Dirigi feito louco pela cidade,procurando um lugar onde pudesse me esconder,fugir do desespero que ameaçava me engolfar. Eu precisava me recompor,e decidir o que fazer. Meu coração estava partido,mais eu não podia me lembrar disso agora. Ia acabar enlouquecendo.

Parei em frente a uma pequena loja e desci do carro. Fiquei andando a esmo pelas ruas,tentando esvaziar a cabeça. Doía demais. Talvez por eu ter passado anos protegendo-a e amando-a,nunca nem sequer me lembrei de cogitar a possibilidade de que podia existir algum outro homem na vida de Bella antes de ela ir parar naquele hospital. Ouvi-la chamar por outro assim que acordou, me feriu fundo,e eu precisei fugir antes que ela notasse alguma coisa e ficasse ainda mais confusa do que já estava.

Me perdi em meio aos meus pensamentos e lembranças de Isabella dormindo tranquila por todos aqueles anos,e quando me dei conta,havia me sentado aos pés de uma arvore centenária num dos parques da cidade. Abracei meus joelhos e deixei que meus olhos se perdessem na imensidão do horizonte. O sol estava começando a se por,e aquela era pra mim a hora mais perfeita do dia. Era o crepúsculo,onde a claridade e a escuridão se fundiam,e mais um dia terminava,por mais perfeito ou doloroso que ele tivesse sido.

Escutei o celular tocando mais resolvi não atender,devia ser Alice,ou meu pai querendo saber pra onde eu tinha ido. Ainda não estava bem o bastante para voltar e muito menos para explicar a angústia e o medo que estava sentindo.

Algum tempo depois,acabei perdendo a paciencia,ao que parecia aquela porcaria de telefone não ia me deixar em paz nem tão cedo. Atendi

-Edward?-a voz de meu pai soava baixa,mas tensa, e eu soube que havia alguma coisa errada

-Fale Carlisle-pedi

-Onde você se meteu,filho?

-Estou dando um tempo,organizando os pensamentos. Por que?

-Você precisa voltar o mais rápido possível,precisamos da sua ajuda no hospital

-Alguma emergencia?-meu lado profissional estava tomando o controle,e eu decidi que se eles precisavam de mim para salvar vidas, eu tinha que deixar meu sofrimento de lado. Antes de ser um homem loucamente apaixonado,eu era um médico responsável,dedicado e comprometido,e minha profissão devia estar sempre em primeiro plano

-Sim. Isabella está apavorada,agora que se deu conta de que passou 8 anos dormindo. E parece ter se lembrado do motivo do acidente que causou o coma. Não sabemos o que fazer com ela, filho.

A simples menção do nome da garota fez meu coração acelerar dentro do peito,mais me obriguei a me manter firme. Eu precisava exorcizar essa necessidade absurda que eu tinha de estar perto dela,tinha que aceitar que Bella não me pertencia

-De algum calmante a ela pai. Nós sabemos que as primeiras horas depois que um paciente voltar de um coma são complicadas. Principalmente nesse caso,são anos dormindo,ela deve estar confusa.-minha voz estava fria e controlada,e eu agradeci por ter conseguido disfarçar a dor que o distanciamento estava me causando

-Edward,ela esta lhe chamando. Voce precisa vir aqui. Bella está desesperada.

Eu quis gritar para que ele parasse de mentir,ou jogar aquele aparelho contra a árvore. Será que meu pai era tão insensível ao ponto de não notar o quanto eu estava me machucando com aquilo?

-Isso é impossível,pai-respirei fundo e continuei.-Isabella não me conhece,ela não sabe quem eu sou. Pergunte a ela se ela se lembra de como era o número de algum telefone de um tal de James. Foi por ele que ela chamou assim que abriu os olhos-eu não significo absolutamente nada pra ela. Sou apenas um estranho- completei mentalmente.

