Memórias de Narcisa Malfoy escrita por Shanda Cavich


Capítulo 5
Capítulo 4 - Draco




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/145515/chapter/5

Pálido desde que nasceu. Era lindo, como o pai. "Um menino! Oh Merlin! É um menino!", disse Lúcio, afogando-se na própria felicidade, abraçando a todos os seus amigos que aguardavam ansiosos pela notícia, poucas horas depois do nascimento. Meu pai, que já estava doente, ainda pôde lançar um sorriso de paz a todos os presentes, pela alegria em finalmente ter um descendente homem. Até mesmo Bellatrix, que já me confessou jamais querer ter um filho de Rodolfo, parecera emocionada ao ver a criança tão pura. De corpo, e de sangue.

"O nome dele é Draco." – disse Lúcio, respondendo a pergunta de Rita Skeeter, que especulava nossa casa assim que soube de minha gravidez. – "Draco Black Malfoy."

"Draco! Que nome mais... interessante!" – disse Rita, com um sorriso tão falso que chegava a transmitir certa maldade. Sua pena de repetição rápida anotava maiores e inventados detalhes no pedaço de pergaminho flutuante ao seu lado. – "Qual é a origem deste nome tão distinto? Posso saber o motivo da escolha, Sr. Malfoy?"

"Meu filho nasceu em tempos de guerra. Era preciso um nome de astúcia. – Lúcio segurava nosso bebê, enrolado em uma manta verde escura, quase negra. – "Draco quer dizer serpente, que representa vida, morte e renascimento, o ciclo. Sem falar que a serpente faz parte do brasão de minha família, como todos sabem.

No início eu tive medo de não suportar a pressão que é ser uma mãe famosa. Amigos, familiares, e até mesmo imprensa, visitavam minha casa na esperança de encontrar um 'mundo perfeito' para uma criança cercada por tanto ouro desde os primeiros momentos de vida. Com o tempo, a idéia de ser mãe me parecia cada vez mais fantástica e a felicidade tomou o lugar da pressão. Meu filho é tudo pra mim, sempre foi. Herdou o pai em quase todos os aspectos, inclusive os defeitos. À medida que ia crescendo, tornava-se cada vez mais parecido com ele, tanto física quanto psicologicamente. Os mesmos olhos cinzas, o queixo acentuado. A mesma voz arrastada, tediosa, que aprendi a apreciar desde a primeira vez que a ouvi.

Estava tudo perfeito até que Draco completasse um ano. Chegou o momento em que minha família, por um triz, não foi arruinada, logo depois da queda do Lord das Trevas. Os Lestrange, Bartô Crouch e minha irmã foram capturados por aurores uma semana após sua morte. Recebi uma carta do Ministério dizendo que meu marido foi mencionado no Tribunal, sob acusação de assassinato e envolvimento com Artes Negras, sendo um dos mais fiéis partidários "d'Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado."

Lúcio estava tão furioso quanto eu. Lord Voldemort, o único bruxo capaz de impor ordem e decência neste mundo, agora estava morto. Os sangues-sujos logo se multiplicariam por toda a comunidade mágica. E como se não bastasse, todos os seus seguidores pagariam com a carne por terem sido tão leais.  É claro que meu marido não se conformaria em ir para uma prisão imunda, sendo que sempre morou em um palácio digno de reis. Ainda mais agora, que tinha um filho tão jovem que com certeza sentiria falta de um pai.

Naquela mesma noite, Lúcio vestiu sua capa de viajem mais cara e partiu para o Ministério, onde fora convocado. Levava por debaixo dela uma sacola de veludo repleta por galeões de ouro, formando quantia suficiente para corromper qualquer um que se dissesse honesto. Lúcio havia me dito que negaria todas as acusações perante todos, alegando ter sido obrigado a cometer os crimes por meio da Maldição Imperius. Presumindo que apenas palavras não provariam sua mentirosa inocência, ele presentearia o Ministro com as moedas tão valiosas, só para garantir.

Enquanto meu marido estava no julgamento, eu esperava por sua volta, chorando desesperadamente no chão da cozinha, sem mais se preocupar com as duras palavras de meu pai sobre a questão da fraqueza que as lágrimas traziam. As duas pessoas mais importantes da minha vida, fora meu filho, foram tiradas de mim da forma mais severa. Logo, eu não tinha motivos para deixar de chorar. Apesar de Lúcio ser muito bem relacionado, eu ainda temia que fosse levado a Azkaban. Pois se fosse, seria para nunca mais voltar.

"Draco, meu amor... Eu sei que você ainda não entende, mas..." – com lágrimas nos olhos, segurei meu pequeno Draco e balancei-o de um lado para o outro, fazendo com que ele dormisse. – "siga apenas os meus passos, e não os de seu pai. Jamais duvide de meu amor incalculável por vocês dois. Mas não posso deixar que o seu destino seja igual ao dele. Pois algo é inevitável. Uma parte ruim de Lúcio está em você. Talvez a pior delas."

