- Agora eu tenho que ir pensar nos preparativos. Amanhã nós conversamos, querida. Tchau tchau. – Disse Hera com um largo sorriso e saiu fechando a porta.

- Ok... Isso foi uma surpresa. – Comentou Apolo depois de alguns minutos de silêncio absoluto.

- Ah, você acha? – Perguntou Ares.

- Cinco dias... – Foi tudo que consegui dizer. Eu acabei rindo de nervoso e comecei a ajeitar a franja para trás da orelha freneticamente – Cinco... Cinco dias.

- Calma, Alice. Você vai ficar bem. – Disse Apolo devagar.

- Bem?! Como é que eu vou ficar bem?! Eu vou ter que me casar com os dois em cinco dias! Cinco dias! Tem noção de como isso passa rápido?! – Exclamei irritada – Há mais ou menos um mês eu nem mesmo sabia que vocês existiam, e agora estou aqui!

Eles dois desviaram os olhares, mas de repente...

- Espera... Isso quer dizer que a despedida de solteiro é daqui á quatro dias? – Perguntou Ares mais para si mesmo, do que para nós.

- Despedida de... Scott, onde está a chave inglesa? – Perguntei rangendo os dentes de raiva. O filho de Hefesto pegou-a do chão e colocou-a atrás das costas para eu não fazer nada – Scott, me dá isso!

- Não! Calma. Alice... Calma. – Disse ele tentando me controlar.

- Calma? É isso que eu vou ter que aturar para o resto da eternidade daqui á cinco dias! – Exclamei apontando para Ares com raiva.

- Oooh, falou o poço de inteligência. Como se você fosse a única que tem que aturar alguma coisa. – Disse ele se levantando e vindo para perto de mim.

- Conviver com você é pior! – Retruquei – Mil vezes!

- Não. Com você é pior! – Rebateu – Duas mil vezes!

- Acho que a melhor coisa á fazer é manter a calma, relaxar e tentar desabafar de um modo amigável. – Comentou Scott separando nós três.

- Como eu posso fazer isso?! Vou me casar em cinco dias sem nem mesmo querer, e esse idiota só sabe falar da porcaria da despedida de solteiro?! – Trinquei os dentes.

- Acho que é uma pergunta normal de fazer... – Comentou Apolo devagar, mas eu estreitei os olhos para ele – Para o Ares. Para o Ares! Não para mim. Tsc, nem pensei nisso.

- Por mim, eu não ligo. Podem ter quantas quiserem. Eu só não quero o casamento! – Exclamei.

- Pois é... A gente dá um jeito nisso. – Disse Apolo calmo – Só temos que arrumar um jeito de contar para Hera que não queremos casamento. Eu voto para Ares, que é o filhinho querido dela, ir contar.

- Eu voto para o Apolo, que é o mais lesado, ir contar a história e levar uma bela surra. – Rebateu Ares.

- E eu voto para vocês dois levaram mais dois socos nos olhos! – Exclamei com raiva. Tanto Apolo quanto Ares estavam usando óculos escuros para esconder o estrago que meu pai fez.

- Uuuh! Para que tanta raiva? – Zombou Ares – Você sempre reclama de mim, mas olha só para o jeito que você está agindo.

- Será que eu tenho que desenhar para você entender o porquê de eu estar com tanta raiva?! – Perguntei irritada.

- Provavelmente não, porque mesmo se desenhasse, ninguém ia entender os seus dons artísticos. – Implicou ele. Neguei com a cabeça e desviei o olhar.

- Eu simplesmente não posso passar toda a minha imortalidade ao lado dele! E ainda por cima casada! – Exclamei para Scott.

- E eu simplesmente não posso passar a minha imortalidade ao lado dela. Imagina ter que aturar essa pirralha falando no meu ouvido o dia todo?! É uma miniatura da Deméter! – Reclamou Ares para Scott.

- Sinceramente... Eu só quero ficar com a Alice. – Disse Apolo olhando para o Scott - O Ares que volte para a Afrodite.

- Volta você para a June, e nos deixe em paz! – Rebateu ele com raiva.

- Não tinha acabado de dizer que não queria ficar com ela?! – Perguntou Apolo.