-Esse é o problema:parece que foi esse James que causou o acidente de Isabella filho,e agora ela não para de repitir que você é o único em quem ela pode confiar

-Ela. Não. Me. Conhece.-repiti,pausadamente,na esperança de que ele parasse de dizer aquelas coisas. Eu precisava me acostumar a viver a realidade, e não uma ilusão que sustentei por anos,em que Bella acordava e eu tinha tempo para fazer com que ela me amasse assim como eu a amava. Isso não ia acontecer,e eu teria que aceitar

De repente eu ouvi ruídos na ligação,e vozes abafadas. O que diabos estava acontecendo naquele hospital?

-Edward?-uma voz baixa e entrecortada devido ao choro recente me chamou. Meu coração martelava dentro do peito e eu não conseguia respirar. Minha Bella parecia tão desprotegida e frágil,e o fato de que eu estava longe dela nesse momento me partia o coração. Eu era um inútil,tinha que  ter pensado nela antes de pensar em mim. Maldito egoísmo! Era óbvio que ela ficaria confusa,e assustada,e eu era a única pessoa que ela tinha visto depois anos em coma,mesmo que não percebesse,Isabella precisava de mim- você esta ai?-ela tentou de novo,preocupada com minha falta de resposta

-Sim-eu disse,e minha garganta estava incrivelmente seca- você está bem,meu anjo?

-Por que você foi embora?-ela me respondeu com outra pergunta-por que me deixou aqui sozinha?-ela começou a soluçar baixinho,e eu me amaldiçoei por ter sido estúpido ao ponto de deixa-la sozinha no momento em que ela mais precisava de mim

-Calma Bella. Vai ficar tudo bem..eu prometo.-sussurrei-

-Você vai vir pra cá? Eu..queria te ver. Estou com medo Edward,todo mundo aqui fica me fazendo perguntas,e eles me disseram que eu dormi por 8 anos. Como isso é possível?-a confusão era perceptível na voz dela,e eu soube que ela precisava ficar calma. Imediatamente

-Olha,eu estou indo pra ai,tudo bem? Mais você vai ter que me prometer que vai fazer tudo que eles te pedirem enquanto eu não chego. Voce pode fazer isso?

-Sim,mais você promete que não vai demorar?-ela pediu,com a voz manhosa e eu soube que ela poderia me pedir o mundo todo e eu o daria a ela. Aquela garota já tinha meu coração,meu corpo e minha alma completamente em suas mãos.

-Sim-dei um pequeno sorriso e me despedi-estou indo pro hospital,comporte-se bem ok?

-Tudo bem-ouvi mais algum sussurro que não pude entender e ela desligou o telefone. Corri pelo parque o mais rápido que podia e entrei no carro. Costurei velozmente pelo transito leve de final de tarde,e estacionei na entrada do hospital. Meu coração batia acelerado enquanto eu trilhava o caminho conhecido até a Unidade de Terapia Intensiva. Passei por algumas enfermeiras, que me olhavam de um modo estranho,quase como se quisessem me devorar e cheguei até a divisória do último leito. Parei e respirei fundo,me preparando para o que quer que fosse acontecer dali para a frente

Entrei no pequeno espaço lotado de especialistas e encontrei Isabella de costas pra mim,olhando a janela a sua frente. Todos pararam de falar ao meu redor,e foram saindo da ala que Bella ocupava. Assim que ficamos sozinhos,eu comecei a pensar no que eu faria,no que podia dizer. Isabella notou que o espaço estava calado demais e se virou pra descobrir o motivo. Quando nossos olhares se cruzaram,a conexão foi tão forte que eu tive a impressão de que ela me reconhecia. Afastei esses pensamentos tão rápido quanto eles haviam surgido,precisava me manter focado na realidade,não deixar que meus desejos me fizessem enxrgar algo que simplesmente não podia existir.

