Minha Viagem Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 5
Ópera nem pensar


Notas iniciais do capítulo

Aqui está mais um capítulo! Espero que vocês gostem.



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Depois de voltar para casa, pegar alguns doces (pelos menos os que Ares não estava monopolizando), e tirar toda a maquiagem preta dos meus olhos, eu finalmente fui dormir. Tinha sido engraçado o dia, em geral pelo menos.

Como de costume eu tinha esperanças de contar com um sonho normal, mas não foi bem assim. Bom... De certo modo, poderia ser pior.

Lá estava eu, com os meus 12 anos e meio de idade, sentada á uma mesa da escola. Estava comendo sem nenhuma vontade. Lembrava daquele dia. Eu tinha ganho uma advertência dizendo que se eu arrumasse encrenca mais uma vez, seria expulsa.

Era injusto, é claro. A culpa não era minha de atrair tantos problemas para cima de mim. E parecia que eu era simplesmente a única.

- Ei, Kelly! – Chamou uma voz masculina. Por um momento, eu pensei que era o Ares, mas a minha versão mais nova sabia exatamente quem era – Soube que você vai embora finalmente.

- Eu ainda não vou embora, Kurt. – Respondi voltando a comer.

- Jura? – Riu ele. Kurt era um garoto simplesmente insuportável. Ele tinha um cabelo preto arrepiado, e gostava de implicar com os outros só para mostrar que tinha o poder de transformar a sua vida em um inferno – Pensei que a escola não deixasse esquisitos estudarem aqui.

- Ora, ela já deixa animais que nem você? Por que não deixaria os esquisitos? – Rebati rangendo os dentes. Naquela época eu não era tão calma. Qualquer um que viesse implicar comigo levava um lindo soco no nariz, e Kurt estava prestes a ser o próximo.

- Do que você me chamou? – Perguntou ele – Repete se você tem coragem.

Virei-me para ele com o punho cerrado, mas me contive. Não... Não valia a pena, eu pensava.

- Sabia. Você é só uma medrosa. – Disse ele rindo. Kurt estava quase indo embora, quando resolveu virar-se e me incomodar mais uma vez com um comentário maldoso – Ah! Eu esqueci de te perguntar! Roubaram o dinheiro do Mark. Está com você dessa vez?

Foi a gota d’água. Eu me levantei e lancei com toda a minha força a bandeja de comida na cabeça de Kurt. Aquilo deve ter doído bastante, mas eu não estava nem aí. Queria que tivesse doído mesmo.

- Você não é ninguém, Kurt! Pare de agir como se fosse superior! – Rugi com raiva. Ele virou-se para mim, e pude ver que sua testa estava sangrando um pouco. Ele avançou pronto para bater em mim, e eu pronto para bater nele, mas algo o impediu.

O restaurante estava vazio. Ou quase, pelo menos. Eu tinha ido para lá só para que ninguém arrumasse mais encrencas comigo e eu não tivesse que ser expulsa. Mas quando aquele idiota me viu, não teve jeito.

Assim que Kurt avançou contra mim, uma segunda pessoa apareceu. Ela pulou no meio de nós dois e empurrou Kurt com força para o chão. Fechei os olhos sem saber o que tinha acontecido e quem era essa pessoa, mas quando abri pude vê-lo.

Era um garoto da minha turma, mas nunca tive o interesse de perguntar seu nome. Ele tinha cabelo castanho completamente bagunçado, e olhos bem escuros. Vivia sozinho também, o que foi de admirar quando ele apareceu do nada para me ajudar.

- Você está bem? – Perguntou ele virando-se para mim. Confusa, eu assenti confirmando, e ele sorriu. Com isso ele virou-se para o Kurt – Você só sabe arrumar confusão, né? Não consegue deixar os outros em paz?

Algo na voz dele era engraçado. Ele estava reclamando com o Kurt, mas parecia que estava contando uma piada. Era como se ele carregasse o humor consigo.

