Memórias de Narcisa Malfoy escrita por Shanda Cavich


Capítulo 6
Capítulo 5 - Imperius




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Depois de tumultuados três anos repletos de escândalos, o ministro da magia fez todo o possível para manter a ordem, e fingir que estava tudo sob controle.  Entretanto, desde a morte de Cedrico Diggory, começaram a surgir suspeitas sobre a suposta ressurreição do Lord das Trevas. É claro que para nós, seus seguidores, isto era uma certeza. Depois da reunião no cemitério em Little Hangleton, Lúcio contou-me que Potter tentou entregar a todos quando voltou a Hogwarts, e por pouco não faltaram evidências para que fôssemos bombardeados de perguntas. Para nossa sorte, o caso foi esquecido. Pois afinal, quem acreditaria em Potter - o menino que mente?

Cornélio Fudge, pobre alma, já estava acabado por pesar tantos assuntos mal resolvidos em suas costas. Estava claro que não era um homem preparado para lidar com qualquer assunto de grandeza emergencial. E temendo que tomassem seu cargo, passou a omitir a maioria dos acontecimentos que levavam a crer no início de uma nova guerra. Para o seu delírio, ainda houve uma fuga em massa de Azkaban, fazendo com que os mais perigosos Comensais da Morte voltassem às ruas, tramando vingança. Apesar de tudo, o maior motivo de ele estar tão paranóico se devia ao fato de várias vezes ter estado sob o efeito de uma maldição.

"Imperio" – dizia Lúcio, e logo tudo parecia bem. Parecer era o suficiente.

A Maldição Imperius sempre foi o forte de meu marido. Utilizou-a sempre que necessário, mas sem exageros. Como quando conseguiu as doze assinaturas que realizariam a expulsão do diretor de Hogwarts anos atrás, ou então quando causou a morte de Boderick Bode. O mais interessante, e conveniente até agora, foi utilizá-la para que o ministro Fudge confiasse a Lúcio o poder de regulamentar a entrada e a saída de indivíduos no Departamento de Mistérios, assim podendo proceder com a missão que Voldemort incumbira a seus mais fiéis Comensais da Morte.

Sinto horror ao lembrar-me de como tal missão foi desastrosa. A profecia que Milorde tanto almejava fora destruída durante uma batalha. E como se não bastasse, todos os Comensais presentes naquela noite foram capturados pelos integrantes da Ordem e condenados a prisão perpétua. Apenas Bella escapou, já que Voldemort a trouxe com ele até minha casa. A primeira coisa que reparei quando ele veio até mim foram seus olhos, vermelhos de raiva, como se eu tivesse alguma culpa sobre o que aconteceu. Bella estava parada ao seu lado, quieta, como se estivesse sentido algo parecido com o medo.

"Seu marido me decepcionou muito, Narcisa." – disse Tom, enquanto lágrimas se prendiam ao meu rosto, por mais que eu cismasse em escondê-las. – "Se não fosse a utilidade que ele teve, sendo tão influente, eu penso que deveria deixá-lo em Azkaban para prevenir maiores decepções!"

"Perdoe-o, Milorde, por favor. Era para ter dado certo, não foi culpa dele... O senhor sabe que sempre fomos leais!"

"Então creio que já está na hora de expandir esta lealdade de que tanto fala." – Voldemort olhou para o quadro com a imagem de Draco, pendurado na sala de visitas. – "Sabe, Narcisa... Tenho certeza de que seu filho se sentirá honrado em servir ao meu exército."

A coisa que eu menos gostaria que acontecesse, de fato, aconteceu. Como eu já devia ter imaginado, Draco realmente sentiu orgulho em se tornar o mais jovem Comensal da Morte. Quando recebeu a Marca Negra em seu braço esquerdo só faltou dar pulos de alegria. Afinal, que vingança maior do que essa contra Potter, seu rival desde os onze anos de idade? Entretanto, depois de ouvir qual seria sua primeira missão levou um susto, ainda maior do que o meu. Pois poderia morrer tentando matar Dumbledore, e também poderia morrer caso se recusasse a uma ordem de seu mestre.

Durante o julgamento, chegaram a doer as palavras do novo ministro declarando a prisão de meu marido. Lúcio, completamente acorrentado, foi empurrado para um outro aposento, feito um bicho selvagem. Tentei lhe dar um último abraço, e um dos aurores me impediu de modo grosseiro, causando-me um ódio ainda maior. Draco foi ameaçado pelo mesmo, quando me defendeu.

