Capitulo 40 – Riscos.

Março de 2006.

-Argh!

-Carlisle já disse para você não se esforçar tanto, Alice – Bella respondeu calmamente no banco do motorista de sua nova Ferrari, a sua pequena irmã vidente no banco do passageiro.

Bella e Alice estavam indo para uma tarde de compras em Olympia, dessa vez para comprar material para a nova reforma da garagem, aparentemente Alice previra que precisariam do espaço, mesmo que com as novas adições, o tamanho da garagem atual ter espaço suficiente para mais quatro carros.

Edward estava caçando nos arredores da floresta com Jasper, Emmett estava com Rosalie na casa deles, uma casa majestosa, bem afastada da casa principal fazendo... bem. Esme estava em Port. Angeles pegando todas as suas encomendas para a construção da expansão da garagem enquanto que Carlisle estava no hospital, aparentando estar meio insatisfeito.

Precisavam começar a dar indícios de que iam se mudar. Dali 4 meses, Bella, Alice e Edward já iam se formar no colegial, já estavam em Forks há 3 anos, podiam ficar na mesma cidade por cerca de 5 a uns 10 anos se fizerem um bom trabalho, mas Forks não tinha uma faculdade e seria a desculpa perfeita para recomeçar novamente. Com os filhos todos do outro lado do país, o Dr. E Sra. Cullen iriam aproveitar para viajar ou para acompanhá-los. Rosalie ainda não havia se decidido.

Bella estava satisfeita ao pilotar seu novo brinquedo, apesar de ter preferido a moto, a lembrança do barraco de Alice foi o bastante para deixar seu mau humor de lado.

“NEM MORTA QUE EU COLOCO UM CAPACETE! E VOCÊ SABE MUITO BEM QUE SE FORMOS PARA LOCAIS LOTADOS EU VOU TER DE POR UM PARA MANTER AS APARENCIAS, MEU CABELO VAI FICAR TODO AMASSADO!!!”

A escudo suspirou, às vezes pensava que Alice passava tempo demais com Rosalie... ou com Emmett, admitiu com um pequeno sorriso ao lembrar das janelas vibrando um pouco depois da explosão de Alice.

-Você não vai encontrar ninguém até a entrada da cidade, pode acelerar – disse a vidente com um bico frustrado nos lábios.

Bella só assentiu e pisou mais forte no acelerador, o motor macio roncando com mais potência em baixo de si, o velocímetro passando dos 250 km/h. Para falar a verdade estava começando a ficar preocupada com a falta de visões de Alice e sobre um assunto tão importante também. Quando o período escolar acabava, Edward, Alice e Bella se juntavam aos demais na caça por Victoria.

Não estava sendo fácil, tinham de fazer um perímetro em volta da cidade de Forks e respeitar os limites da reserva de La Push. Até aquele momento haviam cruzado com o cheiro de Victoria algumas vezes, mas todos com alguns meses, como não sentiram isso?

-Tudo bem, é só você entrar, dar medo nele, pegar os documentos e sair – instruiu Alice ainda com um ar melancólico.

-Alice, eu já sei... quer carona depois?

-Não, não, eu preciso comprar um monte de coisas, já combinei que Esme vai me pegar quando acabar em Port. Angeles, ela vai estar com o carro de Carlisle.

-Tudo bem.

-Ah! Na volta não vá pela estrada principal, vai estar tudo congestionado, se você pegar a estrada rente à La Push, vai poder acelerar o quanto quiser, não se preocupe, aquela estrada está no nosso território.

Alice soprou um beijo para a irmã e saiu dançando pelas ruas de Olympia.

Bella ignorou completamente os olhares arregalados que seu carro ganhava e estacionou em frente ao restaurante The Pacifico, em Union Lake, estava usando um vestido cumprido, vinho e delicado de camurça. Um peep toe preto e uma pequena bolsa prata. Era o que Alice chamava de “adequado” apesar de ter sido Bella mesma quem escolhera.

Dera o nome Jenks ao maître e fora guiada a uma sala particular, agradecendo suavemente com os elogios engasgados do homem ao retirar o casaco cor de ostra.

J. Jenks era um homem de meia idade, lá pelos cinquenta e poucos anos, calvo e com uma barriga proeminente, vestia um terno caro e parecia extremamente nervoso, quase apavorado. Bella quase sorriu ao pensar no que Jasper teria feito ao pobre homem. De muitas formas, Jasper era o mais assustador dos Cullen.

-Deve ser a Sra. Bella – estendeu nervosamente a mão.

Bella e pegou e a sacudiu firmemente uma vez.

-É um prazer conhecê-lo, Sr. J.