- Não se mete! – Exclamou Kurt se levantando, mas foi interrompido por um outro alguém.

- O que aconteceu aqui? – Perguntou a professora. O legal é que nem ela nem outro adulto quando perguntava “O que aconteceu?” olhava para outra pessoa, senão eu.

Dessa vez eu estava encrencada. Mesmo. Seria expulsa por arrumar mais uma confusão, e teria que me mudar novamente. Minha mãe não ia gostar nada, mas o pior seria enfrentar o Will, meu padrasto.

- Foi...! – Kurt estava prestes a apontar para mim, quando o garoto da minha frente resolveu me ajudar uma outra vez.

- Ele que começou. Sinto muito, professora, mas o Kurt é um grande idiota. – Comentou ele com simplicidade.

A professora ficou um pouco decepcionada por não ter sido eu a culpada da história, mas acabou pegando o braço do garoto e puxando-o de volta para a sala de aula.

Kurt seguiu os dois, mas não antes de falar para mim que aquilo teria troco. Eu observei o garoto desconhecido desaparecer no corredor. Corri até uma certa parte e perguntei o nome dele, mas ele só virou para trás, sorriu, e entrou na sala.

Acordei com o telefone tocando. Tateei até encontrar meu celular na mesinha ao lado da cama. Eu o peguei e atendi, limpando os olhos sonolentos.

- Alô. – Falei com uma voz péssima.

- Alice? Sou eu. – Disse a pessoa do outro lado da linha.

- Mãe? – Perguntei me levantando devagar – Oi...

- Eu te acordei? São 11 da manhã, Alice. – Disse ela em um tom de repreensão.

- Não...! Imagina. Eu estava acordada. – Respondi mentindo.

- Eu sei muito bem quando você está mentindo, Alice. Você não me engana. – Falou ela. Eu me levantei da cama e coloquei um tipo de roupão, já que estava muito frio. Desci as escadas devagar e olhei em volta para ver se Ares estava lá. Nada.

- Estou falando. Já estava acordada. Pode falar comigo. – Insisti.

- Bem... Eu estava pensando... Você não quer viajar comigo? – Perguntou ela. Isso me fez acordar. Era a minha mãe falando isso. E minha mãe sempre ia para Paris. Sempre. Isso queria dizer...

- Sim! Sim! Quero sim! – Confirmei feliz – Nós vamos para...?

- Calma, Alice. Você sabe que novembro está chegando, não é? Então... Eu queria que você viajasse um pouco. – Disse ela provavelmente sorrindo.

- Diga o lugar. Só isso. – Disse sorrindo e esperando o mágico nome da capital da França. Mas ao invés disso, me veio...

- Alabama. - Contou ela por fim. Foi como se eu tivesse levado o tapa na cara mais forte da minha vida.

- Não. – Respondi simplesmente.

- Mas Alice é... – Ela tentou.

- Não! – Repeti com raiva – Não vou de jeito nenhum. Não.

- Não acho que você devia agir dessa forma, Alice. A sua família está lá e quer ver você. Você não vai para lá faz um bom tempo. – Insistiu ela.

- Eles não são a minha família e fazem mais do que a questão de mostrar isso. – Rebati.

- Claro que não. Como pode dizer isso? – Perguntou minha mãe tentando pensar em argumentos melhores para usar contra mim.

- Eles me odeiam! Ninguém lá gosta de mim! – Falei.

- E ninguém aqui também. Quer falar baixo?! – Reclamou Ares descendo as escadas. Primeiro eu tive vontade de jogar toda a minha raiva que tinha juntado no momento encima dele, mas então algo melhor surgiu em mente.

Abri um sorriso para ele, pois pela primeira vez estava feliz de tê-lo por perto.

- Mãe... Eu não posso ir, porque eu estou com o Ares. – Contei calmamente para ela o que tinha acontecido no Hotel Holly Lake, e sobre o novo castigo de Zeus.

- Eu pago para os três irem com você. Que tal? – Sugeriu ela.