-Edward?-Bella me chamou,quase num sussurro,e eu lutei contra a vontade quase incontrolável de ir até onde ela estava e envolve-la numa bolha de proteção,onde nada nem ninguém nos separaria

-Olá Bella-respondi,e tentei sorrir pra ela,mais não sei se funcionou muito bem. Eu ainda estava me acostumando com o fato de que Bellla estava acordada,e com medo de que aquilo tudo não passasse de mais um dos meus sonhos. Porque sim,eu já havia sonhado diversas vezes que minha bonequinha voltava pra vida,e cada vez que acordava,uma onda de angústia tomava conta do meu corpo.

Mas não,dessa vez era completamente real. A presença de Isabella enchia meu coração do mais puro amor,e de uma paz reconfortante. Embotava meus sentidos de uma forma quase paranóica,era como se eu estivesse flutuando acima das nuvens

Bella me olhava nos olhos,mordendo os lábios de uma forma quase..provocante. Seu semblante estava confuso,parecia  perdido. Eu daria tudo que possuía,qualquer coisa no mundo pra ve-la sorrindo. Meu coração dava um salto no peito cada vez que ela me olhava,e meu maior sonho era poder faze-la rir comigo,para mim.

-Eu posso fazer uma pergunta?-ela olhava as mãos entrelaçadas,e parecia estar tentando descobrir como me perguntar algo importante.

-Claro,bonequinha-adorei o som do apelido que eu tinha dado a ela no seu segundo dia no hospital em meus lábios. Eu só costumava chamá-la assim em meus pensamentos e devaneios,e era reconfortante verbalizar aquele gesto de carinho inconciente

-É verdade que eu dormi por 8 anos?-Ela me encarou,seus olhos chocolate quase implorando por  uma resposta rápida,e negativa. Devia ser duro perceber que 8 anos de sua vida se passaram sem que você nem ao menos se desse conta

-Sim-respondi,no tom mais calmo que consegui- você sofreu um acidente de carro,consegue se lembrar?-Bella assentiu com a cabeça e eu continuei-  Tivemos que operá-la e você... não voltou da anestesia. Até essa manhã-um bolo se formou em minha garganta,me lembrar do quanto estive perto de perder o que mais me importava na vida, ainda era doloroso demais.

Quando voltei a erguer a cobeça,Isabella estava chorando silenciosamente. Lágrimas grossas desciam por seu rosto de anjo,e,a medida que eu falava,elas desciam com mais rapidez. Eu queria me aproximar e acalentá-la,prometer que tudo ficaria bem,mais me contive. Afinal de contas,pra ela eu não passava de um estranho

-Eu lembro do acidente-ela falou,com a voz embargada-tinha discutido com James,descobri que ele me traia e sai com o carro. Eu não estava prestando atenção na estrada,minha cabeça estava cheia demais. Atravessei a pista da esquerda num momento de distração e bati na lateral de um caminhão-ela ergueu a mão,e tentou conter a enxurrada de lágrimas com seus dedos delicados,mais não ajudou em quase nada-eu ainda fiquei acordada por um tempo,mais depois tudo era escuridão...e a próxima coisa que me lembro é de você aqui quando eu acordei.-a essa altura os soluços já eram tão fortes que o corpo frágil de Isabella tremia,e ela parecia muito com um animalzinho indefeso

Ver aquilo fez com que meu coração se partisse em milhões de pedacinhos,e,mandando a cautela e o bom senso ás favas,eu venci a distancia que ainda havia entre nós e a abracei. Seu corpo tremulo se encaixou perfeitamente entre meus braços,e eu enterrei o rosto em seus cabelos. Estava no paraiso.

