- Então... – Scott comentou olhando para trás. Eu também olhei e pude notar que Ares, Apolo, e o meu pai (vai saber porque) o encaravam de um modo nada amigável – Acho que eu já comecei a entrar para a família com o pé errado, não é?

- Esquece isso. Eles... Não te odeiam nem nada. – Falei dando de ombros, mas então eles começaram a tossir repentinamente – Ok... Só um pouquinho.

- O Deus da guerra me odeia por eu me dar bem com você, e por... – Scott franziu o cenho – O que mais eu fiz mesmo? Ah, é! Aquela moça bonita me abraçou.

- Ela é Afrodite. – Contei para ele – Deusa do amor, e esposa do seu pai. Ares saí com ela, por isso ele está odiando você. Mas... O que eu não entendi é porque ela não te odeia. Sabe? É que você é filho do marido dela com outra pessoa.

- É porque ele é um fofo e faz um casal lindo com você! É uma execessão – Exclamou Afrodite de longe. Scott ficou vermelho e eu ri – Oooown, por favor, continuem! E de preferência se beijem!

- Quero que fique á um metro de distância dele, ouviu?! – Berrou Ares – Estou de olho em vocês, pirralha! – Dei um tapa na minha própria testa.

- É! Se liga, Collins! Estou de olho em você e na sua mão boba! – Exclamou Apolo, fazendo Scott ficar mais sem graça ainda.

- Poxa... Me desapontei agora. – Brincou ele tentando voltar ao normal. Eu ri dele e revirei os olhos.

- Não liga para eles. Você devia ficar feliz. A Deusa do amor te acha fofo. Muitos garotos iam adorar isso. – Comentei rindo.

- Eu acho que é realmente uma sorte. Ela deve ser a única. – Comentou Scott apontando o dedão para trás. Todos eles estavam á uns metros de distância, andando á um passo mais devagar.

- Não é não. Muitas garotas te acham fofo. – Discordei, e ele riu.

- Mentira. Você foi a única garota que me achou fofo. De resto, mas ninguém. – Disse Scott negando com a cabeça – Eu nunca fui do tipo atlético, simpático, amigável, e tudo mais, por isso as garotas nem prestavam atenção em mim. E nem prestam ainda.

- Prestavam sim. – Contei. Scott olhou para mim com o cenho franzido por eu ter dito aquilo com tanta certeza – Todas elas na Califórnia olhavam para você e diziam que você era uma graça.

- O que?! Sério?! E por que você não me contou isso antes?! – Exclamou ele.

- Por que... – Eu mordi o lábio. Não acreditava que ia contar aquilo – Eu queria ser a única garota que te achava fofo. É que... Se você soubesse que mais alguém te achava assim, talvez... Não iria mais querer ficar comigo.

Scott olhou para mim surpreso, mas acabou desviando o olhar e tentando esconder um sorriso bobo. Eu sabia exatamente o que ia acontecer. Ele ia ficar nervoso e sem graça e começaria a mexer em alguma coisa (provavelmente os botões da camisa), ou a falar sem parar de videogames, mas para a minha surpresa...

- Vários garotos olhavam para você também, sabia? – Disse ele deixando a frase escapar. Eu olhei para ele e ri.

- Sabia. – Confirmei sem ligar. Scott parou de andar e olhou para mim.

- K.O! Ai! Essa doeu. –Scott simulou um tapa no rosto tentando não rir, e ergueu as mãos em sinal de rendição – Ah, desculpa! Alice, será que você pode ver se o meu rosto ficou marcado depois dessa? Acho que se você olhar com atenção, consegue ver a marca da sua mão aqui.

- O que foi que eu disse? – Perguntei sem entender.

- Eu estava tentando ser legal e conversar normalmente. Você disse que as garotas olhavam para mim e eu fiquei surpreso. Agora, quando eu falo para você que os garotos também te olhavam, você vem e fala “Eu sei”. – Disse ele incrédulo – Viu? É por isso que as pessoas gostam de você. Você é simpática e descontraída. Não me admira que você tenha dois namorados, e eu não tenha ninguém.

