- Então anda tendo pesadelos com isso? – Perguntou ela calmamente, e eu assenti. Nós duas estávamos sentadas no sofá e podia sentir o cenário nostálgico ainda me afetando – Bem... É de se imaginar. Quando você está noiva dos dois... Acho que isso acontece.

- Eu não quero estar noiva de ninguém. Aqueles idiotas só fizeram isso para jogarem na cara um do outro que não vão ceder território. Ridículo. – Disse em um suspiro.

- Eu sei disso. – Olhei para ela sem entender, mas Héstia explicou – Conheço muito bem os olimpianos. Apolo e Ares não são os mais maduros dos Deuses. Não me admira que eles estejam fazendo algo assim, mas isso não deixa de ser errado.

- Aham. – Confirmei sem saber o que falar. Héstia olhou para mim com um tipo de carinho quente que me fez sentir em casa de novo e continuou a falar.

- Alice, você é uma garota muito boa. Ouço falar de você. Sei de tudo que você passou. As coisas não foram fáceis para você, eu sei. – Disse Héstia – Sou a Deusa do lar também, e posso ver claramente que seus problemas vão além dessa história de noivado.

- Você está falando do Will, não é? – Falei e ela assentiu confirmando.

- Entendo que você e ele tenham suas diferenças ás vezes. É normal, uma vez que ele é um mortal e não entende pelo que você passa. Mas consigo ver claramente que ele se importa com você, e que você se sente mal por ter tratado ele daquele jeito. – Disse Héstia com todo o cuidado. Eu assenti.

- É... Ele... Foi um pai. Apesar de todas as brigas... Ele estava sempre do meu lado. – Comentei pensando no assunto – Você tem razão.

- E mais... – Héstia virou-se para mim – Você sabe muito bem que não pode continuar desse jeito.

- Está falando do noivado agora? – Perguntei.

- Isso. Sei que você gosta da companhia dos dois, mesmo o Ares sendo um idiota na maior parte do tempo. – Olhei surpresa para ela, já que não conseguia imaginar Héstia chamando ninguém de idiota – Não me leve á mal. É só que eu sou uma pessoa pacífica, por isso... Sou completamente contra os princípios de Ares.

- É. A maioria das pessoas é. – Confirmei.

- O fato é... Você pode até conviver com os dois, mas só pode ficar com um, Alice. – Disse Héstia. Ela ajeitou meu cabelo para trás da orelha e eu me senti um pouco tensa pensando no assunto – Não pode ficar com os dois. Entendo que é difícil para você fazer uma decisão dessas, mas... Você precisa acabar logo com isso.

- Então... – Franzi o cenho em uma curta pausa – Está dizendo que é o fim? Tipo... Acabou agora? Cheguei ao fim da linha, e tenho que escolher um e pronto?

- É. – Confirmou simplesmente. Olhei para ela um pouco preocupada, mas acabei suspirando e assentindo.

- Eu sei... É só que... Por mais que eu ame o Apolo, e que eu queira ir embora com ele para todos os lugares mais bonitos do mundo... Eu não consigo pensar na possibilidade de deixar o Ares para trás, mesmo ele sendo um grande babaca. – Disse passando a mão pela testa – Opa. Desculpe o xingamento.

- Tudo bem. Ele é mesmo um babaca. – Confirmou Héstia tentando fazer aquela palavra soar natural, mas nunca funcionaria saindo de sua boca.

- Acho que é melhor eu ir tentar dormir. Vou tentar ter pensamentos felizes com arco-íris, e borboletas coloridas. Vai ver funciona. – Comentei me levantando. Héstia sorriu para mim com delicadeza – Você não vai dormir? São três da manhã.

- Não. Vou ficar mais um pouco em frente as chamas. Elas me acalmam. – Disse Héstia como se aquilo tivesse um significado especial – Entende, Alice? As chamas sempre nos acalmam. Mesmo que pareçam algo perigoso, elas podem ser reconfortantes.

- É... Ahm... Entendi o recado. – Menti assentindo. Dei boa noite para ela e fui para o elevador. Ele parou no andar 12 e eu andei calmamente pelo corredor, até a porta do meu quarto.

