eu continuei a andar. Pelo menos o eu da tela, porque eu mesmo estava comendo pipoca e assistindo a cena – Vamos ver se escapa dessa.

- O que está fazendo?! Nem pense nisso! – Exclamou ela tentando se soltar. Por mais estranho que fosse, eu a coloquei no trilho do trem amarrada por cordas, como nos desenhos animados – Não!

Franzi o cenho para aquilo, mas estava até que engraçado. Eu e o “eu da tela” rimos ao mesmo tempo. Alice usava um vestido prato e branco, que parecia um tanto antigo, como as mocinhas dos filmes de cowboy.

- Ares, você é o pior! – Reclamou ela tentando se soltar, mas era difícil demais – Me deixa em paz!

- Ooown, vai chorar, Filhinha de Hermes? – Perguntei rindo. Segurei o queixo dela, mas Alice virou o rosto – O trem já está vindo. Se eu fosse você começava a gritar ajuda, ou...

- Ou o que? – Perguntou ela olhando para mim. Eu puxei seu rosto para perto do meu, e nossas bocas quase se juntaram, mas eu só sorri maligno.

- Ou me escolher. – Completei.

- Já disse que não! – Respondeu ela.

- Então eu vou adorar ver essa cena. – Disse me afastando e sentando em uma mesa. Acenei para ela tranquilamente, e Alice começou a se mexer tentando soltar-se.

- Socorro! Alguém me ajude! – Exclamou ela. Aquilo estava realmente engraçado. Parecia o vídeo clipe de “Mean”, por isso eu comecei a rir de novo. Continuei comendo pipoca, enquanto meu eu da tela observava Alice tomando um gole de bebida.

- Estou só esperando você me escolher, gracinha. – Disse sorrindo, mas Alice virou o rosto.

Eu estava me divertindo vendo aquilo, mas meu prazer foi estragado por um idiota que saiu correndo e parou do outro lado do trilho do trem. Calça marrom, suspensórios, camisa branca com mangas arregaçadas, e um cabelo loiro penteado para trás de um jeito extremamente arrumado.

- Eu salvou você! – Exclamou ele desamarrando Alice. Ele a puxou para fora do trilho no exato momento em que o trem passou. Quando ele foi embora, pude ver Apolo abraçado com ela. Alice sorriu para ele, hipnotizada praticamente, e o meu “eu da tela” começou a xingar com raiva – Você está bem, Alice?

- Ah, Apolo... – Suspirou ela feliz – Obrigada.

- Não foi nada. Eu salvo donzelas em ar puros todos os dias no café da manhã. – Sorriu ele com sua humildade nojenta.

- Salva mais donzelas, é? – Alice desviou o olhar triste, mas Apolo puxou seu queixo para sua direção.

- Mas você é a minha favorita. – Sorriu ele. Alice sorriu tímida, e eles se beijaram. Apolo jogou o corpo dela para baixo e o segurou com seus braços. Quando suas bocas se separaram, Alice sorriu com o rosto um pouco vermelho.

- Meu herói! – Disse ela – Eu escolho você!

- Não! – Berrei com raiva junto com o meu “eu da tela”. E como se não fosse o suficiente...

- Alice! Alice! Ainda bem que você está salva! – Exclamou um outro garoto usando suspensórios, só que seu rosto tinha algumas manchas de óleo. Seu cabelo castanho completamente bagunçado, mostrava que ele trabalhava em alguma oficina – Pensei que nunca fosse escapar daquele vilão!

- Eu estou bem Soctt. Graças ao Apolo. – Sorriu ela para aquele loiro metido.

- Bem... Então agora vem o casamento? – Perguntou Scott.

- É. – Confirmaram os dois se beijando novamente.

- Não! Ia dar certo! – Berrei novamente. Notei que estava deitado em uma cama, e que o cenário não era o mesmo. Era o quarto da Alice. Olhei para o lado e lá estava ela, sentada em uma poltrona, me encarando com o cenho franzido – Você... Você se casou?

- Ainda não. – Respondeu ela devagar.

- E um trem não passou por você? – Perguntei me sentando na cama.

- Não que eu tenha notado. – Respondeu ela devagar novamente.

- Que droga... – Murmurei coçando a cabeça, mas recuei a mão e usei milhares de palavrões de uma vez – Mas que...?! O que foi isso?! Ai!

- Você bateu com a cabeça, lembra? – Falou ela olhando para mim – Não põem a mão, senão vai doer mais.

- Foi... – Franzi o cenho tentando lembrar – Espera... Foi a Atena. Ela jogou alguma coisa em mim, porque eu ia contar que ela está se pegando com o Poseidon!

Sorri maldoso, pois sabia o quanto seria divertido ver a reação de Zeus quando ele descobrisse, mas Alice franziu o cenho para mim e negou com a cabeça.

- Atena o que? De onde você tirou isso? – Perguntou ela sem entender.