- O que? Não! – Respondi.

- Viu? É você que não quer ir. Pode levar eles, Alice. Sem problema. – Disse ela.

- Mas...! – Olhei para Ares que arqueava uma sobrancelha para mim. Parecia que ele tinha acabado de acordar, pois ainda estava com o cabeço despenteado. Aí, me ocorreu outra idéia – Ele não quer ir. Ares não quer ir. Sinto muito, mãe.

- O que? Não quero ir para onde? O que você está falando de mim? – Perguntou ele sem entender. Ares revirou os olhos e esticou a mão para mim – Me dá o telefone.

Rapidamente coloquei-o contra meu ombro, impedindo que minha mão ouvisse o que eu ia dizer.

- Minha mãe tem ingressos para uma ópera. – Menti do jeito mais convincente do mundo – Ela quer saber se você quer ir comigo e com o Apolo.

- O que?! Ópera?! – Repetiu Ares com cara de nojo, e foi nessa hora que eu tirei o telefone do meu ombro para minha mãe poder ouvir os protestos – Não vou nem arrastado! Não mesmo, Kelly!

- Viu, mãe? Ela não vai. – Disse eu ao telefone.

-... Eu ouvi. Mas... Humpf. Nada que eu não possa dar um jeito. Vou até aí falar com ele e com o Apolo. Não se preocupe, eu vou dar um jeito. – Afirmou ela – Tchau, filha.

- O que?! Não...! – Minha mãe desligou o telefone – Droga! Ela desligou na minha cara!

- Você não gosta de óperas? Coisas enjoadas desse tipo combinam com pessoas enjoadas. – Disse Ares olhando para mim.

- Vai se ferrar. – Murmurei mais para mim mesma do que para ele. Ares andou até a cozinha e parou no meio dela, ignorando completamente o que eu tinha dito.

- Que tédio... – Resmungou ele olhando em volta. Ele coçou a cabeça, mas logo depois decidiu fazer mais um de seus lanchinhos. Ou seja... Sanduiche de carne.

Tédio. Se ele se sentia entediado, quer dizer que existia a remota chance de minha mãe conseguir convencê-lo de ir ao Alabama. Remota, mas existente. Simplesmente não podia deixar que isso acontecesse.

Muito embora eu soubesse que Ares não desejava ir á lugar algum, a chance de me irritar sempre se tornava tentadora para ele de algum modo. Ele podia aceitar a proposta da viagem, e aí não teria jeito. Ele me arrastaria usando a força bruta dele.

Tinha que pensar em alguma coisa para mantê-lo distraído e preso á New Jersey, antes que minha mãe viesse para casa convencê-lo. Durante o tempo em que estava pensando nisso, eu fiquei parada fitando Ares sem nem notar.

Ele olhou para mim e viu que eu o observava.

- Que foi? – Perguntou ele – Está olhando para mim por quê?

Pisquei os olhos voltando a realidade.

- Ahm? Ah. Por nada. Estava distraída. – Disse. Eu tive uma boa idéia de repente, ou pelo menos esperava que ela fosse realmente boa – Eu... Tenho que sair. Já volto, certo?

- Aonde você vai? – Perguntou ele cruzando os braços.

- Vou pegar uns filmes na locadora. – Sorri em resposta, e Ares revirou os olhos.

- Claro. Comédias românticas ou filmes melosos de menininhas. – Resmungou ele fazendo careta – Ou até mesmo desenhos animados. Acho que gostaria de um filme desses, não é pirralha?

- Claro. Claro. – Disse sem ligar para os resmungos e insultos dele. Subi a escada, troquei de roupa e fui direto para a locadora. Mas não antes de avisar Ares – Se a campainha tocar, não atenda.

Ele não entendeu, mas eu saí sem explicar.

POV Ares

Depois de fazer um lanche na cozinha, e depois da Filhinha de Hermes ir embora de casa, eu finalmente teria paz e sossego. Joguei-me no sofá tranqüilo, sem ter que ouvir suas reclamações por eu estar ocupando o espaço inteiro e tudo mais.