Só que... Algo me chamou a atenção. A porta do quarto de Afrodite estava aberta, e eu sem quere olhei para dentro. A cena que eu vi me fez congelar por uns segundos.

Lá estava Ares abraçado á Deusa do amor. Suspirei tentando não ligar para aquilo e voltar logo para o meu quarto, quando eu sem querer esbarrei na porcaria do extintor de incêndios.

- Ai! – Exclamei sem querer. O extintor fez um leve barulho quando bateu na parede de novo, e isso chamou a atenção de Ares, que olhou para o lado de fora. Nossos olhos se encontraram por uma fração de segundos, e logo depois Afrodite também olhou para mim – Ahm... Boa noite.

POV Ares

Eu estava voltando da cobertura do hotel, quando passei pela porta do quarto de Afrodite. No mesmo instante, senti dois braços segurarem a minha cintura e me puxarem para dentro.

- Aonde vai essa hora? – Perguntou ela provavelmente sorrindo provocadora.

- Dormir. – Respondi simplesmente. Afrodite me virou para poder me olhar, e sorriu para mim – O que você quer?

- Tem certeza que vai dormir, Ares? – Perguntou ela cruzando os braços – Ou você vai fazer uma visitinha para a sua garota da guerra?

- É mesmo da sua conta? – Perguntei cruzando os meus braços.

- É. Todo tipo de amor é da minha conta, mesmo que seja o seu com outra pessoa. – Respondeu ela aparentemente irritada.

- Oooh! Esse showzinho é para que agora? Pelo que eu me lembre você terminou tudo comigo. Não devia se importar com o que eu faço mais. – Disse.

- Não me importo. Só gosto de estar informada. Então? Você ama ela, é isso? O novo casalzinho do Olimpo? – Perguntou ela irritada.

- Quem falou de amor? – Rebati fazendo uma careta – Ninguém nem mesmo tocou na palavra.

- Acho que deve ser amor, já que você pediu ela em casamento. – Disse rangendo os dentes no fim da frase.

- É isso que te irrita? – Perguntei erguendo uma sobrancelha. Afrodite me deu um tapa no braço com força.

- Seu idiota! Você ficou comigo esse tempo todo e nem mesmo pensou em me pedir, não é mesmo?! – Reclamou ela – Agora você fica com a Alice por dias e já está pedindo para a sua mãe arrumar um casamento!

- O que?! Eu não pedi nada para ninguém! – Protestei – E também... Como é que eu ia me casar com você, Afrodite? Você já é casada!

- Mas... Mesmo assim, seu insensível! – Exclamou ela ofendida. Revirei os olhos, mas Afrodite não ligou – Seria pedir demais você me dar mais atenção, ou se importar mais? Ah, imagina. Você só se importa com você.

- Se você já acabou o seu ataque de ciúmes, eu vou para o meu quarto dormir. Ou ir para o quarto da Alice dormir com ela. – Acrescentei a última parte para incomodar Afrodite – De qualquer modo, eu vou ficar bem longe daqui.

Eu me virei para sair de lá, mas Afrodite me jogou contra a parede e pressionou os meus ombros com suas mãos.

- Quem disse que eu estou com ciúmes? – Perguntou ela. Seu tom de voz mudou de repente. Ele estava sussurrante e sedutor – Na verdade... Não é bem o caso. Aaah, Ares... Você não sabe como eu me sinto sozinha.

Desviei o olhar morrendo de raiva, mas a escondi atrás de um sorriso. Acariciei o rosto de Afrodite, e ela sorriu maliciosa para mim.

- Ooown, você se sente sozinha, é pombinha? – Perguntei segurando seu queixo calmamente, e ela assentiu chegando seu rosto perto do meu. No último segundo eu segurei seu queixo com mais força, impedindo-a de avançar – Então vai falar isso para o seu maridinho perfeito.

Empurrei ela para trás e me virei pronto para sair do quarto, mas Afrodite foi para a minha frente de repente, o que me fez esbarrar nela. Ela aproveitou o momento, e me abraçou. Coloquei minhas mãos em sua cintura tentando empurrá-la para trás, mas não consegui.