- Não me vem com essa! Você mesma sabia! Eles estão juntos! – Exclamei para Alice, mas ela negou com a cabeça fazendo cara de desentendida. Segurei a gola da sua camisa e a puxei para perto de mim – Quer me fazer de idiota, é isso?!

- Ares... – Ela se deteve. Alice desviou o olhar, e suspirou – Sinto muito. Isso foi culpa minha.

- Culpa sua o que? – Perguntei confuso.

- Eu... Fiquei com raiva quando você ficou passando aquelas porcarias de flashbacks, e te empurrei da escada. – Disse ela olhando para o lado – Eu te empurrei e você bateu de cabeça no chão.

Soltei ela e franzi o cenho. O que?!

- Não... Eu... – Estava tentando me lembrar, mas... Será que aquilo foi um sonho?! – Eu te segui até o corredor, nós íamos nos beijar, só que a porta abriu e caímos no chão. Aí eu fiquei cego porque a Atena me fez ver a visão do inferno que é ela de sutiã, e depois nós vimos que eles estavam juntos.

Alice franziu o cenho para mim e prendeu o riso. Ela encolheu os ombros.

- Certo... Se você acha mesmo que foi isso que aconteceu... – Comentou ela, mas depois riu um pouco – Você sonhou com a sua irmã sem camisa? Isso foi muito estranho.

- Eu não...! Ah! Cala essa boca! – Berrei para ela fazendo uma careta – Esquece. Deve ter sido um pesadelo horrível e nojento.

- Atena e Poseidon... Tem noção que eles se odeiam? – Perguntou Alice, mas depois virou o rosto rindo – Atena não ia gostar de saber dos seus sonhos com ela.

- Vai se ferrar. – Falei para ela estreitando os olhos com raiva. Como ela me irritava! Alice era a garota mais idiota desse mundo inteiro. Estava pronto para me levantar quando ela me impediu. Alice colocou a mão sobre o meu peito e me empurrou para a cama novamente – O que foi agora?

- É melhor você esperar um pouco para levantar. A pancada foi feia. – Comentou ela.

- Quem mandou você me empurrar da escada, sua lesada?! – Perguntei com raiva, mas acabei deitando novamente – Já que fez isso comigo, acho melhor ir para a cozinha e me trazer alguma coisa para comer. É o mínimo que você pode fazer para me recompensar, não acha?

- Você é muito abusado. Quem disse que eu me sinto culpada por isso? – Perguntou ela irritada, mas depois sorriu – Tá. Eu vou. Vou trazer um copinho de leite para você se sentir melhor, certo? Cortesia da sua namorada favorita.

Ela apertou minha bochecha e eu lhe lancei um olhar de raiva. Alice disse “Dia da Alice” e saiu do quarto rindo feliz. Maligna! Se eu fosse mais leve que ela, tinha certeza de que seria eu o cara amarrado ao trilho de trem.

Ela voltou com o copo de leite e eu tive que beber aquela porcaria. Alice me observava de perto com um sorriso feliz, mas quando eu acabei, ela foi para o closet trocar de roupa.

- Você é uma garota muito vingativa, ouviu?! – Exclamei para ela, enquanto me levantava, mas só escutei seus risos. Idiota...

- Aqui se faz, aqui se paga, Ares. – Respondeu ela calmamente.

- Ah, mas eu não vou deixar barato. Na verdade... Você vai me pagar! – Exclamei abrindo as portas do closet. Esperava que ela ainda estivesse trocando de roupa, só para poder ouvir seus gritos de protestos, mas não foi assim. Bem... Ela estava colocando os sapatos, mas estava sentada com as pernas ligeiramente abertas. Para aminha felicidade, ela usava uma saia.

- Ei! – Exclamou ela fechando as pernas rapidamente. Eu revirei os olhos fingindo não ligar para tê-la visto assim.

- Tsc. Completamente sem graça. – Menti. Alice se levantou. Ela estava usando uma saia preta larga de cós alto, e uma camisa branca. A saia tinha suspensórios o que me fez lembrar do meu pesadelo.

- Ninguém merece... – Disse ela saindo do closet com o rosto um pouco vermelho, mas eu a segurei pela cintura e a joguei contra a parede – O que houve agora?

- Lembra? Você prometeu que ia fazer tudo que eu quisesse. – Disse sorrindo torto – Por isso, não pense que o que você está fazendo não vai ter um troco.

- Há. O engraçando, Ares, é que você também disse que faria tudo o que eu quisesse. – Comentou ela cruzando os braços com um sorriso – Acha que ainda consegue me incomodar depois dessa?

- Acho. Quer saber o que eu quero agora? – Perguntei pensando em algo humilhante ou que ela odiaria fazer – Eu quero que você vá até o fim do corredor e volte...

- Nossa... Quanta dificuldade nisso, hein? – Zombou ela.