"Quem você pensa que é, seu mestiço imundo? Tire as mãos de mim!" – eu disse, sem um mínimo de pudor.

"Ah, Madame, vá com calma. A senhora não está mais tão poderosa desde que prendemos o canalha  do seu marido." – o auror soltou meu braço, sorrindo com desdém. – E acho melhor moderar as palavras, madame. Pois é uma questão de tempo até que se prove o seu envolvimento nessa história.

Draco foi para casa, como pedi. Fiquei no Ministério até que Lúcio fosse devidamente conduzido a ilha.  Enquanto eu caminhava por um dos corredores, notei vozes baixas vindas de uma das salas térreas. Uma delas eu reconheci rapidamente. Era a voz de Snape, um grande amigo de Lúcio. A outra demorei a reconhecer, mas então concluí ser a voz de Dumbledore, em sussurros. Na hora não consegui supor que tipo de assunto os dois tinham a tratar a sós, já que Snape era um dos nossos e só falava com Dumbledore por fingimento. Mas algo que ouvi naquele instante mudou tudo o que eu tinha em mente e quase não pude crer em meus ouvidos. Entretanto, a raiva e a argúcia me fizeram pensar da maneira correta. E de um modo, ou de outro, Severo Snape ainda seria muito útil. De amigo, ele seria a isca. E de assassino, ele seria a vítima.

Cheguei em casa, ansiando falar com Draco o mais rápido possível. Meus olhos brilhavam, pela certeza em haver alguma luz para ascender naquele momento tão difícil. Em breve as aulas em Hogwarts retornariam, e Draco teria de dar início a sua tarefa tão arriscada. Fui até seu quarto, que era tão grande quanto um salão, cerrado por cortinas escuras e espessas. Percebi seu olhar seco e magoado por dentro. Quando me viu, tentou emitir um sorriso.

"Oi, mamãe." – disse ele, sentado na cama observando a marca em seu braço com certo receio. Sobre a cômoda estava a varinha de Lúcio, presa junto ao cajado, como ele costumava carregar. – "O papai vai voltar logo, não vai?"

"Vai sim, meu amor." – sentei ao seu lado, e o abracei. – "Sei que está preocupado com o que vai ter que enfrentar. Mas posso lhe garantir que tenho uma solução adequada."

"Que tipo de solução?" – Draco falou de um jeito tão maçante, que pareciam palavras vindas da boca do próprio pai.

"Escute muito bem o que eu tenho para lhe dizer, Draco. Hoje fiquei sabendo de algo que nem o Lord das Trevas tem conhecimento... E tudo o que eu lhe mandar fazer a partir de hoje, faça ao pé da letra. Será difícil, devo admitir. Mas faça."

"E o que devo fazer, mãe? Seja mais clara."

"Sabe... Só há um modo de te salvar do pior. E você terá que ser como eu, para dar certo. Direi uma só vez o que você deverá fazer, pois quando for para a escola não poderei mais ajudá-lo. Antes de qualquer coisa, já adianto que talvez seja necessário chorar..."

Eu amo meu filho. Um amor tão grande que ninguém, jamais, conseguirá entender. Há um laço entre nós dois, que poderia ser chamado de indestrutível. Se ele sofre, eu sofro mais. E só sorrio, se ele sorrir primeiro. Em momentos como aquele, em que se acaba de descobrir a possível morte de um filho, uma mãe é capaz de tudo. Certamente, minha honra permaneceria intacta perante os bons costumes que Milorde insistia em decretar. Mas que mal há em uma trama desenvolvida por algo tão simplesmente forte como o amor?

No final das contas, Alvo Dumbledore realmente foi assassinado, vários meses depois de minha conversa com Draco, e também depois de minhas súplicas a Severo, pedindo humildemente para que "ajudasse" meu filho, caso ele viesse a fracassar. Fiquei feliz, até mais tranqüila, ao saber que tudo foi como eu esperava. As coisas só tendiam a piorar depois da desfeita cometida. Mas àquelas alturas, isso não me importava nem um pouco. Pois acima de tudo, meu filho estava a salvo de um destino que ele não merecia ter.


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