Pelo menos... Quando estava prestes a conseguir, ouvi um barulho no corredor. Meus olhos pararam lá e viram Alice. Ela passou a mão no braço que deve ter batido em algum lugar, e olhou para mim um pouco sem graça. Afrodite também olhou para ela, mas não estava com raiva ou irritação.

- Ahm... Boa noite. – Disse ela desajeitada e voltou a andar. Afrodite prendeu o riso, e eu me toquei do que ela estava tentando fazer.

- Você fez essa cena toda só para ela me ver com você, não é? – Perguntei rangendo os dentes. Afrodite me soltou e encolheu os ombros.

- Ah, Ares. Você sabe muito bem que na guerra e no amor vale tudo. – Disse ela sorrindo maldosa – Não é que eu odeie vocês juntos. Nada disso. Eu só...

- Que se divertir vendo nós três juntos. – Completei a frase – Agora me diz... Onde na minha testa está escrito “Novela mexicana”?! Por que até onde eu sei, não estou nem um pouco a fim de servir de entretenimento para você!

- Para de gritar comigo e vai consolar ela, Ares! – Disse Afrodite ignorando tudo que eu disse. Aquela manipuladora miserável... Ela sorriu para mim de um jeito maldoso – A não ser que você não se importe com o fato de ela estar fora do quarto dela á essa hora da noite. E... Sozinha.

Cerrei os punhos. Ela tinha me pegado.

- Se ela ficar com o Apolo por causa disso, você me paga. – Disse com raiva e saí do quarto dela. No corredor, vi que Alice estava prestes a abrir a porta do quarto dela – Ei! Onde você estava?!

- Sh! – Fez ela virando-se para mim – Faz silêncio, Ares! Está todo mundo dormindo!

- E pode me dizer que horas são por acaso? – Perguntei impaciente, mas em um tom baixo. Alice encolheu os ombros.

- Sei lá. Umas 3 da manhã. Tanto faz. É madrugada. – Respondeu ela voltando-se novamente para a porta, mas eu a virei para mim pelo ombro. Alice revirou os olhos – Deixa eu entrar.

- Onde você estava? – Perguntei.

- Desde quando isso te interessa? – Rebateu ela.

- Desde que eu te perguntei. Agora fala. Quem disse que você podia sair no meio da noite assim?! – Perguntei com raiva. Alice desviou o olhar com a mesma raiva que eu e riu um pouco – O que? Ah, não me diz que você ficou com raivainha por eu estar falando com a Afrodite.

Ela negou com a cabeça. Não estava com tanta raiva quanto eu tinha notado. Na verdade, parecia muito mais cansada do que qualquer outra coisa.

- Sabe qual é a melhor parte de estarmos juntos? – Perguntou ela cruzando os braços – É que não é da minha conta o que você faz com Afrodite, e também não é da sua conta o que eu faço no meio da madrugada. Agora deixa eu ir.

- Você nem pense em falar comigo desse jeito, sua pirralha mimada! – Reclamei segurando seus ombros – Eu e ela só estávamos...!

- Não. Eu não quero ouvir. Não precisa me dar explicações, até porque eu não quero saber. – Disse ela se soltando de mim – Só me deixa em paz agora.

- Eu não perguntei se você quer me ouvir. Vou simplesmente vai me ouvir. – Rebati. Alice negou com a cabeça e tentou se soltar de mim. Estava mais do que na cara que ela não se sentira bem vendo nós dois abraçados, por isso eu tentei explicar a situação.

Segurei seu braço e comecei a puxá-la para perto de mim, impedindo que fosse para a porta.

- Já falei para me soltar! Ares, seu idiota! – Reclamou ela tentando se livrar de mim – Imbecil, cretino, nojento, arrogante, besta, mentiroso...!

Tampei seus lábios com os meus. Foi por puro impulso (leia-se “tudo culpa de Afrodite”), mas assim que nossas bocas se tocaram, não consegui mais me separa. Tanto meus olhos quanto os de Alice se fecharam, e foi nesse momento que eu passei as mãos pelo seu corpo puxando-a para perto.