- Disse, mas...! – Ele foi interrompido.

- Mas ele não quer ceder “território” para você. – Respondi com raiva. Scott assentiu calmamente.

- Ok. Vamos analisar a raiz do problema. – Disse Scott dando uma de psicólogo – Por que vocês não se sentam e falam calmamente o que incomoda cada um? Nós podemos chegar á um consenso e discutir a situação civilizadamente.

- Você quer o que? Que eu conte a minha infância para você poder analisar, moleque?! Se forma em psicologia e vai encher outro com esse lance de terapia! – Reclamou Ares.

- Ele só está tentando ajudar, seu grosso! – Reclamei.

- Uuuuh, nossa! Não gosta quando ofendem o seu ex namoradinho, é Kelly? – Zombou ele com raiva – Então devia se casar com ele também. Que tal? Mais um para a lista não deve fazer mal nenhum.

- Realmente não. – Confirmei – Eu já tenho que agüentar dois, porque não três? Da próxima vez que eu vier aqui a gente conversa, e todos ficam empatados.

Claro que Scott não entendeu nada sobre a parte de “conversar”, mas a ficha caiu para os dois. Estava com tanta raiva que disse aquilo sem pensar. Ares ficou irritado ao ouvir aquilo, porém eu o ignorei e fui para a cozinha de Scott. Ela não era muito grande, mas era perfeita para eu respirar em paz.

- Quem disse que podia sair desse jeito?! – Perguntou Ares entrando na cozinha. Ele apontou um dedo para mim de modo ameaçador – Você nem pense em ir falando desse jeito comigo, entendeu Kelly?! Se pensa que pode sair por aí e ficar com qualquer um, você está mais do que...!

- Não fale você desse jeito comigo! – Exclamei dando um tapa no seu dedo. Acho que só nesse momento é que Ares notou o quanto eu estava incomodada com essa história de casamento, e resolveu ficar quieto. Apolo entrou na cozinha também, mas sentiu o ar tenso e ficou mudo.

Revirei os olhos e soltei um suspiro, cansada. Meu tom de voz já tinha se controlado e abaixado, por isso voltei a falar.

- Cinco dias... Cinco dias. Têm noção de como isso passa rápido? – Perguntei tensa. Ele assentiram desviando o olhar – Eu tenho que dar um jeito nessa história de casamento antes que seja tarde...

- Quer mesmo dar um jeito nisso? – Perguntou Apolo, e eu olhei para ele surpresa. Seu tom de voz era duro, preciso, e determinado. Assenti confirmando e ele também – Ótimo. É fácil. Escolhe um de nós. Só um.

- Eu já tinha que escolher antes. – Falei em um tom de voz baixo, mas Apolo me interrompeu.

- Não. Agora. – Disse ele. Olhei para ele pensando que o “agora” significasse “no presente”, mas na verdade...

- Você diz... Nesse minuto? – Perguntei incrédula.

- É isso mesmo. Escolhe logo de uma vez, e acabe com tudo. – Disse ele – Quem você escolher vai e fala com a Hera para você. Mas vai ser o seu namorado definitivo.

Pisquei os olhos incrédula. Escolher um deles? Assim de repente? E no meio da cozinha do Scott, sem nenhuma janela para eu pular?

Analisei todos os cantos buscando um jeito de fugir, mas Ares notou isso.

- Aaah, nem pense nisso, benzinho. – Negou ele. Ares parou na frente da porta, de modo que todo o seu imenso corpo tampava a saída. Meus ombros caíram mostrando toda a minha frustração.

- Não tem como eu escolher um de vocês desse jeito... Eu preciso pensar, e... – Tentei dizer, mas fui interrompida.

- Francamente, Alice, é tão difícil assim?! – Perguntou Apolo impaciente – Você teve vários meses de convivência com os dois, e bastante tempo esses dias para pensar direito no assunto. Agora... Diz. Quem?

Abri a boca, mas meus lábios tremeram. Ok... Como eu ia sair dessa?!

- Certo... Certo. – Respirei fundo. Olhei fixamente para Ares, e franzi o cenho – Ares... Você.

