As mãos de Edward tremiam quando ele guardou o aparelho celular no bolso da camisa e voltou a colocá-las sobre o volante. Aquele tinha sido um dos telefonemas mais difíceis de toda a sua vida,mais o Cullen sabia que se desejava mesmo enfrentar os fantasmas que havia em seu passado,primeiro tinha de se certificar de que Isabella e os filhos estariam em segurança. Tanya já não representava uma ameaça, mais Billy Black era uma incógnita..e ele não podia correr riscos. Não quando se tratava [i]daquela[/i] mulher

Vários minutos se passaram antes que ele conseguisse reunir coragem suficiente para fazer a segunda ligação daquela tarde,e que poderia ser ainda mais decisiva..Esme o mataria se sequer sonhasse com o que ele estava prestes a fazer,e Edward também não estava propriamente ansioso para aquele pequeno reencontro,mais não havia escolha: era enfrentar Elizabeth ou conviver com as dúvidas que o Black tinha plantado  em sua mente,coisa que não acreditava ser capaz de fazer. Não sem enlouquecer,pelo menos

-Pai?-perguntou,assim que a voz conhecido soou do outro lado da linha.-eu estou ligando pra dizer que decidi ir visitar Elizabeth.

-Tem certeza,Edward?-a incredulidade na voz de Carlisle era quase palpável,e por um segundo, o Cullen sentiu-se tentado a desistir daquela idéia,mais conseguiu manter-se firme em seu propósito

-Sim..eu percebi que só conseguirei seguir em frente depois que enfrentá-la. Não sou mais uma criança assustada,e existem perguntas cujas respostas só ela pode me dar. Você viria comigo até a clínica?

-Claro,filho. Onde você e Bella estão?

-Isabella está em nossa antiga casa...eu estou na estrada. Vou seguir até a clínica e nos encontramos lá,tudo bem?

-Por mim não há problemas,mais você não acha que seria bom ter sua esposa ao seu lado neste momento? Edward,por mais que eu sinta que você está decidido a enfrentar o que houve em seu passado,tenho certeza de que essa não será uma conversa nada fácil..Elizabeth tem uma saúde delicada,principalmente depois do que quer que tenha acontecido no dia em que você me ligou pedindo ajuda....acredita mesmo que é capaz de suportar todas as emoções que esse reencontro lhe fará sentir,filho?

-Na verdade,não-Edward deixou que um suspiro cansado escapasse por seus lábios. Não adiantaria em nada tentar esconder o quanto aquela decisão o estava deixando inseguro-mais Bella não precisa ver isso pai..as coisas já estão complicadas demais pra ela..a falta de memória,a descoberta da gravidez. Não quero que ela tenha que se preocupar comigo também. Além do que ,não tenho idéia de como reagirei depois que essa..conversa terminar. Não a quero por perto quando não sei como vou estar me sentindo..eu jamais me perdoaria se a machucasse de algum modo. É melhor que ela fique em nossa casa,segura

-Entendo o seu ponto,embora duvide muito de que seria capaz de ferir Isabella. Há algum tempo percebi que seu mundo gira em torno daquela garota ,fliho. Ou melhor [i]ela[/i] tornou-se seu mundo. Eu sabia  que esse casamento acabaria em algo bom.-Carlisle estava sorrindo ao pronunciar a última frase-vou desligar,Edward. Ainda preciso encontrar uma maneira de sair de casa sem que Esme desconfie de nada. Sabe que ela queria que você e eu simplesmente apagássemos a lembrança de Lizzie de nossas memórias...

-Acredite,eu tentei,durante muito tempo,mais isso parece impossível. Nos vemos na clínica e..obrigado por me ajudar pai-assim que desligou o aparelho celular,Edward deu-se conta de que as próximas horas poderiam ter o poder de mudar sua vida....aquilo era assustador,para dizer o mínimo

Quando viu o Volvo do filho estacionando lentamente no meio-fio, Carlisle desceu de sua Mercedes e foi ao encontro dele. A expressão de Edward era tensa,assim como ele já esperava que seria,mesmo que o filho tentasse esconder

-Eu falei com o médico que cuida do caso de sua...de Elizabeth enquanto te esperava e ele disse que ela vem tendo muitas oscilações nesses últimos dias..quando mencionei sua visita, Chase afirmou que isso pode ajudá-la a se estabilizar. Ao que parece,ela passa a maior parte do tempo presa em lembranças do tempo em que você vivia com ela...algum dia me contará o que foi que houve para deixá-la assim?

-Não sei..talvez um dia eu me sinta forte o bastante pra falar daquilo com alguém. Acho que nesse ponto,sou um pouco parecido com Bella. As imagens que presenciei quando Elizabeth teve o primeiro surto devem ter sido chocantes demais porque eu simplesmente..não consigo acessá-las. Elas estão bloqueadas,e quando eu tento me lembrar,tudo que ouço são seus gritos de desespero. Acha que seria bom se eu falasse com ela sobre isso?

-Isso é uma decisão que cabe somente a você,filho. É algo que os dois viveram juntos..por mais que eu morra de curiosidade para descobrir o que houve,não posso opinar com relação a isso

-Tudo bem-ele suspirou antes de dar os passos que os separava da entrada da instituição-é melhor acabarmos logo com isso. Preciso voltar pra casa logo,estou longe de Bella por mais tempo do que sou capaz de suportar

Carlisle deixou que o filho seguisse na frente,ao lado de uma enfermeira que aparentemente era a que estava responsável por Elizabeth. Daria tudo para que Edward não precisasse fazer aquilo,mais sentia que o filho só conseguiria recomeçar  e ser realmente feliz quando se visse livre da influência que Elizabeth tinha sobre ele. A mulher baixa e um pouco gorda que os acompanhava parou em frente a uma das portas do corredor estreito,e quando ela foi embora,ele soube que deveria ir junto.