Bella se agarrou ao meu corpo como se sua vida dependesse disso,e eu apenas fiquei ali,esperando que ela chorasse tudo o que precisava para poder se acalmar. Aos poucos os soluços desesperados foram cessando,até pararem por completo. Me afastei delicadamente dela,estar tão próxima a seu corpo sem poder tocá-la com mais intimidade era tortura pra mim. Precisava me afastar antes de perder o controle,e fazer besteira

Olhei em seus olhos e beijei sua testa castamente. Ela pareceu hesitar em deixar que eu me afastasse,mais depois de um tempo entendeu que era melhor assim. Passei o resto do dia ali,conversando sobre o passado de Bella. Ela me contou tudo,desde o que gostava de fazer quando criança até o que sentiu quando descobriu que era traída. Eu simplesmente não podia entender como um homem que era agraciado com um presente tão perfeito como o amor daquela mulher podia escolher,deliberadamente decidir perde-la. Era  a mais pura estupidez,e doía ver como aquela rejeição ainda afetava minha bonequinha. Eu mataria James se tivesse a oportunidade de me encontrar com ele. Ninguem tinha o direito de fazer Bella sofrer,ela era um ser tão divinamente puro e delicado que era quase um crime faze-la chorar.

Naquele momento,eu decidi que a faria me amar,e aceitar o grande amor que eu sentia por ela durante todos esses anos. Eu a conquistaria aos poucos,e seria o homem mais feliz do mundo no dia em que ela me aceitasse em seu coração

Quando voltei a consultar o relógio,descobri que já eram quase 9 da noite, e que eu precisava ir pra casa pra me trocar e vir trabalhar. Eu ficaria a noite toda no hospital,e pela primeira vez desde que eu comeceia faculdade,me lastimei por ter que trabalhar. Eu não queria me afastar do meu pequeno anjo particular, estar com ela era tão perfeito, eu me sentia em casa cada vez que ela me dava um sorriso tímido,ou que seus olhos se iluminavam em reação ao que eu contava sobre minha infância. Me levantei da cadeira que havia ocupado durante todo o dia,e me aproximei de Bella.

-Eu preciso ir querida-declarei,e vi seu semblante ficar tenso-o que houve?

-Eu não queria ficar sozinha. Não aqui,quero ir pra casa Edward-seus olhos estavam tristes,e quase..amedrontados

-Você precisa ficar aqui mais alguns dias. Não precisa ter medo,eu vou estar aqui no hospital a noite toda. Se precisar de alguma coisa,chame uma enfermeira e peça pra ela me avisar que você quer me ver. Eu venho correndo se você precisar de mim. Mas tente descansar ok?-me inclinei para beijá-la na testa,e Bella me prendeu em um abraço inesperado. Sorri involuntariamente com seu movimento espontâneo,e correspondi ao seu carinho. Ficamos abraçados por um tempo,e quando me afastei,fiz a besteira de  olhar para seus lábios

Eu estava hipnotizado. Os lábios de Bella eram ainda mais perfeitos que os outros traços de seu rosto,e eu me peguei imaginando como seria beijá-la com ela estando disperta,podendo corresponder aos meus toques. O monstro obssessivo que habitava em mim se regozijou com essa possibilidade, e eu me vi aproximando meu rosto do dela. Parei a poucos centimetros de sua boca,e uma pequena parte de mim rezava para que ela se afastasse e me impedisse de tocar seus lábios.

Mas não foi isso que ela fez. Para minha completa surpresa, Bella acabou com a distância mínima que ainda havia entre nós e pousou os lábios sobre os meus. Sua boca acariciava a minha com delicadeza,e eu podia sentir seu gosto doce. A ponta da língua dela tocou meu lábio inferior,e quando eu entreabi os lábios em reação ao toque,Bella se aproveitou disso para aprofundar o beijo. O  que eu senti quando nossas línguas se enroscaram foi indescritível. Sensações maravilhosas atravessaram meu corpo e eu a trouxe pra perto,até estarmos colados um no outro. O beijo foi se tornando cada vez mais exigente e eu sentia a minha pele queimar onde entrava em contato com a dela. Estávamos ambos ofegantes quando eu me dei conta do quanto aquilo era errado e me afastei abruptamente. Eu não deveria ter feito aquilo,era cedo demais pra tocá-la,e agora provavelmente ela acharia que eu era um tarado e eu teria que me acotumar a viver sem sua presença cálida para aquecer o lugar gelado que era meu coração. Por que eu sempre estrago tudo?