-Assumo que todos os Cullen estejam bem de saúde.

-Estão sim, obrigada por perguntar – seu rosto em branco, estreitou um pouco os olhos, como sabia que deixava os humanos desconfortáveis. Deu certo. A testa do pobre homem começava a mostras algumas gostas de suor.

Quase sorriu, mas depois teve certa pena, talvez se lhe desse uma experiência menos agonizante evitaria o ataque do coração que podia ver se formar cada vez que J. ouvia o nome Cullen.

-Por favor – indicou a mesa posta e ajudou-a se sentar – se não for atrevimento, devo dizer que está estonteante, Sra. Bella.

A Sra. Bella era meio diferente do que J. Jenks estava acostumado. Mas aprendera a não ter muitas expectativas quando se tratava dos Cullen. Ela não parecia ter mais de 20 anos, e mesmo assim agia com maturidade e calma. Tão intimidadora quanto Sr. Edward e, no entanto mais simpática que Sra. Rosalie, que seria muito mais bela se não fosse pela carranca em seu rosto.

-Muito obrigada – deu um sorriso contido.

-Devo perguntar, finalmente estou conhecendo a adorável esposa do Sr. Jasper?

-Sua cunhada na verdade.

-Ah, então deve ser a esposa de Sr. Edward.

Pendeu a cabeça levemente para o lado, analisando o homem. O que o fez se remexer desconfortável no acento.

-Isso mesmo – falou por fim com o mesmo sorriso contido.

-Bem, aqui estão os documentos que Sr. Jasper havia me pedido – e passou um grosso envelope por cima da mesa.

Bella o abriu e começou a analisar cada novo passaporte, identidade, carta de motorista, certificado de nascimento e... um atestado de óbito? Levantou levemente uma sobrancelha e trouxe o documento para o topo da pilha. O nome, foto e alguns dados ainda estavam em branco.

Teve de prender um suspiro. Que historia maluca Rosalie estaria tramando dessa vez?

Em todos os documentos, as fotos, nomes e algumas datas estavam em branco, Edward ou Jasper provavelmente vão acabar isso em casa. Concluiu com um pequeno sorriso satisfeito.

J tinha um medo saudável de Bella e para Bella tudo correu bem, o homem não parecia temê-la como temia a Jasper, mas até onde J. Jenks sabia, a escudo não podia culpá-lo.

-Preciso me despedir agora – disse Bella se levantando.

-Tem certeza que não pode ficar para o almoço?

Quase deu um sorriso, ela realmente duvidava que J. fosse gostar se ela se unisse a ele para o almoço.

-Creio que não, é uma longa viagem e já estou um pouco atrasada – se desculpou.

Colocou o envelope no porta-luvas e tirara as chaves de um manobrista que não sabia se olhava para o carro ou para ela.

Fez assim como Alice indicou e pegou a estrada rente à La Push. Fora um ou dois carros estava completamente deserta. Percebeu um homem fazendo sinal e seus olhos se arregalaram ao perceber que era um dos nativos de La Push, discretamente abriu um pouco a janela para permitir que a brisa entrasse no carro e enrijeceu ao perceber os leves indícios de lobisomem.

Provavelmente ainda não se transformara. Pensando rapidamente e se encolhendo um pouco quando pensara na reação de Carlisle e principalmente de Edward, enquadrou os ombros e rezou para que Alice estivesse suficientemente distraída nas compras ou tentando ver Victoria para notá-la.

Quil Ateara estava de boca aberta ao ver a Ferrari F430 vermelha catando pneu e marcando a estrada ao parar à sua frente. Meu Deus! Sua mente estava completamente em branco, estava pasmo, estava em choque, nunca pensara que veria uma dessas ao vivo.

-Precisa de ajuda? – uma voz penetrante e suave, mas ao mesmo tempo jovem perguntou meio divertida.

Quando conseguiu desviar os olhos do capô reluzente do carro para ver o motorista quase teve outro ataque cardíaco. Tinha de ser a garota mais linda que vira na vida!

O rosto era em formato de coração, o cabelo uma cor chocolate. Castanho, mas quando a luz certa o acertava tinha umas insinuações de vermelho. Bem cumprido, ele se esparramava ao redor de seus quadris e no banco em pequenos e leves cachos. Pele pálida feito giz, os maiores olhos que já vira eram cor de topázio, emoldurados por grossas e longas camadas de cílios. Corpo de arrasar em um vestido elegante, saltos altos ainda nos pedais do carro esporte. Os lábios cheios e meio rosados estavam esticados em um pequeno sorriso de lado.

