Minha Viagem Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 11
As pessoas que entregam cartas


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Logo depois daquela pequena briga, eu marchei escada acima em direção ao meu quarto. Esperava que pudesse arrumar tudo que faltava para a viagem e ter o próximo dia totalmente livre para relaxar e me divertir.

Assim que coloquei as roupas que Afrodite comprar em duas malas enormes, peguei um livro e me sentei para ler. Ainda estava cedo. Provavelmente umas 6 da tarde.

Tentei me distrair um pouco, mas se eu estivesse vendo o futuro pude notar que isso não adiantaria.

- Kelly! – Chamou Ares do andar debaixo. Ignore, pensei.

- Não... Eu não vou. – Murmurei para mim mesma.

- Estou falando com você! Kelly! – Exclamou ele novamente.

- Meu nome não é Kelly. É Simpson. – Murmurei novamente para mim.

- Não tente me ignorar, pirralha. – Disse Ares, agora na porta do meu quarto. Contra a minha própria vontade, ergui os olhos do meu livro para ele.

- O que foi agora? – Perguntei o mais calmamente que pude.

Ares estava segurando uma maçã. Ele deu uma mordida, enquanto sorria torto. Depois de mastigar, e de eu esperar pacientemente, ele respondeu.

- Esqueci de comentar isso... – Disse ele dando uns passos para dentro do meu quarto – Afrodite me disse que te ajudou com as passagens, porque sentiu pena de deixar um garota tão... Delicada e doce trabalhar.

Ele disse “delicada e doce” com nojo, mas o resto da frase lhe proporcionou um sorriso. Revirei os olhos.

- E daí? – Perguntei.

- No que estava trabalhando? – Quis saber ele dando outra mordida na maçã.

- Nada que te interesse. – Respondi fechando o livro.

- Tem alguma coisa a ver com esse colete aqui? – Perguntou ele erguendo o colete do correio. Levantei os olhos e notei que ele o estava segurando. Coloquei-me de pé em um pulo e avancei em sua direção – Ah! Acho que sim, não é?

- Devolve, Ares! – Exclamei tentando pegar de volta.

- Isso é para impressionar o seu papaizinho? De tantos empregos normais, você escolheu logo esse? – Perguntou ele rindo – Agora surgiu uma dúvida...

Tentei pegá-lo de suas mãos, mas Ares o ergueu alto demais para eu alcançar.

- O correio contratou você mesmo sabendo que você é uma lesada, ou você não contou esse detalhe para eles? – Perguntou ele só para me irritar.

 - Eu também não contei que moro com um animal. – Retruquei.

- Oh, estou muito ofendido agora. – Disse ele andando até a porta – Acho até que vou ficar com isso aqui para mim.

- Não! Devolve! Eu preciso dele! – Exclamei tentando pegar o colete de novo. Ares saiu correndo e eu o segui com raiva. Ele parou na sala e eu o derrubei. Nós dois caímos no sofá, e enquanto eu tentava pegar o colete de volta, Ares me afastava com a mão dele facilmente – Ares!

- Pede por favor! – Riu ele afastando o colete de mim com uma mão, e me afastando do colete com outra.

- Por favor nada! – Reclamei tentando machucá-lo, mas ele não se feriu.

- Então ele é meu. – Disse Ares com um sorriso maldoso – Sinto muito.

Ares me empurrou para o lado e eu caí no chão, logo aos pés do sofá. Pude notar que ele continuou deitado lá, rindo de mim. Me levantei com raiva, mas não fui atrás do colete. Virei-me para Ares e respirei fundo para conseguir falar.

- Você é um cretino. – Falei entre dentes – Eu só arrumei esse trabalho para poder comprar todas as três passagens para Paris.

- Três? – Repetiu Ares sem entender.

- A minha, a de Apolo e a sua. – Contei nos dedos para que ele pudesse ver.

- Awwn, que gracinha. Você quis me dar um presente! – Disse zombando de mim. Ares estendeu a mão e apertou a minha bochecha. Tentei mordê-lo, mas ele tirou a mão antes que eu tivesse a chance – Tudo isso para passar uma temporada romântica comigo na França?

- Claro. Mesmo tendo que ficar na mesma casa que você, ainda morro de vontade de passar o meu tempo ao seu lado. – Comentei em sarcasmo – Você não liga para nada, não é?

Ares encolheu os ombros em sinal de humildade, e eu revirei os olhos.