Era só eu, e eu mesmo. E o meu vídeo game, é claro.

Mas... Aqueles jogos estavam começando a ficar chatos. Repetitivos e chatos. Já tinha passado de todas as fases, e não tinha nenhum outro jogo para distrair a minha mente.

De repente, a porta se abre. Alice entra em casa abraçando-se de tanto frio, mas logo que me vê abre um leve sorriso. Ela estava sorrindo para mim? Uhm. Aí tinha coisa...

- Voltei. – Disse ela indo para perto do sofá.

- Não sou cego. – Comentei. Alice jogou uma sacola com vários filmes encima da mesinha de centro, e parou sorrindo para a tela da TV, como se quisesse que eu comentasse alguma coisa – Você roubou todos os filmes da locadora?

- Não. Eu não sabia ao certo o que queria, por isso... Peguei uns aleatórios. – Respondeu ela calmamente. O que tinha de errado com aquela garota?

- Sei. – Murmurei. Arqueei uma sobrancelha para ela, mas Alice não mudou de feição. Ela continuou sorrindo levemente para mim, e com um gesto me incentivou a olhar os filmes que tinha escolhido.

Eu estendi a mão e peguei a sacola. Era enorme mesmo. Peguei alguns filmes para ver o nome. Esperava que fossem filmes românticos ou sem graça, que provavelmente faziam o estilo dela.

Mas ao invés disso me surpreendi ao olhar os títulos.

- Cães de aluguel?! – Exclamei olhando para ela surpreso. Ela só podia ter pego o filme errado. Era um dos meus filmes favoritos de tiroteios entre marginais. Um tira estava infiltrado no meio de uma gangue, e todos tinham que descobrir quem era o traidor. Um cara perdia a orelha em certa parte do filme, e alguns palavrões tornavam aquele exemplar pouco agradável para o estilo de Alice – Você pegou isso por engano, né?

- Uhm? Ah... Nossa... Eu peguei isso? Que pena. Só vou poder devolver daqui a uma semana. – Comentou ela fingindo estar surpresa – Mas tudo bem... Acho que os outros são melhores.

- O resgate do soldado Ryan. – Li o próximo título. Um filme que mostrava um grupo de soldados americanos tentando resgatar o soldado James Ryan no meio de um campo de guerra na Europa. Emocionante, e também um dos meus favoritos, mas... Não podia ser o dela. Ainda olhando com certa suspeita para Alice, continuei olhando os DVDs – Os doze condenados, Clube de luta, O fora da lei, Por um fio, Maquina mortífera, Jogos mortais, Entre balas e beijos, Os intocáveis...

Todos eles eram filmes muito bons, mas a maioria (na verdade todos eles) mostravam milhares de cenas tensas, indo de violência até outras coisas. Como em “Os intocáveis” quando o Al Capone arrebenta a cabeça de um cara com um taco de baseball.

- Pois é... Acho que não tive sorte na hora de escolher os filmes. – Comentou ela fingindo estar decepcionada – Mas... Não tem problema. Você gosta deles, não é mesmo? Pode ver se quiser. E pode demorar bastante tempo também.

Estreitei os olhos para ela. O que Alice queria, afinal?!

- Não tenho idéia do que você está fazendo... – Comentei bem devagar e me levantando cauteloso – Mas... Eu vou ver “Os intocáveis”... Agora.

Alice sorriu para mim e concordou. Coloquei o filme, mas antes que ela saísse, eu a puxei para o sofá. Ela tentou protestar surpresa, mas eu a impedi.

- Está armando algum. Eu vou ficar de olho em você, Kelly. – Disse olhando para ela com os olhos estreitados.

- Tanto faz. – Alice deu de ombros e o filme começou.


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Notas finais do capítulo

Uhm... Será que Ares vai descobrir que a Alice está tentando enrolar ele?

Vamos ver no que isso dá no próximo capítulo!

Espero por reviews.