Ela não fez muito, mas deu para ver que gostou do beijo, pois não tentou reagir, e insistia em manter as mãos paradas sobre meu peito. Quando paramos para respirar, nossos olhos estavam mirando um no outro. Os lábios de Alice ficaram levemente trêmulos quando ela disse...

- Boa noite, Ares. – Com isso ela me empurrou para trás com força, correu até a porta de seu quarto e a bateu com força. Estava hipnotizado demais para me mexer, até que ouvi Afrodite batendo palmas, animada.

- Eu simplesmente adoro essa garota. – Disse ela sorrindo maldosa. Ela caminhou até mim em um tipo de desfilar charmoso – Sabe... O que mais me empolga nessa história dela, é que tem três tipos de finais possíveis.

- Três tipos de finais? – Franzi o cenho.

- Você, o Apolo, ou o Scott. – Disse ela contando nos dedos – É claro que eu vou me divertir vendo um por um primeiro, aí depois eu digo quem vai ser o melhor.

- Wow, wow, wow! Pode ir parando com essa palhaçada! Quem escolha isso é ela, e não você! – Reclamei com raiva.

- Ooown, ficou com medo da concorrência, Ares? – Implicou ela rindo – Mas não se preocupe... Eu sei escolher bem. Só acho que não vou escolher você. Sinto muito. Vocês formam um casal até que fofinho, sabe? Com essa história de amor e ódio. Tenho que dizer que é mais “quente” do que “fofinho”, mas... Se bem que... Se vocês estivessem juntos, isso também não nos impediria de nada. Aaaah, viu só?! Eu não consigo decidir!

- Você tem sérios problemas, Afrodite. Deixa ela em paz! – Retruquei.

- Eu só estou ajudando ela á ter uma bela vida amorosa. – Disse inocentemente.

- Disse a mesma coisa para Helena na guerra de Tróia e todos sabem no que deu. – Rebati. Afrodite riu um pouco.

- Eu ainda vou pensar um pouco. Quero ver mais cenas românticas, e elas são as que menos faltam com vocês três por perto. – Disse ela indo para seu quarto. Antes de fechar a porta, ela soprou um beijo para mim – Bons sonhos, gracinha.

Ela tem mesmo sérios problemas...

POV Alice

Eu me joguei para debaixo da cama, enquanto ouvia os passos correrem pelo meu quarto.

- Alice, querida! Vamos! Você tem que ver o seu vestido de noiva, e depois o buquê, e depois... Simplesmente tudo! – Exclamva Hera animada – Paris é o melhor lugar para isso! Pensei até em fazer o seu casamento vermelho e dourado por causa dos noivos! Anda! Onde você está?!

- Me escondendo de você, sua maluca! – Pensei, mas resolvi não falar isso em voz alta. Hera foi me procurar no closet, quando eu aproveitei para sair correndo do quarto. Ainda estava vestindo só a camisa que Apolo me dera, e sabia que não poderia ir muito longe.

Não teria como fugir da minha futura sogra louca por muito tempo, e nem adiantaria me esconder no quarto de algum dos Deuses. Ela ia me procurar. Eu não sei o que deu em mim, mas quando vi eu já estava batendo na porta de Scott, me encolhendo na sacada da porta para ninguém ver que eu estava usando só uma camisa.

- No que eu posso... Wow! – Exclamou Scott. Ele abriu a porta, e eu estava encostada nela, de modo que caí encima dele. Eu me ajeitei puxando a barra da camisa para baixo, e senti meu rosto um pouco vermelho. Ele arregalou os olhos para mim – Ah... Bom dia para você também, Alice. Como vai?

- Nada bem. Posso entrar? – Perguntei e ele assentiu. Nós nos levantamos e ele fechou a porta. Scott me emprestou uma calça de moletom, e eu me sentei no sofá para conversar com ele – Sinto muito aparecer aqui no meio da manhã, e desse jeito ainda por cima.

- Não foi nada. Eu já estou até acostumado. – Disse ele sem ligar – Mas o que houve dessa vez para você ter que sair correndo só com uma camisa no frio do inverno de Paris?

- Eu... Estou fugindo. – Contei do melhor jeito que vi – Sabe... Dos meus noivos, e da Hera.