- Foi o que eu imaginei. – Comentei deixando-o sozinho na sala de estar. Eu fui direto para cozinha fazer um jantar para mim. Talvez se eu dormisse mais cedo naquela noite, ele não me atormentaria até tarde.

Tenho a ligeira impressão de que disse aquilo de modo sentido demais para Ares, pois assim que entrei na cozinha, pude notar que ele me observava do sofá da sala. Não olhei para ele, mas podia sentir isso.

Preparei uma travessa de macarrão. Não iria comer tudo, é claro, mas podia servir de almoço no dia seguinte, ou Ares poderia comer mais tarde. Não que eu me importasse, é claro.

Assim que me sentei á mesa, Ares foi para o portal da cozinha e encostou-se lá, me olhando ainda.

- Que foi? – Perguntei levantando os olhos para ele.

Ele não respondeu. Só começou a resmungar um pouco, e lançou o colete do correio no sofá. Ares foi até a bancada da cozinha para ver o que ele mesmo faria para comer, quando notou o macarrão.

Ele olhou para a travessa, depois para mim, depois para a travessa de novo.

- Você... Não vai comer tudo, né? – Falou ele como se estivesse sem assunto. Eu disse que não e ele assentiu. Ares pegou um prato cheio com o resto de macarrão que estava na travessa e sentou-se na minha frente, o único lugar vago.

Eu continuei comendo em silêncio, e acho que isso incomodou ele. O que ele queria que eu fizesse? Discutisse? Reclamasse? Conversasse? Não dava para entendê-lo.

- Você arranhou a minha moto. – Disse ele olhando para o macarrão em se prato. Eu olhei para ele por um momento e ele fez o mesmo – Você ferrou ela.

- Você ia me ferrar. – Rebati – Bem que mereceu.

- Você ferrou os meus planos primeiro. – Retrucou ele – Era para irmos ao Alabama, mas você quis ir correndo para a barra da saia da Afrodite, é claro.

- Ah, desculpa. Eu esqueci que você é o único que pode ir para a barra da saia dela. – Comentei para irritá-lo.

- Escute aqui, sua pirralha! O que estou tentando mostrar, é que a culpa toda é sua! Era a minha vez de revidar. Você não tem esse direito. – Disse ele com raiva.

- Foi por isso que resolveu implicar comigo agora? É outra vingança sua?! – Perguntei com raiva.

- E se for? Vai fazer o que? – Quis saber ele olhando para mim. Bati os talheres com força na mesa, e me levantei.

- Perdi o apetite. – Murmurei com raiva, e estava prestes a levar o prato para a pia, quando ele segurou o meu braço. Pensei que ele fosse começar outra briga, mas na verdade... Ele não fez nada.

- Senta. – Pediu ele com uma voz calma. Não parecia nem mesmo ele falando.

- Por quê? – Perguntei com raiva.

- Por que... Eu quero que você fique aqui. – Disse ele com calma. Olhei incrédula para seu rosto, procurando qualquer sinal de humor, mas não achei nada. Sem saber o que fazer, eu virei-me em direção ao lugar, mas antes de sentar olhei para seu rosto de novo.

- Isso significa... Uma meia desculpa por ter zombado de mim? – Perguntei. Ares fez uma careta para mim.

- Você quer sempre por significados em tudo, hein? Só pedi para sentar na porcaria do seu lugar e continuar o jantar, droga. – Respondeu ele incomodado.

Estava pronta para ir novamente embora, quando ele respondeu.

- Sim. – Disse ele. Parei de andar e olhei-o novamente. Parecia que aquele sim tinha sido arrancado de dentro dele com muito esforço. Ares desviou o olhar com raiva, mas depois olhou de novo para mim – Satisfeita? Agora pode sentar ou não?

Suspirei e acabei sentado-me novamente. O que poderia fazer? Era extremamente raro Ares dizer “desculpas” mesmo que indiretamente para alguém. Principalmente se essa pessoa for eu. E principalmente se ele estiver sóbrio.

- Obrigada. – Disse eu calmamente. Voltei a comer, enquanto ele encarava o prato dele, dando algumas garfadas – Afrodite te contou sobre o emprego?

- É. – Afirmou ele – Ela disse que você estava trabalhando por aí entregando cartas. Só não se lembrava qual era o nome das pessoas que entregam cartas.

Eu soltei um riso tão natural, que prendeu a atenção de Ares.

- Se eu fosse você, não riria disso. – Advertiu Ares, mas ele próprio parecia estar rindo também.

- Desculpe, mas... Não deu para evitar. – Disse tentando parar de rir. Voltei a comer normalmente, e ele fez o mesmo. Olhei para Ares e a curiosidade bateu em mim – Você... Você saí com a Deusa do amor e da beleza.

