Ser uma bruxa não é fácil, para aqueles que gostariam de ter poderes como os meus. Desde que a carta de Hogwarts chegou à minha casa eu não vivenciei nada além de desgraças por lá. Ainda lembro como aconteceu...

Era a primeira vez que eu estava vivendo algo tão incrivelmente diferente. Bem, na verdade era a primeira vez que eu vivia alguma coisa real, fora dos meus livros. Meus pais... eles eram humanos, normais, e eu pensava que eu também era.

- Kassie, desça para o jantar. – ouvi minha mãe dizer.

Eu desci e os encontrei sentados quietos. Minha mãe chorava baixinho, tão baixinho que eu demorei para perceber. Meu pai tinha o semblante sério e segurava um pedaço de pergaminho na mão.

- O que é isso pai? – perguntei. Ele alcançou-o para mim e eu passei meus olhos nas duas primeiras linhas.

 “Senhorita Kassandra Roman,Temos o prazer em lhe informar que sua vaga na Academia de Magia e Bruxaria de Hogwarts está garantida...”

Academia de Magia e Bruxaria? Como assim eu me preguntei. Como poderia ser real algo que eu só acreditara existir em livros, os quais eu lia incessantemente?

- Isso é algum tipo de brincadeira? – perguntei séria aos meus pais. Não gostava de ser ridicularizada na escola por causa dos livros que eu lia. Não bastasse meus colegas agora meus pais.

- Eu é que te pergunto. Kassandra, de onde veio isso? Por que isso apareceu aqui em casa? – meu pai havia se levantado alterado.  – Eu já disse a você que parasse de ler coisas que não acrescentarão em nada no seu futuro.

- Pai, meu futuro é ser escri...

- SEU FUTURO SOU EU QUEM DECIDO, MOCINHA. ENQUANTO VOCÊ MORAR NESSA CASA DEVE OBEDECER MINHAS ORDENS.  – ele bateu na mesa enquanto gritava, minha mãe se assustou e chorou ainda mais.

- POIS BEM SENHOR, EU NÃO MORO MAIS NESSA CASA DE AGORA EM DIANTE.

- Se for sair saia com a roupa do corpo, afinal tudo o que tem é por minha causa.

Eu queria muito sair de casa naquela hora, me ensopar na chuva e nunca mais voltar. Ou talvez que alguma coisa muito ruim acontecesse comigo, alguma doença terrível para que ele se... sentisse culpado. Mas não fiz nada disso. Simplesmente abaixei a cabeça e fui com a carta para o meu quarto. 

As lágrimas insistiam em escorrer por todo o meu rosto. Por que era tão difícil assim entender que eu queria ser apenas eu? Nem percebi mas acabei adormecendo pensando em quanto seria bom se Hogwarts realmente existisse.