Apolo desviou o olhar triste, mas Ares tentou esconder um sorriso de triunfo. Eu dei um passo na direção dele, e ele na minha.

Ares segurou o meu queixo e sorriu torto.

- Ah, eu sempre soube que você tinha uma quedinha por mim. – Disse ele para mexer comigo. Olhei para Apolo e tirei a mão de Ares do meu queixo delicadamente.

- Apolo... Não é nada pessoal. Mesmo. – Disse andando em direção dele. Ele olhou para mim, triste – É só que o Ares... Estava mais perto da porta!

Eu corri como nunca corri antes. Saí correndo da cozinha na máxima velocidade, e demorou alguns minutos para os dois otários notarem que eu tinham passado a perna neles.

- Tchau, Scott! Foi mal a confusão! Volto depois! – Exclamei quando abri a porta e saí correndo.

- Volte aqui! – Exclamaram os dois juntos, mas eu obviamente não parei.

Eu corri até o hotel, subi as escadas na máxima velocidade, mas não parei no andar 12. Tsc. Óbvio demais. Na verdade, eu parei no andar 6. Nunca pensariam que eu estava lá.

- Certo... Tranquilidade. Ninguém vai te achar aqui, Alice. – Pensei enquanto andava calmamente pelo corredor. Ele estava completamente vazio, pelo menos... Era o que eu pensava.

- Achou que ia fugir de mim? – Perguntou uma voz sedutora no meu ouvido. Apolo segurou a minha cintura, me girou e fez com que as minhas costas encostassem contra a parede. Ele estava na minha frente com uma expressão controlada.

O Deus do Sol, com seus lindos olhos azuis (coberto pelos óculos escuros) e dentes brancos, sorriu torto para mim e negou com a cabeça.

– Você vai me escolher, não é? É por isso que ficou com pena de falar isso na casa do Scott, para não magoar aqueles dois. – Disse Apolo convencido.

- Apolo... Eu... – Fui interrompida. Ele segurou a minha cintura e puxou-me contra si. Ele segurou o meu rosto e puxou para perto do seu, me dando um beijo. Eu realmente adorava os beijos dele, por isso fiquei completamente imóvel. Quando ele separou os lábios dos meus e começou a beijar o meu pescoço, eu resolvi tomar força – Eu preciso de um tempo.

- Um tempo de mim, minha musa? – Perguntou ele em um tom sussurrante no meu ouvido. Era extremamente sedutor, e dava vontade de beijá-lo de novo, mas eu me mantive firme.

- Um tempo de todo mundo. – Respondi empurrando ele e saindo correndo, mas Apolo resolveu me seguir.

- Alice, não tente fugir de mim. – Disse ele com um sorriso malicioso. Apolo correu atrás de mim, mas eu é que era a filha de Hermes, por isso subi as escadas em um passo muito mais rápido.

Parei no oitavo andar e vi Apolo continuar subindo as escadas, pensando que eu tinha continuado. Virei-me e comecei a correr até o fim do corredor. Eu olhei para trás uma vez para checar se estava sendo seguida, quando tropecei em alguma coisa e caí para frente.

Porém uma mão segurou a minha cintura, me girou, e fez com que eu ficasse de frente para ela. Minhas costas estavam á centímetros do chão, e o meu rosto a centímetros do de Ares.

- Então você achou mesmo que ia passar a perna em mim? – Perguntou ele um tom baixo, provavelmente para Apolo não ouvir. Tentei me soltar, mas Ares me segurava com força. Ele apertou uma de suas mãos em volta da minha cintura, e eu não consegui me desprender - Lembra de onde paramos? Você estava a ponto de me escolher, Kelly.

- Estava nada. – Rebati, mas Ares segurou o meu queixo com força – Me solta.

- Ainda pensa que pode me deixar para trás? – Perguntou segurando o meu cabelo com força e puxando levemente para trás – Ótimo. Quer saber de uma coisa, Kelly? Se você não escolher só, vai ser casar com os dois. E se você tiver que casar com os dois, vai casar comigo. E se tiver que casar comigo...

- Onde você quer chegar com isso? – Perguntei tentando soltar sua mão do meu cabelo. Ele sorriu torto para mim, um tanto malicioso.