- Scott, você não tem ninguém porque você não quer. – Disse negando com a cabeça – Muita gente gosta de você. Sua família, amigos, pessoas que convivem com você, eu... Só que você passa tanto tempo com os seus vídeo games que nunca nota nada!

- Isso não é verdade... – Murmurou ele, mas nem mesmo Scott parecia convencido do que ele disse. Nós andamos em silêncio por alguns minutos.

- Foi por isso... Que eu roubei o seu jogo do “Scott Pilgrim” quando você ganhou de aniversário. – Comentei distraída, e ele parou de andar.

- Foi você?! Você me roubou?! Não acredito! Eu me sinto traído! – Exclamou ele chocado – Como...?!

- Eu peguei quando você não estava olhando. Ainda acha que é tão difícil? Você vive no mundo da Lua. – Respondi rindo.

- Eu tinha ganho de aniversário! Aniversário! E você roubou! – Exclamou ele incrédulo. Scott negou com a cabeça – Filha de Hermes. O que mais roubou de mim?

- Nada. Só isso mesmo. Ah. E teve uma vez que eu peguei o seu dinheiro do lanche, porque eu tinha esquecido o meu em casa. Mas eu fiz parecer que foi você quem tinha esquecido, e dividi o lanche com você. Por isso... Acho que não conta, né? – Perguntei rindo. Scott riu também.

- Ok. Obrigada, Alice. Você ao menos foi uma ladra honesta. Você roubou, mas dividiu o roubo comigo. – Disse ele rindo, mas de repente ele ficou sério novamente – Eu sabia que você tinha me roubado. Só que eu deixei, porque era você. Não me importava que você roubasse de mim, ou reclamasse comigo, porque eu gostava de te ter por perto. Fosse para o que fosse.

Franzi o cenho. Ele tinha dito aquilo?! Diminui o passo e olhei para ele.

- Eu... Nem sei o que dizer. – Comentei sem palavras.

- Nem eu. – Falou ele franzindo o cenho – Mas quanto ao vídeo game... Sinto muito por ficar tanto tempo nele e não ligar para o que está em volta de mim. É que... Eu não consigo lidar com os sentimentos do jeito que todo mundo lida.

Ele disse “sentimentos”? Ok. Alguma coisa estava bem errada.

- Scott... Você está bem? – Perguntei ele riu negando com a cabeça. Revirei os olhos rindo também e foi aí que ele me surpreendeu mais ainda. Scott parou de rir e olhou para mim normal.

- Eu senti a sua falta, Alice. E eu sempre vou sentir. – Disse ele. Seu rosto ardeu em vermelho e ele arregalou os olhos – Wow! Espera... Por que eu disse isso para você? Eu... Não ia falar isso. Ia te fazer uma pergunta sobre os Deuses, mas... Isso escapou.

Franzi o cenho para ele, mas então entendi o que estava acontecendo. Olhei para trás um tanto irritada.

- Afrodite! – Exclamei, e ela soltou um risinho – Para com isso!

- Tá bom! Tá bom! Parei! Podem continuar. – Disse ela á distância – Estava só brincando um pouquinho.

- Eu tenho medo dela agora. – Comentou Scott.

- Todos têm. – Confirmei e nós voltamos a andar. Conversamos sobre os Deuses, e contei sobre como eu tinha conhecido cada um deles. Scott e eu rimos das minhas histórias, mas depois a história voltou para outro ponto.

- Posso te fazer uma pergunta? – Quis saber ele, e eu assenti – Qualquer pergunta?

- O que você quer saber, Scott? – Perguntei calmamente. Ele parou de andar e olhou para mim. Podia ver que estava se concentrando para fazer a pergunta, por isso pensei que fosse ser algo importante. Mas...

- Por que você roubou o meu vídeo game? – Quis saber ele.