Meu Deus de novo! Será que dera sorte e uma supermodelo parara para falar com ele? Ou será que batera a cabeça e agora estava sonhando? Se fosse a segunda opção, rezava para que nunca acordasse.

-Olá? – de novo aquela voz suave e penetrante e de repente percebeu que a estava encarando com a boca aberta.

-Er... oi – passou a mão pelo pescoço, meio nervoso. Quando começara a fazer sinal para pegar carona com alguém não pensava que ia acabar nisso.

-Precisa de ajuda? – repetiu ainda mais divertida, seus lábios se contorcendo enquanto seu sorriso ficava um pouco maior, mas ainda sem mostrar os dentes.

-Ahm... er... eu... você... o que? – Ah! Ótimo! Agora a garota devia achar que era um retardado.

Revirou os olhos. Ah! Quando ele se transformasse queria tanto estar por perto e ter o poder de Edward para saber sua reação ao descobrir que estava todo embasbacado por uma vampira. Sua inimiga natural e mortal. Quase riu.

-Perguntei se precisava de ajuda, você fez sinal, não fez?

-Er sim, na verdade – limpou a garganta tentando tirar o guincho de sua voz – você... poderia me levar até a Reserva de La Push?

Era isso que estava esperando. Bella sabia que era extremamente arriscado e talvez acabasse por piorar ainda mais a situação e muito provavelmente teria de ouvir a bronca incrédula de Carlisle, a furiosa de Edward. Os lamentos preocupados de Esme e Alice. As brincadeiras de Emmett e a silenciosa ou não tão silenciosa reprovação de Jasper e Rosalie. Mas se desse certo... se conseguisse fazer amizade com um deles... talvez.

Mordeu os lábios parecendo nervosa e ouviu com um pouco de impaciência o coração do Quileute acelerar. Por mais lisonjeiro que isso fosse, às vezes essas reações atrasavam todo o processo.

-Ahm... na verdade eu meio que não posso.

Viu o desanimo cruzar o rosto do rapaz e se animou um pouco, sabia que sua reação seria essa.

-Não me leve a mal, mas é que... eu... não tenho permissão para ir.

-Seu agente provavelmente não gosta de você se misturando, certo?

Assim que as palavras saíram de sua boca, Quil quase se deu uma bofetada.

-Meu agente? – estava divertida de novo.

-Desculpe eu...

-Por que acha que eu tenho um agente?

-É que... bem com sua aparência não ia ser tão difícil ser uma modelo, não?

-É muito gentil de sua parte, obrigada. Mas não, não foi isso que eu quis dizer. Ahm... eu não tenho permissão da reserva para ir até lá.

-Por que não? – agora não estava entendendo, por que alguém da tribo iria proibir outra pessoa de simplesmente ir até lá?

Dessa vez ela pareceu surpresa. Uma surpresa cuidadosamente colocada em seu rosto perfeito. Dá graças a Deus em momentos como esse que em todos esses anos finalmente aprendera a controlar seu rosto e expressão para ser uma ótima atriz, e por extensão uma ótima mentirosa.

-Você não sabe quem eu sou? – perguntou dessa vez com uma dose ideal de confusão.

-Er... não, agente já seu viu? – tinha certeza que não, teria se lembrado de alguém como ela. Principalmente com um carro como dela.

-Não, mas... bem então não importa – deu um sorriso sem mostrar os dentes – meu nome é Bella Cullen.

Bella disse isso cuidadosamente, deixando a voz amigável e inofensiva. A reação não foi tão grave quanto achou que seria.

Os olhos do garoto saltaram para fora de suas órbitas. Sua boca abriu, mas não tanto quanto fizeram quando vira seu carro ou a si, então a vampira tomou isso como um bom sinal.

-Então você é uma dos Cullen.

-É... – trilhou dessa vez realmente meio incerta.

-Acho que os anciões estavam meio gagás quando acreditaram em toda aquela baboseira se vampiros – ele balbuciou baixinho e Bella fingiu que não ouviu.

-Ahm... se quiser eu ainda posso te levar até a entrada da reserva, mas... eu realmente não posso entrar, meu pai ficaria meio bravo se soubesse que infringi alguma regra.

Primeiro que Carlisle já estaria bravo com ela, mas por outros motivos.

Ficara meio desconfiado. Ela era uma Cullen. E o nome Bella Cullen era constado nas lendas, as mesmas lendas que ouvira quando era uma mera criança.

Mas... olhou de novo para ela. A expressão meio incerta, meio ansiosa. E até aquele momento havia se mostrado totalmente gentil e divertida. As lendas descreviam os frios como criaturas horrendas, sem sentimentos, que matariam sem pensar duas vezes. Entretanto Bella não se mostrara nada disso.