- Engatinhando. – Completei a frase. Alice ficou com o rosto um pouco vermelho, mas depois sorriu para mim – O que? Está animada agora?

- Estou. Muito. Até porque... Eu quero que você faça o mesmo junto comigo. – Respondeu ela rindo. Trinquei os dentes. Olhei para sua saia, e estava pronto para dizer algo que ela não ia gostar, quando Alice entendeu o que eu estava pensando e se apressou – E quero que vá na minha frente!

- Primeiro as damas. – Disse calmamente.

- Eu pedi primeiro. Esquece. – Negou com a cabeça. Revirei os olhos.

- Um do lado do outro, e nada á mais. – Tentei.

-... Certo. – Falou ela confirmando.

E lá estávamos nós... Engatinhando até o final do corredor. O rosto de Alice estava vermelho como o carpete do chão, mas eu não podia falar nada de diferente do meu.

- Eu odeio você. – Falei com raiva.

- Eu te odeio mais ainda. – Rebateu ela.

- Eu vou sempre te odiar. Sempre. – Retruquei.

- Digo o mesmo, idiota. – Disse ela me dando um chute na bunda. Chutei ela de volta, com um pouco mais de força – Ai! Imbecil!

- Foi você que começou! – Reclamei.

- Eu nada! Você começou! – Exclamou ela de volta. Nós estávamos prestes a dar meia volta para voltar para o quarto e acabar com aquela porcaria de humilhação, quando...

- O que vocês estão fazendo? – Perguntou Hades aparecendo no corredor. Ao seu lado estavam suas duas filhas, e Zeus. Alice e eu nos entreolhamos sem acreditar naquilo, e fizemos um acordo silencioso que dizia “Ok... Terminamos aqui”.

- Ah... Eu perdi o meu brinco, e nós estávamos procurando. – Mentiu ela com um sorriso envergonhado – Mas deixa para lá.

- Entendo... – Disse Zeus franzindo o cenho e achando aquilo estranho – E... O que você está fazendo engatinhando pelo corredor, Ares?

- Sendo um amorzinho e procurando comigo. – Respondeu Alice se levantando – Ok... Acho que eu posso comprar um novo depois, Ares.

- É. Claro. – Sorri para ela morrendo de vontade de enforcar aquela garota. Nós ficamos de pé, e eu franzi o cenho para Zeus e Hades – O que vocês estão fazendo juntos?

- Vamos nos preparar para a festa de vocês. – Respondeu Hades. Alice olhou para mim sem entender, e eu fiz o mesmo.

- Nossa... Festa? Que festa? – Perguntou ela.

- Ninguém avisou para vocês? – Perguntou Zeus achando estranho – Afrodite deve querer fazer surpresa então. Bem... De qualquer maneira, ela quis fazer uma festa Olimpiana na cobertura do hotel para comemorar o casamento de vocês.

Afrodite. Sei dessa. Aquilo não era nada bom. Se ela ia fazer uma festa dessas, era porque tinha algum plano maligno em mente, para mexer com nós três. Olhei para Alice, e depois para eles.

Mas... Eles tinham falado a palavra mágica.

- Festa Olimpiana, é? – Sorri torto, mas Alice revirou os olhos – Nós vamos nos arrumar também, então.

- Vai começar ás 8, mas se quiser chegar antes para nos buscar... – Falou uma das filhas de Hades (acho que o nome dela é Juh) com um sorriso tenso para mim.

- Juh! Ele vai com a Alice. Nem tente. – Repreendeu Hades.

- Mas então o Apolo pode...! – A outra tentou, mas foi interrompida.

- Parem as duas! Eles vão com a Alice, e pronto! – Reclamou Hades levando-as para longe de nós, e Zeus o seguiu. Alice olhou para mim com um pouco de raiva.

- “Nós vamos nos arrumar também”. Como assim?! – Reclamou ela.

- Ei, ei, ei! Não vem reclamando não! – Falei para ela – Ele disse “Festa Olimpiana” ou será que você não ouviu?

 - Uhul! Festa Olimpiana! – Exclamou Apolo descendo as escadas correndo e dançando – Isso vai ser um arraso! Eu podia me casar mais vezes!

Alice cobriu o rosto sem acreditar que ia ser obrigada á ir a festa, quando o pior aconteceu. Afrodite abriu a porta de seu quarto, e segurou os ombros da garota da guerra com um sorriso animado.

- Alice, amor, que bom que está aqui! Vamos escolher a sua roupa, fazer seu cabelo, arrumar suas unhas... Tipo assim... Tanta coisa para fazer! – Exclamou ela animada. Alice fez uma cara de morta e no fundo eu senti pena dela.

- Alice, se você sobreviver, eu te busco ás 8, certo? – Falou Apolo piscando para ela. Dei um tapa na nuca dele, e Afrodite á puxou para dentro fechando a porta.

Que noite ia ser...