- Você podia perguntar qualquer coisa, mas prefere perguntar porque eu roubei o seu estúpido vídeo game?! – Exclamei sem acreditar, ele riu e assentiu. Eu não tinha certeza se deveria responder com sinceridade ou não, mas antes que pudesse parar para pensar no assunto, a resposta me escapou dos lábios – Por que eu queria que você prestasse atenção em mim, seu idiota!

Scott parou e piscou os olhos para mim, ainda absorvendo a informação.

- Eu... É que... Você ganhou aquele jogo no seu aniversário, e depois disso você nem mesmo conversava comigo. – Falei em um tom um pouco ofendido, e Scott sorriu triste para mim. Sem pensar, falei ainda mais – Eu... Eu gosto de você, Scott. Você... Foi o meu primeiro amor.

Seria um momento romântico ou pelo menos tocante, se eu não sentisse duas respirações no meu ombro. Virei-me e notei que Apolo e Ares tinham corrido para perto para ouvir o que eu estava dizendo.

- Ah, agora vocês prestam atenção em mim! – Exclamei com raiva. Eles olharam para as árvores, repentinamente interessados nas folhas verdes no topo deles, e eu revirei os olhos. Logo atrás deles, estava o meu pai tentando se esconder – Pai! Até você?!

- Olha, Alice. Eu sou seu pai, e só quero te ajudar. Por isso, a minha opinião é simples. – Disse ele calmamente – Largue esses dois safados, e fique com o tal do Scott.

- Como é que é?! Safados?! – Repetiu Ares irritado.

- “Fique com o ‘tal’ do Scott”! Você nem sabe quem é ele! – Exclamou Apolo.

- É melhor do que vocês dois. Apolo, você só pensa besteira o tempo todo e tenta tirar proveito da Alice. E você simplesmente não presta, Ares. – Reclamou meu pai.

- Eu não presto?! Como se você fosse um santinho, não é?! – Exclamou ele.

- Pelo menos não sou namorado de alguma filha sua. – Rebateu ele.

- Seja namorado de quem você quiser. Eu só quero a Alice mesmo, então por mim tudo bem. – Disse Apolo encolhendo os ombros.

Eles três começaram a discutir, e eu revirei os olhos. Segurei a mão de Scott e pude ver seu rosto ficar vermelho.

- Acho melhor ignorar eles e continuar andando. – Comentei em um tom baixo. Ele riu sem graça, mas assentiu concordando. Só que... Assim que eu dei um passo, tropecei. De algum jeito bizarro, que desafia as leis da física (leia-se Afrodite), eu consegui cair contra o corpo de Scott, e nossos lábios se tocaram.

Desgrudei dele o mais rápido possível, lutando contra uma força invisível que nos matinha juntos (leia-se Afrodite de novo!), e ficamos parados de olhos arregalados um para o outro. Ouvi alguém bater palmas animada, e pude ter uma idéia de quem era.

- E-Eu... – Gaguejou ele, com o rosto vermelho.

- A... – Estava tentando pegar ar de novo, mas quando consegui... – Afrodite!

- Ah... Foi... Tipo assim... Tão sem querer, Alice querida. – Disse ela sorrindo vitoriosa para mim – Mas isso foi lindo! Por que vocês não continuaram?! Foi muito curtinho!

- Afrodite! – Dessa vez, eu, Ares, Apolo, Scott e o meu pai gritamos ao mesmo tempo. A Deusa do amor cruzou os braços e revirou os olhos.

- Seus chatos! – Ela fez uma careta para nós.

- Dessa você escapou, Collins. Só porque foi culpa dela, ouviu?! – Berrou Ares com raiva – Mas fica esperto, porque eu continuo de olho em você!

- Sim, senhor. – Confirmou ele. Apolo estava trincando os dentes de raiva para Scott, mas não disse nada. Pensei que ia demorar até nos movermos, mas Scott segurou a minha mão e voltou a andar. Meu rosto é que ficou vermelho.

- Sinto muito por ela. – Disse, mas Scott negou com a cabeça.