- E daí? – Perguntou ele sem ligar.

- Daí que... Se você tem ela... Por que vai em clubes de str... Noturnos? – Corrigi a última palavra no último segundo. Ares desviou o olhar e sorriu para disfarçar.

- Você não entrou lá. – Comentou ele rindo – Não tem idéia.

- Entrei sim. – Confirmei, e ele arregalou os olhos para mim.

- Você o que?! – Exclamou ele.

- Eu entrei. Tinha que pegar as chaves da moto, não é? – Falei não entendendo a surpresa dele. Ares continuou olhando para mim incrédulo – O que foi?!

- Como deixaram você entrar? – Perguntou ele.

- Eu tenho 19 anos. A placa na porta dizia que era para maiores de 18. – Disse.

Ele ficou mudo por alguns segundos. Nossa... Será que ele achava mesmo que eu era uma pirralha? Tipo... Uns 10 anos?!

- O... Como... – Ele misturava as palavras, mas por fim pareceu ficar irritada. Ares apontou para mim – Escuta aqui, o seu pai sabe que você vai á lugares assim?!

- Foi você que me mandou para lá! – Exclamei sem entender – Qual é o seu problema? Se não queria que eu entrasse, então estacionava a moto em outro lugar!

- Que se dane. – Resmungou ele revirando os olhos – O fato é... Você deveria pegar a chave com Phobos e Deimos. Não lá dentro.

Fiquei com raiva ao lembrar de uma coisa.

- Ah, mas eu peguei lá dentro. O barman me entregou. Ele disse que você tinha reservado ela para a Cherry pegar. – Disse cruzando os braços. Ares riu e apontou para mim novamente.

- E você confirmou que era você. – Comentou ele.

- Se existe mais alguém que é incomodado com esse apelido, então me apresente. – Disse eu. Ares riu mais um pouco de mim e eu revirei os olhos – Eu só entrei lá por culpa sua. Não me agrada ir á lugares desse tipo. É claro que deve ser ótimo para você, pelo visto.

- Você pensa que eu sou o que? Algum tipo de desocupado que gosta de perder tempo em clubes noturnos? – Perguntou ele fingindo estar ofendido – Saiba que eu só vou lá umas... Duas vezes ao mês.

- Eu sei. – Comentei, e ele estreitou os olhos para mim.

- Como você sabe? – Perguntou ele desconfiado.

- Uma garota disse que estava sentindo saudades do Sr Smith. – Contei.

- Todas sentem... – Suspirou ele com um sorriso malicioso.

- Ah, se Afrodite soubesse... – Murmurei tentando não rir da cena que estava se passando na minha cabeça.

De repente, algo segurou a gola da minha camisa e me puxou para frente. Ares. Ele me segurou com força e me colocou bem perto do se rosto, de modo que pudesse olhar bem nos meus olhos.

- Ela não vai saber. Senão alguém vai pagar muito caro por isso, sacou Kelly? – Disse ele lançando a indireta. Eu me soltei de sua mão, e voltei ao meu lugar na cadeira.

- Não disse que ia contar. – Comentei voltando a comer.

- Acho bom. – Disse ele voltando a comer normalmente. Soltei um suspiro.

- Voltou ao seu estado normal bem rápido, hein? – Comentei dando mais uma garfada na comida. Ares fez uma careta para mim e continuou a comer também.

Quando nós terminamos, Ares jogou todos os pratos dentro da pia.

- O que está fazendo? Vai deixar tudo aí? – Perguntei apontando para lá.

- Eles se limpam sozinhos. – Respondeu Ares dando de ombros, mas então parou para rir – Espera... Não vai me dizer que você realmente lava os pratos, né?

Olhei para a pia e via que os pratos não estavam mais lá. Pisqueis algumas vezes e depois olhei para Ares que continuava olhando para mim com um sorriso torto.

- Não. Claro que não. – Respondi – Lavar pratos é coisa de idiota.

- Aham. – Confirmou ele sem acreditar em mim – Muito idiota.

Eu subi as escadas e fui até o meu quarto. Eram mais ou menos umas 9 da noite, mas eu já estava bem cansada. Ainda sentia dores no corpo por causa das malditas quedas de moto com Deimos e Phobos.

Por isso assim que deitei na cama, acabei caindo no sono. Amanhã ia ser o meu dia de relaxar... Pelo menos, se Ares não me infernizasse novamente.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?

Espero reviews.