Dando de ombros e mais do que à favor em passar algum tempo com uma linda garota em um carro demais deu um sorriso cheio de dentes e assentiu.

Os olhos de Bella brilharam felizes e ela deu um sorriso meio tímido, indicando o acento do passageiro com a cabeça.

Quil avidamente entrou no carro esporte. Podia sentir o cheiro de couro, o cheiro de carro novo ainda estava no ar. Olhou o painel de som de última geração e babou um pouco mais.

-Pode mexer no sistema de som se quiser – disse Bella, um sorriso na voz.

Observando o nativo começar a apertar e girar todos os botões à seu alcance, pensou em como iria fazer isso.

-Isso é demais – o garoto quase gritou enquanto a Cullen começava a dar partida no carro, do modo humano, aliás até um pouco mais lento que um humano. Como uma garota bem cuidadosa que acabara de receber o carro de presente de um parente querido.

Queria ganhar tempo.

-Er... você nunca disse seu nome – comentou levemente enquanto mantinha uma velocidade de 60km/h, o permitido naquela estrada, um limite que nunca respeitara com a estrada sem guardas e tão deserta assim.

-Ah – corou um pouco – meu nome é Quil Ateara.

-Quil é um nome bem antigo – notou.

-É... acho que era o nome do meu tataravô.

-Não quero me intrometer – começou devagar – mas você parecia meio... abalado lá na estrada.

Deu um suspiro pesado, de repente a animação por estar no carro dos sonhos com uma garota dos sonhos já não mais tão empogantes.

-Ar... é que... eu realmente não quero começar a vomitar minhas tripas para cima de você.

-Pode desabafar, sou boa ouvinte.

-Bem... é que... meus amigos estão... estranhos – suas sobrancelhas escuras se uniram.

-Estranhos...? – ecoou.

-É... bom....

-Se é algo que eu, como uma pessoa de fora, não deveria saber, eu entendo – sorriu um pouco.

-Obrigado mesmo assim.

-Por nada.

A escudo o observou por mais algum tempo. Notando os olhos meio abatidos e com certo teor de pânico. Respirando fundo, tentou tomar coragem.

-Eu tenho quatro irmãos – ela começou de repente – às vezes, mesmo que alguns não consigam dizer, eu não aguento ficar cinco minutos com eles na mesma sala sem querer dar um soco neles. No começo não foi muito... fácil, eu estava acostumada a ser... bem para a falar a verdade eu gosto de ter um tempo para mim mesma. Então, de repente, a casa estava cheia e eu me via sem a privacidade que eu tomei por garantida.

Bella suspirou.

-Mas... a vida não seria a mesma sem eles. Agente briga, bate de frente e às vezes nos ignoramos por longos períodos de tempo. Mas eu sei que cada um deles faria qualquer coisa por mim. E eu faria o mesmo por eles. Todos sabem exatamente isso. O que quer que seja que esteja acontecendo com seus amigos não vai durar para sempre. Anos e anos de amizade não desaparecem assim. Seja o que for... que causou essa situação, duvido muito que essa situação entre vocês seja permanente.

Quil ficou em silencio o resto do caminho.

-Desculpe-me, mas eu só posso te levar até aqui – disse em tom apologético, uma placa grande, verde dizendo “La Push à frente” estava ao lado da estrada.

Deveria ser uns 60 km da reserva, mas era bem melhor do que os 210 que precisaria percorrer. Saiu do carro meio contrariado, com todo esse clima pesado nem pôde brincar direito com aquele carro que tinha certeza que só veria em capas de revistas.

-Obrigado, Bella, eu realmente precisava disso... e você acabou por não precisar ser uma ouvinte – brincou cheio de malícia, seu rosto um pouco mais animado.

Bella teria corado se pudesse, mas deu um pequeno sorriso de volta.

-Não foi nada... desculpe por ser uma tagarela. No geral eu realmente não falo tanto assim.

-Que nada e... o carro arrasa – e deu uma risada digna de Emmett.

-Vá para casa! – disse Bella rindo um pouco.

Cantando pneu, Bella deu a volta na estrada e começou a temer pelo o que a esperava em casa. Pôde ver no rosto de Quil... o cheiro dela ficara pior quando batera a porta e o ar bateu em seu rosto. Mas sua expressão era amigável, e nos 16 e alguma coisa anos de vida, não podia ter se tornado um mentiroso muito bom.

Suspirando, atendeu o celular que não parava de vibrar desde que Quil saiu do carro, sua voz possuía uma serenidade que estava longe de sentir.

-Alô?

-Eu realmente espero que tenha uma explicação – a voz furiosa de Edward, mesclada com a de Alice ao fundo ressoou.