- Esquece. É melhor isso, do que ela me caçar até a morte como aconteceria se eu fosse filho de Zeus. Imagina ter Hera como madrasta? Wow. Tenso. – Disse Scott – Mas... O que você estava dizendo? Que você... Go-Gosta de mim?

Parei de andar e olhei para ele.

- Acho que... Agora não tanto quanto antes. Acho que eu gosto de você... Talvez ame você. Mas... Como um irmão. – Disse calmamente, e ele sorriu para mim.

- Acho que eu sinto a mesma coisa. Eu... – Scott travou. Eu tentei ficar séria para não piorar a situação.

- Vamos. Você consegue. Diz. – Incentivei. Ele respirou fundo e deixou escapar.

- Eu gosto de você. Como uma irmã. Me preocupo e tudo mais, sabe? – Disse ele de um jeito rápido e pesado. Pude sentir novamente a respiração de Apolo e Ares na minha nuca, e me virei com raiva.

- Eu juro que eu mato vocês! – Berrei com raiva, mas eles fingiram que não estavam prestando atenção novamente.

- Tudo bem. Deixa. Eu... Tenho que ir agora, Alice. – Disse Scott coçando a nuca. Ele sorriu para mim, e eu sorri de volta esquecendo a presença de Ares e Apolo por um segundo – Nós ainda nos vemos, certo? Eu... Tenho que dizer que vou sentir a sua falta quando for embora.

- É. Tem. Senão eu vou atrás de você só para te bater, Pilgrim. – Ameacei de brincadeira e Scott riu comigo. Nós estávamos em uma parte mais afastada do parque. O Sol estava quase se pondo por total no horizonte. O caminho onde estávamos era estreito, de modo que se eu esticasse os braços, tamparia o caminho inteiro.

Scott virou-se para ir embora, mas antes respirou fundo de novo. Enquanto Ares e Apolo fingiam não estar olhando, Scott segurou o meu queixo e meu deu um beijo. Quando nossos lábios nos tocaram, nós dois fechamos os olhos e nos separamos 3 segundos depois.

Fiquei surpresa com aquilo.

- Ok. Esse foi o último. – Disse ele desviando o olhar envergonhado. Meu rosto ficou levemente vermelho, e isso só piorou quando notei que Ares e Apolo o fuzilavam com um olhar de extrema raiva.

Assenti com um sorriso bobo para Scott, e estiquei os braços calmamente. Minha mão direita tocou a grade que separava o caminho do lago, e minha mão esquerda tocou o tronco de uma árvore.

- Corre. – Falei e Scott assentiu – Corre! Vai! Rápido!

Scott saiu correndo e rindo um pouco, e foi aí que Ares e Apolo se tocaram que eu estava prendendo o caminho deles. Eles tentaram empurrar, reclamar comigo, mas eu me mantive lá. Quando o filho de Hefesto sumiu no horizonte, eu tirei os braços do caminho.

- Parem! – Puxei os dois pela camisa quando estavam prontos para correrem atrás dele mesmo assim. Ares olhou para mim com raiva.

- Ah, eu aposto que você adorou isso, não é? Ele acabou de se aproveitar de você e está tudo bem, mas naquele Hotel Holly Lake eu fuiinfernizado direto por causa disso! – Exclamou ele com raiva – Fala. Você gostou disso, não gostou?!

Eu não conseguia tirar o sorriso do rosto, de jeito nenhum. Aquele beijo lembrava infância. Os bons tempos na minha vida em que eu tive paz, e foram ao lado do Scott. Agora não adiantaria mais, de qualquer jeito.

- Uhm... É. Eu gostei bastante. – Confirmei naturalmente, e o queixo de Ares caiu. Ele começou a resmungar coisas que eu não entendi, mas Apolo...

- Espera... Ele não beija melhor do que eu! – Exclamou Apolo – Os meus beijos são melhor, não é?! Alice! Responde! São melhores, não é?!

Eu comecei a rir e voltei a andar.

- Fala a verdade! Alice! Eu beijo melhor ou não?! – Berrou ele insistindo no assunto, mas eu estava rindo demais para responder alguma coisa.