- Eu vou ter que aprender como te carregar. – Disse ele calmamente, e eu franzi o cenho – Sabe? Os noivos fazem isso nos casamentos.

- Que inteligente. Vai treinar com outra pessoa então. Me solta! – Exclamei tentando me livrar dele, mas Ares me ignorou. Ele me segurou no colo com a maior facilidade e começou a andar até as escadas – O que está fazendo?! Me põem no chão!

- Sabe... Tem vários jeitos de carregar uma noiva. Pode ser assim, ou... Assim. – Disse ele me jogando por cima de seu ombro como se eu fosse uma simples boneca de pano – Só que eu não consigo me decidir... Acho que vou ter que perguntar para o Poseidon o que ele acha.

Meu rosto ardeu em vermelho.

- Não mesmo! Ares! Solta! – Falei batendo contra suas costas.

- E se eu não te soltar? Vai fazer o que? – Quis saber ele – Ooown, vai chorar para o seu papaizinho?

- Não sei. Você diz o que te deu um belo soco no olho?

- Esse seu jeito me irrita. – Disse ele com raiva, mas depois voltou ao normal – Se bem que... Até que é divertido provocar ele.

- Vai se ferrar. Me solta agora!- Exigi, mas ele negou.

- Acho que você devia pedir “por favor” como uma boa garota. – Disse ele.

- Acho que devia voltar para a barra da saia da Afrodite. – Rebati com raiva, e Ares resolveu mexer mais comigo. Ele me deu um tapa na bunda, o que me irritou muito. Tentei dar uma joelhada em seu nariz, mas ele me impediu facilmente.

- Vamos ver o que cada Deus acha disso. – Falou ele bem devagar para me sentir envergonhada – Ah, eu queria tanto ver o seu rosto vermelho agora... Isso é o troco por ter me feito de idiota, Filhinha de Hermes.

- Ares! Já chega! Você não vai fazer isso! Me deixa em paz! – Exclamei.

- Me escolhe, e eu te deixo em paz! – Rebateu ele.

- Está fazendo chantagem?! – Perguntei incrédula. Ares me deu um beliscão – Ai! Seu abusado! Não vai me obrigar á escolher você! Não pode!

- Ah, eu posso. E posso ser bem pior do que isso. Cada um tem a sua tática. Enquanto Apolo tenta te seduzir, eu prefiro usar outros meios. – Rebateu ele. Eu me cansei de tentar bater nele, por isso parei para respirar – O que foi, pirralha? Desistiu e está pronta para chorar ajuda para o seu papai?

Olhei para o número do andar, e sorri, embora Ares não pudesse ver.

- Sim. Você não queria tanto se exibir assim para o Deuses? Então vamos começar por esse... – Olhei para o corredor que estava atrás de Ares e gritei o mais alto que pude – Papai!

- O que você pensa que está fazendo?! – Perguntou Ares incrédulo. Ele me colocou no chão, ainda sem acreditar que eu tinha mesmo chamado meu pai. Ares segurou o meu queixo e puxou-o para perto de seu rosto – Você acha mesmo que vai acabar com a minha diversão assim?

- Eu não. Hermes sim. – Respondi sorrindo ao ver a porta do quarto da minha mãe se abrir. Meu pai saiu de lá usando um moletom, e franziu o cenho sem entender, mas com certa raiva de Ares.

- Alice, o que está acontecendo aqui? – Perguntou ele cruzando os braços e fuzilando Ares com um olhar de raiva – Ele está te incomodando?

Não. Só se aproveitando de mim.

- Ah, não. Ares já estava de saída, pai. – Sorri para ele normalmente, e olhei para Ares – Diz para o Apolo que eu vou demorar para voltar, certo? Vou passar o dia com os meus pais.

- Isso. Corre para o seu papai. – Disse Ares fazendo um careta. Retribui para ele, e fui até o quarto da minha mãe, mas antes de entrar Ares sorriu maldoso – A gente se vê mais tarde.

Ah droga... O que ele estava pensando?!

Meu pai entrou comigo e fechou a porta. Salva por algumas horas, pelo menos...