Para o meu alívio, Lúcio voltou de Londres com um sorriso enorme estampado no rosto. Contou que antes do interrogatório conversou com o Ministro e discretamente lhe ofereceu as moedas, sob o pretexto de doá-las à caridade. Logo, foi inocentado de todas as acusações e ainda conseguiu que Arthur Weasley fosse processado por Calúnia e Difamação, quando este tentou atacá-lo dentro do próprio Ministério, acusando-o publicamente de ser um Comensal da Morte consciente. A partir daquele dia, as coisas começaram a melhorar. Ainda que houvesse muitos aurores duvidando de meu marido, eles não tinham voz (nem dinheiro) o suficiente para enfrentá-lo.

Ao decorrer dos anos, Draco crescia e cada vez mais se assemelhava ao pai. Enquanto era muito pequeno, tal comparação não era tão fácil de perceber. Bastou completar oito anos de idade para que aflorasse seu lado Malfoy de modo explícito, comumente perverso. Das poucas palavras que pronunciava, percebi claramente quando disse "Crucio", apontando um graveto a Dobby. Na mesma hora o repreendi de modo manso, alertando que ele jamais deveria pronunciar aquela palavra novamente. Lúcio, que ouviu toda a conversa, contrariou-me, dizendo que Cruciatus era uma maldição necessária, e que mais tarde o ensinaria com gosto a utilizá-la quando fosse conveniente. Os olhos de Draco brilharam. Os meus lacrimejaram. Lúcio estava passando dos limites.

"Sei que é um homem de orgulho. E também sei que tudo o que você faz é para o nosso bem." – e pela primeira vez abracei meu marido com temor. – Mas, por favor, não deixe que esse seu ódio interfira na vida de Draco. Estamos tão bem, tão felizes. Apenas quero que se conforme. É só isso que lhe peço."

"Ah, Narcisa..." – Lúcio sorriu friamente, como sempre fazia quando era contrariado. – "Se eu não te amasse tanto, diria que está louca. Louca por achar que devo perdoar os mestiços e traidores."

"Não disse que deve perdoar. Na verdade, eu bem que gostaria de vê-los todos mortos, principalmente o menino Potter, que foi o culpado de tudo! Apenas quero que Draco jamais se envolva em algum assunto relacionado ao seu passado, Lúcio. Jamais!"

"Não há motivos para envolvê-lo nisso. Afinal, o Lord das Trevas morreu, não foi? Agora minha única vingança é achar um modo de utilizar o curioso objeto que me foi deixado por ele..."

Lúcio Malfoy, a quem tantos odiavam e outros admiravam, determinou-se a torturar trouxas por esporte ao longo dos anos. Depois da queda de Voldemort, fazer mal a eles passou a ser uma terapia. É claro que Draco não presenciava nenhuma de nossas ações, mas parecia ter um ódio natural por trouxas e impuros, sem que nós precisássemos ensiná-lo. Logo que completou onze anos, Lúcio pensou em matriculá-lo na Durmstrang. Mas por ser muito longe, não permiti. Então acabou indo para Hogwarts, onde estudamos quando éramos jovens.

Depois de nossa ida ao Beco Diagonal, Draco passou a ter uma varinha e uma responsabilidade. Foi difícil deixá-lo na estação, acompanhado apenas por seus dois amigos, Crabbe e Goyle. Porém, tive a sensação de que ele aprenderia muito. Não só na questão acadêmica, mas também na questão do orgulho. Afinal, ele acabaria tendo que estudar ao lado do culpado pela nossa desgraça, sem ter o direito de revolta. Pelo menos, por enquanto. Naquele dia, a minha única certeza era a de que Draco seria forte. Ainda mais forte do que o pai. Pois acima de tudo, ele teria a mim.

Houve o dia em que insistiu para que seu pai tomasse alguma atitude que o fizesse entrar para o time da Sonserina como apanhador. "Pai, faça alguma coisa!", ele gritou durante as férias inteiras esta mesma frase até que Lúcio cedesse. Apesar de meu filho saber voar muito bem, não o aceitavam o time por ter apenas doze anos. Bastou que meu marido comprasse sete vassouras Nimbus 2001, para que a idade de meu filho se tornasse insignificante no que diz respeito à escolha do jogador. Draco deu um sorriso quando conseguiu. E eu, sendo uma boa mãe, adorava vê-lo sorrir.

"Não acha que estamos mimando demais esse menino?" – disse Lúcio, lendo a carta de Draco, que pedia por mais chocolates e galeões, que certamente iria gastar com bobagens.

"Não." – respondi simplesmente, acariciando seus cabelos extremamente lisos. – "Só acho que nosso Draquinho está começando a se dar conta de que um Malfoy sempre tem o que quer."


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!