-Espero você lá fora..-murmurrou,tocando o ombro do homem a sua frente

Girar aquela maçaneta foi difícil...mais nada o tinha preparado para a cena que viu ao adentrar o quarto. A mulher frágil,de semblante assustado e olhar perdido na paisagem a  sua frente não se parecia em nada com a imagem que Edward tinha de Elizabeth Masen..sua mãe,para todos os efeitos

-Eu mudei,não é?-ela murmurrou,a voz baixa,mais ainda conservando o tom doce de que ele as vezes se lembrava-não se preocupe,isso é completamente natural..você deve ter mudado muito também. Não é mais um garoto...não é mais o [i]meu[/i] garoto

-Sabe quem eu sou?-ele perguntou,mesmo que a forma como ela o tratava já tivesse lhe dado a resposta. A parte mais assustadora era que ela não parecia insana..só amedrontada..e cansada,realmente cansada

-É claro-Elizabeth finalmente virou a cadeira em que se sentava na direção do filho-eles acreditam que eu enlouqueci,e as vezes eu até concordo,mais ainda tenho memória,Antonhy-deu um sorriso fraco ao recordar-se de que ela era a única pessoa que costumava chamá-lo pelo segundo nome- o que quer aqui,depois de tantos anos?

-Eu preciso..preciso lhe fazer algumas perguntas-vencendo o medo absurdo que sentia de se aproximar e descobrir que aquilo não passava de um sonho louco,Edward sentou-se a frente da mulher que tinha se tornado quase que uma desconhecida para ele

-Apenas pergunte..tentarei ser o mais sincera possível,embora existam coisas sobre meu passado que eu preferiria que você jamais soubesse. Não preciso deteriorar ainda mais a imagem que você tem de mim

-Eu..eu não sei por onde começar. Estou completamente perdido,lutando para que as lembranças que eu tenho de você não voltem...elas são dolorosas demais

-Você é mais forte do que pensa,Edward. Depois do que viu naquele dia,imaginei que jamais viria me ver,e no entanto aqui está você. Vamos,seja lá o que tem pra me perguntar,apenas faça. Posso sentir que cada segundo que passa ao meu lado é como uma tortura pra você,eu vejo em seu rosto...quanto antes souber o que veio saber,mais cedo sai daqui

-Jacob Black era meu irmão?-perguntou,diretamente. Ela tinha razão.,por mais que tentasse se convencer do contrário,não era forte o suficiente para enfrentar aquilo..sentia como se fosse desmoronar a qualquer segundo

Demorou apenas alguns segundos para que ele se arrependesse de ter feito a pergunta. Assim que ouviu-a,Elizabeth pareceu se transformar: seu semblante ficou quase irreconhecível e seus olhos pareciam oscilar entre a raiva e pânico....ela começou a tremer descontroladamente enquanto lágrimas escorriam por seus olhos sem que ela parecesse ser capaz de conte-las. Balbuciava coisas incompreensíveis,e parecia estar tentando se esconder de algo..ou alguém. Era quase como se ela sentisse que estava sendo perseguida...

-Lizzie..o que houve? O que você  está sentindo? –mesmo que todos os instintos de seu corpo o mandassem ficar longe,Edward forçou-se a se aproximar. Não a deixaria enfrentar aquilo sozinha..não [i]de novo[/i]

Assim que ele estava perto o suficiente para tocá-la,a mulher abraçou-o com toda a força,enquanto ainda parecia lutar contra os tremores violentos que tomavam conta de seu corpo

-Ele..ele não podia ter te contado...ele não tinha o direito-rouquejou,quando as lágrimas começaram a secar em seus olhos. Edward não sabia se estava mais apavorado por ter deduzido que toda aquela história era verdade,ou por sentir que havia muito mais do que Billy tinha lhe contado

-Acalme-se,tudo bem? Se não quiser falar sobre isso,eu vou entender-tentou usar um tom gentil enquanto voltava a se sentar,com Elizabeth a sua frente,ainda agarrada as suas mãos

-Eu ..eu preciso contar o que houve...alguém tem que saber [i]você[/i] tem que saber. Billy deve ter dito que era um de meus clientes,não é? O que ele com certeza não disse é que me forçava a aceitá-lo. Por baixo de toda aquela calma e decência se esconde um verdadeiro monstro..Fique longe dele para o seu próprio bem-ela respirou fundo antes de continuar-mais eu também não posso me isentar da culpa. Eu era uma vadia,no sentido mais literal da palavra..gostava da forma como ele me tratava,porque acreditava que aquilo era tudo o que eu conseguiria com um homem como ele..ou com qualquer outro. Pelo menos até descobrir que estava grávida. Não contei a ele,porque não sabia o que esperar de sua reação,.mais ele acabou descobrindo...e aquela foi a primeira vez em que eu o vi realmente com ódio. O mais assustador era que ele não abominava a criança,mais o fato de ela ser..minha. Acho que era algo com  o fato de sua mulher não poder engravidar

-Por isso quis abortar?-Edward perguntou,mesmo que na verdade não tivesse certeza se queria saber a resposta

-Não..eu quis abortar porque sabia que Billy me manteria por perto até que a criança nascesse..e porque ele jurou que me mataria assim que seu herdeiro fosse tirado de mim. Foi a única maneira que eu encontrei para ter ao menos uma chance de escapar